Operação Gomorra (também conhecida como Batalha de Hamburgo ou Bombardeio de Hamburgo) foi uma prolongada campanha aérea de bombardeio do porto alemão de Hamburgo em quatro noites de ataques pela Força Aérea Real (RAF) (Reino Unido) e dois dias de ataques pela Força Aérea dos Estados Unidos (USAAF) em julho e agosto de 1943. Mais de 3.000 bombardeiros criaram uma tempestade de fogo que resultou em 46.000 civis mortos, um dos piores desastres civis da Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Bombardeio de área
O comandante-chefe do Comando de Bombardeiros da RAF de fevereiro de 1942 até o fim da Segunda Guerra Mundial foi Arthur Harris (1892-1984). Harris tinha ideias muito bem definidas sobre a melhor e mais rápida maneira de vencer o conflito. Assim como outros oficiais integrantes do alto-comando, Harris firmemente acreditava que um extenso e prolongado bombardeio de área (bombardear indiscriminada e simultaneamente uma grande área), promovido contra as mais importantes cidades alemães, iria provocar uma rendição da Alemanha. A partir de sua própria experiência dos Bombardeios de Londres (London Blitz), quando a Luftwaffe (Força Aérea Alemã) havia impiedosamente bombardeado a capital inglesa em 1940 e em 1941, Harris acreditava que o lançamento de bombas incendiárias ao invés de lançar apenas bombas explosivas poderia destruir mais eficazmente uma cidade. Para tanto, seria necessária uma força muito grande de bombardeiros. Operações anteriores mostraram que bombardeios diurnos haviam provocado perdas pesadas para os bombardeiros devido aos ataques de caças (aviões de caça ou aviões de combate) e à defesa antiaérea. A cobertura de nuvens também era outro impedimento para um bombardeio preciso. Fez-se necessária a mudança para o bombardeio noturno, uma vez que durante a noite era mais difícil para a defesa alemã localizar os aviões bombardeiros dos aliados, embora isso também tornava os bombardeios mais imprecisos do que ele já era. Atingir alvos estratégicos, embora relativamente pequenos, como fábricas de armamentos ou bases de U-boats (submarinos alemães) provou-se malsucedido com a tecnologia disponível à época. A realizaçao de reconhecimentos pós-ofensiva revelou que apenas um em cada três aeronaves lançava suas bombas a até 8 quilômetros (5 milhas) do alvo pretendido. A resposta parecia ser promover o bombardeio de área: se 1.000 bombardeiros ou mais - quatro ou cinco vezes o número usual usado por cada lado da guerra em uma ofensiva - pudesse atingir uma cidade e lançar bombas repetidamente sobre uma vasta área, os resultados seriam devastadores.
Mas nem todo mundo considerou que o efeito sobre o estado de espírito das cidades localizadas nas áreas bombardeadas pudesse ser realmente desmoralizador. Como a Blitz havia demonstrado, o moral dos civis poderia ser muito resiliente. Talvez mais importante, mesmo que os civis pudessem ser desmoralizados na Alemanha nazista, eles não estavam vivendo em uma democracia, mas em uma ditadura na qual a divergência poderia muito rapidamente terminar em prisão ou em morte. Em suma, uma população civil desmoralizada em uma ditadura não provocaria, necessariamente, uma mudança de regime. Em consideração ao moral da população, um melhor argumento seria afirmar que o bombardeio de área poderia aumentar o moral dos civis britânicos (e em menor extensão o moral de seus aliados): de fato, uma ofensiva aérea dessa magnitude seria uma demonstração de que as forças armadas estariam devolvendo na mesma moeda os horrores que os cidadãos britânicos haviam, eles próprios, experimentado. Esse seria um efeito muito mais importante em um governo democrático.
Promovido a marechal-do-ar, “Bomber” Harris, como ele era conhecido, posteriormente se tornaria algo como um bode expiatório da campanha de bombardeio de área, na medida em que outros desejavam se dissociar daquela estratégia que matou dezenas de milhares de civis. Harris não conduziu a guerra aérea na Europa sozinho. É importante notar que o primeiro-ministro Winston Churchill apoiou Harris. À época, o presidente americano Franklin D. Roosevelt (1933-1945) estava considerando reduzir o fornecimento de aeronaves para a Grã-Bretanha e, portanto, uma demonstração de utilidade das ofensivas aéreas poderia impedir aqueles cortes. Finalmente, havia outra vantagem no bombardeio de área de larga escala além da destruição material e do moral e que é frequentemente esquecida: grandes frotas de bombardeiros sofrem menos baixas proporcionalmente às frotas menores. Como Harris percebeu, “uma das principais ideias em enviar um ataque maior é poder destruir com as defesas, e foi exatamente isso o que aconteceu” (Holmes, 299).
A primeira ofensiva de larga escala ocorreu sobre Lübeck e Rostock, tendo sido executada com sucesso na primavera de 1942, e levou Harris a realizar seu grande teste: Colônia. Na noite de 30 de maio de 1942, Harris reuniu uma força com mais de 1.000 bombardeiros que, por necessidade, incluiu unidades de treinamento, e os enviou a Colônia. Na verdade, o alvo preferido por Harris naquela noite era Hamburgo, mas a cobertura de nuvens redirecionou o ataque para Colônia. A população de Hamburgo foi poupada sem que tivessem conhecimento, mas sua hora chegaria um ano depois.
O melhor bombardeiro da RAF, mas à época ainda relativamente com poucas unidades, era o bombardeiro quadrimotor Lancaster, capaz de carregar uma carga de bombas de até 6.350 quilos. Os bombardeiros arrasaram Colônia, mas os britânicos sofreram uma perda de 40 aeronaves. Considerado um sucesso, muitos bombardeiros foram encomendados e a estratégia de bombardeio de área de Harris continuou sendo executada, embora nenhum dos bombardeios que se seguiram tiveram o mesmo efeito de surpresa causado em Colônia.
A RAF adotou melhores equipamentos. Novas esquadrilhas de Pathfinder (PFF) lançavam “indicadores de alvo” (Target Indicators, ou TIs), marcando os alvos a serem atingidos. Em seguida, outros bombardeiros Lancaster entravam em operação, podendo melhor visualizar os alvos marcados anteriormente pelos “indicadores de alvo”. Ataques massivos com mil ou mais aviões bombardeiros foram executados sobre Essen, em 1º de junho, e sobre Bremen, em 25 de junho de 1942. Resultados neutros e o peso dos recursos necessários para executar ataques de tão larga escala resultaram em operações de menor escala. De março a julho de 1943, a RAF concentrou-se em alvos mais específicos na Batalha do Ruhr, que teve como alvos dos bombardeios as indústrias armamentistas da bacia do Rio Ruhr. O ataque mais famoso foi sobre as barragens do Rio Ruhr na chamada Operação Chastise (a “Ofensiva Dambuster”). Entretanto, ao fim de julho de 1943, Harris voltou novamente sua atenção para as cidades: seria a vez de Hamburgo enfrentar o pesadelo do bombardeio com a operação nomeada “Gomorra”, em homenagem à cidade bíblica homônima destruída por Deus devido à perversidade de seus moradores. O codinome Gomorra é altamente sugestivo das ambições da RAF para Hamburgo: destruição total.
Gomorra: o ataque
Hamburgo era a segunda maior cidade da Alemanha, o maior porto da Europa, e tinha uma importante doca onde havia sido construído o poderoso navio de guerra Bismarck, dentre muitas outras embarcações. Havia, ainda, um grande e ativo estaleiro de U-boats (submarinos alemães) e fábricas de aeronaves. Muitos moradores trabalhavam naqueles estaleiros e fábricas espalhados pela cidade. Havia outra razão que fazia de Hamburgo um bom alvo: por estar perto da costa, era um alvo mais fácil de encontrar do que uma cidade no interior; além disso, a cidade era bem delimitada pelo Rio Elba que corria cruzando a cidade. Por todas essas razões, Hamburgo já havia sido atacada em janeiro de 1943, mas a ofensiva de cerca de 150 bombardeiros foi um fracasso, devido ao fato de as bombas terem sido lançadas de forma muito dispersa. A Operação Gomorra iria corrigir essa falha.
A RAF reuniu 3.000 bombardeiros para atacar Hamburgo, um número sem precedentes. A ofensiva ocorreria em quatro noites separadas: 24, 27, 29 de julho e 2 de agosto. De acordo com Albert Speer (1905-1981), Ministro do Armamento alemão, as forças da RAF contavam, a cada noite, com 791, 787, 777 e 750 bombardeiros, respectivamente. Um pouco menos da metade daquela força era composta por bombardeiros Lancaster. O objetivo desses ataques era fazer com que todos os bombardeiros voassem sobre o alvo em um tempo nunca antes visto de apenas 90 minutos. Somado à ofensiva noturna britânica, a Oitava Força Aérea do Exército Americano, que então estava baseada na Grã-Bretanha, conduziu ataques diurnos de menor intensidade em 25 e 26 de julho usando 235 bombardeiros B-17F. Diferentemente da RAF, os alvos da USAAF (Força Aérea dos Estados Unidos) eram específicos: a fábrica de motores aeronáuticos Klockner e os estaleiros da Blohm & Voss. Os anjos da morte da Operação Gomorra iriam lançar 8.600 toneladas de bombas sobre Hamburgo em seis ofensivas (quatro noturnas pelos britânicos e duas diurnas pelos norte-americanos).
Nos ataques, a RAF usou pela primeira vez os cartuchos chaff (à época, chamados de Window pela RAF e Düppel pelos alemães): chaff é o nome dado a tiras de papel alumínio (também conhecidas como “palha de alumínio”). Cartuchos chaff foram lançados aos milhares de forma a criar uma “nuvem de metal” que confundia os radares de defesa alemães e os sistemas de pontaria das armas de defesa antiaérea. Ao utilizarem os sistemas de defesa, os alemães viam uma “chuva” de pontos brancos em suas telas e não conseguiam diferenciar os aviões da “palha de alumínio”. Os aviões bombardeiros despejaram suas cargas por toda a cidade: a área de devastação aumentava à medida que novos esquadrões lançavam suas bombas antes de onde as bombas anteriores haviam sido lançadas. Isso criou um fenômeno indesejável conhecido como creepback, que resultou em algumas bombas caindo 11 quilômetros (7 milhas) de distância do alvo central do bombardeio. A taxa de perdas de aeronaves variou entre 1,5% a 6%, dependendo da noite em que a ofensiva ocorreu. No total, 86 bombardeiros foram perdidos. O relatório de danos oficial da RAF afirmou contundentemente: “a cidade de Hamburgo está agora em ruínas. A destruição é de uma escala nunca antes vista em uma cidade desse tamanho” (Spick, 37).
A tempestade de fogo
Na segunda noite, os bombardeiros utilizaram uma combinação de bombas de alto teor explosivo e bombas incendiárias, criando uma enorme tempestade de fogo, literalmente um furacão de fogo feito pelo homem. O fenômeno foi ainda mais alimentado pelo clima quente e ventoso. Em uma tempestade de fogo, os incêndios, desesperados por oxigênio, puxam o ar do seu entorno, um fenômeno que cria um vento de fogo que rapidamente espalha as chamas e os destroços pegando fogo em uma área cada vez mais ampla. Aos poucos, massas de fogo se fundiram para criar uma enorme tempestade com ventos semelhantes ao de furação. As temperaturas se elevaram até 800º C em algumas áreas. A área afetada media 22 quilômetros quadrados (8,5 milhas quadradas) e o incêndio se espalhou descontroladamente. O serviço de combate ao fogo não tinha meios de enfrentar as terríveis temperaturas e a velocidade do fogo que se espalhou por toda a cidade em apenas 60 minutos. Milhares foram asfixiados devido ao ar superaquecido.
Ben Witter, jornalista de Hamburgo, deu o seguinte testemunho da ofensiva em Hamburgo:
[...] eu vi pessoas fugindo correndo, elas estavam queimando como tochas, nosso carro dava solavancos ao passar sobre corpos mortos. Devido ao calor, os corpos haviam encolhidos e nós pensamos que eles eram crianças, mas eles eram adultos. O ataque se concentrou sobre uma área onde muitos trabalhadores viviam mas que também continha muitas fábricas. Toda a área era cortada por canais e muitas pessoas tentaram se jogar dentro deles, mas a água estava pegando fogo (Holmes, 303).
Speer deu o seguinte resumo da tragédia:
Os primeiros ataques atingiram os canos de fornecimento de água, de modo que nos bombardeios subsequentes o corpo de bombeiros não tivesse meios de combater os incêndios. Enormes incêndios criaram tempestades ciclônicas; o asfalto das ruas estava em chamas; as pessoas sufocavam em seus porões ou queimavam até a morte nas ruas (389).
Mortos e prejuízos
As perdas foram enormes: 800 militares foram mortos nos ataques; por volta de 46.000 civis morreram; destes, por volta de 22.000 eram mulheres e 5.000 eram crianças. Para dar alguma perspectiva acerca do número de mortos, por volta de 60.500 civis foram mortos nos bombardeios da Alemanha sobre a Grã-Bretanha durante todo o curso da guerra.
Metade da cidade de Hamburgo foi destruída, e dois terços dos sobreviventes, um milhão de pessoas, tiveram de ser evacuados. O bombardeio de área destruiu 580 fábricas envolvidas na indústria armamentícia. Os estaleiros de U-boats, em contraste, não sofreram prejuízos significativos. Nenhuma bomba atingiu a indústria de motores aeronáuticos Klockner. Os bombardeiros da USAAF haviam sido impedidos de atingir seus alvos devido à grande quantidade de fumaça que se espalhava sobre toda a cidade. Por essa razão, um grupo de B-17 selecionou outros dois alvos: o estaleiro Howaldtswerke (ligeiramente danificado) e a central elétrica Neuhof (completamente destruída). Era claramente um equívoco enviar bombardeiros da RAF antes dos precisos bombardeiros da USAAF, ainda que a defesa da cidade disparasse bombas de fumaça para criar cortinas de fumaça e proteger os principais alvos. Além dos danos às fábricas, a morte de um grande número de trabalhadores afetou fortemente a recuperação da produção: exemplificativamente, foi estimado que a falta de trabalhadores depois da ofensiva resultou em 27 U-boats que deixaram de ser construídos. Os estaleiros de U-boats nunca se recuperaram completamente, mas recuperaram cerca de 80% da capacidade em cinco meses.
Speer anotou:
A devastação causada por aquela série de ofensivas aéreas poderia ser comparada com os efeitos de um grande terremoto […] uma série de ataques daquela natureza, realizada sobre mais seis cidades de grande porte, paralisaria a produção de armamentos pela Alemanha […] Felizmente para nós, uma série de ofensivas como aquela realizada em Hamburgo não se repetiu com a mesma escala em outras cidades. Assim, o inimigo mais uma vez permitiu que fizéssemos ajustes à sua estratégia (389).
Consequência
Na Grã-Bretanha, a Operação Gomorra foi considerada um sucesso. A destruição imposta ao inimigo veio ao custo de 21 bombardeiros da USAAF e 87 bombardeiros da RAF perdidos. O efeito moral é difícil de mensurar, mas talvez seja significativo que Hitler não visitou a cidade e censurou notícias sobre os ataques a Hamburgo.
O uso de chaff (“palha de alumínio”) na ofensiva aérea em Hamburgo, um dispositivo que os alemães possuíam mas não haviam usado ainda, obrigou a força aérea alemã a repensar sua estratégia de defesa aérea. Anteriormente, os sistemas chamados Kammhuber Line e Raumnachtjagd distribuíam os aviões de combate em “caixas” em uma grade imaginária sobre o norte da Europa. Os aviões circulavam dentro dessas “caixas” a noite até os operadores de radar lhes informarem a posição da aeronave inimiga. O problema era que os aviões de combate alemães não tinham permissão para atacar fora das “caixas”. A partir dos ataques em Hamburgo, novas táticas adicionais foram adotadas, como a estratégia chamada de Wilde Sau (“javali selvagem”): essa estratégia permitia que os aviões de combate voassem livremente sobre as cidades e atacassem os bombardeiros inimigos. Para garantir que os aviões de combate não fossem atingidos por sua própria defesa antiaérea, eles passaram a patrulhar acima de uma altitude pré-determinada. Voando em uma altitude maior, os aviões de combate alemães podiam melhor visualizar os bombardeiros aliados em contraste com os incêndios dos alvos que estes próprios provocaram. Os bombardeiros aliados passaram a ser atacados a partir de cima, e a estratégia Wilde Sau prover ser um sucesso.
Hamburgo precisou de muitos anos para se recuperar da Operação Gomorra. Um piloto da RAF, o tenente-aviador Jimmy Davidson, que havia se surpreendido pelas ordens de bombardear repetidamente a cidade, visitou-a novamente em julho de 1945, desta vez no solo. Davison anotou:
A desolação parecia completa - acre após acre de ruínas sem vida - e eu estava mais que feliz que ninguém podia apontar o dedo e dizer onde minhas bombas haviam caído. Uma coisa é bombardear no calor da batalha, mas outra coisa é ver a própria contribuição tendo como pano de fundo um inimigo derrotado (Neillands, 240-1).
A falta de recursos não permitiu que o Comando de Bombardeiros dos Aliados continuasse com sua estratégia de bombardeio de área, como Speer temia. Não haveria uma repetição imediata de uma ofensiva parecida com a Operação Gomorra. O próximo grande alvo de bombardeio foi a capital alemã de novembro de 1943 até março de 1944, uma ofensiva que se tornou conhecida como a Batalha Aérea de Berlim.
A estratégia de bombardeio de área permaneceu controversa, com muitos líderes dos dois lados da guerra a salientar que o bombardeio de precisão ainda era extremamente difícil, na medida que o inimigo constantemente fazia avanços em sua tecnologia de defesa. Ao final, adotou-se uma combinação de bombardeio de área com bombardeio de precisão tanto pela RAF quanto pela USAAF, no que ficou conhecido como Ofensiva Combinada de Bombardeiros. Posteriormente, a batalha aérea continuou a ser a única maneira de levar a guerra diretamente até as portas da Alemanha, ao menos enquanto não houvesse uma invasão terrestre, o que somente ocorreria no chamado Dia D, em junho de 1944. Houve grandes melhorias na defesa dos bombardeiros, obtidas principalmente por voos em formação com os bombardeiros da USAAF mais próximos uns dos outros, bem como a chegada de um grande número de P-51 Mustang, os novos caças de longo alcance americanos. Com isso, os aviões bombardeiros estavam mais bem protegidos do que antes e o bombardeio de precisão à luz do dia passou a ter preferência na Europa durante o ano de 1944. Em fevereiro de 1945, ataques da RAF com mil bombardeiros fizeram mais uma vítima: Dresden.
Embora Harris continuasse convencido de que bombardear cidades levaria à rendição alemã, a estratégia podia ser vista como indo de encontro à Diretiva Pointblank (junho de 1942), pela qual o Alto-Comando Aliado concordou que bombardear alvos militares e estratégicos era prioridade sobre os alvos civis, em preparação para as próximas operações terrestres na Europa (embora a Diretiva fosse ambígua, uma vez que ela incluía, como um objetivo legítimo, diminuir o moral dos civis). As pesadas perdas da RAF, a falta de evidência de que o moral dos civis alemães havia sido atingido, e a preocupação acerca do alto número de perdas civis contribuíram para o descrédito do bombardeio de área, tanto pelas autoridades militares quanto pelo público em geral, pelo menos da Europa. Certamente, esse era o caso na medida em que a guerra adentrou em uma nova e final fase baseada em operações terrestres.
Os horrores inimagináveis do bombardeio de área foram testemunhados novamente entre maio e julho de 1945: a fim de evitar uma ofensiva terrestre como os desembarques na Normandia, os civis de quase todas as cidades japonesas enfrentaram enormes bombardeios, uma campanha de terror que culminou na total devastação de Hiroshima e Nagasaki pelas bombas atômicas.