A Batalha na planície de Maratona em setembro de 490 a.C. entre os gregos e as forças invasoras do rei persa Dario I (r. 522-486 a.C.) foi uma vitória que se tornou folclórica por ter sido o momento em que as cidades-estados gregas mostraram ao mundo a sua coragem e excelência e conquistaram a sua liberdade. Embora, na realidade, a batalha tenha apenas retardado os persas nas suas ambições imperialistas, e embora batalhas maiores estivessem por vir, a de Maratona foi a primeira vez em que o poderoso Império Aquemênida Persa mostrara não ser invencível. A batalha foi representada na arte grega - literatura, escultura, arquitetura e cerâmica - como um momento crucial e definidor na história da Grécia.
O Império Persa
A Pérsia, sob o governo de Dario I, já estava se expandindo rumo à Europa Continental e já havia subjugado a Jônia, a Trácia e a Macedônia no início do século V a.C. Os próximos alvos na mira do rei Dario eram Atenas e o resto da Grécia. Porém, não está claro por que a Grécia era cobiçada pela Pérsia. Riqueza e recursos parecem ser um motivo improvável; outras sugestões mais plausíveis incluem a necessidade de aumentar o prestígio do rei em casa ou de sufocar, de uma vez por todas, um conjunto de estados rebeldes potencialmente problemáticos na fronteira ocidental do império. A rebelião jônica, a oferta simbólica de terra e água em submissão ao sátrapa em 508 a.C. e o ataque conduzido por Atenas e Erétria contra a cidade de Sardis em 499 a.C. também não haviam sido esquecidos.
Quaisquer que tenham sido os motivos exatos, em 491 a.C., Dario outra vez enviou emissários para exigirem a submissão dos gregos à autoridade persa. Os gregos enviaram uma reposta bem clara ao executar os emissários, e Atenas e Esparta prometeram formar uma aliança pela defesa da Grécia. A resposta de Dario a esse ultraje diplomático foi o lançamento de uma força naval de 600 navios e 25.000 homens para atacar as Cíclades e a Eubeia, deixando os persas a apenas um passo de distância do resto da Grécia. Contudo, os invasores só encontrariam os seus rivais em 490 a.C., quando as forças gregas lideradas por Atenas se reuniram na planície de Maratona para defender o seu país da subjugação estrangeira.
O Exército Persa
O comando geral do exército persa estava nas mãos de Dátis, já que Dario não liderou a invasão em pessoa. O subcomandante era Atafernes, sobrinho de Dario, que talvez liderasse a cavalaria persa. O poder total do exército persa é desconhecido, mas, a julgar pelo número de navios, devia ter algo em torno de 90.000 homens. O verdadeiro número de combatentes devia contar com duas unidades baivarabam ou de 20.000 a 25.000 homens. Boa parte deles eram arqueiros, a que se somava talvez uma força de 2.000 cavaleiros. O exército persa, na verdade, vinha de vários estados espalhados pelo império, mas os persas e os sacas eram reconhecidos como as melhores unidades de combate.
O Exército Grego
Os gregos eram liderados, ou pelo ateniense Calímaco Polemarco, ou por Milcíades, que, na verdade, havia lutado sob o comando de Dario na campanha deste último na Cítia e por isso tinha valioso conhecimento militar sobre o método de guerra persa. Os 1.000 plateianos eram comandados por Arimnesto. Os atenienses, por seu turno, mobilizaram algo em torno de 9.000 hoplitas. A força total é estimada entre 10.000 e 20.000, mas devia estar mais próxima da cifra mais baixa.
Hoplitas vs Arqueiros
Os dois exércitos adversários eram essencialmente representativos de duas abordagens da guerra clássica - os persas favoreciam o combate a distância usando arqueiros, seguidos por um ataque de cavalaria, enquanto os gregos favoreciam hoplitas fortemente blindados, dispostos numa formação densamente compactada chamada falange, em que cada homem carregava um pesado escudo redondo de bronze e lutava a curta distância usando lanças e espadas. A infantaria persa carregava um escudo mais leve e mais fraco geralmente retangular (spara) e era armada com uma longa adaga ou uma espada recurvada (kopís), uma lança curta e um arco composto. Tipicamente, os que portavam escudos (sparabárai) formavam uma barreira defensiva enquanto os arqueiros atrás deles disparavam as suas flechas. As forças persas também incluíam alguns milhares de unidades (hazarbam) de lanceiros de elite (aristabara). Eles tinham uma armadura mais leve que a do hoplita, vestindo geralmente uma túnica (com talvez uma escama de bronze acoplada ou uma couraça de couro para alguns), calças de padrões colorizados, botas e um leve capuz.
A cavalaria persa era armada como os soldados a pé, com um arco e dois dardos adicionais para lançar e empurrar. A cavalaria, geralmente operando nos flancos da batalha principal, era usada para varrer a infantaria adversária posta em desordem depois de ter sido submetida a repetidas saraivadas dos arqueiros. Embora a tática persa de disparar rapidamente uma vasta quantidade de flechas sobre o inimigo deva ter sido uma vista incrível, a leveza das flechas indicava que elas eram largamente inefetivas contra os hoplitas trajados com armaduras de bronze. À curta distância, as lanças mais longas, as espadas mais pesadas, a melhor armadura e a rígida disciplina na formação da falange indicavam que os hoplitas gregos teriam todas as vantagens, mas os persas poderiam mobilizar números superiores, e sua reputação era temível.
Posições iniciais
A força persa primeiro desembarcou em Caristo e depois em Erétria, no norte da Eubeia, saqueando ambas as cidades antes de atravessar o estreito até a extremidade oriental da baía de Maratona no primeiro e no segundo dias de setembro. Maratona foi escolhida como um ponto de desembarque apropriado aos persas porque ela provia um terreno ideal às unidades de cavalaria; de fato, o próprio nome Maratona deriva do nome do funcho selvagem (μάραθον / márathon), que ainda cresce nessa planície excepcionalmente fértil. Além disso, o lugar tinha inclusive um lago próximo que oferecia um abundante suprimento de água tanto para homens quanto para cavalos. As vantagens do lugar provavelmente explicam por que Pisístrato o escolheu para desembarcar em 546 a.C., quando estava a caminho de estabelecer-se como o tirano de Atenas. Aqui então, no abrigo da península de Cinosura, os persas armaram um acampamento.
Quando os gregos descobriram o local da invasão, houve certa discussão entre os estrategos ou generais atenienses, que indagavam se deveriam aguardar ou encarar os invasores, mas decidiu-se pela segunda opção, e, ao chegarem a Maratona nos dias 3 e 4 de setembro, eles armaram um acampamento perto do santuário de Hércules na extremidade ocidental da baía para que brevemente se lhes juntassem os plateianos. Os espartanos, celebrados como os melhores combatentes da Grécia, infelizmente se atrasaram em sua mobilização porque estavam envolvidos no sagrado festival da Carneia e podem muito bem ter ficado apreensivos com uma revolta local por parte dos messênios. De fato, os espartanos perderiam a batalha por um único dia.
Os detalhes da batalha, assim como na maioria das batalhas do início do século V a.C., são vagos e contraditórios entre as fontes antigas. Contudo, em 11 de setembro, parece que os gregos dispuseram as suas linhas de batalha no centro da baía, enquanto os persas haviam embarcado apenas metade da sua infantaria. Formando uma frente com oito homens de profundidade, os gregos estenderam as suas linhas para se nivelarem aos persas e afinaram o seu grupo central para quatro homens de profundidade. Os plateianos estavam posicionados no flanco direito, enquanto os atenienses estavam no centro e à esquerda. As melhores tropas persas e sacas comandavam a partir do centro, possivelmente com até dez homens de profundidade. Isso era uma tática persa comum, logo o afinamento das linhas de hoplitas gregos no centro pode ter sido uma tática deliberada de Milcíades ou Calímaco para permitir que os flancos envelopassem os persas à medida que eles avançassem pelo centro. Por outro lado, os gregos não poderiam permitir uma frente mais estreita que a dos persas, pois isso lhes permitiria chegar atrás das linhas gregas nas alas e tornar a formação das falanges irremediavelmente exposta para atacar. As duas linhas de homens - invasoras e defensoras - se estendiam por 1.500 metros e agora estavam a apenas 1.500 metros uma da outra.
A Batalha
A cavalaria persa está misteriosamente ausente da cena de batalha, e sobre isso outra vez as fontes antigas e os historiadores modernos não chegam a um consenso. Pode ter ocorrido que Dátis não pudesse usá-la de modo efetivo por causa das esporádicas árvores que pontilhavam a planície ou pode ter ocorrido que ele de fato a tivesse enviado (ou estivesse planejando enviá-la) com outras tropas em direção a Atenas, seja numa tentativa de tomar a cidade enquanto os gregos estivessem em Maratona, seja porque a sua própria ausência fosse para instigar o exército grego a entrar na batalha antes de os espartanos chegarem.
Enfim, porém, a infantaria de ambos os lados entrou em batalha. Movendo-se uma em direção à outra, com os gregos correndo os últimos 400 metros indubitavelmente sob o disparo dos arqueiros persas, os dois exércitos se chocaram. Seguiu-se um longo e sangrento combate, e os persas, quiçá previsivelmente, empurraram o enfraquecido centro grego para trás. Contudo, tanto o flanco direito quanto o flanco esquerdo dos gregos obtiveram vantagem sobre os persas, empurrando-os para trás. As linhas estavam, portanto, quebradas, resultando numa peleja confusa. Os persas, em debandada tanto à esquerda quanto à direita, fugiram de volta para os seus navios, mas, para chegarem até lá, eles tinham de atravessar uma vasta área pantanosa. Nessa confusa retirada, as alas gregas se acercaram do centro persa e não só o atacaram como também perseguiram os flancos persas em fuga, infligindo pesadas baixas. Um combate intenso continuou ao redor dos navios persas, e foi nessa ação que Calímaco foi morto. Ao cabo, os gregos capturaram sete navios do inimigo, mas o resto da frota escapou com quaisquer persas que tenham conseguido escalar a bordo.
Os gregos obtiveram uma grande vitória. De acordo com a tradição, 6.400 persas foram mortos, contra apenas 192 gregos. A primeira cifra é razoavelmente precisa, mas a segunda foi provavelmente diminuída para fins propagandísticos. Porém, os persas não estavam acabados, pois Dátis estava agora velejando rumo ao cabo Sunião, numa tentativa de atacar Atenas enquanto o exército grego estivesse longe. Os gregos podem ter sido alertados desse avanço por um sinal do escudo de um traidor proveniente do Monte Pentélico que foi, quiçá injustamente, creditado ao clã Alcmeônida. Sem dúvida exausto, o exército grego foi, todavia, compelido a marchar em velocidade dobrada de volta a Atenas para defender a cidade. A sua chegada na noite do mesmo dia parece ter sido o bastante para desencorajar os persas ancorados ao largo do porto de Falero, fazendo com que a sua frota se retirasse de volta à Ásia. Nesse momento, 2.000 espartanos finalmente chegaram, mas eles não foram necessários porque a vitória já estava completa.
O Rescaldo
De volta a Maratona, os mortos foram cremados e enterrados no lugar, um procedimento incomum (aliás, o túmulo é ainda visível hoje), e uma coluna comemorativa foi erigida como troféu (cujos fragmentos estão agora no Museu Arqueológico de Maratona). Sacrifícios foram feitos em agradecimento aos deuses, com destaque para 500 cabras a Ártemis Agrotera, e, a cada ano a partir de então, um sacrifício foi feito no lugar da batalha - um ritual que continuou por 400 anos. Os atenienses construíram uma coluna e uma estátua de Íris (ou Nice) na sua acrópole em honra de Calímaco e da sua participação na vitória; estátuas e espólios de guerra foram consagrados no grande santuário de Delfos. A vitória foi também rememorada na escultura grega pelo renomado escultor Fídias - um grupo de bronze em Delfos que incluía Apolo, Ártemis e Milcíades e uma colossal Atena de bronze na acrópole ateniense. Por fim, um templo a Ártemis Eucleia foi construído em Atenas, e a batalha foi o tema da escultura no lado sul do Templo de Atenas Nice, entre 425 e 400 a.C., também em Atenas.
A vitória foi um grande impulso moral para os gregos, e todos os tipos de lendas surgiram com base nos eventos de setembro. Visões do mítico herói ateniense Teseu durante a batalha e a intervenção de Pã foram apenas algumas das histórias que ajudaram a explicar como os gregos haviam conseguido derrotar o poderoso exército persa. Além disso, veteranos da batalha carregaram, daí em diante, uma peça com o touro de Maratona (originário do mito de Hércules) nos seus escudos para orgulhosamente mostrar a sua participação nessa grande vitória.
Não obstante a euforia grega com a vitória, as ambições persas não esmoreceram pela derrota em Maratona, pois, dentro de uma década, o rei Xerxes deu prosseguimento à visão do seu predecessor Dario e, em 480 a.C., reuniu uma enorme força invasora para atacar a Grécia, dessa vez pelo passo das Termópilas. Em agosto de 480 a.C., um pequeno grupo de gregos liderados pelo rei espartano Leônidas defendeu o passo por três dias e, ao mesmo tempo, a frota grega conseguiu conter os persas na Batalha Naval do Artemísio. Juntas, essas batalhas deram tempo à Grécia e possibilitaram as vitórias vindouras, primeiro em Salamina em setembro de 480 a.C., em que os gregos atraíram os persas para águas rasas, e em Plateia, em agosto de 479 a.C., em que os gregos, mobilizando o maior exército de hoplitas já visto, venceram a batalha que finalmente encerrou as Guerras Persas na Grécia.
A Maratona (corrida)
Uma última lenda de Maratona, pela qual se carregou seu nome até os dias atuais, é o relato de Heródoto sobre um mensageiro de longas de distâncias (ἡμεροδρόμος / hēmerodrómos) chamado Fidípides. Ele foi enviado para obter a ajuda dos espartanos antes da batalha e correu até Esparta, parando primeiro em Atenas, totalizando uma distância de 240 quilômetros (um feito repetido por um atleta em 1983). Fontes posteriores, começando por Plutarco no século I d.C., confundem essa história com outra mensagem enviada a partir de Maratona depois da batalha para anunciar a vitória e informar a iminente chegada da frota persa a Atenas. Em todo caso, foi dessa segunda lenda que uma corrida - que cobre a mesma distância de 42 quilômetros entre Maratona e Atenas - foi estabelecida na primeira edição moderna dos Jogos Olímpicos em 1896, a fim de rememorar os ideais desportivos da Grécia Antiga e os jogos originais realizados em Olímpia. De modo condizente, a primeira maratona foi vencida por um grego, Spirídon Louis (Σπυρίδων Λούης).