A Blitz de Londres foi uma campanha de bombardeio contínuo sobre a capital da Grã-Bretanha pelas forças aéreas alemã e italiana de setembro de 1940 a maio de 1941 durante a Segunda Guerra Mundial (1939-45). O objetivo era bombardear a cidade para provocar a rendição dos britânicos, mas apesar dos quase 100.000 civis mortos ou feridos devido aos ataques noturnos, os londrinos resistiram e a guerra continuou.
Os objetivos de Hitler
A Grã-Bretanha declarou guerra à Alemanha em setembro de 1939 após a invasão da Polônia pelos alemães. Em meados de 1940, a Alemanha invadiu os Países Baixos, as forças britânicas haviam abandonado o continente no episódio conhecido como evacuação de Dunquerque e a França havia sucumbido. A invasão da Grã-Bretanha pelos alemães (Operação Leão Marinho) parecia iminente, e ela certamente seria precedida pela Luftwaffe (Força Aérea Alemã) atacando os britânicos para conquistar superioridade no espaço aéreo. As cidades britânicas estavam ameaçadas como estiveram durante a Primeira Guerra Mundial (1914-18) quando os dirigíveis zepelins alemães haviam atacado Londres.
Primeiro, a Luftwaffe concentrou seus esforços em tentar destruir a Força Aérea Real britânica (RAF, na sigla em inglês para Royal Air Force) no ar e na terra bombardeando campos de pouso. Quando essa estratégia provou-se malsucedida e a RAF venceu a Batalha da Grã-Bretanha, a Luftwaffe mudou sua tática. Bombardear Londres e outros cidades tornou-se o novo objetivo, conforme especificado em uma instrução do líder da Alemanha Nazista, Adolf Hitler (1889-45): “[...] para ataques disruptivos sobre a população e defesa aérea das principais cidades britânicas, incluindo Londres, dia e noite” (citado por Dear, 108).
A partir de então, a Luftwaffe passou a ter como objetivo destruir os suprimentos de bens para os britânicos e esmagar o moral dos cidadãos, mirando suas bombas nas docas em East End, indústrias vitais, usinas de energia, terminais ferroviários e outros portos. Londres estava a apenas 30 minutos das bases da Luftwaffe e era um alvo fácil graças às curvas do Rio Tâmisa, facilmente identificáveis inclusive à noite.
Evacuações
Temeroso de que pudesse haver uma grande mortandade durante a guerra aérea, seja devido a bombas convencionais, seja pelo uso de gás tóxico, o governo já havia fortemente encorajado a evacuação das crianças para reduzir as perdas. Cerca de seis milhões de crianças e mães fugiram para cidades menores e comunidades rurais, quatro milhões como parte do esquema de evacuação conhecido como Operação Flautista, que incluiu enviar crianças para a América do Norte, Nova Zelândia e África do Sul. Um milhão - o que constituía metade das crianças de Londres - foram evacuadas, embora uma porção significativa tenha retornado durante os relativamente calmos meses iniciais da guerra, a chamada Phoney War (Guerra de Mentira).
A decisão de evacuar era uma decisão difícil para os pais. As experiências que as crianças teriam dependeriam fortemente da bondade e da tolerância das famílias acolhedoras voluntárias que as receberiam, algumas por diversos anos até a guerra terminar. A experiência contribuiu para uma maior interação social entre os britânicos, pessoas com realidades diferentes vendo como outras pessoas viviam e testemunhando seus hábitos que, de outra forma, elas não poderiam imaginar. Houve também efeitos psicológicos duradouros em muitas crianças. Os estudos sobre como as crianças foram mentalmente afetadas, tanto aquelas que foram evacuadas, como aquelas que ficaram em casa enfrentando os bombardeios, iniciaram uma ênfase duradoura sobre esse aspecto do bem-estar infantil.
Crianças e jovens mães não foram as únicas a fugir. Muitos adultos deixavam a cidade apenas durante a noite e retornavam na manhã seguinte, um fenômeno que ficou conhecido como “trekking”. Obras de arte foram removidas. As esculturas do Partenon e outros tesouros do Museu Britânico foram embalados em caixotes e guardados no metrô subterrâneo em Piccadilly. Artes e estátuas públicas que não podiam ser removidas foram cobertas por tapumes e sacos de areia, embora a estátua de Lord Nelson sobre seu alto pedestal em Trafalgar Square tenha sido deixada sem proteção para poder encarar desafiadoramente os aviões inimigos.
Defesa Civil
A Grã-Bretanha possuía um sistema de defesa aérea integrado chamado de Sistema Dowding, batizado em referência ao marechal do ar Hugh Dowding. O sistema, operado pelo Comando de Caças da RAF, envolvia decodificadores que interpretavam a comunicação dos inimigos, estações de radar e observadores voluntários que identificavam movimentos aéreos, além de centros de controle que distribuíam informação para alertar as linhas de frentes compostas por balões de barragem, holofotes, baterias antiaéreas e aviões de combate como o Supermarine Spitfire. O Comando de Caças também alertava os controladores da chamada Precauções contra Ataques Aéreos (ARP, da sigla em inglês para Air Raid Precautions), uma espécie de defesa civil estruturada em rede, e a polícia local, de forma que os civis pudessem se esconder nos abrigos antiaéreos.
O Sistema Dowding funcionou bem, o que não significou que os bombardeiros não conseguissem ultrapassá-los e despejar milhares de bombas sobre Londres e em outros lugares. Londres possuía por volta de 1.000 balões de barragem em 1940, em regra operados pela Força Auxiliar Feminina da Aeronáutica (WAAF, sigla em inglês para Women's Auxiliary Air Force). O número de baterias antiaéreas (apenas 92 no começa da Blitz) era insuficiente, mas eles aumentaram à medida que ficava claro que Londres era um alvo específico. Em todo o caso, devido à limitada tecnologia da época, tanto balões quanto a artilharia eram raramente capazes de impedir os aviões inimigos, embora eles tenham agido, de fato, como dissuasor das aeronaves que voavam baixo, dificultando-as de promover um bombardeio mais preciso. Outro problema de defesa era que os caças britânicos frequentemente tinham de lutar contra caças inimigos como o Messerschmitt Bf 109 antes que eles pudessem atacar os aviões bombardeiros. Embora incapaz de tornar Londres imune aos bombardeios, o sistema de defesa provou seu valor no longo prazo à medida que a guerra aérea se transformou em uma guerra de atrito.
Os bombardeiros
Londres foi atingida pela primeira vez em 24 de agosto de 1940, quando um pequeno grupo de aviões Heinkel He 111 bombardeou a cidade. Eles haviam sido enviados para atingir um terminal de combustível, mas equivocadamente atingiram a cidade. Em consequência, deu-se início a uma série de bombardeios de retaliação em áreas civis que escalou pelo restante da guerra. A RAF bombardeou Berlim no dia seguinte, 25 de agosto, e a Luftwaffe enviou 300 bombardeiros para atacar Londres em 7 de setembro. O bombardeio continuou até maio de 1941, e foi a imprensa britânica a primeira a chamar os contínuos ataques aéreos dos inimigos de “Blitz”. As aeronaves alemãs estavam baseadas na França ocupada e nos Países Baixos. A força aérea italiana operava a partir da Bélgica e também fazia parte da Blitz. Algumas vezes apenas sete aviões faziam parte do ataque, mas em outros ataques havia 400 aeronaves, mas em média cada ataque envolvia 250 aviões.
Os bombardeios ocorriam usualmente à noite, uma vez que durate o dia os bombardeiros eram muito mais vulneráveis aos ataques dos caças britânicos e muito mais expostos à artilharia antiaérea. Houve alguns ataques diurnos, particularmente quando havia cobertura de nuvens. A consequência dos bombardeios noturnos é que eles eram muito imprecisos. A Luftwaffe despejou bombas explosivas para destruir prédios e bombas incendiárias para causar incêndios que pudessem se alastrar pelas estruturas vizinhas. As bombas incendiárias eram tão leves que elas frequentemente vagavam pelo ar e atingiam alvos acidentais. A região londrina de East End, onde as docas estavam localizadas, era um alvo em particular.
Peter Stahl, um membro da tripulação de um bombardeiro Junkers Ju 88, anotou em seu diário sua experiência de bombardear Londres:
Deve ser terrível lá embaixo. Nós vemos muitos incêndios causados pelos bombardeios anteriores. O efeito dos nossos próprios ataques é uma enorme nuvem de fumaça e poeira que sobe em direção ao céu como uma uma larga fita movediça. (Holland, 731)
Fugindo para os abrigos
Civis eram alertados por uma sirene com doze minutos de antecedência que um ataque aéreo aconteceria. O lugar mais seguro eram os abrigos, tais como as estações de metrô de Londres, embora mesmo ali bombas ocasionalmente causaram mortes. Cada um tinha de trazer sua própria roupa de cama e colchões, havia muito barulho vindo das pessoas conversando e das crianças correndo por toda a parte e o saneamento era limitado, mas isso não fez que mais de 150.000 pessoas desistissem de escolher passar as noites nas estações de metrô.
Para aqueles que não moravam perto de uma estação do metrô, havia abrigos construídos nas ruas. Em um primeiro momento, abrigos comunitários eram poucos e mal construídos, mas eles melhoraram à medida que a Blitz continuou a ocorrer. Muitos eram guarnecidos com banheiros, camas e uma pequena cantina. Havia cerca de 5.000 abrigos comunitários em Londres.
Inicialmente, o governo promoveu uma política de desencorajar as pessoas a se reunirem em abrigos, uma vez que estes poderiam representar um alvo direto que traria maior número de mortos do que se as pessoas ficassem dispersas. Certamente, abrigos não eram imunes aos ataques. Em um episódio abominável, o Abrigo de Kennington Park - uma longa trincheira revestida de concreto - foi atingido por uma bomba que matou 47 pessoas. Abrigos comunitários nos porões dos edifícios como escolas e prefeituras poderiam ser mais seguros, mas havia casos em que os edifícios colapsavam e as pessoas ficavam presas nos escombros.
As empresas foram obrigadas por lei a prover alguma forma de abrigo para seus trabalhadores (que trabalhavam em turnos diurnos e noturnos) e receberam fundos públicos com essa finalidade. Mas a capacidade desses abrigos em resistir aos bombardeios era muito variável.
Outra opção era ter um “abrigo Anderson” no quintal da própria casa. Feitos de chapas metálicas e cobertos por terra, um abrigo Anderson podia resistir a ataques próximos, estilhaços e destroços, mas não, obviamente, a um impacto direto. O abrigo media 1,8m x 1,4m e tinha 1,8m de altura. Eles podiam acomodar quatro pessoas, ou até mesmo seis pessoas em caso de necessidade. Cerca de dois milhões de abrigos foram distribuídos gratuitamente para famílias de baixa renda com prioridade dada para áreas consideradas mais vulneráveis a ataques.
Apesar de todas essas provisões para abrigos, o lugar mais popular para esperar um ataque aéreo acabar era o porão das casas das pessoas ou, não havendo porão na casa, embaixo de uma mesa de aço conhecida como “abrigo Morrison” ou, mais popular de todos a despeito do perigo, simplesmente se reunindo embaixo das escadas. Muitos ataques duravam a maior parte da noite. As pessoas eram informadas de que o ataque havia acabado por sirenes que tocavam uma nota contínua. Posteriormente, as autoridades pararam de utilizar as sirenes e passaram a utilizar um sistema de aviso mais silencioso usado pelos inspetores voluntários da ARP. As pessoas começaram a ficar cansadas de ter de deixar suas casas noite após noite e, por volta de novembro de 1940, apenas 40% aproximadamente dos londrinos continuavam a se refugiar em abrigos públicos.
Serviços voluntários durante a Blitz
Londres lidou com os ataques aéreos graças a um exército de dezenas de milhares de voluntários e trabalhadores em funções fundamentais, como no corpo de bombeiros e na rede de Precauções contra Ataques Aéreos (ARP, na sigla em inglês). Os inspetores da ARP asseguravam que o blecaute (“apagão”) fosse respeitado, isto é, a política de que nenhuma luz não essencial pudesse ser vista fora das casas e pudesse, assim, ajudar as aeronaves inimigas. Os inspetores da ARP guiavam as pessoas para os abrigos, informavam as autoridades onde as bombas estavam caindo, ajudavam a retirar as pessoas dos escombros de prédios colapsados e formavam grupos para carregarem as macas com feridos. Em Londres, havia cerca de dez postos de inspetores para cada milha quadrada (2,6 quilômetros quadrados), cada posto composto, usualmente, por cinco inspetores.
O serviço regular do corpo de bombeiros não podia lidar com o alto número de incidentes durante a Blitz. Em um ataque, por exemplo, na noite de 29 de dezembro de 1940, houve 1.500 incêndios. Por essa razão, o serviço regular do corpo de bombeiros era suplementado por homens e mulheres integrantes do Serviço Auxiliar dos Bombeiros (AFS, na sigla em inglês para Auxiliary Fire Service). O público frequentemente ajudava a apagar os incêndios utilizando baldes e bombas de pressão manual.
Também havia um esquema compulsório de vigilantes de incêndio (também conhecidos como “Fire Guards”, uma espécie de brigada comunitária), pessoas que ficavam atentas às bombas incendiárias, de modo a assegurar que o fogo por elas causado não se alastrasse em grandes incêndios. Outro importante serviço crucial foi o Serviço Voluntário de Mulheres para a Defesa Civil (WVS, na sigla em inglês para Women's Voluntary Service for Civil Defence). As voluntárias da WVS operavam cantinas móveis que eram muito apreciadas pelas pessoas em situação de rua e outros voluntários que trabalham nas ruas da cidade, como os bombeiros. Elas também administravam centros de repouso que distribuíam comida e roupa para aqueles que haviam perdido tudo o que possuíam. O sentimento dos necessitados foi resumido por Lily Merriman, que perdeu sua casa devido a uma bomba: “Nós nos sentíamos como refugiados. Eu costumava me sentir suja. Nós não víamos mais nossos vizinhos. Fomos transferidos para outro lugar, e pronto”. (Levine, 30)
Outros serviços essenciais que executavam funções cruciais incluíam esquadrões antibombas que lidavam com as bombas que não explodam (UXBs, da sigla em inglês para “unexploded bombs”), e havia muitas delas, uma vez que cerca de uma em cada dez bombas falhava e não explodia com o impacto. A chamada “Home Guard” (uma espécie de Guarda Local voluntária) era composta por voluntários homens que eram muito jovens ou muito velhos para ingressar nas forças armadas. Eles ajudavam de todas as maneiras possíveis durante os ataques, especialmente nos trabalhos de resgate. Finalmente, havia todo tipo de voluntários nos serviços médicos agindo como carregadores de maca, motoristas de ambulância e auxiliares nos centros de primeiros-socorros. A logística para organizar os serviços para melhor atender onde eles fossem requisitados era outra grande tarefa: esse trabalho de logística era frequentemente feito por voluntários que trabalhavam em centros de controle, centros de distribuição e agências de informação.
A Grã-Bretanha aguenta
Depois de um ataque, os londrinos continuam a vida diária deles da melhor maneira possível, como foi explicado por Phyllis Warner:
Uma das coisas mais estranhas sobre nosso dia a dia era a mistura entre o horror impiedoso e a rotina diária. No meu caminho para o trabalho eu passo pelas crateras das bombas e vidros estilhaçados, sento-me à minha mesa em uma sala com um buraco enorme no telhado (um bloco de pedra da laje havia desabado). Próximo a uma casa reduzida a palitos, uma dona de casa dava ordens corriqueiras a um padeiro e a um leiteiro. É claro que a vida diária deve continuar, mas o efeito dessa mistura é fantástico. Ninguém parece se importar com os ataques diários. São as noites que parecem um pesadelo contínuo, do qual não há despertar misericordioso. Mesmo assim as pessoas não vão embora. Eu sei que pareço um imbecil indo dormir na estação central que fica abarrotada de gente todas as noites, mas eu penso que, se outras pessoas conseguem suportar isso, eu também posso. (Gardiner, 48)
À medida que a destruição afetava mais pessoas, a monarquia e os líderes políticos visitavam as casas bombardeadas, e o braço da propaganda política do governo britânico colocava cartazes com a frase "Britain Can Take It" (A Grã-Bretanha aguenta).
Calculando os custos
Em maio de 1941, Hitler decidiu interromper a Blitz e atacar a URSS (Operação Barbarossa). A Alemanha continuou a bombardear a Grã-Bretanha durante toda a guerra, embora em uma escala muito menor. Muitas cidades britânicas também foram duramente atingidas pela Luftwaffe, especialmente Coventry. Os bombardeios ocasionaram a morte de 60.000 civis e 140.000 foram feridos (Dear, 109), sendo 15.000 crianças mortas ou feridas. Levando-se em consideração apenas o período da Blitz, foram 42.000 mortos e 50.000 feridos. Até o outono de 1942, mais civis britânicos haviam sido mortos por bombas do que militares. Cerca de 750.000 civis ficaram desabrigados.
Lugares famosos também sofreram com os bombardeios. A Câmara dos Comuns foi incendiada; a Abadia de Westminster foi seriamente danificada; o Museu de Cera Madame Tussaud teve seus bonecos de cera reduzidos a pedaços (embora o boneco de Hitler tenha tido apenas um nariz lascado); o Museu Britânico perdeu 250.000 livros em um incêndio; o Museu de História Natural também sofreu danos significativos. Mas houve sobreviventes. A Catedral de St. Paul foi danificada, mas, milagrosamente, uma enorme bomba que caiu próximo à fachada falhou e não explodiu. A Torre de Londres escapou com um pequeno golpe em um de seus baluartes. A torre do relógio do Big Ben sofreu danos superficiais quando uma bomba o atingiu, mas mesmo assim o velho e confiável sino marcou a hora certa poucos minutos depois do ataque. Enquanto o Big Ben badalava, marcando o tempo noite após noite da Blitz, os londrinos encontravam força nos ecos do sino, que soava “we can take it!” (“nós podemos aguentar isso!).
A Luftwaffe executou 85 grandes ataques contra Londres e lançou 24.000 toneladas de explosivos sobre a cidade. A Luftwaffe perdeu cerca de 600 bombardeiros, mas isso representava apenas 1,5% do total de missões aéreas. Muitas fábricas importantes para o esforço de guerra foram atingidas, mas reparos foram feitos e a produção não foi seriamente afetada na maioria dos casos. Graças ao racionamento implementado pelo governo durante a guerra, a Grã-Bretanha conseguiu lidar com a interrupção no fornecimento de alimentos pelas docas de East End. Danos à infraestrutura de transporte eram reparados rapidamente na maioria dos casos. Ao final, Londres - à época duas vezes maior que Berlim e 17 vezes maior que Paris - era grande demais para ser subjugada por meio de bombardeios. A Grã-Bretanha teria a oportunidade de se vingar com os bombardeios dos Aliados à Alemanha, mas Londres ainda enfrentou mais uma vez ataques aéreos no último ano da guerra quando a Alemanha enviou quase 10.000 armas-V (bombas voadoras não tripuladas) para atingir a capital britânica.
O mito da Blitz
Depois da guerra, e mesmo durante ela, surgiu a ideia de que a Blitz era um episódio na histórica britânica que seria uma fonte de grande orgulho. Foi um período no qual as pessoas se uniram e demonstraram o que ficou conhecido como “espírito da Blitz”, uma resistência unida contra um inimigo comum. Modernos historiadores revisionistas têm sido enfáticos em apresentar as falhas dessa visão romantizada da Blitz. É certamente verdade que houve muitos episódios de crimes cometidos, como o saque de casas e lojas bombardeadas, uma forte reação negativa contra outras nacionalidades e judeus, episódios de descontentamento social e raiva devido à falta de organização do governo, principalmente em oferecer abrigos públicos seguros. Entretanto, esses aspectos negativos não preocuparam a maioria das pessoas. As pessoas que viveram a Blitz - civis, pessoal das forças armadas, voluntários e políticos - frequentemente descrevem a sensação palpável de que todos estavam no mesmo barco e compartilhando uma única e terrível experiência. Tudo isso foi simbolizado pela determinação da família real britânica de permanecer em Londres e, quando o Palácio de Buckingham sofreu diversos ataques, a Rainha Elizabeth (Isabel, como é conhecida em Portugal) declarou: “Eu estou feliz de termos sido bombardeados. Agora eu sinto que podemos olhar para East End olho no olho” (Ziegler, 121).