O Cobre na Antiguidade

Definição

Mark Cartwright
por , traduzido por Ricardo Albuquerque
publicado em 04 outubro 2017
Disponível noutras línguas: Inglês, francês, alemão, espanhol
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Persian Copper Stag Pendant (by The British Museum, Copyright)
Pingente de Cobre Persa em Forma de Cervo
The British Museum (Copyright)

Provavelmente o primeiro metal utilizado por antigas culturas, o cobre era a matéria prima dos artefatos mais remotos já descobertos, que datam do período Neolítico. Com sua cor típica marrom-avermelhada brilhante, passou a ser empregado na fabricação de joias, ferramentas, esculturas, sinos, vasos, lâmpadas, amuletos e máscaras mortuárias, entre outros objetos. Sua importância no desenvolvimento humano ficou patente na denominação da Idade do Cobre, período atualmente mais conhecido como Calcolítico. O cobre era necessário para a fabricação do latão e, claro, do bronze, o metal que deu nome ao período que sucedeu à Idade do Cobre, além de muitas outras ligas metálicas. Da Fenícia à Mesoamérica, o cobre tornou-se um símbolo de status da elite, antes de se tornar mais amplamente disponível. Úteis como itens de troca no comércio entre culturas, eventualmente, os bens simbólicos de cobre foram substituídos por lingotes mais administráveis que, por sua vez, evoluíram para o formato ainda mais conveniente de moedas. O ouro e a prata podem ter sido comuns o suficiente para os ricos e poderosos mas, se havia algum metal puro em que o povo comum podia colocar as mãos no mundo antigo, era o cobre.

Disponibilidade e Mineração

O cobre estava amplamente disponível no estado metálico em muitas áreas do mundo antigo, ainda que em quantidades relativamente pequenas. O metal brilhante vermelho, alaranjado ou marrom começou a ser utilizado nos Bálcãs, Oriente Médio e Oriente Próximo a partir de 8000 a.C. até 3000 a.C. O Egito e a Europa acompanharam a tendência e iniciaram a produção de seus próprios artefatos de cobre. Macio e maleável, tratava-se de matéria prima ideal para a fabricação de produtos decorativos de luxo.

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As lendárias minas de cobre do rei Salomão ajudaram a construir a fortuna de Israel.

Quando os metalúrgicos perceberam que podia ser fundido usando fornos a carvão, a exploração dos minérios ricos em cobre tornou-se mais disseminada, a partir do segundo milênio a.C. Tais minérios estavam presentes em quantidades significativas por todo o Mediterrâneo: Chipre (cujo nome deriva deste metal), Ática, as Cíclades (especialmente em Citnos) e no Levante, em particular. As lendárias minas de cobre do rei Salomão ajudaram a construir a fortuna de Israel, ainda que podem ter pertencido na verdade aos edomitas. Depósitos menos importantes foram explorados na Inglaterra, Gales, França, Itália (especialmente em partes da Etrúria e nas ilhas de Elba e Sardenha), Espanha e Mauritânia.

Do outro lado do mundo, as culturas mesoamericanas (c. 650-1200 d.C.) estavam abastecidas com abundantes quantidades de cobre provenientes das minas a céu aberto em Guererro, no sudoeste do México; Oaxaca, na costa oeste; e Veracruz, na costa leste. O Japão dispunha de ricas fontes do metal e, a partir de cerca de 1000 a.C., passou a exportar quantidades significativas para a vizinha China que, após convertê-lo em moedas, o enviava de volta aos japoneses, que as utilizavam como meio de troca. De maneira similar, a Coreia, também rica em cobre, o enviava para a China através do reino Goryeo, embora os coreanos cunhassem suas próprias moedas. A China dispunha de suas próprias minas de cobre, ao longo da margem sul do Rio Amarelo, mas talvez elas não atendessem à enorme demanda do país.

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Imdugud Copper Frieze from the Ninhursag Temple
Friso de Cobre Imdugud do Templo Ninhursag
Osama Shukir Muhammed Amin (Copyright)

O local de fundição mais antigo que se conhece está localizado na Sérvia e data de aproximadamente 5000 a.C. As primeiras fundições só conseguiam criar uma escória rica em cobre, que precisava de um tratamento adicional num cadinho de argila mas, com o desenvolvimento das fornalhas a carvão e o uso de foles, a temperatura de 1200 graus Celsius podia ser alcançada, resultando num produto muito mais refinado. O cobre derrete a 1084 graus Celsius e, assim, podia ser reduzido ao estado líquido de cobre puro, que era coletado na base da fornalha. Faziam-se os lingotes derramando o metal em moldes de pedra ou argila. Através de novos desenvolvimentos tecnológicos, principalmente pelos romanos, o minério de sulfato de cobre, mais difícil, também passou a ser trabalhado. De fato, os romanos ficaram tão especializado em extrair cobre em larga escala que uma de suas operações de mineração, na Jordânia, ainda deixa traços intoleravelmente altos de cobre nos animais e no trigo da área.

Usos

O cobre, com seu lustre brilhante vermelho-alaranjado quando polido, era utilizado por muitas culturas antigas como matéria prima para fabricação de joias e obras de arte, tais como estatuetas. Ele costumava ser trabalhado com ferramentas bastante semelhantes em várias culturas, desde os etruscos, na Itália, até a civilização moche, na América do Sul, especialmente machadinhas, enxós, cinzéis, sovelas, pinças e agulhas. O cobre polido tornou-se uma escolha popular para os utensílios de mesa e vasilhas entre as elites sociais. Também passou a ser empregado para componentes de instrumentos musicais e cirúrgicos, além de material incrustado para decoração. Os objetos indicadores de prestígio de cobre, na Europa, indicavam mais especificamente o nível social da elite e assumiam as formas de coroas, pontas de maças e estandartes.

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Etruscan Inscription Plaque
Placa Etrusca com Inscrição
The British Museum (Copyright)

Um famoso tesouro escondido de objetos preciosos de cobre foi descoberto na caverna Nahal Mishmar, em Israel, com mais de 200 itens cuidadosamente embrulhados em tapetes de junco e enterrados no período Calcolítico, talvez no quinto milênio a.C. A cor Azul Egípcio, que os pintores de afrescos minoanos tanto apreciavam, era feita de compostos de cobre. O metal também podia adicionar o vermelho, verde e azul nos objetos de vidro. Os cartagineses faziam navalhas simbólicas de cobre para sepultar com seus mortos. Batido em finas folhas, tornava-se uma superfície útil para a escrita, vista de maneira mais célebre nos rolos de cobre descobertos nas cavernas de Qumran, em Israel, onde os Pergaminhos do Mar Morto foram achados.

Na antiga Mesoamérica, os sinos talvez revelassem a posição de elite de uma pessoa, ainda que a maioria tenha sido encontrada num contexto funerário. Os astecas, bastante interessados no cobre, o incluíam nos tributos pagos pelas tribos conquistadas, muitas vezes em forma de machados. Finos demais para qualquer uso funcional, essas machadinhas podem ter servido como uma moeda primitiva. Na antiga América do Sul, os blocos de construção no sítio de Tiahuanaco (Tiwanaku), perto do Lago Titicaca, continham grampos de cobre para mantê-los no lugar. Por sua vez, os incas o empregavam para um propósito totalmente mais prático, embainhando seus bastões de guerra com cruéis ferrões de cobre. Os guerreiros incas usavam placas de metal, provavelmente mais como símbolos de posto do que propriamente como armadura, numa escala que ia do cobre, a mais inferior, à de ouro, que indicava a posição mais alta.

O metal se tornou ainda mais útil através de ligas com outros materiais, mais resistentes e, portanto, mais capazes de resistir à corrosão. Desta forma surgiu o bronze, uma liga que continha cobre, arsênico, antimônio ou estanho, enquanto o latão, um material mais fácil de fundir, consistia numa mistura de cobre e zinco. O acréscimo de chumbo proporcionou um material de melhor qualidade para fundição. Os romanos também usavam o metal para produzir outros tipos de ligas úteis. Eventualmente, o cobre e o bronze acabaram sendo substituídos pelo ferro, mais prontamente disponível e que preenchia a lacuna deixada pela escassez de estanho. Os mesoamericanos eram igualmente adeptos da produção de ligas, notavelmente cobre-prata, cobre-ouro, cobre-arsênico e cobre-estanho. Mais ao sul, na antiga Colômbia, a liga de ouro e cobre, conhecida como tumbaga, tornou-se especialmente popular entre os ferreiros.

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Copper 'Oxhide' Ingot, Uluburun Shipwreck
Lingote de Cobre 'Couro de Boi
Martin Bahman (CC BY-SA)

Artigo de Troca e Moeda

Como um material útil e valioso, o cobre se transformou numa mercadoria de troca, em forma de lingotes planos. Lingotes de cobre foram encontrados em muitos sítios arqueológicos da Idade do Bronze, como Hagia Triada (600 kg abaixo do edifício do palácio) e Zakros, em Creta, além do navio naufragado de Uluburun que, datado de 1330-1300 a.C., transportava 348 exemplares, com peso total de aproximadamente 10 toneladas. Vários desses lingotes trazem uma pequena alça em cada canto, semelhante aos da Idade do Bronze Egeia. Um molde para esses lingotes, às vezes chamado de "couro de boi", foi descoberto em Ras ibn Hani, o porto da antiga Ugarit, na Síria. Outras formas comuns de lingotes antigos são coques circulares, anéis, machados perfurados e adagas.

Análises químicas em lingotes de cobre na Grécia e na Sardenha mostram que se usava o metal local para fabricar mercadorias, enquanto o proveniente de Chipre permanecia armazenado como lingotes, sugerindo que havia dois níveis de utilização: um para uso prático cotidiano e outro como mercadoria ou presente entre as elites. De fato, a demanda por metais provavelmente gerou os primeiros laços comerciais entre as culturas mediterrâneas. Documentos como as Cartas de Amarna mostram que o cobre (provavelmente de Chipre) era negociado entre o Egito e a Assíria, a Babilônia e o Império Hitita, no século XIV a.C. Além de valorizado como matéria prima, então, o cobre passou a ser empregado como moeda.

Roman Copper As
As de Cobre Romano
Mark Cartwright (CC BY-NC-SA)

Os fenícios transportavam o cobre por todo o Mediterrâneo e certos centros metalúrgicos surgiram, nos quais era trabalhado, armazenado e passado adiante. Um desses centros localizava-se no Barein, que repassava o cobre da Mesopotâmia para a cultura harapeana do Vale do Indo, situada na Índia e no Paquistão. O oeste do México, nos períodos Epiclássico e Pós-Clássico da Mesoamérica, tornou-se um notável centro de produção de sinos de cobre, que eram comercializados em toda a América Central. A civilização lambayeque, do Peru setentrional, como os astecas, também produzia machados de cobre empregados como moeda, além de lingotes em forma de L maiúsculo, que foram encontrados cuidadosamente empilhados em edifícios no sítio arqueológico de Batán Grande.

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O metal também passou a ser utilizado na cunhagem de moedas pelos gregos, romanos e chineses, entre outros. A prata assumiu em grande parte o papel de metal preferido para moedas, mas o cobre manteve a preferência para valores baixos, como o as e o nummus romanos, e permaneceu sempre útil para ser misturado com ouro e prata para produzir moedas de maior valor quando os cofres governamentais se encontravam em baixa.

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Bibliografia

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Sobre o tradutor

Ricardo Albuquerque
Jornalista brasileiro que vive no Rio de Janeiro. Seus principais interesses são a República Romana e os povos da Mesoamérica, entre outros temas.

Sobre o autor

Mark Cartwright
Mark é um escritor em tempo integral, pesquisador, historiador e editor. Os seus principais interesses incluem arte, arquitetura e descobrir as ideias que todas as civilizações partilham. Tem Mestrado em Filosofia Política e é o Diretor Editorial da WHE.

Citar este trabalho

Estilo APA

Cartwright, M. (2017, outubro 04). O Cobre na Antiguidade [Copper in Antiquity]. (R. Albuquerque, Tradutor). World History Encyclopedia. Obtido de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-28/o-cobre-na-antiguidade/

Estilo Chicago

Cartwright, Mark. "O Cobre na Antiguidade." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. Última modificação outubro 04, 2017. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-28/o-cobre-na-antiguidade/.

Estilo MLA

Cartwright, Mark. "O Cobre na Antiguidade." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 04 out 2017. Web. 21 out 2024.