O Egito é um país do Norte da África, no Mar Mediterrâneo, sede de uma das mais antigas civilizações da Terra. O nome "Egito" vem do grego aegyptos, pronúncia grega do antigo nome egípcio Hwt-Ka-Ptah (Mansão do Espírito de Ptah), denominação original da cidade de Mênfis.
Mênfis, a primeira capital egípcia, abrigava um famoso centro religioso e comercial; seu status elevado pode ser atestado pelo fato dos gregos aludirem ao país inteiro pelo seu nome. Os antigos egípcios, no entanto, conheciam seu país simplesmente como Kemet, o que significa Terra Negra, assim denominada em virtude do solo escuro e rico ao longo do Rio Nilo, onde os primeiros assentamentos começaram. Mais tarde, o país ficou conhecido como Misr, o que significa "país", um nome ainda empregado pelos egípcios para sua nação nos dias atuais. O Egito prosperou como nação independente por milhares de anos (de c. 8000 a.C. a c. 30 a.C.), com uma cultura famosa por grandes avanços em todas as áreas do conhecimento humano, das artes à ciência, na tecnologia e na religião. Os grandes monumentos pelos quais o antigo Egito ainda é celebrado refletem a profundidade e a grandeza da cultura egípcia, que influenciou tantas civilizações antigas, entre as quais Grécia e Roma.
Uma das razões para a popularidade duradoura da cultura egípcia reside em sua ênfase na grandiosidade da experiência humana. Os grandes monumentos, túmulos, templos e obras de arte celebram a vida e são lembretes do passado e do que os seres humanos, no seu melhor, são capazes de alcançar. Embora o antigo Egito na cultura popular seja frequentemente associado à morte e aos rituais fúnebres, mesmo estes aspectos expressam às pessoas, com o passar do tempo, o que significa ser humano e o poder e propósito da lembrança.
Para os egípcios, a vida na Terra era apenas um aspecto de uma jornada eterna. A alma imortal habitava o corpo no plano físico apenas por um curto período de tempo. Na morte, a pessoa seria submetida ao julgamento no Salão da Verdade e, se considerado inocente, entraria no paraíso eterno conhecido como o Campo de Juncos, que continha uma imagem espelhada da vida na terra. Uma vez que se chegasse ao paraíso, seria possível viver pacificamente na companhia daqueles que amava enquanto estava na terra (incluindo os animais de estimação), nas mesmas vizinhanças banhadas pelo mesmo riacho, sob as árvores que se pensava terem sido perdidas na morte. Essa vida eterna, no entanto, só estava disponível para aqueles que haviam vivido bem e de acordo com a vontade dos deuses, no lugar mais perfeito que conduzisse a tal objetivo: a terra do Egito.
O Egito tem uma longa história que vai muito além da palavra escrita, das histórias dos deuses ou dos monumentos que tornaram a cultura famosa. Há evidências de pastoreio excessivo de gado, na região atualmente ocupada pelo deserto do Saara, desde aproximadamente 8000 a.C. Essas evidências, juntamente com os artefatos descobertos, apontam para uma próspera civilização agrícola regional naquela época. Como a terra já era em grande parte árida, os nômades caçadores-coletores buscaram o frescor da fonte de água do Vale do Rio Nilo e começaram a se estabelecer lá em algum momento antes de 6000 a.C.
A agricultura organizada começou na região por volta de 6000 a.C. e as comunidades conhecidas como Cultura Badariana começaram a florescer ao longo do rio. A indústria se desenvolveu mais ou menos na mesma época, como evidenciado por oficinas de faiança descobertas em Abidos e datadas de aproximadamente 5500 a.C. Os badarianos foram seguidos pelas culturas Amratiana (ou de Amira), Gerzeana e Naqada (ou Nagada/Nacada), também conhecidas como Naqada I, Naqada II e Naqada III, que contribuíram significativamente para o desenvolvimento do que se tornou a civilização egípcia. A história escrita começa entre 3400 e 3200 a.C., quando o sistema de escrita hieroglífico foi desenvolvido pela cultura Naqada III. Por volta de 3500 a.C., a mumificação dos mortos estava em prática na cidade de Hieracômpolis e construíram-se grandes túmulos de pedra em Abidos. A cidade de Xois é registrada como sendo já antiga em 3100-2181 a.C., conforme a inscrição da famosa Pedra de Palermo. Como em outras culturas ao redor do mundo, a concentração das pequenas comunidades agrárias deu origem a grandes centros urbanos.
História Inicial
O Período Dinástico Inicial no Egito (c. 3150 - c. 2613 a.C.) viu a unificação dos reinos do norte e do sul sob o rei Menés do Alto Egito, que conquistou o Baixo Egito em c. 3118 a.C. ou c. 3150 a.C. Esta versão consta na Aegyptica (História do Egito), obra do antigo historiador Mâneto, que viveu no século III a.C. sob a dinastia ptolemaica (323-30 a.C.). Embora sua cronologia tenha sido contestada por historiadores posteriores, ela permanece sendo consultada sobre a sucessão dinástica e o início da história do antigo Egito.
A obra de Mâneto é a única fonte que cita Menés e a conquista e, atualmente, acredita-se que o personagem referido por ele como "Menés" na verdade é o rei Narmer, que pacificamente uniu o Alto e o Baixo Egito sob o mesmo domínio. A identificação de Menés com Narmer está longe de ser universalmente aceita, no entanto, e ele vem sendo relacionado de forma crível ao rei Hor-Aha (ou Atótis/Aha, c. 3100-3050 a.C.), que o sucedeu. A associação de Menés com seu predecessor e sucessor deriva do fato de que esta palavra designa um título honorífico, significando "ele que resiste" e não um nome pessoal e, assim, pode ter sido utilizado para se referir a mais de um soberano. A alegação de que a unificação da região teria ocorrido através de uma campanha militar também é contestada, pois a famosa Paleta de Narmer, representando uma vitória militar, passou a ser considerada por alguns acadêmicos como uma peça de propaganda da realeza. O país pode ter sido unificado inicialmente de forma pacífica, mas isso parece improvável.
A designação geográfica do antigo Egito segue o trajeto do Rio Nilo e, assim, o Alto Egito é a região meridional e o Baixo Egito fica ao norte, próximo do Mar Mediterrâneo. Narmer governou a partir da cidade de Hieracômpolis e, dali, de Mênfis e Abidos. O comércio aumentou de maneira significativa sob os governantes do Período Dinástico Inicial e os túmulos em estilo mastaba, precursores das pirâmides, desenvolveram-se em conjunto com as práticas de sepultamento dos egípcios, que incluíam técnicas cada vez mais elaboradas de mumificação.
Os Deuses
A partir do Período Pré-Dinástico (c. 6000 - c. 3150 a.C.), a crença nos deuses definiu a cultura egípcia. Um antigo mito da criação egípcia traz o deus Aton, que se ergueu em meio ao caos rodopiante, antes do início dos tempos, e deu vida à criação. Aton tinha a companhia da força eterna de heka (magia), personificada no deus Heka e por outras forças espirituais que animariam o mundo. Heka era a força primordial que infundia o universo e fazia com que todas as coisas funcionassem; também proporcionava o valor central da cultura egípcia: ma'at (ou maat), harmonia e equilíbrio.
Todos os deuses e suas responsabilidades relacionavam-se com ma'at e heka. O sol nascia e se punha, a lua percorria seu curso pelo céu e as estações se desenrolavam conforme o equilíbrio e a ordem, possíveis somente devido à ação destas forças. Ma'at também era personificada como uma divindade, a deusa da pena de avestruz, a quem todos os reis prometiam os seus dons e devoção. O rei associava-se ao deus Hórus em vida e Osíris na morte, com base num mito que se tornou o mais popular da história egípcia.
Osíris e sua irmã-esposa Ísis eram os monarcas originais que governaram o mundo e deram à humanidade os dons da civilização. O irmão de Osíris, Seth, enciumado, resolveu assassiná-lo, mas ele foi trazido de volta à vida por Ísis, que então deu à luz ao filho do casal, Hórus. Mesmo ressuscitado, Osíris estava incompleto, no entanto, e assim desceu para governar o submundo, enquanto Hórus, após tornar-se adulto, vingou seu pai e derrotou Seth. Esse mito ilustrava como a ordem triunfava sobre o caos e se tornaria um tema persistente na religião egípcia, rituais fúnebres, textos religiosos e na arte. Não houve período em que os deuses não desempenhassem um papel integral na vida cotidiana dos egípcios e isso é claramente observado desde os primeiros tempos da história do país.
Velho Império
Durante o período conhecido como Velho Império do Egito (c. 2613-2181 a.C.), a arquitetura dedicada aos deuses se desenvolveu num ritmo crescente e surgiram alguns dos monumentos egípcios mais famosos, como as pirâmides e a Grande Esfinge de Gizé. O rei Djoser (ou Djeser), que reinou por volta de 2670 a.C., construiu a primeira Pirâmide de Degraus em Saqqara (ou Sacara/Sacará) por volta de 2670 a.C., projetada por seu arquiteto-chefe e médico Imhotep (c. 2667-2600 a.C.), que também escreveu um dos primeiros textos médicos, descrevendo o tratamento de mais de 200 doenças diferentes e argumentando que a causa da doença poderia ser natural, não a vontade dos deuses. A Grande Pirâmide de Quéops (ou Khufu), a última das Sete Maravilhas do mundo antigo, foi construída durante seu reinado (2589-2566 a.C.), vindo a seguir as pirâmides de Quéfren (ou Khafre, 2558-2532 a.C.) e Miquerinos (ou Menkaure, 2532-2503 a.C.).
A grandiosidade das pirâmides no planalto de Gizé, como teriam aparecido originalmente, revestidas de calcário branco reluzente, evidencia o poder e da riqueza dos governantes durante esse período. Existem várias teorias sobre como esses monumentos e túmulos foram construídos, mas os arquitetos e estudiosos modernos estão longe de concordar com qualquer uma delas. Considerando a tecnologia da época, de acordo com alguns argumentos, um monumento como a Grande Pirâmide de Gizé não deveria existir. Outros afirmam, no entanto, que a existência de tais edifícios e túmulos sugere uma tecnologia superior que foi perdida no tempo.
Não há absolutamente nenhuma evidência de que os monumentos do planalto de Gizé - ou quaisquer outros no Egito - foram construídos por trabalho escravo, assim como não existem evidências que apoiem a leitura histórica do Livro do Êxodo bíblico. Atualmente, a maioria dos estudiosos respeitáveis rejeita a alegação de que as pirâmides e outros monumentos tenham utilizado trabalho forçado, embora escravos de diferentes nacionalidades certamente existissem no Egito e fossem empregados regularmente nas minas. Na época, consideravam-se tais monumentos como obras públicas, criadas para o estado com o uso de trabalhadores egípcios qualificados e não-qualificados, todos pagos por seu trabalho. Os trabalhadores do sítio de Gizé, apenas um entre muitos existentes no país, recebiam uma ração de cerveja três vezes ao dia e sua moradia, ferramentas e até mesmo seu nível de assistência médica foram claramente demonstrados pelas evidências arqueológicas.
O Primeiro Período Intermediário e os Hicsos
A era conhecida como o Primeiro Período Intermediário do Egito (2181-2040 a.C.) testemunhou o colapso no poder do governo central. Distritos em grande parte independentes, com seus próprios governadores, espalharam-se por todo o Egito, até que dois grandes centros surgiram: Hieracômpolis, no Baixo Egito, e Tebas, no Alto Egito. Esses núcleos fundaram dinastias próprias, que dominaram suas regiões de forma independente e lutaram entre si pelo controle supremo de maneira intermitente até c. 2040 a.C., quando o rei tebano Mentuhotep II (ou Mentuotepe, c. 2061-2010 a.C.) derrotou as forças de Hieracômpolis e uniu o Egito sob o domínio de Tebas.
A estabilidade proporcionada pelo domínio tebano levou ao florescimento do que é conhecido como Médio Império do Egito (2040-1782 a.C.). Este período ficou conhecido como a Era Clássica egípcia, quando a arte e a cultura tiveram grande desenvolvimento e Tebas se tornou a cidade mais importante e rica. De acordo com os historiadores Oakes e Gahlin, "os reis da 12ª Dinastia foram governantes fortes, que estabeleceram o controle não somente por todo o Egito, mas também sobre a Núbia, ao sul, onde várias fortalezas foram construídas para proteger os interesses comerciais egípcios" (11). Durante o Médio Império surgiu o primeiro exército permanente, criado pelo rei Amenemhat I (c. 1991-1962 a.C.), iniciou-se a construção do templo de Karnak, sob Senruset I (c 1971-1926 a.C.), e surgiram algumas das maiores obras literárias e artísticas egípcias. A 13ª Dinastia, no entanto, mostrou-se mais fraca do que a 12ª e, perturbada por problemas internos, deu margem para que um povo estrangeiro, conhecido como hicsos, ganhasse poder no Baixo Egito, nas imediações do Delta do Nilo.
Os hicsos são um povo misterioso, provavelmente da área da Síria/Palestina, que apareceu pela primeira vez no Egito por volta de 1800 a.C. e se estabeleceu na cidade de Avaris. Ainda que os nomes dos reis hicsos tenham origem semítica, não se definiu até o momento sua etnia específica. Eles aumentaram seu poder até assumir o controle de uma porção significativa do Baixo Egito por volta de 1720 a.C., tornando a dinastia tebana do Alto Egito quase um estado vassalo.
Esta era é conhecida como Segundo Período Intermediário do Egito (c. 1782 - c. 1570 a.C.). Ainda que os hicsos (cujo nome significa simplesmente "governantes estrangeiros") fossem odiados pelos egípcios, eles introduziram muitos aperfeiçoamentos na cultura local, como o arco composto, o cavalo e o carro de guerra, juntamente com a rotação de culturas agrícolas e melhorias no trabalho com bronze e na cerâmica. Ao mesmo tempo em que os hicsos controlavam os portos do Baixo Egito, em 1700 a.C., o Reino de Kush havia ascendido ao sul de Tebas, na Núbia, e agora dominava a fronteira meridional. Os egípcios organizaram uma série de campanhas para expulsar os hicsos e subjugar os núbios, mas todas falharam até o príncipe Amósis I de Tebas (c. 1570-1544 a.C.) conseguiu reunificar o país sob o domínio tebano.
Novo Império e o Período de Amarna
Amósis I iniciou o período conhecido como Novo Império do Egito (c. 1570 - c. 1069 a.C.), que novamente testemunhou grande prosperidade na região sob um forte governo central. O título de faraó para o governante egípcio vem do período do Novo Império; os monarcas anteriores eram simplesmente conhecidos como reis. Muitos dos soberanos egípcios mais conhecidos atualmente governaram nesta época, na qual também se criaram ou aprimoraram a maioria das grandes estruturas da arquitetura egípcia, como o Ramesseum, Abu Simbel, os templos de Karnak e Luxor e os túmulos do Vale dos Reis e do Vale das Rainhas.
Entre 1504-1492 a.C., o faraó Tutmósis I (ou Tutmés) consolidou seu poder e expandiu as fronteiras egípcias até o Rio Eufrates, no norte; a Síria e Palestina, a oeste; e a Núbia, ao sul. Seu reinado foi seguido pela rainha Hatshepsut (1479-1458 a.C.), que expandiu muito o comércio com outras nações, principalmente a Terra de Punt. Seu reinado de 22 anos trouxe paz e prosperidade para o Egito.
Seu sucessor, Tutmósis III, continuou suas políticas (embora tenha tentado erradicar toda a memória da falecida rainha, pois, segundo se acredita, não queria que servisse de modelo para outras mulheres, já que apenas homens eram considerados dignos de governar) e, na época de sua morte, em 1425 a.C., o Egito se tornara uma nação grande e poderosa. A prosperidade levou, entre outras coisas, a um aumento das variedades de cerveja e mais tempo de lazer para a prática de esportes. Os avanços na medicina levaram a melhorias nas condições de saúde do povo.
Há muito tempo o banho tinha um importante papel no cotidiano dos egípcios, graças ao encorajamento religioso e exemplo do próprio clero. Nesta época, no entanto, construíram-se casas de banhos mais elaboradas, presumivelmente voltadas mais para o lazer do que apenas por uma questão de higiene. O Papiro Ginecológico de Kahun, referente à saúde feminina e aos contraceptivos, havia sido escrito por volta de 1800 aC e, durante esse período, parece ter sido bastante utilizado pelos médicos. Praticava-se a cirurgia e a odontologia com grande habilidade e de forma disseminada e os médicos prescreviam a cerveja para aliviar os sintomas de mais de 200 enfermidades diferentes.
Em 1353 a.C., o faraó Amenófis IV (ou Amenhotep/Amenotepe) ascendeu ao trono e, pouco depois, mudou seu nome para Akhenaton (ou Aquenáton, `espírito vivo de Aton') para refletir sua crença num único deus, Aton. Os egípcios, conforme observado acima, tradicionalmente acreditavam em muitos deuses, cuja importância influenciava todos os aspectos do seu cotidiano. Entre as divindades mais populares estavam Amon, Osíris, Ísis e Hathor (ou Hátor). O culto a Amon, nesta época, havia se tornado tão rico que os sacerdotes eram quase tão poderosos quanto o faraó. Akhenaton e sua rainha, Nefertiti, renunciaram às crenças e costumes religiosos tradicionais e instituíram uma nova religião, baseada no reconhecimento de um único deus.
Suas reformas religiosas efetivamente retiraram o poder dos sacerdotes de Amon e o colocaram em suas mãos. Ele mudou a capital de Tebas para a nova cidade de Amarna para se distanciar ainda mais dos seus antecessores. Durante o chamado Período de Amarna do Egito (1353-1336 a.C.), a cidade recém-fundada cresceu como a capital do país e os costumes religiosos politeístas foram proibidos.
Entre suas muitas realizações, Akhenaton foi o primeiro governante a ordenar estátuas e um templo para a rainha, em vez de somente para si mesmo ou para os deuses, e utilizou os recursos que anteriormente iam para os templos politeístas para obras públicas e parques. O poder do clero diminuiu drasticamente em relação ao do governo central, o que parecia ser o objetivo de Akhenaton, mas ele não conseguiu utilizá-lo para o melhor interesse de seu povo. As Cartas de Amarna deixam claro que estava mais preocupado com as reformas religiosas do que a política externa ou as necessidades dos egípcios.
Seu filho o sucedeu - o governante egípcio mais conhecido nos dias modernos, Tutankhamon (ou Tutancâmon) - e reinou a partir de c. 1336 - c. 1327 a.C. Ele foi originalmente chamado de Tutankhaton para refletir as crenças religiosas de seu pai, mas, ao assumir o trono, seu nome passou a homenagear o antigo deus Amon. Tutankhamon restaurou os templos, removeu todas as referências à divindade única de seu pai e Tebas tornou-se novamente a capital. Apesar de seu curto reinado, o jovem faraó ficou famoso pela grandiosidade intacta de sua tumba, descoberta em 1922, que se tornou uma atração internacional.
O maior governante do Novo Império, no entanto, foi Ramsés II (também conhecido como Ramsés, o Grande, 1279-1213 a.C.), que iniciou os maiores projetos arquitetônicos da história egípcia e reinou com a utilização eficiente dos recursos de que dispunha. Embora a famosa Batalha de Kadesh (ou Cadesh/Cadexe), em 1274 a.C., entre Ramsés II e Muwatalli II (ou Muatal) dos hititas, seja atualmente vista como um empate, Ramsés a considerou uma grande vitória egípcia, celebrando-se como campeão do povo e, finalmente, como um deus, em suas diversas obras públicas.
Seu templo de Abu Simbel (construído para a rainha Nefertari) retrata a batalha de Kadesh e o templo menor no local, seguindo o exemplo de Akhenaton, é dedicado à rainha favorita. Sob o reinado de Ramsés II, o primeiro tratado de paz do mundo (Tratado de Kadesh) foi assinado em 1258 a.C. e o Egito desfrutou de uma riqueza quase sem precedentes, como evidenciado pela quantidade de monumentos construídos ou restaurados.
O quarto filho de Ramsés II, Khaemweset (ou Caemuassete, c. 1281 - c. 1225 a.C.), ficou conhecido como o "Primeiro Egiptólogo" por esforços em preservar e registrar antigos monumentos, templos e nomes de seus proprietários originais. Em grande parte graças às iniciativas de Khaemweset, o nome de Ramsés II aparece de forma tão proeminente em vários sítios antigos no Egito. Ele registrava de seus próprios esforços, o construtor/proprietário original do monumento ou templo e o nome de seu pai.
Ramsés II tornou-se conhecido pelas gerações posteriores como "O Grande Ancestral" e reinou por tanto tempo que sobreviveu à maioria de seus filhos e esposas. Com o tempo, seus súditos só tinham lembrança de Ramsés II como governante. Ele desfrutou de uma vida excepcionalmente longa de 96 anos, mais que o dobro da vida média de um egípcio da época. Após a sua morte, há registos de que muitos temiam que o fim do mundo tivesse chegado, pois não conheciam outro faraó nem outro tipo de Egito.
O Declínio do Egito e a Chegada de Alexandre, o Grande
Um de seus sucessores, Ramsés III (1186-1155 a.C.), seguiu suas políticas, mas, a essa altura, a grande riqueza do Egito havia atraído a atenção dos Povos do Mar, que começaram a fazer incursões regulares ao longo da costa. Os povos do mar, como os hicsos, são de origem desconhecida, mas acredita-se que tenham vindo da região meridional do Mar Egeu. Entre 1276-1178 a.C., eles se transformaram numa ameaça à segurança egípcia. Ramsés II os derrotou numa batalha naval no início de seu reinado, assim como seu sucessor, Merenptah (ou Merneptá, 1213-1203 a.C.). Após a morte de Merenptah, no entanto, os invasores renovaram seus esforços, saqueando Kadesh, na época sob controle egípcio, e devastando a costa. Entre 1180-1178 a.C., Ramsés III os enfrentou, derrotando-os por fim na Batalha de Xois, em 1178 a.C.
Após o reinado de Ramsés III, seus sucessores tentaram manter suas políticas, mas cada vez mais encontraram resistência do povo, dos territórios conquistados e, especialmente, da classe sacerdotal. Nos anos após Tutankhamon ter restaurado a antiga religião de Amon, e especialmente durante o grande período de prosperidade sob Ramsés II, os sacerdotes de Amon adquiriram enormes extensões de terra e acumularam uma vasta riqueza, que ameaçava o governo central e interrompia a unidade do Egito. Na época de Ramsés XI (1107-1077 a.C.), ao final da 20ª dinastia, o governo egípcio havia se tornado tão enfraquecido pelo poder e corrupção do clero que o país novamente se dividiu com o colapso da administração central, iniciando o chamado Terceiro Período Intermediário do Egito (c. 1069-525 a.C.).
Sob o rei kushita Piye (ou Piiê, Peye ou Piankhy, 752-722 a.C.), o Egito novamente se unificou e a cultura floresceu, mas, a partir de 671 a.C., o rei assírio Assaradão (ou Esarhaddon) tentou invadir o país, que acabou sendo conquistado em 666 a.C. pelo sucessor, Assurbanipal. Sem planos de longo prazo para o controle do território, os assírios o deixaram em ruínas, nas mãos de mandatários locais, abandonando o Egito à sua própria sorte. O país tinha sido reconstruído e refortificado, porém, quando Cambises II da Pérsia atacou e enfrentou as forças egípcias na Batalha de Pelusa, em 525 a.C. Sabendo da reverência do Egito pelos gatos (que, segundo a crença, eram representações vivas da popular deusa Bastet), Cambises II ordenou que seus homens pintassem gatos em seus escudos e conduzissem estes e outros animais sagrados na frente do exército no trajeto até Pelusa. O exército se rendeu e o Egito ficou sob ocupação persa até a chegada de Alexandre, o Grande, em 332 a.C.
Recepcionado como um libertador, Alexandre conquistou o Egito sem luta. Ele fundou a cidade de Alexandria e seguiu adiante para conquistar a Fenícia e o restante do Império Persa. Após sua morte, em 323 a.C., o general macedônico Ptolemeu I Sóter (ou Ptolomeu) trouxe o corpo para Alexandria e fundou a Dinastia Ptolemaica (323-30 a.C.). A última dos ptolemeus foi Cleópatra, que cometeu suicídio em 30 a.C., após a derrota de suas forças (e as do seu consorte, Marco Antônio) para as forças romanas comandadas por Otávio César (Augusto), na Batalha de Ácio (ou Actium, 31 a.C.). O Egito se tornou província do Império Romano (30 a.C. - 476 d.C.) e, posteriormente, do Império Bizantino (c. 527-646 d.C.) até ser conquistado pelos árabes muçulmanos, sob o califa Omar, em 646 d.C., ficando sob domínio islâmico.
A glória do passado egípcio, porém, foi redescoberta durante os séculos XVIII e XIX, com um profundo impacto na compreensão atual da história antiga e do mundo. O historiador Will Durant expressa o sentimento compartilhado por muitos:
O efeito ou lembrança do que o Egito realizou no amanhecer da história influencia todas as nações em todas as épocas. "É até possível", como diz Faure, “que o Egito, por meio da solidariedade, da unidade, da disciplinada variedade de seus produtos artísticos e da enorme duração do poder dos seus esforços, ofereça o espetáculo da maior civilização que já apareceu sobre a terra.” Faremos bem em igualá-lo. (217)
A cultura e história egípcias há muito fascinam as pessoas; seja através do trabalho dos primeiros arqueólogos do século XIX (tais como Champollion, que decifrou a Pedra de Rosetta em 1822), ou a descoberta da tumba de Tutankhamon por Howard Carter, em 1922. A crença dos antigos egípcios na vida como uma jornada eterna, criada e mantida pela mágica divina, inspirou culturas e crenças religiosas posteriores. Muitos detalhes da iconografia e das crenças da religião egípcia acabaram sendo integrados na nova religião do cristianismo e vários dos seus símbolos ainda podem ser reconhecidos atualmente, em grande parte com o mesmo significado. É um importante testemunho do poder desta civilização que tantas obras de ficção, desde filmes até livros e pinturas, mesmo com temas religiosos, tenham sido e continuem sendo inspirados pela profunda e elevada visão dos egípcios a respeito do universo e da posição nele ocupada pela humanidade.