Clovis I

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Donald L. Wasson
por , traduzido por Jose Monteiro Queiroz-Neto
publicado em 10 novembro 2014
Disponível noutras línguas: Inglês, francês, alemão, grego
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Baptism of Clovis I (by Pethrus, Public Domain)
Batismo de Clovis I
Pethrus (Public Domain)

Clovis I (ou Chlodovech, 466-511/513 dC), rei dos francos, é considerado o fundador da Dinastia Merovíngia, a qual continuaria a existir por mais de 200 anos. Clovis tornou-se rei com a idade de 15 anos e, por ocasião de sua morte 30 anos mais tarde, havia se tornado o primeiro rei a governar todas as tribos francas, um aliado firme do Império Bizantino e um rei cristão. As ações políticas de Clovis, e sua habilidade militar, consolidaram as regiões da Gália sob seu comando e, atualmente, ele é considerado o fundador da França.

Ascensão ao Poder

Ao se aproximar o final do século V d.C., o Império Romano do Oci­dente encontrava-se agonizante. Ao lado de seu declínio econômico, o Império estava sendo bombardeado por todos os lados por uma série de ataques de hunos, visigodos e ostrogodos. Em 410 d.C. Roma não resistiu a um sítio de três dias por Alarico, rei dos godos. Finalmente, em 476 d.C., com a destituição do imperador Romulus Augustulus, o Império Romano do Ocidente desapareceu. Com o fim de Roma, muitos dos reis tribais bárbaros abocanharam uma porção do antigo império para eles mesmos. Um desses bárbaros iria conquistar a Gália e fundar uma dinastia familiar que existiria por mais de dois séculos. Seu nome era Chlodovech – conhecido para a história como Clovis I.

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Clovis Assume o Trono

Em 481 d.C., Clovis, o fundador da Dinastia Merovíngia, assumiu o trono na tenra idade de 15 anos quando da morte de seu pai, Childerico, rei de uma tribo germânica conhecida como Francos Salianos. O rei pagão, que havia combatido junto com os romanos contra os hunos, foi honrado na morte como se ainda estivesse vivo: enterrado junto com armas, ouro, joias e 15 cavalos. Merovíngia, o nome da família, tem origem em Merovech, avô de Clovis, que também havia lutado junto aos romanos e morto em 456 d.C. O jovem rei franco foi bem preparado por seu pai e demorou pouco tempo para se firmar como a maior força na Europa quando com 20 anos de idade, se opôs a Syagrius, o último governador da Gália Romana.

Conquista da Gália

Em 481 d.C., Clovis, o fundador da Dinastia Merovíngia, assumiu o trono na tenra idade de 15 anos.

Na companhia de alguns aliados (incluindo seu primos Ragnachar e Chararic), Clovis entrou em combate contra Syagrius na Batalha de Soissons em 486 d.C. e derrotou-o completamente. Para evitar ser capturado, Syagrius fugiu para Toulouse, cidade localizada no sudoeste da Gália, onde esperava encontrar refúgio com Alarico II, o jovem rei visigodo. Clovis e seu exército perseguiram Syagrius e exigiram que ele lhes fosse entregue. Alarico, não desejando entrar em guerra com Clovis, entregou-o. Syagrius foi levado para Soissons onde foi, segundo um relato, decapitado. Embora Clovis e Alarico tenham entrado em acordo e assumido caminhos separados, esta não seria a última vez que os dois se encontrariam e nem a próxima vez terminaria tão amigavelmente. No final deste ano, Clovis havia tomado as cidades de Rouen, Reims e Paris e, em 491 d.C., já dominava toda a parte oeste. E por esta época, havia também ordenado o assassinato dos reis francos Chararic e Ragnachar, anteriormente seus aliados e possivelmente seus parentes e assumiu seus reinos para si mesmo.

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Muito tempo depois, o historiador inglês Edward Gibbon escreveria a respeito da conquista da Gália por Clovis:

“Quando entrou em campanha, não possuía ouro e nem prata em seus cofres, nem vinho e nem milho em seus depósitos, porém imitou o exemplo de César ... e conseguiu soldados com os frutos de conquistas. Após cada batalha ou expedição bem sucedida, os produtos saqueados eram acumulados em conjunto e os combatentes, inclusive o rei, recebiam partes iguais, submetidos que estavam aos regulamento de igualdade da lei militar. O indomado espírito dos bárbaros aprendeu a reconhecer as vantagens do respeito às normas”.

Em 495 d.C. Clóvis ampliou sua supremacia na Gália quando expulsou os Alemani de volta através da parte superior do Rio Reno. Conforme algumas fontes (principalmente Gregório de Tours) suas últimas vitórias sobre os alemani (em 496 e 506 d.C.) influenciaram sua decisão em se converter ao cristianismo.

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Conversão ao Cristianismo

Embora tenha assumido o reino como um pagão (para alguns historiadores, ele teria sido o último dos reis pagãos), Clóvis compreendeu que a conversão ao cristianismo poderia ser extremamente benéfica a ele, pois sempre desejou assegurar a lealdade de todos os povos francos. Gregório de Tours afirma que sua conversão se deu, em parte, devido a seu casamento com a princesa borgonhesa Clotilde (filha de Chilperico) e, embora sua família fosse ariana, ela não o era. Já o historiador Roger Collins, no entanto, insiste que o relato de Gregório não pode ser completamente confiável. Diz ele:

Ao contrário do reino de Theodoric, existem pouquíssimas evidências contemporâneas a respeito disto para Clovis “e mais à frente observa que a evidência disponível” virtualmente afirma que Clovis já era um cristão por volta do ano 486 d.C.(110)

Outros historiadores, evidentemente, discordam de Collins e consideram que o relato de Gregório deve ser levado em conta. Mesmo que seja visto por alguns como de pouca confiança, Gregório de Tours constitui uma das poucas fontes do reino de Clovis e sua conversão ao cristianismo. Escreve Gregório:

Clovis tomou como esposa Clotilde, filha de borgonheses e cristã. A rainha incessantemente instigava o rei a reconhecer o verdadeiro Deus e a renunciar aos ídolos. No entanto, ele não se convenceu disto até o momento da eclosão da guerra com os alemani... Os dois exércitos entraram em batalha e com grande carnificina. O exército de Clovis estava próximo à destruição total quando ele... elevando seus olhos aos céus, disse... se tu me concedes a vitória sobre estes inimigos... acreditarei em ti e serei batizado em teu nome.

Ainda no relato de Gregório, Clóvis saiu-se vitorioso, aceitou Deus e tornou-se cristão pelo batismo. Ele, no entanto, havia resistido obstinadamente a isto devido, em grande parte, à insistência de Clotilde em batizar seus filhos. Clovis recusou-se a permitir que seu primogênito fosse batizado e Clotilde realizou o sacramento do batismo secretamente, mas a criança, logo depois, caiu doente e morreu. Quando seu segundo filho nasceu, ele, também, foi batizado secretamente e, como seu irmão, ficou doente. Desta vez, no entanto, Clotilde implorou a Deus por sua saúde e, de acordo com Gregório de Tours, recuperou-se bem. Logo após este incidente, Clovis saiu-se vitorioso contra os alemani em 496 e 506 d.C. e atribuiu suas vitórias, e a saúde de seu filho, a Deus. Clovis foi inspirado pelo seu novo fervor religioso para travar uma guerra contra os visigodos arianos a qual se tornaria uma de suas mais bem sucedidas campanhas militares. Esta guerra de inspiração religiosa empurrou os visigodos para a Espanha e conseguiu com isso uma maior segurança para o Reino dos Francos.

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Conquests of Clovis I
As Conquistas de Clóvis I
Altaileopard (CC BY-SA)

Sua conversão, ministrada pelo bispo de Reims, não somente lhe assegurou a lealdade das províncias conquistadas, mas também o reconhecimento por Anastasius, o imperador do Império Romano do Oriente, interessado no sucesso daqueles que compartilhavam com ele a mesma forma de cristianismo, conquanto desejasse a ruína dos que não a seguiam.

Clovis & os Godos

Após sua conversão, e com o apoio da sua população e da igreja, Clovis continuou sua guerra com os visigodos (uma desavença que enfrentou durante todo seu reinado), defrontando-os finalmente na Batalha de Vouillle em 507 d.C. próximo a Poitiers, uma cidade na parte oeste da Gália central, quando derrotou e matou o rei Alarico II. O ostrogodo rei da Itália, Teodorico, um aliado de Alarico, foi impedido de o auxiliar pelo imperador bizantino Anastasius, pois Teodorico devia sua obediência, em primeiro lugar, ao império que o havia estimulado a assumir o poder.

Teodorico, como Alarico, era um cristão ariano, enquanto Anastasius era um cristão niceiano (ou trinitariano), como Clovis. Anastasius não permitiria, sob nenhuma circunstância, que um rei ariano apoiasse outro ariano contra um “verdadeiro cristão”. No entanto, mesmo sem a intervenção de Anastasius, é improvável que Teodorico pudesse entrar em conflito com Clovis, pois ele estava casado com sua irmã, Audofleda, desde 492 d.C., casamento este que o próprio Teodorico havia se empenhado para conseguir unir seu reino ao de Clovis em uma aliança. No entanto, Teodorico encontrava-se em uma difícil posição pois havia enviado uma de suas filhas em casamento para Alarico II. Sua escolha em permanecer distante da guerra foi, finalmente, ditada por Anastasius, mas, como suas últimas ações demonstram, dificilmente seria uma escolha que Teodorico teria feito por vontade própria.

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Após derrotar os visigodos, Clovis retornou para Tours, onde se encontrou com o imperador do oriente que o presenteou com a túnica púrpura de um cônsul. Com os visigodos derrotados e seu reino em segurança, Clovis elegeu Paris como sede de seu império unificado. Tentativas posteriores para expandir seu domínio foram impedidas pela intervenção de Teodorico. Clovis desejava as províncias da Aquitânia como um todo, as quais se encontravam sob o governo de Alarico II. Porém, em 508 d.C., Teodorico assumiu o controle da Provence e, em 511 d.C, assegurou as antigas terras visigóticas para si.

Tomb of Clovis I
Tumba de Clovis I
Arnaud 25 (Public Domain)

Morte & Legado

Em novembro de 511 d.C Clovis morreu (existe alguma divergência a respeito da data exata e alguns historiadores citam 518 d.C), deixando um reino que era um misto das culturas romana e germânica: língua, culto e lei. Clovis considerava importante preservar uma boa parte das antigas tradições romanas e, de fato, moldou o início de seu reinado no de Júlio César. Muito embora tenha sido acusado de matar reis francos amigos (alguns até parentes), deve-se notar que esta prática era um tanto comum para a época. Quando de sua morte, ele havia ampliado seu poder do norte para oeste e para sul até os Pirineus. Derrotou os alemani, borgonheses e visigodos, porém sua morte encerraria a expansão dos francos.

Com sua morte, o império foi, de acordo com a tradição, dividido entre seus quatro filhos, os “Reis Preguiçosos”, que pouco ou nada fariam, para ampliar suas posses ou melhorar a vida do povo. O nome de Clovis permaneceria por toda sua dinastia, os Merovíngios, sendo considerado como o fundador da França atual. Seu nome foi posteriormente latinizado pela história para Luiz, um nome que viveria na realeza francesa por séculos em 18 reis e permanece popular na cultura da França até os dias atuais.

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Sobre o tradutor

Jose Monteiro Queiroz-Neto
Monteiro é um pediatra aposentado interessado na história do Império Romano e da Idade Média. Tem como objetivo ampliar o conhecimento dos artigos da WH para o público de língua portuguesa. Atualmente reside em Santos, Brasil.

Sobre o autor

Donald L. Wasson
Donald ensina História Antiga, Medieval e dos Estados Unidos no Lincoln College (Normal, Illinois) e sempre foi e sempre será um estudante de História, dedicando-se, desde então, a se aprofundar no conhecimento sobre Alexandre, o Grande. É uma pessoa ávida a transmitir conhecimentos aos seus estudantes.

Citar este trabalho

Estilo APA

Wasson, D. L. (2014, novembro 10). Clovis I [Clovis I]. (J. M. Queiroz-Neto, Tradutor). World History Encyclopedia. Recuperado de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-724/clovis-i/

Estilo Chicago

Wasson, Donald L.. "Clovis I." Traduzido por Jose Monteiro Queiroz-Neto. World History Encyclopedia. Última modificação novembro 10, 2014. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-724/clovis-i/.

Estilo MLA

Wasson, Donald L.. "Clovis I." Traduzido por Jose Monteiro Queiroz-Neto. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 10 nov 2014. Web. 22 dez 2024.