Gladiador Romano

10 dias restantes

Investir no ensino da História

Ao apoiar a nossa instituição de solidariedade World History Foundation, está a investir no futuro do ensino da História. O seu donativo ajuda-nos a capacitar a próxima geração com os conhecimentos e as competências de que necessita para compreender o mundo que a rodeia. Ajude-nos a começar o novo ano prontos a publicar informação histórica mais fiável e gratuita para todos.
$3081 / $10000

Definição

Mark Cartwright
por , traduzido por Ricardo Albuquerque
publicado em 03 maio 2018
Disponível noutras línguas: Inglês, francês, coreano, espanhol
Ouve este artigo
X
Imprimir artigo
Common Types of Gladiators in Ancient Rome (by Simeon Netchev, CC BY-NC-ND)
Tipos comuns de gladiadores na Roma Antiga
Simeon Netchev (CC BY-NC-ND)

O gladiador romano era um lutador profissional da Antiguidade que geralmente se especializava em determinadas armas e tipos de armadura. Eles participavam de apresentações públicas em jogos imensamente populares, realizados em grandes arenas construídas para essa finalidade, no período final da República Romana e no Império Romano, de 105 a.C. até 404 d.C. (disputas oficiais).

Como as lutas frequentemente terminavam em morte, os gladiadores tinham uma expectativa de vida curta e, embora em alguns aspectos fosse uma profissão glamorosa, a maioria dos participantes era composta de escravos, antigos escravos ou prisioneiros condenados. Sem dúvida, os espetáculos de gladiadores contavam-se entre as formas de entretenimento mais assistidas no mundo romano.

Remover publicidades
Publicidade

Origens Etruscas

Os romanos receberam muita influência de seus predecessores na Itália, os etruscos, que se manifestava de várias formas. Por exemplo, o sacrifício de animais como forma de adivinhação do futuro, o uso dos fasces simbólicos e a organização de jogos gladiatórios. Os etruscos associavam estas disputas com os ritos funerários e, assim, ganhavam significado religioso. Embora a primeira luta particular organizada em Roma, em 264 a.C., tenha ocorrido em homenagem à morte de um pai, as disputas posteriores descartaram este elemento fúnebre. Os vestígios da origem religiosa, porém, permaneceram no ato de executar os gladiadores caídos. Neste caso, um participante desferiria um golpe na testa do ferido. Ele vestiria uma fantasia representando Hermes - o deus mensageiro que escoltava as almas para o além-túmulo - ou Charun (o equivalente etrusco). A presença do divino Imperador em pessoa, acompanhado de sacerdotes e das Virgens Vestais, também conferia um certo ar pseudo-religioso às disputas.

Os jogos de gladiadores eram uma diversão sangrenta e as disputas entre eles, literalmente, representavam uma questão de vida ou morte.

Reis do Entretenimento

Os jogos de gladiadores romanos traziam uma oportunidade para imperadores e aristocratas ricos exibirem sua riqueza à população, comemorar vitórias militares, marcar a visita de funcionários importantes, celebrar aniversários ou simplesmente para distrair a população dos problemas políticos e econômicos correntes. O apelo dos jogos junto ao público residia no seu caráter sangrento e na fascinação que vinha de lutas que eram, literalmente, uma questão de vida ou morte. Eventos imensamente populares aconteciam em enormes arenas por todo o Império Romano, das quais a maior era o Coliseu (ou Anfiteatro de Flávio). Trinta, quarenta ou até cinquenta mil espectadores de todos os setores da sociedade romana afluíam para serem entretidos pelos espetáculos sangrentos, nos quais se caçavam animais selvagens e exóticos, prisioneiros eram executados, atiravam-se aos leões mártires religiosos e as estrelas do show, símbolos das virtudes romanas de honra e coragem, os gladiadores, empregavam todas as suas habilidades marciais numa luta para matar ou ser morto.

Remover publicidades
Publicidade

É um engano comum que os gladiadores saudavam o imperador, no início de cada show, com a frase: Ave imperator, morituri te salutant! (Salve, imperador, aqueles que vão morrer te saúdam!). Na realidade, esta frase era dita pelos prisioneiros prestes a morrer nas batalhas navais simuladas (naumachia), também realizadas nas arenas em ocasiões especiais.

Gladiator Relief
Relevo com Gladiador
Carole Raddato (CC BY-SA)

Os gladiadores, com maior frequência, tinham antecedentes criminais ou como escravos, mas muitos prisioneiros de guerra também se apresentavam à força nas arenas. Houve casos de aristocratas falidos forçados a ganhar a vida pela espada como, por exemplo, Semprônio, um descendente do poderoso clã Graco. Deve-se notar que, até a proibição de Septímio Severo em 200 d.C., as mulheres tinham permissão de lutar nas arenas. Existiam escolas especiais para gladiadores instaladas por todo o Império; Roma dispunha de três acampamentos e Cápua destacava-se pelos seus centros de formação de lutadores. Agentes percorriam o império buscando potenciais candidatos para preencher a sempre crescente demanda das escolas de treinamento, que deviam ter uma rotatividade fenomenal. As condições nas escolas assemelhavam-se às de uma prisão, com pequenas celas e algemas para todos. No entanto, a alimentação era melhor (por exemplo, cevada fortificante) e os alunos recebiam a melhor atenção médica possível; afinal de contas, representavam um investimento considerável.

Remover publicidades
Publicidade
O gladiador trácio portava uma espada curta e curvada (sica) e um escudo bem pequeno, quadrado ou redondo (parma).

Armadura e Armas

O termo gladiador deriva do latim gladiatores, referência à principal arma que utilizavam, o gladius ou espada curta. Porém, havia uma ampla gama de outras armas empregadas nos combates. Os lutadores também usavam armadura e seus elmos, em particular, eram manufaturados com muita habilidade, ricamente incrustados com motivos decorativos e exibindo cristas com plumas de avestruz ou pavão. O equipamento, no entanto, dependia de qual classe pertencia o gladiador. Havia quatro classes principais:

  • O Samnita
  • O Trácio
  • O Murmilo (Myrmillo)
  • O Retiário (Retiarus)

A classe Samnita recebeu seu nome devido aos grandes guerreiros samnitas que Roma combateu e derrotou nos anos iniciais da República. Curiosamente, os romanos, ao menos inicialmente, usavam gladiator e Samnita como sinônimos, sugerindo uma origem alternativa que a dos etruscos para estas disputas. Com o melhor equipamento, o samnita tinha uma espada ou lança, um grande escudo quadrado (scutum) e proteção para seu braço direito (ou seja, o da espada) e perna esquerda. O gladiador Trácio tinha uma espada curta e curvada (sica) e um escudo bem pequeno, quadrado ou redondo (parma), seguro pelo punho para desviar golpes. Os Murmilos também costumavam ser chamados de pescadores, pois tinham uma crista em formato de peixe em seu elmo. Como os samnitas, o murmilo carregava uma espada curta e scutum, mas a armadura limitava-se ao acolchoamento do braço e perna. O Retiarus não usava elmo ou armadura, apenas uma proteção acolchoada no ombro, e carregava uma rede pesada. Ele tentaria emaranhar seu oponente atirando a rede e então o golpearia com seu tridente.

Gladiadores lutavam em combinações específicas, geralmente para proporcionar um contraste entre as classes com melhores armaduras, mais lentas, como o murmilo, contra lutadores mais rápidos e menos protegidos, tal como o retiário. Havia muitos outros tipos menos comuns de gladiadores, com combinações variadas de equipamentos, e os nomes mudavam com o tempo. Por exemplo, “samnita” e “gaulês” tornaram-se politicamente incorretos quando estas nações se transformaram em aliadas. Outros tipos de combatentes também incluíam arqueiros, boxeadores e os bestiarii, que lutavam contra animais nas caçadas de bestas selvagens.

Remover publicidades
Publicidade

Samnite Gladiator Helmet
Elmo de Gladiador Samnita
British Museum (Copyright)

Vencedores e Perdedores

Quem demonstrava falta de entusiasmo para a luta era encorajado pelo treinador (lanista) e seu time de escravos, que brandiam chicotes de couro ou barras de metal aquecido. Sem dúvida os rugidos indignados de 40.000 espectadores e os ataques incessantes dos oponentes também convenceriam muitos a lutar até o fim. Houve casos de recusa à luta e talvez o mais famoso entre eles tenha sido os jogos gladiatórios organizados por Quinto Aurélio Símaco, por volta de 401 d.C.. Os prisioneiros germânicos selecionados para o combate decidiram estrangular uns aos outros em suas celas, em vez de proporcionar um espetáculo para a população romana.

O gladiador derrotado que não fosse morto no combate em si com frequência apelava por misericórdia, abaixando sua arma e escudo e erguendo um dedo. Seu adversário decidiria então ser leniente ou não mas, como houvesse risco significativo de um novo encontro na arena, era considerada uma prática profissional adequada matar o oponente. Se o imperador estivesse presente, então ele próprio decidiria, ainda que a multidão certamente tentasse influenciar seu julgamento agitando roupas ou fazendo gestos com as mãos – polegares erguidos e gritos de Mitte!, significando “deixe-o ir”, polegares para baixo (pollice verso) e Iugula!, ou seja, “execute-o”.

Os vitoriosos nos combates, particularmente aqueles com muitas lutas no currículo, tornavam-se preferidos da multidão e, como indicam os grafites que sobreviveram nas construções romanas, especialmente populares junto às mulheres – casos amorosos com senhoras aristocráticas e mesmo escapadas com as amantes apaixonadas chegavam a ocorrer. Os grafites de Pompeia fornecem uma visão fascinante de como os gladiadores eram vistos pelo público em geral: Oceanus, “preferido das garçonetes”, ou outros eram descritos como decus puellarum, suspirium puellarum (o deleite e aquele por quem as garotas suspiram), além da descrição de quantas vitórias obtiveram: Petrônio Otávio, 35 (sua última); Severo, 55; Náscia, 60. Porém, deve ser observado que a média era muito menor e, em algumas competições, os vitoriosos combatiam outros vencedores até que somente um sobrevivesse. As recompensas materiais para a vitória incluíam o prestigioso ramo de palmeira ou, com frequência, uma coroa, além de um prato prateado coberto com um prêmio em dinheiro e talvez, após anos de vitórias, até mesmo a liberdade.

Remover publicidades
Publicidade

Roman Gladiator Mosaic
Mosaico com Gladiador Romano
Carole Raddato (CC BY-SA)

O imperador Cômodo (180-192 d.C.), um entusiasta pelos jogos, foi louco o suficiente para competir em pessoa nas arenas de gladiadores.

Gladiadores Famosos

Talvez o mais famoso gladiador de todos tenha sido Espártaco, que liderou uma insurreição de lutadores e escravos de Cápua, o principal centro de formação, em 73 a.C.. Proveniente da Trácia, o antigo soldado romano tinha se tornado um bandido até sua captura e treinamento forçado como gladiador. Ele e setenta camaradas escaparam da escola de treinamento e instalaram um acampamento defensivo nas encostas do Vesúvio. Sitiados, fugiram e assolaram a região rural da Campânia, reunindo seguidores no caminho e se transformando numa força de ataque eficiente. Sempre combatendo no caminho para os Alpes, ao norte, Espártaco demonstrou uma grande liderança militar ao derrotar quatro exércitos romanos em não menos do que nove ocasiões. Nada parecido com um santo, no entanto: quando um amigo morreu em batalha, ele adotou os velhos costumes dos inimigos e organizou disputas de gladiadores com trezentos prisioneiros romanos em homenagem ao camarada caído. Após dois anos de revolta, os exércitos de Marco Licínio Crasso finalmente encurralaram e esmagaram os rebeldes na Apúlia, no sul da Itália. Como um aviso aos demais, 6.000 prisioneiros foram crucificados ao longo da Via Ápia, entre Cápua e Roma. Outra consequência deste episódio perturbador foi o controle estrito do número máximo de gladiadores pertencentes aos cidadãos particulares.

Outro famoso gladiador, na verdade, não se tratava de um profissional. O imperador Cômodo (r. 180-192 d.C.), entusiasta dos jogos, foi louco o suficiente para competir em pessoa na arena e, de fato, havia mesmo rumores de que ele era filho ilegítimo de um gladiador. Pode-se argumentar que Cômodo era um profissional, já que recebia um salário fantástico por suas aparições no Coliseu. Porém, é improvável que Cômodo, geralmente trajado como Mercúrio, corresse um grande risco durante as centenas de lutas que disputou na arena. Ele participava mais frequentemente como um matador de animais selvagens, em geral de uma plataforma protegida e usando um arco.

Gladiatorial Combat in Ancient Rome
Combate de Gladiadores na Roma Antiga
Amplitude Studios (Copyright)

O Final do Show

As disputas de gladiadores, que passaram a contrariar as novas crenças cristãs do Império, finalmente chegaram ao fim em 404 d.C.. O imperador Honório fechara as escolas de gladiadores cinco anos antes e a gota d'água para os jogos chegou quando um monge da Ásia Menor, um certo Telêmaco, saltou entre dois gladiadores para interromper o banho de sangue e foi apedrejado até a morte pela multidão indignada. Em consequência, Honório proibiu formalmente as disputas de gladiadores, embora criminosos condenados continuassem a participar das caçadas de animais selvagens por mais um século, aproximadamente. Muitos romanos, sem dúvida, lamentaram a perda de um passatempo que integrava o tecido social da vida romana, mas o fim de tudo o que era romano estava próximo: apenas seis anos depois, os visigodos liderados por Alarico saqueariam a própria Cidade Eterna.

Remover publicidades
Publicidade

Bibliografia

A World History Encyclopedia é um associado da Amazon e recebe uma comissão sobre as compras de livros elegíveis.

Sobre o tradutor

Ricardo Albuquerque
Jornalista brasileiro que vive no Rio de Janeiro. Seus principais interesses são a República Romana e os povos da Mesoamérica, entre outros temas.

Sobre o autor

Mark Cartwright
Mark é um escritor em tempo integral, pesquisador, historiador e editor. Os seus principais interesses incluem arte, arquitetura e descobrir as ideias que todas as civilizações partilham. Tem Mestrado em Filosofia Política e é o Diretor Editorial da WHE.

Citar este trabalho

Estilo APA

Cartwright, M. (2018, maio 03). Gladiador Romano [Roman Gladiator]. (R. Albuquerque, Tradutor). World History Encyclopedia. Recuperado de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-432/gladiador-romano/

Estilo Chicago

Cartwright, Mark. "Gladiador Romano." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. Última modificação maio 03, 2018. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-432/gladiador-romano/.

Estilo MLA

Cartwright, Mark. "Gladiador Romano." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 03 mai 2018. Web. 21 dez 2024.