Pompeu

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James Lloyd
por , traduzido por Ricardo Albuquerque
publicado em 27 janeiro 2013
Disponível noutras línguas: Inglês, francês
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Pompey Marble Bust (by Carole Raddato, CC BY-SA)
Busto de mármore de Pompeu
Carole Raddato (CC BY-SA)

Cneu Pompeu Magno, também conhecido como Pompeu, o Grande, foi um líder militar e político durante a queda da República Romana. Nasceu em 106 a.C. e morreu em 28 de setembro de 48 a.C.. Era filho de Cneu Pompeu Estrabão.

A vida de Pompeu pode ser facilmente dividida em quatro fases: sua carreira inicial (106-71 a.C.), seu consulado até o triunvirato (70-60 a.C.), carreira posterior em Roma (59-50 a.C.) e a Guerra Civil (49-48 a.C.).

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Carreira Inicial

A carreira militar de Pompeu começou nas Guerras Sociais (91-89 a.C.), quando serviu sob as ordens do pai em Ásculo (89 a.C.) Em 83 a.C., formou um exército particular de três legiões, composto por veteranos do pai e clientes, para lutar ao lado de Sula. Pompeu foi enviado como pro praetor (propretor, magistrado mandado no lugar de um pretor) à Sicília e depois para a África, com o objetivo de eliminar dissidentes. Sula concedeu um triunfo a Pompeu no dia 12 de março de 81 a.C., a despeito do fato de que o triunfante ainda era apenas um equites (cavaleiro), e, desta forma, não oficialmente elegível para tal. Neste período Pompeu adotou o nome Magno (Grande), num eco bem claro do grande general macedônio, Alexandre, o Grande. Após a morte de sua primeira esposa, Emília, Pompeu casou-se com a enteada de Sula, Múcia Tértia - provavelmente uma manobra política, como a maioria dos casamentos na época. Apesar disso, Sula ainda sentiu a necessidade de removê-lo de seu testamento quando, em 78 a.C., Pompeu apoiou Lépido para o consulado; no ano seguinte, tendo aprendido a lição, deu suporte a Quinto Lutácio Catulo, até porque Lépido defendia a revogação da legislação de Sula. Em 77 a.C., Pompeu foi enviado como pro consule (procônsul), com o objetivo de auxiliar na luta contra Sertório, na Espanha. Tratava-se de um oponente de Sula que vinha atuando na região desde 83 a.C. O general retornou em 71 a.C., desbaratando os restos dos bandos de escravos que haviam lutado ao lado do agora derrotado Espártaco. Com isso, Pompeu tentou levar crédito por encerrar a Guerra dos Escravos, quando, de fato, o principal protagonista havia sido outro general, Crasso. As vitórias de Pompeu lhe renderam um segundo triunfo, realizado em 29 de dezembro de 71 a.C..

De Cônsul ao Triunvirato

Apesar de toda sua experiência, Pompeu não era elegível para o consulado por ser jovem demais e não ter sido eleito para os postos de quaestor (questor) ou praetor (pretor), na sequência do cursus honorum. Mesmo assim, as regras foram ignoradas e ele foi eleito para o consulado daquele ano com Crasso. Quando seu mandato terminou, Pompeu não assumiu o governo de uma província, como era praxe. Ao invés disso, a Lei Gabínia de 67 a.C. deu-lhe o poder e autoridade para tomar todas as medidas contra o crescente problema da pirataria no Mediterrâneo, que ameaçava o suprimento de grãos de Roma.

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[Q. Lutácio Catulo], discorrendo contra a lei [Gabínia] disse numa arenga informal que Pompeu era certamente um homem extraordinário, mas eminente demais para uma República livre, e que todo aquele poder não deveria ser colocado nas mãos de um único homem.
(Veleio II, 32, I)

Pompeu derrotou os piratas do Mediterrâneo em apenas três meses.

Pompeu obteve sucesso contra os piratas do Mediterrâneo nos primeiros três meses de seu mandato, a despeito do fato de que a Lei Gabínia concedia-lhe o comando por três anos. Em 66 a.C., uma nova lei foi aprovada dando-lhe o comando do exército romano na luta contra Mitridates VI do Ponto. Esta lei Pro lege Manilia, ou Lei Manília, nos permite conhecer o primeiro discurso político de Cícero, no qual ele discorre favoravelmente, a despeito da forte oposição da facção dos optimates (Melhores Homens, ou conservadores). Após derrotar Mitridates VI, Pompeu transformou a Bitínia, Ponto e a Síria em províncias romanas, pavimentando o caminho para futuros avanços romanos para o leste. Ele retornou em 62 a.C., desmobilizou seu exército e finalmente entrou em Roma no seu aniversário, 30 de setembro de 61 a.C.. Seu retorno foi marcado pela celebração de um triunfo que Roma jamais havia visto antes, e que durou dois dias inteiros!

O triunfo celebrou todas as suas guerras, com troféus belamente adornados para marcar cada uma de suas conquistas, mesmo as menores; e ao final veio um enorme, adornado de maneira luxuosa e portando uma inscrição declarando que era o troféu do mundo desabitado.

(Cássio Dio, História Romana, 37.21.2)

A ele foi concedido um triunfo que excedeu em brilho qualquer um que tivesse sido realizado antes... Durou dois dias sucessivos e muitas nações foram representadas na procissão, desde o Ponto, Armênia, Capadócia, Cilícia e toda a Síria, além dos Albanianos, Heníocos, Aqueus da Cítia e Iberos Orientais.

(Apiano, As Guerras contra Mitridates, 116)

Em todos esses lugares apoderou-se até o número de 1.000 castelos e fortalezas e não menos de 900 cidades e fortes; navios de corsários, aproximadamente oitocentos; cidades anteriormente desertas, por ele repovoadas, 39. Mas o que lhe dava maior glória e que jamais acontecera, nem antes, nem depois a nenhum capitão a não ser a ele, foi que esse terceiro triunfo foi ganho na terceira parte do mundo; houve outros romanos que venceram por três vezes; mas Pompeu triunfou a primeira vez na África, a segunda na Europa e a terceira na Ásia, de tal modo, que nessas três vitórias parecia ter, como se diz, triunfado em toda a terra habitável. (Plutarco, Vida de Pompeu, o Grande, 45.1-5)

Entretanto, nem tudo corria conforme os desejos de Pompeu; o senado rejeitou suas propostas pela concessão de terras para seus veteranos. Os senadores também se recusaram a ratificar as disposições do general para o Oriente, numa decisão liderada por Catão, o Jovem (o neto de Catão, o Velho). Então, com o retorno de César da Espanha, em 60 a.C., Pompeu integrou o primeiro triunvirato (um termo moderno, não usado na ocasião) com César e Crasso, possivelmente os três homens mais poderosos e influentes politicamente em Roma (especialmente quando se uniam em seus esforços).

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The First Triumvirate of the Roman Republic, c. 60-53 BCE
O Primeiro Triunvirato da República Romana, c. 60-53 a.C.
Simeon Netchev (CC BY-NC-ND)

Carreira Posterior

Em 59 a.C., César foi eleito cônsul, com o apoio de Crasso e Pompeu, o que permitiu ao último garantir a concessão de terra aos seus veteranos e também ter suas disposições para o oriente ratificadas. Um dos mais politicamente motivados eventos na vida de Pompeu foi o divórcio de sua esposa Márcia para se casar com a filha de César, Júlia. Porém, apesar da motivação política deste matrimônio, ele acabou por amar Júlia, o que é atestado pelos contemporâneos. Mesmo com César cumprindo o que Pompeu desejava, e com o casamento político, seu sucesso estava começando a declinar e, nos anos 58/57 a.C., foi atacado por Públio Clódio Pulcro. Em 57 a.C., Pompeu conseguiu tanto assegurar o retorno de Cícero do exílio quanto garantir o controle romano sobre o fornecimento de grãos (um posto muito importante, que durava cinco anos e lhe proporcionava proconsular imperium e 15 legados, mas sem forças militares). É interessante destacar a súbita guinada de Pompeu para assuntos civis e públicos, considerando que era primordialmente um militar; entretanto, o que isso pode sugerir é que sua habilidade como general tenha sido transferida para a logística do suprimento de grãos. No entanto, também neste ano, ele falhou em restituir o pai de Cleópatra VII, Ptolomeu XII Auletes, ao poder no Egito. Todavia, o triunvirato parece ter funcionado bem para Pompeu e, em 55 a.C., após um acordo firmado em Luca, tanto ele quanto Crasso foram eleitos cônsules novamente. A despeito de ter recebido duas províncias espanholas para governar, é interessante destacar que ele optou por delegar o governo de ambas para legados, para que pudesse permanecer em Roma. O que se tornou claro foi o enorme montante de riquezas que as campanhas de Pompeu trouxeram, tanto para si quanto para Roma, e que foram corporificadas com a criação do Teatro de Pompeu no Campo de Marte, próximo à cidade, inaugurado com jogos extravagantes. O prédio consistia num Tempo para Vênus Victrix (Vitoriosa), e continha uma estátua do próprio general.

Os cartazes mencionavam também a renda comum da república antes de suas conquistas, que não subia por ano senão a 50.000.000 de dracmas e agora, pelo que havia anexado e adquirido ao império romano, recebia 85.000.000 dracmas, e que trazia presentemente ao tesouro da economia pública, tanto em ouro e dinheiro, como anéis e joias, o valor de 20.000 talentos em ouro, sem contar o que havia dado e distribuído aos guerreiros, dos quais o que menos recebeu segundo sua classe, levou 1.500 dracmas.

(Plutarco, Vida de Pompeu, o Grande, 45.3-4)

Contudo, os dois anos seguintes viram as tensões crescendo dentro do triunvirato. Em primeiro lugar, Pompeu abandonou os laços políticos via casamento com Júlio César após a morte de Júlia, no parto, em 54 a.C.. No ano seguinte, Crasso foi morto na Pártia. Estes eventos serviram para elevar a tensão entre César e Pompeu, o que iria com o passar do tempo desencadear a Guerra Civil. Quando Clódio foi assassinado, em 52 a.C., Pompeu foi eleito cônsul único, apoiado até mesmo por Catão. Ele então levou Tito Ânio Milo (responsável pela morte de Clódio) a julgamento e aprovou uma nova legislação referente à violência, suborno e a constituição das magistraturas. Ainda que tais medidas talvez não fossem vistas de modo favorável por César, não se pode dizer que foram tomadas com esse objetivo. Porém, quando Pompeu elevou seu próprio imperium por mais cinco anos, ele afetou de forma devastadora o status quo. Nesta época ele se casou com Cornélia, filha do seu aliado político Quinto Cecílio Metelo Pio Cipião; novamente, ainda que fosse um matrimônio de caráter político, nem por isso teve ausência de amor. Houve pressões para que Pompeu convocasse César, o que levou Caio Escribônio Cúrio a propor, em 50 a.C., que ambos ou nenhum dos dois abrissem mão dos seus cargos. Cícelo resumiu a situação sucintamente:

Era uma disputa entre dois reis, na qual a derrota foi imposta ao rei mais moderado (Pompeu), aquele mais brilhante e honesto, aquele cujo fracasso significa que o próprio povo romano pode ser eliminado, pois se ele vencer, seguirá o exemplo de Sula. (Cícero, Cartas a Ático, 10.7.1)

Pompey the Great Bust
Busto de Pompeu, o Grande
Carole Raddato (CC BY-SA)

Guerra Civil

Incapaz de lidar com a situação politicamente, Pompeu assumiu o comando das forças militares da República em 49 a.C., o ano em que César atravessou o Rubicão e pronunciou as famosas palavras alea iacta est (os dados estão lançados). Pompeu levou o exército de Brundísio para a Macedônia, onde mobilizou suas forças. No ano seguinte, César desembarcou e, sabendo que as forças do oponente eram maiores do que as suas, Pompeu recuou quando César tentou bloqueá-lo em Dirráquio. O trecho abaixo de Plutarco ajuda a entender este comportamento, tendo em vista que César já tinha um exército experiente, testado em batalha, enquanto Pompeu teve de mobilizar o seu a partir do zero e, portanto, tinha forças com menos experiência.

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E a esses que lhe diziam se César viesse direito a Roma, não viam por quais forças pudessem resisti-lo, respondeu-lhes com uma fisionomia sorridente e com um rosto aberto, que não se preocupassem quanto a isto: "Pois todas e quantas vezes eu venha a bater com o pé, somente na terra da Itália, farei surgir de todas as partes guerreiros a pé e a cavalo".

(Plutarco, Vida de Pompeu, o Grande, 57.5)

No dia 9 de Agosto (o motivo pelo qual foi persuadido a fazê-lo não está muito claro), Pompeu enfrentou César numa batalha campal em Farsália, na Tessália, sofreu perdas terríveis e uma derrota cruel. O vencedor tinha se transformado num general formidável, ganhando uma valiosa experiência nas suas campanhas na Gália. Pompeu então fugiu para o Egito, mas foi esfaqueado até a morte quando desembarcou em Alexandria, no dia 28 de Setembro de 48 a.C.. Com a derrota de Pompeu e a vitória de Júlio César, os alicerces da Roma Imperial foram lançados e qualquer sentimento de uma Roma "democrática" foram soterrados.

A crença sincera na liberdade de Roma morrera há longo tempo, quando Mário e Sula foram admitidos dentro de seus muros; mas então, quando Pompeu foi removido do mundo, até mesmo a falsa crença desapareceu.
(M. Aneu Lucano, Sobre a Guerra Civil, 9.204-6)

A trajetória de Pompeu, até certo ponto, foi representativa de um novo tipo de estadista romano que se salientou no final da República, o líder militar, que pode ter suas origens nas carreiras de Mário e Sula. Contudo, no final, Pompeu tende a ser visto pela história como um dos grandes perdedores, o que não faz justiça ao que conquistou ao longo de sua carreira.

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Sobre o tradutor

Ricardo Albuquerque
Jornalista brasileiro que vive no Rio de Janeiro. Seus principais interesses são a República Romana e os povos da Mesoamérica, entre outros temas.

Sobre o autor

James Lloyd
A principal área de interesse de James é música grega antiga, mas ele possui interesse também em mitologia, religião, arte e arqueologia. Um autodeclarado fileleno, James não deixa de apreciar o mundo romano antigo.

Citar este trabalho

Estilo APA

Lloyd, J. (2013, janeiro 27). Pompeu [Pompey]. (R. Albuquerque, Tradutor). World History Encyclopedia. Recuperado de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-550/pompeu/

Estilo Chicago

Lloyd, James. "Pompeu." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. Última modificação janeiro 27, 2013. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-550/pompeu/.

Estilo MLA

Lloyd, James. "Pompeu." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 27 jan 2013. Web. 22 dez 2024.