Platão

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Joshua J. Mark
por , traduzido por Ricardo Albuquerque
publicado em 03 abril 2023
Disponível noutras línguas: Inglês, Chinês, francês, grego, espanhol, Turco
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Plato (by Mark Cartwright, CC BY-NC-SA)
Platão
Mark Cartwright (CC BY-NC-SA)

Platão (v. 424/423 a 348/347 a.C.) foi um proeminente filósofo grego, conhecido por seus Diálogos e por fundar a Academia em Atenas, tradicionalmente considerada a primeira universidade do mundo ocidental. Aluno de Sócrates, ele apresenta seu antigo professor em quase todos as suas obras, que formam a base da filosofia do Ocidente.

Filho de Aristão (ou Ariston), do deme Colito, Platão teve dois irmãos mais velhos (Adimanto e Glauco), que também figuram de forma célebre no diálogo República, e uma irmã, Potone. De acordo com um autor posterior, Diógenes Laércio (v. c. 180 a c. 240, considerado em geral pouco confiável), seu nome de nascença era Arístocles e “Platão” um apelido dado pelo seu treinador de luta, devido aos ombros largos do filósofo (em grego, platon significa largo).

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Esta alegação tem sido contestada pelo acadêmico Robin Waterfield, que também data o nascimento de Platão em 424/423 a.C., rejeitando a tradicional data de 428/427 a.C.. Waterfield explica:

Há vários fatores que apontam para uma data de nascimento posterior a 428/7. O mais importante é que não há evidência de que ele lutou em nenhuma das batalhas da Guerra do Peloponeso em 406 e 405, pois provavelmente ainda tinha menos de vinte anos. Atenas estava com uma carência crítica de soldados na época, e certamente ele seria convocado. (Plato of Athens [Platão de Atenas], 3)

Waterfield também menciona a Carta 7 de Platão, considerada como autêntica, na qual ele revela seus planos de fazer parte da vida pública de Atenas uma vez que tenha atingido a maioridade, o que o coloca com menos de 20 anos em 405 a.C. (3). A data de nascimento tradicional de 428/427 a.C., portanto, deve ser considerada incorreta.

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A família de Platão era aristocrática e com boas conexões políticas e parece que havia expectativas de que seguisse a carreira política. Seus interesses, porém, embora incluíssem a política, tendiam também para as artes e, em sua juventude, ele escreveu peças e talvez poesia.

Após abandonar suas ambições políticas e literárias e se devotar a Sócrates, inclusive durante seu julgamento e execução, Platão escreveu as obras filosóficas fundamentais do mundo antigo, que influenciariam toda a cultura mundial. As três grandes religiões monoteístas do mundo devem muito ao pensamento platônico, seja diretamente ou através das obras de seu aluno e amigo Aristóteles (v. 384-322 a.C.), cujos ensinamentos permaneceram consistentes com a visão do mestre sobre a importância de cuidar da alma e manter um estilo de vida virtuoso, ainda que ele discordasse de alguns aspectos específicos da filosofia de Platão.

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Sócrates e Platão

Quando estava no final da adolescência ou início dos seus vinte anos, Platão ouviu Sócrates ensinando no mercado e abandonou seus planos de perseguir uma carreira política ou literária; ele queimou seus trabalhos iniciais e devotou-se à filosofia.

Quase todos os Diálogos de Platão trazem Sócrates como o personagem principal, mas há muito se contesta a precisão destes relatos.

É provável que Platão tenha conhecido Sócrates, ao menos por reputação, desde a juventude. Crítias (v. c. 460-403 a.C.), um político ateniense, era primo da mãe de Platão e estudou com Sócrates quando jovem. Portanto, sugeriu-se que o filósofo costumava visitar a família. Ainda que isso possa ter acontecido, os escritores antigos não dão indicações sobre uma possível influência de Sócrates sobre Platão até que este estivesse com cerca de 20 anos.

Diógenes Laércio escreve que Platão, prestes a competir pelo prêmio pela melhor tragédia no teatro de Baco, “ouviu o discurso de Sócrates e queimou seus poemas, dizendo, 'Vulcano, venha aqui; pois Platão quer sua ajuda' e daí por diante, como dizem, tendo vinte anos de idade, ele se tornou pupilo de Sócrates.” Nada se conhece claramente sobre as atividades de Platão nos oito anos seguintes, a não ser que ele estudou sob a orientação do filósofo mais velho até o julgamento e execução de Sócrates em 399 a.C., sob a acusação de impiedade.

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A execução de Sócrates teve um impacto significativo sobre Platão, que deixou Atenas para viajar, visitando o Egito e a Itália, entre outros lugares, antes de retornar à terra natal para escrever seus diálogos e instalar a Academia. Quase todos os Diálogos trazem Sócrates como o personagem principal. Há muito tempo se debate, porém, se tais obras apresentam ou não um retrato acurado das ações e crenças do filósofo.

Greek Philosophers
Filósofos Gregos
Amplitude Studios (Copyright)

Laércio conta que Fédon, contemporâneo de Platão e também aluno de Sócrates (mais conhecido por ter emprestado seu nome a um dos diálogos), teria afirmado que as ideias do próprio Platão foram colocadas na boca do filósofo morto, e que as situações dramáticas de suas obras seriam inventadas. Outros filósofos e escritores da época também questionaram a precisão de Platão em relação ao retrato do mestre, mas parecem concordar que se tratava de um homem sério, com ideias elevadas que seriam difíceis para a maioria apreender.

Críticos de Platão

Embora ele fosse respeitado como um filósofo de enorme talento durante sua vida (acabou sendo sequestrado e libertado sob um elevado resgate em duas ocasiões, pelo menos), isso não significava aclamação universal. Conta-se que o valor da filosofia platônica foi questionado mais vigorosamente pelo filósofo cínico Diógenes de Sinope, que considerava Platão um “esnobe elitista” e “hipócrita”.

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Novamente de acordo com Laércio, quando Platão definiu um ser humano como bípede sem penas, Diógenes, em resposta, depenou uma galinha e levou-a para a sala de aula da Academia, gritando: "Contemplem um ser humano de Platão". Alega-se que este replicou que sua definição a partir daquele momento precisava ser revisada, mas esta concessão aos críticos parece ter sido uma exceção e não a regra. Críticas à parte, porém, a obra de Platão exerceu um enorme impacto em seus contemporâneos e nos que se seguiram.

Os Diálogos de Platão

Os diálogos de Platão Eutífron, Apologia, Críton e Fédon costumam ser reunidos sob o título de Os Últimos Dias de Sócrates, e este drama em quatro atos mostra Sócrates antes, durante e após seu julgamento na corte ateniense. O estudioso I. F. Stone exalta a Apologia de Platão como “uma obra-prima da literatura mundial, um modelo de apelação judicial; e a maior peça de prosa grega que chegou até nós. Ela chega a um clímax que nunca falha em nos tocar profundamente” (210). Stone certamente não está sozinho nesta avaliação da obra.

A Apologia é considerada universalmente como o início da filosofia ocidental.

A Apologia é considerada universalmente como o início da filosofia ocidental. Eutífron, embora com frequência negligenciado, prenuncia os acontecimentos narrados na Apologia, além de fornecer também ao leitor outros vislumbres dos valores defendidos por Sócrates e o modo como os ensinava. Talvez fosse a intenção de Platão mostrar por que Sócrates tinha sido levado a julgamento afinal de contas, pois o jovem fundamentalista, Eutífron, dificilmente prejudicaria alguém com suas crenças e, sem dúvida, o caso que apresenta contra seu próprio pai seria descartado pela corte. Como Eutífron clara e ardentemente acredita nos deuses gregos, e como Sócrates soa para ele como tendo crenças inconsistentes e incompletas, o diálogo ilustra o que deve ter significado a acusação levantada contra o filósofo de “corromper a juventude”.

Na Apologia, Platão reconta o discurso fundamental de Sócrates (seja factual ou uma criação do autor), defendendo a importância do direito do filósofo – ou de qualquer um – de sustentar suas convicções pessoais contra as opiniões da sociedade. Ao se defender contra as acusações injustas, Sócrates afirma:

Cidadãos atenienses, eu vos respeito e vos amo, mas obedecerei aos deuses em vez de obedecer a vós, e enquanto eu respirar e estiver na posse de minhas faculdades, não deixarei de filosofar e de vos exortar ou de instruir cada um, quem quer que seja que vier à minha presença, dizendo-lhe, como é meu costume: - Ótimo homem, tu que és cidadão de Atenas, da cidade maior e mais famosa pelo saber e pelo poder, não te envergonhas de fazer caso das riquezas, para guardares quanto mais puderes e da glória e das honrarias, e, depois, não fazer caso e nada te importares de sabedoria, da verdade e da alma, para tê-la cada vez melhor? E, se algum de vós protestar e prometer cuidar , não o deixarei já, nem irei embora, mas o interrogarei e o examinarei e o convencerei, e, em qualquer momento que pareça que não possui virtude, convencido de que a possuo, o reprovarei, porque faz pouquíssimo caso das coisas de grandíssima importância e grande caso das parvoíces. E isso o farei com quem quer que seja que me apareça, seja jovem ou velho, forasteiro ou cidadão, tanto mais com os cidadãos quanto mais me sejam vizinhos por nascimento. Isso justamente é o que me manda o deus, e vós o sabeis, e creio que nenhum bem maior tendes na cidade, maior que este meu serviço do deus. Por toda parte eu vou persuadindo a todos, jovens e velhos, a não se preocuparem exclusivamente, e nem tão ardentemente, com o corpo e com as riquezas, como devem preocupar-se com a alma, para que ela seja quanto possível melhor, e vou dizendo que a virtude não nasce da riqueza, mas da virtude vem, aos homens, as riquezas e todos os outros bens, tanto públicos como privados. Este é meu ensinamento e, se esta é a doutrina que corrompe a juventude, minha influência é de fato prejudicial. Mas se alguém diz que estes não são meus ensinamentos, ele está falando uma inverdade. Por isso vos direi, cidadãos atenienses, decidam conforme a proposta de Ânito ou não, absolvam-me ou não; mas, sejam o que for que fizerdes, jamais farei outra coisa, nem que tenha de morrer muitas vezes. (Apologia, 14-16. Tradução para o português de Maria Lacerda de Souza. Disponível em www.dominiopublico.gov.br.)

Este discurso continuou a inspirar ativistas, revolucionários e muitos outros nos últimos dois mil anos, mas seria desprovido de sentido se Sócrates não escolhesse colocar sua vida em risco para sustentar suas convicções. O diálogo Críton mostra-o fazendo justamente isso, numa discussão sobre a lei e de que forma, como um cidadão do estado, alguém deveria obedecer à lei mesmo se discordasse dela.

Dialouges of Plato
Diálogos de Platão
John Belushi (Public Domain)

Críton, amigo de Sócrates, sugere que ele fuja e oferece os meios para que o faça, mas o filósofo rejeita a oferta, assinalando que o trabalho de toda uma vida nada significaria se ele tentasse escapar das consequências de suas palavras e ações. Este diálogo, que tem como cenário a cela de Sócrates enquanto ele aguarda a execução, prepara o leitor para o ato final do drama, Fédon, no qual o filósofo tenta provar a imortalidade da alma.

Platão, intencionalmente, deixa claro na obra que não estava presente e cabe ao personagem principal, o narrador Fédon, a tarefa de relatar os eventos das últimas horas de Sócrates, devotadas inteiramente ao debate filosófico com seus alunos. Platão faz o personagem de Sócrates dizer, em certo ponto:

Vou tentar mostrar-te a natureza da causa por mim estudada, voltando a tratar daquilo mesmo de que tenho falado toda a vida, para, de saída, admitir que existe o belo em si, e o bem, e o grande, e tudo o mais da mesma espécie. Se me aceitares esse ponto e concordares que existem, tenho esperança de te mostrar a causa e provar a imortalidade da alma. (Fédon, 43. Tradução para o português de Carlos Alberto Nunes. Disponível em www.dominiopublico.gov.br.)

Se o leitor concede isso a Sócrates então, de fato, prova-se que a alma é imortal; se não se concorda com tal pressuposição, porém, não é. A pressuposição de que existe “bem em si e grandeza em si” é bastante abrangente, e os diálogos de Platão, não importa o assunto tratado, podem ser lidos como o trabalho de uma vida para provar a verdade daquilo que Sócrates pede que a audiência lhe conceda.

The Death of Socrates
A Morte de Sócrates
Jacques-Louis David (1748-1825) (Public Domain)

A Busca pela Verdade

Os Diálogos de Platão, de maneira geral, concentram-se na busca pela Verdade e na compreensão do que é o Bem. Platão defendia a existência de uma verdade universal que o ser humano precisaria reconhecer e com a qual deveria tentar viver de acordo. Esta verdade, ele afirmou, estava expressa no reino das Formas. A Teoria das Formas de Platão estabelece, para resumir, que existe um reino superior da verdade e que nosso mundo perceptível dos sentidos é meramente um reflexo de uma esfera maior.

Quando alguém observa um cavalo, então, e o classifica como “belo”, está apenas reagindo à correspondência entre aquele animal em particular, na Terra, e o que corresponde à “Forma da Beleza” no reino das Formas. Para reconhecer a “Forma da Beleza”, torna-se necessário em primeiro lugar reconhecer o mundo perceptível como uma mera ilusão ou um reflexo e, portanto, o que chamamos “belo” na Terra não o é em si mesmo, mas apenas “belo” na medida em que corresponde à “Forma da Beleza” (um conceito explorado com mais detalhes na famosa “Alegoria da Caverna”, no Livro VII da obra República). Este conceito fundamental do pensamento platônico traz uma refutação da afirmação do sofista Protágoras, segundo a qual “o homem é a medida de todas as coisas”, significando que a realidade é sujeita à interpretação individual. Platão rejeitava completamente esta afirmação e passou a vida tentando refutá-la nas suas obras.

Statue of Plato
Estátua de Platão
Edgar Serrano (CC BY-NC-SA)

O velho ditado “a beleza está nos olhos de quem a vê” seria completamente inaceitável para Platão. Se a Pessoa A afirma que um cavalo é belo e a Pessoa B diz que não é, uma delas precisa estar certa e a outra errada em suas alegações; ambas não podem estar corretas. De acordo com Platão, aquele que está certo será o que compreende e reconhece a Forma da Beleza expressa naquele cavalo em particular. Esta afirmação, naturalmente, está em oposição direta à asserção de Protágoras de que “o homem é a medida de todas as coisas”. Platão devotou a maior parte da sua vida a provar a realidade do reino das Formas e a refutar o relativismo de Protágoras, até mesmo no último diálogo que escreveu, as Leis.

Em toda a obra de Platão, ele insiste em que há uma Verdade que os seres humanos devem reconhecer e se esforçar por alcançar, e que não se pode simplesmente acreditar naquilo que se quer (novamente, uma contestação direta a Protágoras). Ainda que nunca tenha provado conclusivamente a existências das Formas, seu padrão inspirou filósofos posteriores e escritores, notavelmente Plotino, a quem se credita a fundação da escola neoplatônica, que exerceu influência significativa nos primórdios do cristianismo.

A Influência de Platão

A enorme influência de Platão foi registrada por Diógenes Laércio que, mesmo considerado pouco confiável, como observado acima, parece oferecer uma avaliação precisa neste caso:

Ele foi o primeiro autor a escrever tratados em forma de diálogos, como Favorino nos conta no oitavo livro de sua História Universal. E ele também foi a primeira pessoa que introduziu o método analítico de investigação, que ensinou a Leodamas de Thasos. Também foi o primeiro a falar de antípodas, elementos, dialética, ações (poiêmata), números oblongos, superfícies planas e a divina providência. Da mesma forma, foi o primeiro filósofo a contradizer a afirmação de Lísias, o filho de Céfalo, palavra por palavra em seu Faedro. Examinou também pela primeira vez o tema do conhecimento gramatical de forma científica. E, como debateu com quase todos os que tinham vivido antes de seu tempo, pergunta-se com frequência por que nunca mencionou Demócrito. (Vidas, XIX)

Nesta passagem, Laércio está essencialmente afirmando que Platão contestou ou desenvolveu significativamente todas as teorias aceitas dos que vieram antes dele. Um importante reconhecimento de sua influência no mundo nos dias atuais é resumido pelo filósofo do século XX Alfred North Whitehead, que declarou: “A caracterização mais segura da tradição filosófica europeia é que ela consiste numa série de notas de rodapé nas páginas de Platão” (Baird, 67).

Esta influência talvez seja melhor representada pelo diálogo mais famoso de Platão, República. O professor Forrest E. Baird afirma que “há poucos livros na civilização ocidental que tiveram o impacto da República de Platão – com exceção da Bíblia, talvez nenhum” (Ancient Philosophy [Filosofia Antiga], 68). A República já foi denunciada como um tratado sobre o fascismo (por Karl Popper, entre outros) e exaltada como uma obra eloquente e elevada por acadêmicos tais como Bloom e Cornford. O diálogo começa com uma consideração do que a Justiça significa e prossegue sobre como desenvolver o Estado ideal e perfeito. Por toda a obra, as ideias de Platão sobre a Verdade, Beleza, Bondade e Justiça são desenvolvidas à medida que são debatidas por Sócrates e seus interlocutores.

Plato's Republic in ancient Greek
A República de Platão em Grego Antigo
N/A (CC BY)

Ainda que a obra tenha sido tradicionalmemte entendida como uma tentativa de Platão de delinear seu modelo da sociedade perfeitamente justa e eficiente, um aspecto importante é frequentemente deixado de lado: o personagem de Sócrates afirma bem claramente no Livro II.369 que eles estão criando esta “cidade” como um meio de melhor compreender a função da “alma” perfeita. A sociedade que os participantes discutem, então, não pretende refletir uma entidade político-social real e física, mas sim um símbolo dos meios pelos quais o leitor pode reconhecer os pontos fortes e fracos em sua própria constituição.

O jovem poeta e dramaturgo Platão está sempre presente na elaboração das obras do filósofo Platão e, em todos os diálogos, espera-se que o leitor considere o trabalho tão cuidadosamente como faria com um poema. Ao contrário de seu famoso aluno Aristóteles, Platão nunca esclarece o significado de um diálogo ao leitor. Supõe-se que quem está lendo deve analisar individualmente as afirmações que o diálogo apresenta. É esta combinação de talento artístico e abstrações filosóficas que garantiu a Platão uma importância duradoura como filósofo e artista.

Aristóteles e o Legado de Platão

Ainda que Aristóteles discorde da Teoria das Formas de Platão e de vários outros aspectos de sua filosofia, ele foi profundamente afetado por seu mestre; em particular pela insistência numa maneira correta de viver e o meio adequado para seguir seu próprio caminho pela vida (como delineado mais claramente na obra Ética a Nicômano). Aristóteles seria tutor de Alexandre, o Grande e, com isso, ajudaria a disseminar a base filosófica criada por Platão pelo mundo conhecido.

Platão morreu aos 80 anos, em 348/7 a.C., e a liderança da Academia passou para seu sobrinho, Espeusipo. A tradição afirma que a Academia durou por cerca de 1.000 anos como um farol do ensino superior, até que foi fechada pelo imperador cristão Justiniano, em 529 d.C., como parte dos esforços para suprimir o pensamento pagão. As fontes antigas, porém, alegam que a Academia foi severamente danificada na Primeira Guerra Mitridática, em 88 a.C., e quase destruída no saque realizado pelo general romano Sula, em 86 a.C.. Ainda assim, uma versão da Academia parece ter sobrevivido até ser fechada pelos adeptos do cristianismo.

The School of Athens by Raphael
A Escola de Atenas, por Rafael
Raphael (Public Domain)

A Academia de Platão era um jardim arborizado, localizado próximo a uma das residências do filósofo, e não uma universidade que conhecemos nos dias atuais, e, assim, a área passou por muitas mudanças tanto antes quanto depois da escola de Platão, além de ter sediado um centro de aprendizado por séculos.

O escritor romano Cícero afirma que Platão sequer foi o primeiro a ter uma escola nos jardins da Academia, e sim Demócrito (c. 460 a.C.), líder de uma escola filosófica naquele local. Sabe-se também que Simplício dirigiu uma escola nos jardins, ainda conhecida como Academia, até tão recentemente quanto 560 d.C.. Mesmo assim, nos dias atuais, o local permanece sendo reconhecido como a Academia de Platão, refletindo a importância da influência do filósofo e o respeito por seu legado.

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Perguntas e respostas

Quem foi Platão?

Platão foi um filósofo grego cujas obras são consideradas os alicerces da filosofia ocidental.

Qual era a principal filosofia de Platão?

A principal filosofia de Platão era a de que há uma Verdade superior que existe além do mundo perceptível, a qual as pessoas precisam apreender para viver completamente como seres humanos.

Qual era a teoria mais famosa de Platão?

A mais famosa teoria de Platão era a Teoria das Formas, que afirmava a existência de um reino superior que dá significado e propósito ao mundo perceptível.

Qual era a crença central de Platão?

A crença central de Platão era que, se tudo pudesse ser verdade baseado nas opiniões pessoais, então nada podia ser verdade, porque haveria somente pensamentos sobre a verdade, não a Verdade em si. Ele rejeitou as alegações do relativismo e sustentou a existência da verdade em si.

Sobre o tradutor

Ricardo Albuquerque
Jornalista brasileiro que vive no Rio de Janeiro. Seus principais interesses são a República Romana e os povos da Mesoamérica, entre outros temas.

Sobre o autor

Joshua J. Mark
Joshua J. Mark é cofundador e diretor de conteúdos da World History Encyclopedia. Anteriormente, foi professor no Marist College (NY), onde lecionou história, filosofia, literatura e redação. Ele viajou bastante e morou na Grécia e na Alemanha.

Citar este trabalho

Estilo APA

Mark, J. J. (2023, abril 03). Platão [Plato]. (R. Albuquerque, Tradutor). World History Encyclopedia. Recuperado de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-349/platao/

Estilo Chicago

Mark, Joshua J.. "Platão." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. Última modificação abril 03, 2023. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-349/platao/.

Estilo MLA

Mark, Joshua J.. "Platão." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 03 abr 2023. Web. 21 dez 2024.