Sistema Dowding

Definição

Mark Cartwright
por , traduzido por Ricardo Albuquerque
publicado em 30 abril 2024
Disponível noutras línguas: Inglês, francês
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The Dowding  System of WWII (by Simeon Netchev, CC BY-NC-ND)
O Sistema Dowding da Segunda Guerra Mundial
Simeon Netchev (CC BY-NC-ND)

O sistema de defesa aérea integrado da Grã-Bretanha na Segunda Guerra Mundial (1939-45), conhecido como Sistema Dowding, em homenagem ao marechal-chefe do ar que o organizou, incluía decifradores de códigos, estações de radar, observadores, holofotes, balões de barragem, armas antiaéreas e aviões de combate. Num trabalho conjunto, coordenado por um centro de operações, esses vários elementos garantiram que a Força Aérea alemã pudesse ser melhor rastreada e interceptada e, assim, o Sistema Dowding ajudou a vencer a Batalha da Inglaterra.

O marechal do ar Hugh Dowding (1882-1970), comandante-em-chefe do Comando de Caças da Força Aérea Real (RAF, na sigla em inglês), estava determinado a melhorar as defesas aéreas da Grã-Bretanha no período entre os conflitos mundiais, começando com a ideia de uma competição de projetos para novos aviões de combate, que teve como vencedores o Hawker Hurricane e o Supermarine Spitfire. Em 1936, Dowding foi nomeado chefe do Comando de Caças da RAF. Neste cargo, o marechal controlava a operação dos caças de combate, o Comando Antiaéreo (que operava armas de fogo e holofotes), o Comando de Balões (que lidava com balões antiaéreos), mil unidades de observadores voluntários de alerta precoce e mais de 50 estações de radar, uma nova tecnologia cujo desenvolvimento havia sido apoiado pelo marechal. Todos esses elementos se combinariam no que ficou popularmente conhecido como o Sistema Dowding de defesa aérea, que permitia a detecção e recepção precoces de aeronaves inimigas sobrevoando a Grã-Bretanha.

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Defesa Integrada

O sistema integrado de defesa aérea da Grã-Bretanha (IADS, na sigla em inglês) foi criado em 1° de maio de 1936, após a reocupação da Renânia, em março, que deixou evidentes as tendências agressivas da Alemanha na Europa. A ideia de reunir recursos para a defesa aérea remontava à Primeira Guerra Mundial (1914-18), quando a Alemanha bombardeou a Grã-Bretanha usando aeronaves como os dirigíveis Zeppelin. A Defesa Aérea da Grã-Bretanha (ADGB, na sigla em inglês), deixada de lado na década de 1920, foi revivida e expandida. Com o tempo, o Sistema Dowding passou a ser formado por sete componentes:

  • os esquadrões de aviões de combate do Comando de Caças da RAF
  • a artilharia antiaérea do Comando Antiaéreo
  • os holofotes dos Corpo de Engenheiros Reais
  • os vigias do Corpo de Observadores Reais
  • balões de barragem estáticos para deter ataques aéreos em locais importantes
  • estações de radar estáticas e móveis
  • Inteligência militar Ultra.

Air Chief Marshall Hugh Dowding
Marechal do Ar Hugh Dowding
Ministry of Information Photographer (Public Domain)

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A primeira IADS abrangeu a Inglaterra meridional, o norte e oeste da Inglaterra e a Escócia. Os voluntários do Corpo de Observadores examinavam os céus em busca de aviões inimigos e relatavam avistamentos, por telefone, para um centro de relatórios local que, por sua vez, entrava em contato com o Centro de Operações. Os observadores das unidades de artilharia antiaérea e de holofotes faziam o mesmo. Com o espaço aéreo britânico dividido numa enorme grade, os plotadores no quartel-general podiam rastrear a posição das aeronaves domésticas e inimigas, com situação atualizada a cada cinco minutos. Até aí tudo bem, mas havia duas fraquezas fundamentais no sistema. A primeira era que só se avistavam as aeronaves inimigas quando se aproximavam da costa, onde se posicionava o Corpo de Observadores. Além disso, com tempo nublado ou à noite, os aviões inimigos conseguiam penetrar no espaço aéreo da Grã-Bretanha sem detecção. Tais problemas precisavam ser resolvidos rapidamente.

A Grã-Bretanha declarou guerra à Alemanha em setembro de 1939, após a invasão da Polônia. Em 1940, a Alemanha marchou pelos Países Baixos, as forças britânicas abandonaram o continente na Retirada de Dunquerque e a França caiu. A invasão da Grã-Bretanha (Operação Leão Marinho) parecia iminente e certamente seria precedida pelos ataques da Luftwaffe (Força Aérea Alemã) aos aeródromos e indústrias estrategicamente importantes do país, tentando garantir a superioridade aérea. Felizmente para a Grã-Bretanha, uma nova tecnologia surgiu, uma nova e altamente secreta "arma" que se mostrou decisiva na próxima batalha aérea, a Batalha da Inglaterra, oficialmente datada de 10 de julho a 31 de outubro de 1940 pelo Ministério da Aeronáutica britânico.

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Estações de Radar

A solução para criar um sistema de alerta antecipado genuíno para ataques aéreos foi o RADAR, sigla para Radio Detection and Ranging [Detecção e Localização por Rádio]. A Alemanha tinha sua própria versão do radar, assim como vários outros países. A versão britânica, conhecida como Radio Direction Finding (RDF) ou Radiogoniometria, foi iniciada por Robert Watson-Watt (1892-1973) com pesquisa e desenvolvimento financiados pelo Ministério da Aeronáutica. O sistema podia (mais ou menos) detectar a posição e a altura da aeronave em aproximação e, através das várias leituras e referências cruzadas de outras estações de radar, estabelecer sua direção. Tratava-se de uma tecnologia crucial para defender a Grã-Bretanha de ataques aéreos, que podiam acontecer em qualquer lugar e a qualquer momento, conforme explicado pelo comandante 'Max' Aitken:

Nós contávamos com o maior ativo que qualquer Força Aérea já tivera, o radar. O radar efetivamente venceu a Batalha da Inglaterra porque, sem ele, seria necessário realizar patrulhas constantes e, com o número limitados de aeronaves e de pilotos, isso não seria possível. (Holmes, 134)

Chain Home Radar Towers
Rede Doméstica de Torres de Radar
Royal Air Force Photographer (Public Domain)

Os sistema de radar, testado a partir de março de 1936, consistia em grupos de torres de aço com 107 metros de altura, nas quais ficavam suspensas várias antenas de transmissão. As antenas enviavam sinais num arco de mais de 100 graus que, ao serem interrompidos por aeronaves inimigas, enviavam de volta "ecos eletrônicos" para as torres receptoras. Este tipo de radar era conhecido como AMES Tipo 1. Havia uma alternativa mais sofisticada, o AMES Tipo 2, que usava torres mais curtas e, em vez de antenas suspensas, duas antenas giratórias para enviar os sinais. A Marinha Real desenvolveu o Tipo 2 para monitorar navios e, embora tivessem um alcance menor que o Tipo 1, podiam enviar sinais em 360 graus e, assim, determinar a posição do alvo com mais precisão.

As torres de radar começaram a ser construídas rapidamente ao longo da costa meridional e sudeste da Inglaterra, além de algumas no interior. Uma torre de radar Tipo 1 podia detectar aeronaves inimigas a 100-160 km de distância. A rede de torres Tipo 1 chamava-se de Chain Home (CH) [Rede Doméstica] e a do Tipo 2 Chain Home Low (CHL) [Rede Doméstica de Baixa Altitude], uma vez que detectava aeronaves voando abaixo de 300 metros. No verão de 1940, a Grã-Bretanha dispunha de 20 estações CH e 30 CHL. Prevendo que o inimigo tentaria destruir as torres de radar, os britânicos montaram 24 unidades móveis, conhecidas como MB2s, que podiam ser deslocadas rapidamente para substituir estações danificadas. Os grupos de torres enviavam sinais de volta para as estações, que então se comunicavam (via linhas telefônicas subterrâneas) com o cérebro de todo o sistema: a Sala de Operações do Quartel-general do Comando de Caças da RAF.

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O quartel-general do Comando de Caças estava localizado num complexo subterrâneo à prova de bombas no Priorado de Bentley.

Embora as torres de radar fossem um alvo óbvio para os bombardeiros de mergulho da Luftwaffe, elas se mostraram bastante resilientes e relativamente fáceis de reparar. A partir de 1941, aviões de combate noturnos equipados com radar aumentaram a capacidade de rastreamento do Comando de Caças. O Sistema Dowding também recebia informações do Comando Costeiro da RAF, que realizava voos de reconhecimento sobre o Canal da Mancha, o Mar do Norte e os portos do norte da Europa.

Corpo de Observadores

Formalmente criado em 1929, o Corpo de Observadores estava sob o comando do comodoro Alfred Warrington-Morris (1883-1962) em 1940 e supria o Comando de Caças com informações adicionais sobre o tráfego aéreo. A unidade dispunha de mais de 30.000 voluntários, espalhados por 1.000 postos de observação (que aumentaram para 1.500 em 1944). Cada posto, ocupado 24 horas por dia, continha binóculos, um estimador de altitude (instrumento semelhante a um sextante), mapa de grade, telefone e, naturalmente, utensílios para fazer chá. Os observadores comunicavam os avistamentos ao Grupo Central, que transmitia os dados ao centro de defesa de caças local. Quando a Alemanha começou a disparar foguetes V-1 não tripulados, no final da guerra, observadores disparavam sinalizadores para ajudar os caças a interceptá-los.

Observer Corps Members Sighting Enemy Aircraft
Membros do Corpo de Observadores Avistando Aeronaves Inimigas
P.O. Bridge (RAF Photographer) (Public Domain)

O público ajudava na observação dentro do Sistema Dowding, especialmente depois que a RAF começou a promover cursos de observação de aeronaves em toda a Grã-Bretanha. Havia até um livro específico publicado pela Penguin, Aircraft Recognition, embora não fosse fácil diferenciar entre aeronaves inimigas e domésticas.

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Inteligência Ultra

Havia outra fonte de informação altamente secreta, chamada Ultra intelligence [inteligência Ultra], denominação derivada da expressão de ultra secret [ultrassecreto]. Através dela, os britânicos conseguiram decifrar as comunicações alemães que usavam, entre outros, a máquina de código Enigma, da qual os especialistas em criptografia, como Alan Turing (1912-54), aprenderam os segredos nas instalações em Bletchley Park, próximo a Londres. Tratava-se de uma descoberta desconhecida para o inimigo, que permaneceu confiante de que as máquinas Enigma eram indecifráveis (os franceses e poloneses também quebraram o código).

Cada chave da máquina Enigma podia produzir milhões de variações codificadas, mas, para deleite dos criptógrafos, o sistema tinha a fraqueza inerente de não dispor de nenhuma chave numérica para aumentar a variação. Auxílios adicionais para os decifradores de código eram a captura ocasional de listas de códigos (que mudavam regularmente) e o fato de que os operadores nem sempre cumpriam os rigorosos procedimentos de segurança. A estação de escuta da RAF em Cheadle representava outra fonte útil de inteligência, já que os operadores podiam interceptar conversas de rádio entre os pilotos da Luftwaffe.

QG de Operações

O quartel-general do Comando de Caças estava localizado num complexo subterrâneo à prova de bombas no Priorado de Bentley. Ali, uma Sala de Filtragem recebia informações de todas as fontes mencionadas acima e repassava os dados mais relevantes às plotadoras, integrantes da Women's Auxiliary Air Force (WAAF) [Corpo de Auxiliares Femininas da Força Aérea], que marcavam o progresso das aeronaves inimigas e a posição dos esquadrões da RAF num mapa gigante, conhecido como General Situation Map (GSM) [Mapa Geral de Situação] na Sala de Operações do QG. O quartel-general repassava para cada comando do grupo de caças as atualizações que, por sua vez, seriam comunicadas às estações do setor, que se comunicavam via rádio com os aeródromos, informando aos aviadores quando decolar e para onde ir. Para o rastreamento das aeronaves da RAF em voo, utilizava-se um sistema de Radiogoniometria, ou Radio-Telephony Direction Finding (R/T-D/F).

Enigma Cypher Machine
Máquina Criptográfica Enigma
Alessandro Nassiri (CC BY-SA)

As unidades de Precaução de Ataque Aéreo (Air Raid Precaution - ARP) recebiam avisos do Comando de Caças para que as sirenes de ataque aéreo pudessem ser acionadas, alertando os civis. O Comando enviava mensagens telefônicas para os centros de controle, que então as transmitiam para um ou mais dos 111 distritos de alerta em que a Grã-Bretanha havia sido dividida. Avisos codificados por cores indicavam a proximidade de aeronaves inimigas. Um alerta amarelo significava que a aeronave estava a 22 minutos de distância. Um alerta roxo significava que as aeronaves inimigas sobrevoariam, mas não atacariam uma determinada área, que precisava então desligar toda a iluminação externa. O alerta vermelho indicava que a aeronave estava a apenas 12 minutos de distância, o que fazia a polícia local soar as sirenes de ataque aéreo. Em resposta às sirenes, esperava-se que o público fosse para suas adegas, abrigos Anderson [construções rudimentares que se espalharam pelo país durante o conflito] em seus jardins ou abrigos comunitários, como estações de metrô. O alerta verde sinalizava que a aeronave havia passado, uma situação comunicada ao público através de uma sirene tocando numa nota constante.

Armas Antiaéreas

As armas de artilharia antiaérea (AA), ou armas Ack-Ack, assim apelidadas por causa de seu distinto ruído repetitivo, eram operadas pelo Comando Antiaéreo, criado em abril de 1939 e liderado pelo tenente-general Frederick Pile (1884-1976). Inicialmente, as unidades AA tinham o objetivo de defesa dos aeródromos e fábricas durante a Batalha da Inglaterra. Após os ataques às cidades, passaram a fazer parte da defesa urbana. As armas AA leves, úteis apenas contra aeronaves em baixa altitude, disparavam projéteis de 37-40 mm. Já os canhões antiaéreos pesados tinham projéteis de calibre de 9,4 cm, disparados a uma taxa de dez tiros por minuto. Em alguns canhões mais novos, o calibre chegava a 11,4 cm. Os projéteis, efetivos até uma altura de 7.600 metros, explodiam quando ativados por um temporizador, enviando estilhaços num raio de 13,7 m. Para concentrar o fogo, as armas antiaéreas geralmente ficavam agrupadas em baterias de quatro, seis ou oito.

As unidades AA recebiam alertas sobre aeronaves inimigas em seu setor pelo QG do Comando de Caças. Infelizmente para a defesa da Grã-Bretanha, havia bem poucas armas antiaéreas disponíveis em vista da extensão de território a ser protegido. “Em junho de 1940 havia 1.204 canhões antiaéreos pesados e 581 leves” (Overy, 43). Atingir aviões inimigos em movimento rápido à noite (ou mesmo durante o dia) estava muitas vezes além das capacidades da tecnologia de armas de 1940. Como resultado, "em setembro, 30.000 projéteis foram disparados para cada avião inimigo destruído" (Ziegler, 117). As equipes melhoraram seu desempenho com a prática e com o acréscimo da assistência do radar, de modo que, no ano seguinte, a estatística baixou para 4.000 projéteis por 'acerto'. No entanto, as armas pressionavam as aeronaves inimigas a voar numa altitude mais alta e aumentavam a moral local, graças à sensação de que algo ativo estava sendo feito em termos de defesa.

British Searchlight Operators
Operadores de Holofotes Britânicos
Lt. Taylor - War Office Photographer (Public Domain)

Holofotes

Os holofotes eram instalados perto das baterias AA na esperança de que os feixes de luz destacassem a posição da aeronave, ajudando os artilheiros a mirar. Um holofote típico durante a Batalha da Inglaterra tinha um feixe de 90 cm, com 210 milhões de velas, alcançando até 3.660 m de distância. No final de 1940, holofotes de 150 cm estavam sendo usados, com mais do que o dobro da potência. Outro desenvolvimento consistiu em dotar os holofotes de capacidade de radar. Eles podiam ser empregados para ajudar a guiar os bombardeiros danificados da RAF no retorno às bases ou para pousar com mais segurança. Para isso, uma seção das luzes brilhava verticalmente e depois se movia horizontalmente na direção da área de pouso. Este método auxiliou cerca de 3.000 bombardeiros a voltar para casa durante a guerra.

As unidades antiaéreas e equipes de holofotes informavam o Comando de Caças sobre avistamentos, particularmente a velocidade, direção e força dos esquadrões inimigos que chegavam ou partiam.

Balões de Barragem

Os balões de barragem, fabricados por empresas como a fabricante de pneus Dunlop, eram defesas estáticas, estacionadas sobre cidades, docas e alvos industriais, na esperança de que aeronaves voando baixo se enredassem nos fios de metal que abriam paraquedas, os quais enguiçavam os motores. Os fios que prendiam os balões podiam alcançar uma altura de 1.500 m. A operação deles ficava geralmente a cargo do WAAF. Como as armas antiaéreas, os balões raramente causavam baixas diretas (em toda a guerra, elas somaram apenas 30 aviões), mas faziam as aeronaves voarem mais alto e, portanto, reduziam a precisão dos bombardeios. Londres dispunha de aproximadamente 1.000 deles em 1940, primeiro prateados e depois pintados de verde. Os balões foram efetivos contra os foguetes V-1 disparados contra a Grã-Bretanha no final da guerra, sendo responsáveis pela destruição de 231 unidades. As comunidades locais costumavam dar apelidos aos balões mais próximos, tais como "Bispo de Londres", mas a denominação generalizada desses defensores silenciosos, mas onipresentes, era pigs [porcos].

Barrage Balloons over London
Balões de Barragem sobre Londres
Unknown Photographer (Public Domain)

Os Caças

Devido às perdas de homens e aeronaves durante a evacuação de Dunquerque, o Comando de Caças contava apenas com aproximadamente 500 aviões de combate operacionais. Em agosto de 1940, esse número aumentou para mais de 1.000 aeronaves, o que significava que cerca de 600 a 750 caças podiam ser colocados no ar (embora Dowding raramente comprometesse mais da metade de suas forças ao mesmo tempo). A Luftwaffe tinha aproximadamente o mesmo número de caças.

Graças a excelentes níveis de produção, a RAF conseguia substituir suas perdas melhor do que a Luftwaffe, que operava a partir do território ocupado e, portanto, não podia repor os aviões perdidos de forma tão eficiente. Os alemães tinham a vantagem de concentrar a vasta maioria de suas aeronaves no sudeste da Inglaterra. A RAF não contava com caças estacionados em toda a Grã-Bretanha, mas sua vantagem residia em lutar em seu próprio território, o que significava que os caças tinham mais combustível e mais tempo no ar do que o inimigo. Ambos os lados lutavam para recompor o quadro de pilotos diante das perdas. A Batalha da Inglaterra precisou ser cuidadosamente balanceada durante todo o tempo.

O Sistema Dowding proporcionou uma defesa bem coordenada, mas ainda persistiam dois problemas fundamentais: os caças alemães podiam cruzar o Canal da Mancha em apenas seis minutos e os bombardeiros podiam atacar qualquer alvo que quisessem. A velocidade, portanto, tornava-se essencial na organização de uma resposta efetiva.

Dois dos quatro comandantes de grupos do sistema eram Keith Park (1892-1975) e Trafford Leigh-Mallory (1892-1944). Park, famoso por voar regularmente em seu próprio Hawker Hurricane para os aeródromos, comandava o Grupo de Caças n° 11, setor que protegia o sudeste da Inglaterra e que combatia a Luftwaffe com mais frequência. Leigh-Mallory chefiava o Grupo de Caças n° 12, encarregado da proteção às indústrias da região de Midlands. Havia atrito entre os dois comandantes, já que Park queria que Leigh-Mallory protegesse os aeródromos do sul enquanto seus combatentes partiam para o combate ao inimigo. Porém, Leigh-Mallory preferia enviar seus aviadores para a ofensiva contra qualquer alvo que pudessem encontrar. Outra controvérsia era o apoio de Leigh-Mallory à proposta do comandante Douglas Bader, que concebeu a formação chamada Big Wing [Grande Esquadrilha], uma estratégia vista com reticências por Dowding. A Big Wing consistia na montagem de uma grande formação, composta por vários esquadrões, antes do ataque ao inimigo. O impacto que a Grande Esquadrilha podia produzir era muito maior do que o envio de um único esquadrão, mas a formação em si levava muito tempo para ser organizada no ar e, assim, em geral, os bombardeiros inimigos já haviam atingido seus alvos antes que os combatentes os atacassem.

Map of the Battle of Britain, 1940
Mapa da Batalha da Inglaterra, 1940
Simeon Netchev (CC BY-NC-ND)

Em setembro, a Luftwaffe mudou de tática e começou a bombardear Londres, no que ficou conhecido como Blitz de Londres, permitindo que Dowding ganhasse tempo para recompor as defesas aéreas. A Batalha da Inglaterra, caracterizada pelo atrito, havia sido vencida. As perdas totais da RAF totalizaram cerca de 788 aeronaves, em comparação com as 1.294 perdidas pela Luftwaffe (Dear, 127). Dowding foi condecorado com a Knight Grand Cross of the Order of the Bath [Grã-Cruz de Cavaleiro da Ordem do Banho, assim denominada devido à cerimônia original, que previa um banho para fins de purificação] por planejar a defesa bem-sucedida da Grã-Bretanha. Como observou Robert Wright, assistente de Dowding: "Ele disse que sabia muito bem que nunca poderia vencer a guerra, mas estava muito consciente do fato de que era o único homem que poderia facilmente perdê-la" (Holmes, 132).

A Alemanha continuou a bombardear a Grã-Bretanha durante a guerra, embora numa escala muito menor do que a Blitz de 1940-41, que atingiu Londres, Coventry, Plymouth, Cardiff e muitas outras cidades da Grã-Bretanha. O Sistema Dowding, embora longe de ser infalível, continuou a apoiar as defesas do país mesmo após o marechal ter sido transferido para outras funções, como promover as relações com os Estados Unidos. Como observou Winston Churchill, o Sistema Dowding "havia sido moldado e refinado em ação constante, fundindo-se num elaborado instrumento de guerra, sem igual em nenhum outro lugar do mundo" (Saunders, 38).

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Perguntas e respostas

O que era o Sistema Dowding?

O Sistema Dowding integrava as defesas aéreas da Grã-Bretanha durante a Segunda Guerra Mundial. O sistema combinava informações de inteligência e radar para organizar defesas como as armas antiaéreas e esquadrões de caças contra as aeronaves inimigas.

Quem era Dowding na Segunda Guerra Mundial?

Hugh Dowding era um marechal do ar que ficou célebre ao chefiar o Comando de Caças, organizar o Sistema Dowding e vencer a Batalha da Inglaterra contra a Alemanha em 1940.

Como o Sistema Dowding funcionava?

O Sistema Dowding de defesa aérea funcionava recebendo informações do radar e de observadores, que chegavam ao quartel-general central, eram processadas e redistribuídas aos esquadrões de caças, armas antiaéreas e guardiões do sistema de Precaução contra Ataques Aéreos, indicando para onde as aeronaves inimigas se dirigiam.

Sobre o tradutor

Ricardo Albuquerque
Jornalista brasileiro que vive no Rio de Janeiro. Seus principais interesses são a República Romana e os povos da Mesoamérica, entre outros temas.

Sobre o autor

Mark Cartwright
Mark é um escritor em tempo integral, pesquisador, historiador e editor. Os seus principais interesses incluem arte, arquitetura e descobrir as ideias que todas as civilizações partilham. Tem Mestrado em Filosofia Política e é o Diretor Editorial da WHE.

Citar este trabalho

Estilo APA

Cartwright, M. (2024, abril 30). Sistema Dowding [Dowding System]. (R. Albuquerque, Tradutor). World History Encyclopedia. Recuperado de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-22973/sistema-dowding/

Estilo Chicago

Cartwright, Mark. "Sistema Dowding." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. Última modificação abril 30, 2024. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-22973/sistema-dowding/.

Estilo MLA

Cartwright, Mark. "Sistema Dowding." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 30 abr 2024. Web. 20 jan 2025.