Faraó

Definição

Joshua J. Mark
por , traduzido por Hannah Martinelli
publicado em 02 setembro 2009
Disponível : Inglês, francês, espanhol, Turco
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Pharaoh Akhenaten, Cairo Museum (by John Bodsworth, CC BY)
Faraó Aquenáton, Museu do Cairo
John Bodsworth (CC BY)

No Egito Antigo, o faraó era o líder político e religioso do povo e possuía os títulos "Senhor das Duas Terras" e "Sumo Sacerdote de Todos os Templos". A palavra "faraó" é a forma grega do termo egípcio pero ou per-a-a, que era o nome da residência real e significa "Grande Casa".

O nome da residência passou a ser associado ao governante e, com o tempo, foi utilizado exclusivamente para se referir ao líder do povo. Os primeiros monarcas do Egito não eram conhecidos como faraós, mas como reis. O título honorífico "faraó" para se referir a um governante não surgiu até o período conhecido como Novo Império (por volta de 1570  a  1069  a.C.). Os monarcas das dinastias antes do Novo Império eram chamados de "Vossa Majestade" por dignitários estrangeiros e membros da corte; e de "irmão" por governantes estrangeiros. Ambas as práticas continuaram depois que o rei do Egito passou a ser conhecido como faraó.

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O reinado é estabelecido

Em 3150  a.C. começou a primeira dinastia do Egito com a unificação do Alto e do Baixo Egito pelo rei Menés (por volta de 3150 a.C.; atualmente acredita-se que ele foi o Narmer). Menés (ou Narmer) é representado nas inscrições usando as duas coroas do Egito, o que significa unificação, e acreditava-se que seu reinado era a vontade dos deuses; mas o ofício do rei em si não foi associado ao divino até mais tarde.

Durante a segunda dinastia do Egito (2890  a  2670 a.C.), o rei Raneb (também conhecido como Nebre) vinculou o seu nome ao divino e o seu reinado à vontade dos deuses. Seguindo Raneb, os governantes das dinastias posteriores foram associados aos deuses e aos deveres e obrigações atribuídos a esses deuses. O principal encargo foi a conservação do ma'at - harmonia e equilíbrio - que havia sido decretado pelos deuses e precisava ser observado para que as pessoas vivessem a melhor vida possível.

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Osíris foi considerado o primeiro "rei" do Egito e por isso os governantes terrenos o reverenciaram e estabeleceram a autoridade deles ao carregarem o cajado e o mangual. O cajado representava a realeza (guias do povo), enquanto o mangual estava associado à fertilidade da terra (debulha do trigo). O cajado e o mangual estavam associados a um antigo deus poderoso chamado Andjety, que veio a ser absorvido por Osíris. Uma vez que Osíris foi consagrado na história como o primeiro rei, seu filho Hórus também passou a ser associado ao reinado de um faraó.

Os objetos cilíndricos às vezes vistos nas mãos das estátuas de monarcas egípcios são conhecidos como Cylinders of Pharaoh (Cilindros do Faraó, em português) e Rods of Horus (Bastões de Hórus, em português) e acredita-se que eram usados para concentrar a energia espiritual e intelectual de alguém - semelhante à maneira que alguém hoje pode usar um rosário ou um kombolói (contas de meditação).

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o faraó era considerado um deus na terra, o intermediário entre os deuses e o povo.

Como governante supremo do povo, o faraó era considerado um deus na terra, o intermediário entre os deuses e o povo. Quando ele subia ao trono, era imediatamente associado a Hórus - o deus que havia derrotado as forças do caos e restaurado a ordem - e quando morria, era associado a Osíris, o deus dos mortos.

Em seu papel de "Sumo Sacerdote de Todos os Templos", era dever do faraó construir grandes templos e monumentos para celebrar as suas próprias realizações e prestar homenagem aos deuses da terra que lhe deram o poder de governar nesta vida e o guiariam na próxima.

Além disso, ele oficiava em cerimônias religiosas, escolhia os locais dos templos e decretava qual serviço seria realizado (embora não pudesse escolher os sacerdotes e muito raramente participasse do projeto de um templo). Como "Senhor das Duas Terras", o faraó fazia as leis, controlava todas as terras do Egito, cobrava impostos e começava guerras ou defendia o país de ataques.

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Narmer Conquering His Enemies
Narmer derrotando seus inimigos
Unknown (Public Domain)

Os governantes do Egito geralmente eram os filhos ou os herdeiros declarados do faraó anterior, nascidos da Grande Esposa (consorte principal do faraó) ou às vezes de uma esposa secundária a quem o faraó favorecia. Desde o princípio, os governantes se casavam com aristocratas em um esforço para estabelecer a legitimidade das suas dinastias ao associá-las às classes altas de Mênfis, que era então a capital do Egito.

Essa prática pode ter começado com Narmer, que estabeleceu Mênfis como a capital e se casou com a princesa Neitotepe, da antiga cidade de Nacada, com o objetivo de consolidar o governo e unir Mênfis à Nacada e à sua cidade natal, Tinis. Para manter a linhagem pura, muitos faraós se casavam com suas irmãs ou meias-irmãs e o faraó Aquenáton se casou com suas próprias filhas.

O faraó e o Ma'at

O faraó tinha o dever sagrado de defender as fronteiras da terra, mas também de atacar os países vizinhos em busca de recursos naturais.

A principal responsabilidade do faraó era manter o ma'at em toda a terra. Acreditava-se que a deusa Ma'at estabelecia a harmonia através do faraó, mas era dever do próprio governante interpretar corretamente a vontade da deusa e então agir de acordo.

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Desse modo, a guerra era uma questão importante no governo do faraó, especialmente quando era vista como necessária para a restauração do equilíbrio e da harmonia na terra. Este conceito de guerra é exemplificado no Poema de Pentaur, escrito pelos escribas de Ramsés II, O Grande (governou entre 1279 e 1213 a.C.), sobre sua vitória contra os hititas na Batalha de Kadesh, em 1274  a.C.

Os hititas, segundo Ramsés II, tinham perturbado o equilíbrio do Egíto e por isso foi necessário lidar com eles severamente. O faraó tinha o dever sagrado de defender as fronteiras da terra, mas também de atacar os países vizinhos em busca de recursos naturais caso acreditassem que isso beneficiaria a harmonia.

Os faraós e as pirâmides

Por volta da terceira dinastia, o rei Djoser (governou por volta de 2670 a.C.) possuía riqueza, prestígio e recursos suficientes para que a pirâmide de degraus fosse construída como seu lar eterno. Projetada pelo vizir Imotepe (possivelmente entre 2667 e 2600 a.C.), a pirâmide de degraus era a estrutura mais alta de sua época e uma atração turística muito popular, assim como é hoje. A pirâmide foi projetada principalmente para ser o local do descanso final de Djoser, mas o esplendor da área em volta e a grande altura da pirâmide visavam honrar não apenas ele, mas o próprio Egito e a prosperidade da terra sob seu reinado.

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Outros reis da terceira dinastia, como Sequenquete e Khaba, construíram pirâmides seguindo o projeto de Imotepe (a pirâmide enterrada e a pirâmide de camadas) e criaram um tipo de monumento que se tornou sinônimo do Egito; embora a estrutura da pirâmide fosse usada por muitas outras culturas (especialmente os maias, que não tinham nenhum contato com o Egito Antigo). Os monarcas do Antigo Império (por volta de 2613 a 2181 a.C) fizeram o mesmo, culminando na Grande Pirâmide de Gizé, que imortalizou Quéops (governou entre 2589 e 2566 a.C.) e manifestou o poder e o domínio divino do faraó no Egito.

Step Pyramid Complex at Saqqara
Área da pirâmide de degraus em Saqqara
Dennis Jarvis (CC BY-SA)

A 18ª dinastia e o Império Egípcio

Com o colapso do Império Médio em 1782  a.C., o Egito passou a ser governado pelo misterioso povo semita conhecido como hicsos. Os hicsos, no entanto, imitaram todos os ornamentos dos faraós egípcios e mantiveram os costumes vivos até que seu reino foi derrubado pela linhagem real da 18ª dinastia egípcia, que então deu origem a alguns dos faraós mais famosos, como Ramsés, o Grande e Amenotepe III (governou entre 1386 e 1353  a.C.).

Esse foi o período do Novo Império e o prestígio do faraó estava no auge. O Egito controlava os recursos de regiões desde a Mesopotâmia até o Levante, passando até a Líbia, e mais ao sul até o reino núbio de Kush. Quando Amósis I (governou por volta de 1570 a 1544 a.C.) expulsou os hicsos do Egito, ele estabeleceu zonas de segurança ao redor das fronteiras para que nenhum outro povo invasor pudesse se firmar dentro do país. Essas zonas foram gradualmente fortificadas e controladas por administradores egípcios que se reportavam ao faraó.

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Esses faraós foram predominantemente do sexo masculino, mas a rainha Hatshepsut (governou entre 1479 e 1458 a.C.) da 18ª dinastia foi uma monarca feminina que governou com sucesso por mais de vinte anos e o Egito prosperou durante seu reinado. Ela restabeleceu o comércio com a terra de Punte e encorajou expedições comerciais em outros locais, o que causou um boom na economia. Hatshepsut foi responsável por mais projetos de obras públicas do que qualquer outro faraó, exceto Ramsés II, e seu governo foi marcado pela paz e pela riqueza em toda a terra.

Quando Tutemés III (governou entre 1458 e 1425 a.C.) chegou ao poder logo após, ele removeu as imagens dela de todos os templos e monumentos; acredita-se que em um esforço para restaurar a ordem na terra. Segundo a tradição, uma mulher nunca deveria ter o título de faraó - essa era uma honra reservada aos homens, seguindo o modelo de Osíris como o primeiro rei do Egito e sua irmã Ísis como sua consorte, não uma monarca reinante. Acredita-se então que Tutemés III temia que o exemplo de Hatshepsut pudesse inspirar outras mulheres a "esquecerem o seu lugar" na ordem sagrada e aspirar o poder que os deuses haviam reservado aos homens.

O declínio do faraó

O Novo Império foi o período de maior glória do Egito em muitos níveis, mas não perdurou. O poder do faraó começou a declinar após o reinado de Ramsés III (governou entre 1186 e 1155 a.C.), período em que houve a invasão dos Povos do Mar. O custo da vitória egípcia sobre eles, tanto financeiro como em vidas perdidas, foi enorme e a economia do Egito começou a decair.

Sob o governo de Ramsés III também ocorreu a primeira greve trabalhista da história, que questionou a capacidade desse faraó de manter o ma'at e o quanto as classes altas realmente se importavam com o povo. Uma série de outros fatores também contribuíram para o fim do Novo Império e o começo do Terceiro Período Intermediário (por volta de 1069 a 525 a.C.), que terminou com a invasão persa.

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O prestígio do faraó diminuiu consideravelmente após a derrota dos egípcios pelos persas na Batalha de Pelúsio em 525 a.C. e ainda mais após as conquistas de Alexandre, O Grande. Na época da última faraó, a conhecida Cleópatra VII Filopátor (possivelmente entre 69 e 30 a.C.), da dinastia ptolomaica, o título não detinha mais a mesma supremacia que antes. Menos monumentos foram erguidos e, com a morte dela em 30 a.C., o Egito tornou-se uma província romana e a glória e o poder dos faraós antigos se tornaram apenas lembrança.

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Sobre o tradutor

Hannah Martinelli
Brasileira estudante de tradução, Hannah primeiramente se interessou pela área ao buscar um trabalho que a permitisse passar mais tempo com sua família mas ficou completamente apaixonada assim que teve seus primeiros contatos com a profissão.

Sobre o autor

Joshua J. Mark
Joshua J. Mark é cofundador e diretor de conteúdos da World History Encyclopedia. Anteriormente, foi professor no Marist College (NY), onde lecionou história, filosofia, literatura e redação. Ele viajou bastante e morou na Grécia e na Alemanha.

Citar este trabalho

Estilo APA

Mark, J. J. (2009, setembro 02). Faraó [Pharaoh]. (H. Martinelli, Tradutor). World History Encyclopedia. Recuperado de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-288/farao/

Estilo Chicago

Mark, Joshua J.. "Faraó." Traduzido por Hannah Martinelli. World History Encyclopedia. Última modificação setembro 02, 2009. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-288/farao/.

Estilo MLA

Mark, Joshua J.. "Faraó." Traduzido por Hannah Martinelli. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 02 set 2009. Web. 02 abr 2025.