O Messerschmitt Bf 109, também conhecido como Me 109, foi o mais importante caça monoplano alemão durante a Segunda Guerra Mundial (1939-45). Produzido em maiores quantidades do que qualquer outro avião alemão, o caça foi uma adversário à altura do Supermarine Spitfire da RAF (Força Aérea Britânica) na Batalha da Inglaterra e teve emprego em uma grande variedades de linhas de frente, da África do Norte à Rússia.
Projeto
O Messerschmitt Bf 109 foi o segundo projeto de monoplano de Wilhelm ("Willy") Messerschmitt (1898-1978). O "Bf" refere-se à companhia Bayerische Flugzeugwerke, que fabricava os aviões e na qual Messerschmitt atuava como projetista-chefe. Em meados da década de 1930, o governo alemão decidiu implantar o projeto de caça monoplano para um piloto, a fim de descobrir o melhor design para um avião que pudesse se tornar um dos mais importantes da Luftwaffe (Força Aérea Alemã). Também conhecido como Me 109, o projeto de Messerschmitt conquistou o contrato, derrotando outros fabricantes já estabelecidos, como a Arado, Focke-Wulk e Heinkel. Esta última empresa impressionou com seu Heinkel 112 e, assim, o estado encomendou dez protótipos deste avião, bem como dez do Me 109.
O protótipo Me 109s tinha motores britânicos Rolls-Royce e o avião teve um ótimo desempenho nos testes em Augsburg, em setembro de 1935. Os primeiros modelos produzidos utilizavam o motor Junkers Jumo 210A. O público alemão teve sua primeira visão do Me 109 num desfile nos Jogos Olímpicos de Berlim, no verão de 1936. Na primavera de 1937, os primeiros aviões estavam operacionais. O motor Jumo foi atualizado várias vezes, e a aeronave viu sua primeira ação militar na Guerra Civil Espanhola (1936-9). Willy Messerschmitt assumiu a Bayerische Flugzeugwerke em julho de 1938, quando a Alemanha preparava a fabricação de armamentos para a guerra. A empresa foi renomeada Messerschmitt AG e, em setembro, cerca de 600 caças foram construídos. Alguns aviões tinham um motor superior, o Daimler-Benz, instalado desde o início e, em 1939, ele se tornou o padrão. No final de 1939, a Luftwaffe dispunha de cerca de 2.000 Me 109 prontos para uso. Em 1940, mais de 150 exemplares saíam mensalmente das linhas de produção. O avião teve um desenvolvimento contínuo durante a guerra, com o objetivo de aumentar o desempenho, a estabilidade e o poder de fogo. No total, foram fabricados cerca de 35.000 Me 109.
Uma versão de dois lugares do Me 109, o Bf 109G-12, foi usada para fins de treinamento. Além da Luftwaffe, as forças aéreas da Itália, Suíça, Espanha, Bulgária, Croácia, Finlândia e Hungria, entre outras, também utilizaram este avião de combate.
Especificações e Armamentos
O Me 109 media 9,02 m de comprimento e 9,92 m de envergadura. Era alimentado por um motor Daimler-Benz DB 605 AM de 12 cilindros, com potência de 1.475 hp, ainda que algumas versões posteriores tenham elevado essa potência em um terço. A velocidade máxima alcançava cerca de 610 km/h, com um teto máximo de 11.550 m, embora o Bf 109H, mais especializado, pudesse voar até 14.480 m de altitude. O alcance usual era de cerca de 600 km, mas com possibilidade de extensão para 1000 km com a inclusão de um tanque extra de combustível.
O caça estava armado com um canhão (que disparava através do eixo da hélice) e duas metralhadoras situadas acima do motor e, assim, elas dispararam através do arco da hélice. O calibre do canhão variava de 20 mm a 30 mm. Cada uma das metralhadoras MG 131s, de 13 mm, dispunha inicialmente de 500 cartuchos de munição e, posteriormente, 1.000 cartuchos. A carga de munição era uma vantagem significativa sobre seu principal rival, o britânico Supermarine Spitfire. O piloto do Spitfire disparava suas metralhadoras apenas por cerca de 15 segundos no total, enquanto o piloto do Me 109 tinha até 55 segundos (embora ambos geralmente disparassem rajadas curtas de 2-3 segundos). O canhão tinha 60 cartuchos de munição e podia ser disparado separadamente das metralhadoras. Um único projétil de canhão causava danos consideráveis. Um piloto da Royal Air Force (RAF), a Força Aérea Britânica, descreveu o Spitfire que voava ao seu lado e estava sendo submetido a tiros de canhão de um Me 109: "O cockpit explodiu. Você podia ver a cobertura desaparecer e, presumivelmente, o sujeito com ela, porque a explosão foi muito forte" (Holland, 684). Os armamentos extras incluíam a instalação de um canhão adicional sob cada asa. O caça também podia carregar bombas com um peso máximo de 250 kg – na forma de uma única bomba ou quatro bombas de 50 kg.
O Me 109 foi usado em vários teatros de guerra e, portanto, dispunha de uma grande variedade de esquemas de camuflagem, por exemplo, com um trem de pouso de cor clara e topo verde escuro ou cinza mosqueado (Europa), amarelo com manchas escuras (deserto) e principalmente branco (Escandinávia), entre outros. Na Batalha da Inglaterra, no verão de 1940, os Me 109 muitas vezes utilizaram coberturas de motor, pontas de cauda e pontas de asas em amarelo, com o objetivo de ajudar na identificação nos céus saturados de aviões de combate.
Operações e Táticas
Os Me 109, conhecidos por seus pilotos como "Emils", foram usados desde o início da Segunda Guerra Mundial, quando as táticas alemãs de blitzkrieg (a combinação de unidades blindadas rápidas e aviões) permitiram à Alemanha varrer seus vizinhos europeus. Uma vez que o novo território estava ocupado, o caça tinha três papéis principais: estabelecer superioridade aérea sobre a linha de frente a uma profundidade de 50 km, defender formações de bombardeiros e locais estratégicos importantes, como a indústria pesada. Um quarto papel, mais ocasional, ocorria quando se equipava o caça com uma carga de bombas para atacar pequenos alvos estratégicos, como estações de radar.
Quando a Luftwaffe se estabeleceu em novos aeródromos no norte da França e na Bélgica, tornou-se possível para os Me 109 dar cobertura de caça às missões de bombardeiros sobre a Grã-Bretanha. Durante a Batalha da Inglaterra, o Me 109E foi o único caça monoplano empregado pela Luftwaffe. O conflito logo se tornou uma guerra de atrito. Inicialmente, o Me 109 mostrou-se um vencedor diante dos melhores caças da RAF, especialmente acima de 6.000 m, onde "sua taxa de ascensão mais rápida, teto mais elevado de combate, armamento mais pesado e melhores capacidades de mergulho provaram-se decisivas" (Dildy, 43).
A velocidade e maneabilidade do Me 109 certamente eram superiores ao Hawker Hurricane, o caça mais numeroso da RAF. No entanto, o segundo caça da RAF, o Supermarine Spitfire, passou a ser um adversário efetivo da aeronave alemã depois de várias melhorias de design. O Spitfire talvez tivesse melhor maneabilidade e estabilidade geral, mas o sistema de injeção de combustível do Me 109 conferia-lhe uma vantagem significativa nos mergulhos, com menor chance de estolagem. Naturalmente, essas vantagens de desempenho de ambos os lados, em geral, dependiam das habilidades individuais e bastante variadas dos pilotos. Os pilotos do Spitfire certamente dispunham de melhor visibilidade através de sua cobertura de acrílico do cockpit, enquanto os pilotos do ME-109 tinham sua visão prejudicada pela forte estrutura de metal de suas coberturas.
Os pilotos de caça alemães voavam em formações táticas muito melhores. Conhecida como Rotte [Grupo], "duas aeronaves voaram a cerca de 180 m de distância. A principal responsabilidade do número dois, ou ala, era proteger seu líder de um ataque lateral ou por trás, enquanto o líder conduzia sua pequena força e também cobria seu ala" (Dear, 281). Essa tática se desenvolveu na formação tipo Schwarme [Enxame], na qual sempre havia dois pares de pilotos. Todos os quatro aviões ficavam relativamente espalhados, o que tornava o grupo muito menos visível do que as formações de caças mais comprimidas da RAF. Os pilotos que derrubavam um certo número de aviões inimigos se tornavam ases ou Experten e, portanto, elegíveis para medalhas altamente valorizadas. Quando a Batalha da Inglaterra estava perto do fim, os Me 109 foram novamente usados como bombardeiros, desta vez sobre Londres.
Apesar das melhores formações da Luftwaffe e da maior taxa de sucesso dos pilotos do Me 109 contra seus colegas britânicos, uma combinação de fatores impediu a derrota da RAF e, assim, a superioridade aérea alemã não foi alcançada. Esses fatores incluíram o uso efetivo do radar, os contínuos desenvolvimentos técnicos britânicos, o tempo limitado de voo sobre a Grã-Bretanha para os caças alemães e as perdas contínuas em bombardeiros e caças, que não podiam ser repostas diretamente na França e na Bélgica (uma vez que as instalações de reparo estavam localizadas apenas na Alemanha). Por fim, o alto comando alemão alterou sua tática para os bombardeios noturnos pesados; a RAF havia vencido a Batalha da Inglaterra.
Além dos caças inimigos, os pilotos do Me 109 estavam encarregados de derrubar bombardeiros, à medida que a guerra aérea empregava cada vez mais os bombardeios pesados. Os pilotos da Luftwaffe logo descobriram que atacar as formações de bombardeiros inimigos de frente trazia melhores resultados. A tática tendia a forçar o rompimento das formações e isso significava que os combatentes inimigos dispunham de menos tempo para atacá-los. Havia desvantagens, no entanto, como explica um piloto de caça da Luftwaffe, o major Werner Schröer:
Mais tarde, tentamos atacar pela frente, mas você só podia usar pilotos experientes para isso, por causa da dificuldade de escapar depois pela formação, já que você tinha muito pouco tempo para atirar, acertar o alvo e depois escapar. (Holmes, 427)
Os Me 109s desempenharam um papel vital no sucesso do Afrika Korps da Alemanha durante a campanha do Norte de África. Este foi talvez o teatro onde a coordenação entre o exército alemão e a força aérea teve seu melhor desempenho. Os Me 109 foram usados como aviões de cobertura para bombardeiros como o Junkers 88, que tinham como alvo as forças britânicas. Os caças também foram usados para defender posições alemãs contra bombardeiros britânicos. Os Me 109, e a Luftwaffe como um todo, tiveram menos sucesso na Frente Oriental, pois os pilotos e equipamentos soviéticos melhoraram com a experiência e seus números muito superiores começaram a fazer diferença. As distâncias muito maiores envolvidas na Frente Oriental eram outro fator decisivo para um caça - mesmo quando equipado com tanques de combustível extras -, que não dispunha de muita autonomia de voo.
Outro uso vital dos Me 109 foi a defesa da Alemanha, especialmente contra os grandes ataques de bombardeiros conduzidos pela RAF e pela Força Aérea dos Estados Unidos (USAAF) contra alvos estratégicos, tais como fábricas de armamentos e grandes cidades. Para combater esses ataques, muitos dos quais incursões com 1.000 bombardeiros, os pilotos da Luftwaffe foram reorganizados taticamente. A primeira abordagem, empregada a partir de meados de 1940, foi a Linha Kammhuber e os sistemas Raumnachtjagd, que tinham um único avião de combate estacionado numa "caixa" de uma grade imaginária que cobria o norte da Europa. Os caças circulavam dentro dessas "caixas" à noite até receberem a direção das aeronaves inimigas pelos operadores de radar. O sistema funcionou bem o suficiente até que a RAF passou a usar dispositivos para bloquear os sistemas de radar alemães durante a Operação Gomorra (o ataque a Hamburgo no verão de 1943). Uma nova tática era o Wilde Sau ('Javali Selvagem'), que permitia que os caças voassem livremente sobre as cidades e atacassem bombardeiros inimigos à vontade. Para garantir que os caças não fossem atingidos por suas próprias armas antiaéreas, os caças patrulhavam acima de uma altitude preestabelecida. A tática Wilde Sau mostrou-se bem-sucedida, pois os bombardeiros aliados podiam ser atacados de cima, de onde ficavam mais visíveis em silhueta contra o fogo dos alvos que estavam bombardeando.
Legado
O Me 109 acabou sendo superado pelo Focke-Wulf 190 da Luftwaffe, introduzido a partir de 1942, e ainda mais pelo P-51 Mustang da USAAF, que podiam voar mais rápido, com maior alcance e altitude. Como ocorreu na Frente Oriental, os números superiores dos Estados Unidos e a maior capacidade de reposição das perdas levaram à perda do controle aéreo da Luftwaffe na Europa Ocidental e Central.
No ano final da guerra, o Me 109 também acabou eclipsado por uma nova geração de caças movidos a jato, que incluía o Messerschmitt 262. Hitler rejeitava as vantagens da propulsão a jato do 262, insistindo que fosse usado como bombardeiro, e só mudou de opinião quando a guerra já estava perdida. A guerra de caças passaria por uma revolução, mas o Me 109 desempenhou seu papel, tanto nos combates aéreos quanto preparando as fundações para os caças a jato que dominariam a Guerra Fria.