Samos é uma ilha grega localizada no lado este do Mar Egeu, perto da costa da atual Turquia. A ilha floresceu particularmente durante o século VI a.C. e era famosa na Antiguidade pelo vinho, pela frota naval e pelo importante santuário dedicado a Hera. Samos fez parte da Liga de Delos, sendo um dos membros ativos, e local natal do célebre filósofo e matemático Pitágoras, bem como do famoso astrónomo Aristarco. No século I a.C., durante o período imperial romano, Júlio César e Marco António estiveram na ilha, após esta altura, a ilha foi gradualmente caíndo no esquecimento. Samos faz parte da lista da UNESCO como Património Mundial.
Os Primeiros Assentamentos
Samos foi ocupada pela primeira vez no período Neolítico, com presença de vestígios micênicos do final da Idade do Bronze. No século X a.C., chega o povo de Cária, e de acordo com os registos dos gregos antigos, pela voz de Tucídides, no período Arcaico vieram colonos vindos da Jónia (originalmente da Ática). Dado que Samos beneficiava de encostas montanhosas aráveis e planícies férteis, fundaram uma cidade no sudeste da ilha, transportando e exportando o vinho e o azeite nas típicas ânforas da ilha. A prosperidade da ilha é ainda comprovada pela monumental arquitetura de pedra construída a partir do século VIII a.C.: o famoso santuário dedicado a Hera (Heraião), a patrona da ilha, durante o reinado do tirano Aeaces, e localizado a 8 km da cidade principal.
A partir do século VII a.C., Samos manteve uma frota naval com a ajuda da sua aliada Corinto, cujos navios foram construídos utilizando madeira das densas florestas. Esta frota naval, uma das maiores da Grécia, era composta pelos famosos trirremes, navios de guerra com três fileiras de remadores e um ariete de bronze na proa. À medida que a ilha prospera, participa da onda geral de colonização grega: Samos estabeleceu colónias na Cilícia, no Propontídeo e no Mar Negro; no norte da África, a ilha também co-fundou Cirene e construiu um templo em Náucratis.
Polícrates, O Tirano
Samos floresceu durante o reinado de Polícrates (c. 535-522 a.C.), filho de Aeaces, em especial e dado que controlava aquela parte do Egeu e as Cíclades com os 100 navios de guerra e com a ajuda do aliado egício, Ahmose II. A cidade também ganhou reputação de centro cultural, atraindo poetas como Anacreonte e Íbico, e foi o lar do famoso arquiteto Teodoro.
Naquela época, Samos era beneficiada pelo amplo templo dedicado a Hera (o maior de todos, segundo Heródoto), por um quebra-mar de 365 metros de comprimento e pelas fortificações. Um tirano é, talvez, sempre um tirano, no entanto (mesmo no sentido grego), o famoso filósofo e matemático Pitágoras foi um dos que se sentiu obrigado a abandonar Samos. Em 522 a.C., quando a Pérsia passou a ter maior interesse na região, a ilha foi tomada pelo sátrapa persa Oroetes e Polícrates foi crucificado. A situação não melhorou quando estes estados tentaram libertar-se do domínio persa durante a Revolta Jónica, em 494 a.C. Samos perdeu a batalha de Lade e, segundo Heródoto, vários membros da elite da ilha fugiram para a Sicília.
A Liga de Delos
Em 478 a.C., Samos tornou-se membro da Liga de Delos, e à medida que a Liga se transformava no império ateniense, os membros foram obrigados a pagar tributos, gerando descontentamento e a tentativa de alguns para sair da aliança. Nos anos 440 a.C. Samos foi uma das insatisfeitas, no entanto, Atenas, liderada por Péricles, cercou a ilha e forçou Samos a permanecer, impondo uma significativa multa. A partir daqui, a ilha cidade-estado teve uma elite pró-ateniense a governar e tornou-se um dos membros mais importantes da Liga, apoiando Atenas durante a Guerra do Peloponeso. Por exemplo, em 407 a.C., Alcíbíades fez de Samos uma base, e o povo chegou mesmo a receber o privilégio de cidadania ateniense em 405 a.C., havendo um breve sistema de democracia. Quando Esparta vence a guerra, a cidade reivindicou o controlo de Samos e Lisandro implementa um governo de dez oligarcas pró-espartanos Em 366 a.C., Atenas reconquistou a ilha e exilou uma grande parte da população.
Período Helenístico e Romano
Em 322 a.C., a ilha tornou-se independente com o fim da Guerra Lamíaca entre a Macedónia e uma coligação grega liderada por Atenas. Chamando a atenção de vários governantes durante as Guerras dos Sucessores, a partir de 281 a.C., Samos fica sob o controlo dos Ptolomeus do Egito. Seguiu-se um período de reconstrução tanto da cidade quanto do templo. Como muitas vezes acontece, com a estabilidade política veio o empreendimento cultural, e o famoso astrónomo Aristarco formulou as suas influentes teorias. A partir de 246 a.C., uma frota ptolomaica usou Samos como base permanente. Em 205 a.C., a ilha foi tomada por Filipe V da Macedónia, perdida novamente e reconquistada em 201 a.C. antes de retornar aos Ptolomeus. A partir de 197 a.C., Samos ficou sob a jurisdição de Rodes.
Após apoiar os romanos nas suas guerras contra Antíoco, a ilha recebeu a independência em 188 a.C. e em 129 a.C., torna-se parte da província romana da Ásia. Um século de prosperidade chegou ao fim em 39 a.C., quando Marco António saqueou a ilha; tanto ele quanto César usaram a ilha como base durante as guerras civis que acabaram com a República Romana. O imperador Augusto libertou-a, mas a independência durou apenas um século até ao reinado de Vespasiano. Mesmo que os romanos tenham trazido benefícios como banhos públicos e basílicas, Samos era um lugar provincial isolado, sendo parte do grupo provincial de ilhas insularum durante o reinado de Diocleciano e, finalmente, no período bizantino, ficou sob a jurisdição das Cíclades.
O Heraião
O culto à deusa Hera em Samos remonta à época micênica, aquando da construção de um altar de pedra em sua honra. Na mitologia grega, Hera era filha de Cronos e Reia, nasceu em Samos e era a sua patrona. O local foi evoluindo ao longos dos séculos e erigiu-se um grande complexo sagrado em sua honra, o Heraião, tendo sido um dos primeiros templos na Grécia a usar pedra na sua construção. No século VII a.C. houve novas edificações e a construção de um muro de madeira a cercar o local. Em 570-560 a.C., os notáveis arquitetos Reco e Teodoro edificaram um templo totalmente novo e maior em calcário, medindo 52,5 x 100 metros, com colunas de 18 metros de altura, com entablamento de madeira e telhado de telha. Infelizmente, apenas alguns anos após a conclusão, o templo foi destruído por um terremoto.
Durante o reinado de Polícrates foi construído em calcário um novo templo (embora, talvez, nunca tenha sido completamente concluído), ligeiramente maior, medindo 55 por 108 metros, com 155 colunas de 20 metros de altura esculpidas em mármore (atualmente somente resta uma) ao longo dos quatro lados. O local do ritual era um altar retangular maciço colocado fora do templo, medindo 36,5 por 16,5 metros. O altar de calcário era cercado por uma parede de cerca 7 metros de altura, com cenas em relevo retratando animais e esfinges. No período romano, o altar foi substituído por um de mármore, e no século II d.C., foi acrescentado um pequeno templo (7,4 x 12 metros) dedicado a uma divindade desconhecida. No século III, foi erigido um outro templo e o caminho sagrado que levava à cidade propriamente dita foi pavimentado. Gradualmente, à medida que o culto a Hera diminuía, o local foi invadido por casas e vilas particulares. Um terremoto em 262 destruíu o templo e pouco depois foi saqueado pelas tribos germânicas. Uma breve revivificação ocorreu no século V, aquando da contrução de uma basílica de três naves, com a reutilização de materiais dos edifícios anteriores.
Vestígios Arqueológicos
Samos tem vários outros locais de interesse arquitetónico: o primeira é o túnel de 1 km de comprimento construído por Eupalinos de Mégara no século VI a.C. (que funcionava como aqueduto para a cidade), o quebra-mar construído por Polícrates, assim como partes das fortificações constuídas no mesmo período. Escavações em várias áreas da cidade revelaram ruas pavimentadas, sistemas de drenagem, vilas grandes com pisos de mosaico, lojas e habitações comuns, bem como grandes estátuas votivas e uma grande estátua de kouros (jovem masculino nu) de meados do século VI a.C. que se encontram, atualmente, no museu arqueológico do local.