Arsínoe IV

Definição

Arienne King
por , traduzido por Filipa Oliveira
publicado em 21 novembro 2024
Disponível noutras línguas: Inglês, francês, espanhol
Imprimir artigo
Liberation of Arsinoë (by The Yorck Project, Public Domain)
A Libertação de Arsinoe, Tintoretto
The Yorck Project (Public Domain)

Arsínoe IV (m. 41 a.C.) foi uma princesa ptolemaica que, em 48 a.C., se insurgiu contra a sua irmã Cleópatra VII, aliada de Júlio César, no Cerco de Alexandria, que perdeu e foi feita prisioneira durante o Triunfo Romano. Mais tarde, tornou-se sacerdotisa no Templo de Ártemis em Éfeso, até ser assassinada a mando de Marco António e Cleópatra.

A Infância e Antecedentes

Arsínoe IV era filha de Ptolomeu XII Aulete (r. 80-51 a.C.), rei do Egipto Ptolomaico. Tinha duas irmãs: Berenice IV (r. 58-55 a.C.) e Cleópatra VII (70/69-30 a.C.); e dois irmãos: Ptolomeu XIII (62/61-47 a.C.) e Ptolomeu XIV (60/59-44 a.C.). Apesar da sua idade não ser mencionada com exatidão nas fontes antigas, sabe-se que era mais nova que as irmãs e mais velha que os irmãos. Na época do nascimento de Arsínoe IV, Cleópatra V Trifena, mulher de Ptolomeu XII, já não consta das inscrições egípcias; desconhece-se se tal ocorreu porque Cleópatra Trifena tinha morrido ou porque se tinham divorciado. Contudo, a sua mãe ou era uma esposa ou uma concubina que se desconhece.

Remover publicidades
Publicidade
AS PRIMEIRAS REFERÊNCIAS DIRETAS A ARSÍNOE IV NOS RELATOS ROMANOS DESCREVEM-NA COMO TENDO ACOMPANHADO CLEÓPATRA NO EXÍLIO.

Arsínoe IV terá provavelmente nascido na capital, Alexandria. No entanto, como não estava na linha de sucessão ao trono, os escritores contemporâneos prestaram-lhe pouca atenção, e nada se sabe da sua infância. Como todas as mulheres da dinastia ptolomaica, teria sido educada em áreas como política e filosofia grega. O eunuco Ganimedes era tanto seu tutor como guardião legal. Esperava-se, igualmente, que fosse uma exímia amazona.

Em 58 a.C., Berenice IV usurpou o trono de Ptolomeu XII e declarou-se rainha. Acredita-se que Cleópatra e Arsínoe IV tenham acompanhado o pai durante o exílio. De forma a conseguir um exército capaz de restaurar o trono, Ptolomeu XII foi para Roma, onde tinha feito aliados, subornando políticos como Júlio César e Pompeio, o Grande. Pompeio instruiu o seu general Aulo Gabínio a ajudar Ptolomeu XII a reconquistar o Egito em 56 a.C. O rei vitorioso mandou executar Berenice e tornou Cleópatra VII sua co-governante.

Remover publicidades
Publicidade

A Usurpação e o Exílio de Cleópatra

Ptolomeu XII morreu em 51 a.C., nomeando como herdeiros Cleópatra VII, de 18 anos, e Ptolomeu XIII, de 10 anos, cujas decisões políticas eram tomadas em seu nome pelo seu tutor Teódoto de Quíos, pelo ministro Potino e pelo general Áquila. Desde o início, estes conselheiros discordaram de Cleópatra VII, levando a uma disputa entre o jovem rei e a rainha. No final de 49 a.C., um golpe de estado conduz à expulsão de Cleópatra da capital, que se vê forçada a se retirar para Tebas.

As primeiras referências diretas a Arsínoe IV nos relatos romanos descrevem-na como tendo acompanhado Cleópatra no exílio. Não se sabe se Arsínoe IV foi voluntariamente apoiar a irmã ou se foi levada como refém. Ambas viajam para a Síria de forma a reunir um exército, e quando tal acontece, Cleópatra volta ao Egito e luta contra o exército de Ptolomeu XIII na fortaleza fronteiriça em Pelúsio.

Remover publicidades
Publicidade

Family Tree of the Ptolemaic Dynasty of Egypt (305-30 BCE)
Árvore Geneológica da Dinastia Ptolomaica do Egipto (305-30 a.C.)
Simeon Netchev (CC BY-NC-ND)

Ao mesmo tempo, Pompeio, o Grande, foge para o Egito após ser derrotado na guerra civil contra o procônsul, César. A chegada repentina de Pompeio interrompeu o conflito entre Cleópatra e Ptolomeu XIII, que se lança ao seu encontro. Esperava-se que César logo chegasse em perseguição a Pompeio. Os conselheiros de Ptolomeu XIII convenceram-no a matar Pompeio e a entregar a cabeça decepada a César, este enfurecido, decidiu permanecer no Egito para arbitrar a sucessão.

César exigiu, igualmente, o dinheiro que lhe tinha sido prometido pelo falecido Ptolomeu XII, alegando que lhe deviam 17,5 milhões de dracmas, o equivalente à receita anual de todo o país. Os conselheiros de Ptolomeu XIII tiveram dificuldade em entregar o dinheiro exigido, supondo-se que tenham recorrido ao derretimento do ouro e da prata do palácio.

A Batalha de Alexandria

ARSÍNOE IV E PTOLOMEU XIV FORAM NOMEADOS CO-REIS DO CHIPRE, EMBORA NÃO TIVESSEM PERMISSÃO PARA VIAJAR PARA NOVO REINO.

Em Pelúsio, Cleópatra planea virar César contra Ptolomeu XIII, na esperança de que ele a visse como uma aliada mais confiável e experiente que o irmão, viaja furtivamente para Alexandria e torna-se amante de César. Este declara que Ptolomeu XIII e Cleópatra VII deveriam casar-se e governar conjuntamente, de acordo com a vontade do pai. Durante o temporário armistício, Arsínoe IV reuniu-se com os irmãos no palácio. Dado que César tinha apenas uma fraca base legal para ditar a sucessão egípcia e apenas uma legião do exército romano para defendê-lo, como alavancagem, manteve todos os potenciais herdeiros, incluindo Arsínoe IV, no palácio sob guarda armada.

Remover publicidades
Publicidade

No final de 48 a.C., irrompeu em Alexandria uma revolta contra Roma, forçando César a acalmar a população com garantias: concordou em devolver a ilha do Chipre, que havia sido anexada por Roma há alguns anos. Arsínoe IV e o irmão mais novo, Ptolomeu XIV, foram nomeados co-reis do Chipre, apesar de não terem autorização para viajar para o novo reino. Logo depois, Áquila chegou a Alexandria com o exército egípcio e atacou os romanos. Na confusão, Arsínoe IV e Ganimedes fogem juntos.

Arsínoe IV, agindo por meio do eunuco Ganimedes, seu tutor, desferiu o primeiro golpe e matou Áquila. Após o assassinato, ela própria exerceu controlo total sem qualquer consorte ou guardião, enquanto o exército era confiado a Ganimedes. (Júlio César, Di Bello Alexandrini, pág. 4)

O exército proclamou-a rainha, já que Ptolomeu XIII estava sob a custódia de César. Ganimedes e Áquila competiram para conquistar a lealdade do exército egípcio por meio de presentes e aumento de salário. Arsínoe IV executa Áquila, permitindo que Ganimedes se concentrasse na guerra, resultando no cerco das tropas de César, prendendo-as no quartel real, construindo barricadas e fortificações nas ruas da cidade, chegando mesmo a cortar o acesso à água potável.

Na esperança de ganhar tempo criando caos no exército egípcio, César libertou Ptolomeu XIII. Os soldados egípcios prenderam Arsínoe IV e Ganimedes, e aliam-se a Ptolomeu XIII. César recebeu os reforços enviados pelos reinos aliados de Pérgamo e Judéia, o que lhe permitiu derrotar os egípcios na Batalha do Nilo no verão de 47 a.C.. Ptolomeu XIII morreu na batalha e Cleópatra tornou-se a única governante. Após o fim da guerra, César levou Arsínoe IV como sua prisioneira.

Remover publicidades
Publicidade

O Triunfo de Júlio César

César levou Arsínoe IV para Roma, onde foi presa conjuntamente com os outros governantes capturados durante as conquistas. Entre eles, estavam Vercingetórico da Gália e Juba II da Numídia. Era norma que reis e generais capturados marchassem pelas ruas durante um triunfo romano, um desfile de vitória que celebrava as grandes conquistas. Muitos governantes suicidaram-se para evitar serem maltratados e humilhados publicamente pelos seus captores durante um triunfo. Por norma, as mulheres não eram conduzidas em triunfo como governantes cativas, contudo Arsínoe IV foi uma exceção.

A Roman Triumph by Rubens
O Triunfo Romano, Rubens
National Gallery of London (Public Domain)

Em 46 a.C., César celebrou um triunfo quádruplo para comemorar a conquista da Gália, Egito, Ponto e África. Os cativos, os tesouros e as obras de arte saqueadas pelo exército de César desfilaram pela cidade. No segundo dia, durante o triunfo egípcio, Arsínoe IV marchou com correntes de ouro pelas ruas para que a multidão romana pudesse testemunhar a sua provação. Relatos romanos descrevem-na como uma figura digna e simpática que comoveu os espectadores à piedade.

Ganimedes foi executado após o triunfo, mas César declarou que Arsínoe IV seria poupada como um favor aos irmãos vivos. A vida de Arsínoe IV provavelmente foi salva pela efusão de apoio público e pelo desejo de César em parecer misericordioso. O seu cruel tratamento no triunfo simbolizou a subjugação do Egito pela República Romana e humilhou a Dinastia Ptolomaica. Também contribuiu para as percepções negativas de César como um tirano. Cleópatra estava de visita a Roma nesta época, contudo desconhece-se a sua reação a estes acontecimentos.

Remover publicidades
Publicidade

O Exílio e o Assassinato

Após o triunfo, Arsínoe IV foi autorizada a juntar-se às sacerdotisas do Templo de Ártemis em Éfeso. O exercício de um cargo sacerdotal tinha como objetivo impedi-la de reivindicar o trono egípcio. No entanto, ainda havia muitos que acreditavam que ela deveria governar o Egito. O sumo sacerdote Megabizo até a saudou como rainha, em claro desafio a Cleópatra.

Model of the Temple of Artemis
Maquete do Templo de Ártemis
Faigl.ladislav (GNU FDL)

Em 43 a.C., a República Romana mergulhou numa guerra civil desencadeada pelo assassinato de Júlio César no ano anterior. Cleópatra ficou ao lado dos sucessores de César, Otaviano e Marco António, contra os assassinos Cássio e Brutus. Serapion, o governador egípcio do Chipre, ignorou as ordens e começou a ajudar Cássio. Os historiadores modernos sugeriram que a traição de Serapion fazia parte de uma conspiração para restaurar Arsínoe IV ao trono egípcio com o apoio de Cássio.

Com a derrota de Cássio na Batalha de Fílipos, Cleópatra retomou o controlo do Chipre, executou Serapion e outros comandantes navais egípcios que apoiaram Cássio. Após estes eventos, Cleópatra começou a ver os irmãos restantes como ameaças potenciais tanto contra si como contra o seu filho Cesarião (m. c. 47-30 a.C.). Suspeita-se que envenenou o seu irmão Ptolomeu XIV, que morreu inesperadamente em 43 a.C.. De seguida, tramou contra Arsínoe IV, temendo que ela pudesse continuar a desafiar o seu reinado.

Remover publicidades
Publicidade

Em 41 a.C., Cleópatra convenceu o seu aliado e amante Marco António a organizar o assassinato de Arsínoe IV. Apesar de ser um afronta aos deuses, os homens de António assassinaram Arsínoe IV dentro do templo. Megabizo foi, igualmente preso, contudo foi poupado após os pedidos de misericórdia dos Efésios a Cleópatra.

Consequências

Otaviano derrotou Cleópatra e António na Batalha de Ácio em 30 a.C. e estabeleceu o Egito Romano. Cleópatra suicidiou-se de forma a evitar ser conduzida em triunfo como Arsínoe IV o tinha sido há uns anos. Embora menos famosa que sua irmã, Arsínoe IV foi retratada nos filmes e na literatura. Alguns retratam-na como uma traidora vingativa, enquanto outros a veem de forma mais simpática como uma vítima das circunstâncias.

[Cleópatra], que havia envenenado o irmão, fez com que [António] matasse a sua irmã Arsínoe IV, a fim de eliminar uma ameaça ao seu poder. O crime foi cometido no Templo de Diana em Éfeso, para onde a infeliz havia fugido, em busca de santuário. Era como se Cleópatra estivesse a receber um sacrifício do amante. (Giovanni Boccaccio, De mulieribus claris - Mulheres Famosas)

O assassinato de Arsínoe IV é considerado um dos atos mais brutais do reinado de Cleópatra. Escritores como Flávio Josefo (36-100 d.C.) e Giovanni Boccaccio (1313-1375) destacaram-no como um exemplo de tirania e imoralidade. No entanto, muitos historiadores também enfatizam que era necessário salvaguardar o reinado e prevenir futuras guerras civis.

O Possível Túmulo em Éfeso

Em 1926, os arqueólogos desenterraram "O Octógono", um túmulo monumental no centro de Éfeso. O túmulo octogonal era originalmente cercado por uma colunata de mármore com um dossel circular e coberto por um telhado em degraus. O túmulo está localizado dentro das muralhas da cidade, no final da antiga rua processional. Somente, em raras ocasiões, eram os corpos enterrados dentro de cidades antigas, sendo uma honra reservada para individualidades muito importantes. O túmulo foi aberto em 1929 e dentro havia um esqueleto, tendo, inicialmente, sido identificado como sendo de uma adolescente, e o crânio foi levado para a Alemanha, onde foi submetido a testes de ancestralidade pseudocientíficos.

Remover publicidades
Publicidade

A arqueóloga Hilke Thür teorizou tratar-se do túmulo de Arsínoe IV porque a incomum forma octogonal se assemelhava ao famoso Farol de Alexandria. Alguns estudiosos duvidaram desta teoria dado o túmulo não se parecer muito com um farol e não haver muitas evidências que o ligassem a Arsínoe IV. Em 2025, pesquisadores da Universidade de Viena submeteram o crânio a análises genéticas e exames físicos. Descobriram que o crânio na verdade pertencia a um jovem com distúrbios de desenvolvimento, finalmente refutando a identificação de Arsínoe IV. Ainda permanece desconhecido o local onde Arsínoe IV está sepultada.

Remover publicidades
Publicidade

Sobre o tradutor

Filipa Oliveira
Tradutora e autora, o gosto pelas letras é infindável – da sua concepção ao jogo de palavras, da sonoridade às inumeráveis possibilidades de expressão.

Sobre o autor

Arienne King
Arienne King é uma estudante e escritora autônoma apaixonada por história, arqueologia e meios de comunicação digitais. Administra o blog Muses & Mayhem e é Editora de Mídia da Enciclopédia de História Mundial.

Citar este trabalho

Estilo APA

King, A. (2024, novembro 21). Arsínoe IV [Arsinoë IV]. (F. Oliveira, Tradutor). World History Encyclopedia. Recuperado de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-23744/arsinoe-iv/

Estilo Chicago

King, Arienne. "Arsínoe IV." Traduzido por Filipa Oliveira. World History Encyclopedia. Última modificação novembro 21, 2024. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-23744/arsinoe-iv/.

Estilo MLA

King, Arienne. "Arsínoe IV." Traduzido por Filipa Oliveira. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 21 nov 2024. Web. 03 mar 2025.