Deméter

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Definição

Mark Cartwright
por , traduzido por Ricardo Albuquerque
publicado em 12 novembro 2019
Disponível noutras línguas: Inglês, francês, espanhol, Turco
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Seated Demeter Figurine (by Mark Cartwright, CC BY-NC-SA)
Figura de Deméter Sentada
Mark Cartwright (CC BY-NC-SA)

Deméter era uma das mais velhas divindades do antigo panteão grego. Padroeira da agricultura, ela garantia a fertilidade da terra. Protegia tanto as fazendas quanto a vegetação, uma estreita conexão com a terra herdada de sua mãe, Reia. Deméter era provavelmente a reincarnação das deusas da mãe Terra veneradas nas comunidades rurais gregas durante a Era do Bronze.

O santuário de Elêusis é dedicado tanto à deusa quanto à sua filha, Perséfone. Nele aconteciam os famosos Mistérios de Elêusis. A partir deles, nos períodos Arcaico e Clássico do mundo grego, disseminou-se a ideia de que Deméter protegeria seus adoradores na vida além-túmulo. Em Roma, a deusa manteve sua popularidade, sendo conhecida como Ceres.

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A Família de Deméter

Filha de Cronos e Reia, irmã de Zeus, Poseidon, Hades, Hera e Héstia, Deméter era a mãe de Perséfone e Iaco (ambos com Zeus) e Plutão, o deus da riqueza (com o mortal cretense Iásion, fulminado em seguida por um raio lançado pelo ciumento Zeus). Ela também adotou Demofonte, o príncipe eleusino que deu à raça humana os presentes do arado e o conhecimento da agricultura. Poseidon também cobiçava a irmã e, para escapar de suas atenções, ela se transformou numa égua; porém, o deus dos oceanos não desistiu e se transformou num cavalo. A prole resultante foi Aríon, o cavalo alado montado por Hércules. Deméter e Perséfone costumavam ser representadas juntas e algumas vezes referidas como uma única deusa com um aspecto dual. A dupla era mencionada muitas vezes como "As Duas Deusas" ou as Deméteres.

A história de Deméter e Perséfone talvez simbolizasse a mudança das estações e o ciclo perene da vida para a morte.

Deméter e Perséfone

A mais importante mitologia sobre Deméter está relacionada ao rapto de sua filha Perséfone (também conhecida como Core pelos gregos e Prosérpina pelos romanos) por Hades, o deus do Submundo. Certo dia, Hades viu Perséfone colhendo flores e se apaixonou imediatamente, arrebatando-a em sua carruagem para seus domínios no Hades, o mundo subterrâneo dos mortos dos gregos. Em alguns relatos, ele recebe o consentimento de Zeus e a abdução acontece na Sicília (conhecida pela fertilidade do solo) ou na Ásia. Inconformada, Deméter procurou sua filha perdida por todos os cantos da terra e, embora Hélios (ou Hermes) tenha finalmente lhe contado o destino de Perséfone, continuou vagueando até chegar a Elêusis. Ali, disfarçada como uma senhora idosa, cuidou de Demofonte (ou Triptólemo), o filho de Metanira, esposa de Celeu, rei de Elêusis. Para recompensar a bondade da família, Deméter começou o processo de imortalização de Demofonte, colocando-o no fogo todas as noites. Porém, quando Metanira viu aquilo, ficou alarmada. Em resposta, Deméter revelou sua verdadeira identidade e exigiu que um templo fosse construído em sua honra. Este foi o início do famoso santuário de Elêusis, na Ática (veja abaixo).

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Demeter & Persephone
Deméter e Perséfone
Osama Shukir Muhammed Amin (Copyright)

Uma vez completada a obra do templo, Deméter retirou-se do mundo e passou a viver no interior da terra; ao mesmo tempo, desencadeou uma grande seca para convencer os outros deuses a libertar Perséfone do submundo. À medida que a seca reclamava mais vítimas, as colheitas murchavam (ilustrando o domínio de Perséfone sobre a agricultura) e, assim, havia tão pouca comida que os mortais não podiam sequer oferecer sacrifícios aos deuses. Zeus então persuadiu Hades a libertar sua noiva ilegalmente obtida. Antes de desistir dela, no entanto, o astuto Hades colocou uma semente de romã na boca da moça, sabendo que seu sabor divino seria um incentivo para que voltasse para ele. Em outras versões do mito, Perséfone poderia ser liberada caso não tivesse comido nada durante seu cativeiro mas, no último momento, Hades deu-lhe uma semente de romã. Finalmente fechou-se um acordo: Perséfone seria libertada, mas voltaria para o mundo subterrâneo de Hades durante um terço do ano (em outros relatos, metade). Em gratidão pelo retorno de sua filha, Deméter teria então enviado o príncipe Demofonte para ensinar a humanidade a cultivar os grãos e outras técnicas agrícolas úteis.

Deméter e os Mistérios Eleusinos

A história de Deméter, Hades e Perséfone talvez simbolize as estações do ano e o ciclo perene da vida para a morte e para a vida novamente ou, em outras palavras, as mudanças que ocorrem do verão para o inverno e o retorno da vida na primavera, Uma interpretação alternativa de historiadores modernos é que o desaparecimento de Perséfone simboliza a prática de enterrar sementes no verão, preservando-as para a semeadura no outono. O ciclo tornou-se um dos rituais dos sagrados Mistérios Eleusinos; de fato, os símbolos do culto eram feixes de grãos e uma tocha - símbolos da busca de Perséfone por Deméter e uma lembrança de que os rituais de Elêusis eram realizados à noite.

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Eleusinian votive relief
Relevo Votivo Eleusino
Carole Raddato (CC BY-SA)

Elêusis passou a sediar o mais importante santuário de Deméter, com uma conexão religiosa e monumentos relacionados que recuam até a civilização micênica, no século XV a.C.. A partir de c. 600 a.C., os Mistérios Eleusinos passaram a integrar o calendário ateniense como uma cerimônia oficial, e a cidade se transformou num sítio pan-helênico sob o ditador ateniense Pisístrato (r. 550-510 a.C.). No século V a.C., Péricles, o estadista ateniense (v. 495-429 a.C.), supervisionou a construção de um novo Telestério (Sala de Iniciação e templo), na época o maior edifício da Grécia. O local continuou a atrair peregrinos e adoradores no período de dominação romana. Os imperadores Adriano (r. 117-138 d.C.) e Marco Aurélio (r. 161-180 d.C.) engrandeceram Elêusis. O santuário começou a declinar de forma significativa com o decreto de Teodósio I (r. 379-395) que fechou todos os locais de adoração pagãs em 379. Por volta de 395, Elêusis foi destruída durante a invasão dos visigodos.

Os detalhes precisos dos Mistérios Eleusinos permanecem até hoje exatamente como tal, um mistério.

Infelizmente para nós, como todos os iniciados estavam presos a um juramento sagrado de não revelar os detalhes dos Mistérios, eles permanecem até hoje exatamente isso, um mistério. Sabemos que, a partir do século VI a.C., as cerimônias aconteciam duas vezes por ano. A primeira etapa do processo de iniciação, conhecida como os “Mistérios Menores”, ocorria a cada primavera. Os mais importantes “Grandes Mistérios” eram realizados no outono, durante nove dias. Somente os gregos podiam ser iniciados, embora isso mais tarde tenha sido expandido para incluir cidadãos romanos. Também sabemos detalhes de algumas das atividades ao ar livre, e que incluíam uma procissão, liderada pelas sacerdotisas de Deméter, ao longo da Via Sagrada de Elêusis até a ágora de Atenas, seguida de uma procissão de retorno, tendo à frente um carro simbólico de Iaco. Havia cerimônias rituais e comunitárias de limpeza e purificação, realizadas no mar, em Falero, a representação ou recriação dos mitos envolvendo as duas deusas, sacrifícios de animais (porcos) e a interpretação de textos sagrados pelos sacerdotes, os mystagogoi. Provavelmente também haveria bebida, música, dança e celebrações em geral, como atestam as cerâmicas gregas que trazem cenas dos ritos nas quais os iniciados seguram o bacchus ou o cetro sagrado de Dioniso. Estreitamente associados à fertilidade e agricultura, os mistérios provavelmente tinham a reputação de trazer boa sorte aos participantes do culto e, talvez o mais importante para a maioria, a promessa de uma vida melhor no além-túmulo.

Outros Locais de Adoração a Deméter

Deméter tinha santuários na maioria das cidades-estados do mundo grego. Homero menciona que a deusa tinha um distrito com seu nome em Pyrasos. A partir do século VIII a.C., havia um santuário e um templo bem conhecidos dedicados à deusa, em Naxos. No século IV a.C., um templo foi construído em sua honra em Dion. Outros sítios destacados de adoração incluem Andânia, na Messênia, Lykosora, na Arcádia e, talvez o mais curioso, em Figália, também na Arcádia, onde uma estátua da deusa foi colocada numa caverna que tinha uma cabeça de cavalo, provavelmente referência ao encontro amoroso de Deméter com Poseidon. Muitas cidades-estados italianas meridionais, especialmente na Sicília, possuíam cultos importantes a Deméter, nos quais ela estava quase sempre associada com deveres cívicos, uma relação também observada em Tebas.

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Persephone, Demeter, & Pluto Marble Plaque, Tegea.
Placa de Mármore com Perséfone, Deméter e Hades, Tégea
Dan Diffendale (CC BY-NC-SA)

Além do culto dos mistérios, Elêusis também sediava, durante os períodos Arcaico e Clássico, a Eleusínia, jogos realizados duas vezes por ano e nos quais os prêmios consistiam em grãos sagrados. Já a Tesmofória reunia num festival somente as mulheres, no outono, para homenagear Deméter. Com o principal objetivo de promover a fertilidade, durante o festival porcos eram atirados em poços ou cavernas e deixados para apodrecer; seus restos eram então misturados com sementes antes da semeadura. Embora não particularmente informativo sobre o festival em si, Aristófanes (c. 460-c. 380 a.C.), o mestre da comédia na Grécia, escreveu a peça Thesmophoriazusae (411 a.C.), na qual, durante o festival, as mulheres aproveitam a oportunidade da exclusão masculina do evento para debater a eliminação de Eurípides (c. 484-407 a.C.), um dos grandes autores da tragédia grega. Havia também Haloa, um festival de inverno, também basicamente voltado para as mulheres, em honra de Deméter e Dionísio; além dos festivais Kalamária e Proerósia.

Como são as representações artísticas de Deméter?

Na literatura antiga, Homero, na Ilíada descreve a deusa como tendo "cabelos dourados", e Hesíodo, na Teogonia e Os Trabalhos e os Dias a descreve como a "abundante Deméter", "bem engrinaldada", "santificada" e "reverenciada". Deméter raramente aparece nas artes visuais antes do século VI a.C. e, quando isso ocorre, geralmente está junto a Perséfone. Na arte Arcaica e Clássica ela está em geral sentada, usa uma coroa de grãos e segura uma tocha (simbolizando a busca por sua filha perdida) ou um cetro, uma papoula (a flor que cresce de forma tão abundante em campos de trigo abandonados) ou simplesmente feixes de grãos. Em seu papel como deusa da fertilidade, Deméter é também apresentada algumas vezes em cenas retratando o nascimento de Atena. De Elêusis sobreviveram painéis em relevo, mostrando tanto Deméter quanto Perséfone, que adornavam os prédios dedicados ao culto em seu sítio sagrado mais importante.

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Perguntas e respostas

Quem era Deméter para Hades?

A filha de Deméter, Perséfone, foi abduzida por Hades, o deus grego do Submundo.

Zeus e Deméter tiveram filhos?

Zeus e Deméter tiveram dois filhos: Perséfone e Iaco.

Por que Zeus deixou Deméter?

Zeus deixou Deméter porque ela tinha um caso com o mortal Iásion, com quem teve um filho, Plutão, o deus da riqueza. Zeus fulminou Iásion com um raio.

Bibliografia

A World History Encyclopedia é um associado da Amazon e recebe uma comissão sobre as compras de livros elegíveis.

Sobre o tradutor

Ricardo Albuquerque
Jornalista brasileiro que vive no Rio de Janeiro. Seus principais interesses são a República Romana e os povos da Mesoamérica, entre outros temas.

Sobre o autor

Mark Cartwright
Mark é um escritor em tempo integral, pesquisador, historiador e editor. Os seus principais interesses incluem arte, arquitetura e descobrir as ideias que todas as civilizações partilham. Tem Mestrado em Filosofia Política e é o Diretor Editorial da WHE.

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Estilo APA

Cartwright, M. (2019, novembro 12). Deméter [Demeter]. (R. Albuquerque, Tradutor). World History Encyclopedia. Recuperado de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-778/demeter/

Estilo Chicago

Cartwright, Mark. "Deméter." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. Última modificação novembro 12, 2019. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-778/demeter/.

Estilo MLA

Cartwright, Mark. "Deméter." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 12 nov 2019. Web. 21 dez 2024.