Uma pirâmide é uma estrutura ou monumento, geralmente com uma base quadrilateral, que se eleva a um ponto triangular. No imaginário popular, as pirâmides são as três estruturas solitárias no planalto de Gizé, à beira do deserto do Saara, mas existem mais de setenta pirâmides no Egito, localizadas ao longo do vale do rio Nilo e, na época da construção, constituíam os núcleos de grandes complexos de templos. Embora em grande parte associadas exclusivamente ao Egito, a forma piramidal começou a ser utilizada inicialmente na antiga Mesopotâmia, na estrutura de tijolos cozidos ao sol conhecida como zigurate, e posteriormente também pelos gregos e romanos. Também existem pirâmides ao sul do Egito, na cidade núbia de Meroé, nas cidades maias, nas Américas Central e do Sul e, com uma variação em termos de forma, na China.
Pirâmides Egípcias
Conhecidas como mr ou mir pelos egípcios, as pirâmides abrigavam tumbas reais e eram consideradas como o local de ascensão do espírito do faraó falecido. A partir do cume da pirâmide, segundo se acreditava, a alma poderia viajar para o além-túmulo do Campo de Juncos e, caso escolhesse, poderia retornar facilmente para a terra (o pináculo superior da pirâmide ou uma estátua em tamanho real do rei servia como ponto de orientação para a alma). Inicialmente, uma mastaba simples servia como túmulo para o povo comum e a realeza mas, no Período Dinástico Inicial do Egito (c. 3150-2613 a.C.), desenvolveu-se o projeto da pirâmide, sob o reinado de Djoser (ou Djeser), da 3ª dinastia (c. 2670-2613 a.C.).
O arquiteto-chefe de Djoser, Imhotep (c. 2667-2600 a.C.) decidiu tentar algo que jamais havia sido imaginado antes: construir um monumento colossal inteiramente de pedra. Em vez de uma tumba simples de mastaba, ele projetou e supervisionou o processo de construção no qual as mastabas anteriores, feitas de tijolos cozidos ao sol, seriam substituídas por blocos de calcário e colocadas uma sobre a outra, cada nível um pouco menor do que o anterior, criando desta forma uma pirâmide. Esta série de mastabas de pedra, empilhadas e cuidadosamente construídas num projeto gradualmente menor, tornou-se a primeira pirâmide do Egito - a Pirâmide de Degraus de Djoser em Saqqara (ou Sacara/Sacará). Ela se ergue a 62 metros de altura, composta por seis "degraus" distintos. A base media 109 por 125 metros e os "degraus", ou níveis, foram revestidos com calcário. O monumento situava-se no centro de um grande complexo de templos, casas para os sacerdotes e prédios administrativos, que cobriam 16 hectares, circundado por um muro de 10,5 metros de altura. Ao projetar a pirâmide e o complexo, Imhotep criou a mais alta estrutura do mundo à época, que instantaneamente tornou Saqqara uma das maiores atrações turísticas egípcias.
A primeira pirâmide, segundo a estrutura reconhecida atualmente, apareceu na 4ª dinastia, no reinado de Snefru, que concluiu duas pirâmides em Dachur, além de terminar o trabalho iniciado na pirâmide de seu pai, em Meidum. Essas pirâmides também faziam uso da gradação de blocos de pedra de calcário, mas os blocos eram cortados menores à medida que a estrutura se elevava, proporcionando uma superfície externa lisa, em vez dos "degraus" cobertos de calcário. O exemplo mais notável de construção de pirâmides no Egito foi a Grande Pirâmide de Gizé, construída por Queóps (ou Khufu), a última remanescente das Sete Maravilhas do Mundo Antigo, com uma base cobrindo treze acres e composta por 2.300.000 blocos de pedra. Conhecida como o Horizonte de Quéops nos tempos antigos, a pirâmide estava posicionada num alinhamento astronômico preciso.
Pirâmides Mesoamericanas
As pirâmides da Mesoamérica seguem este mesmo modelo, embora não haja evidências de intercâmbio cultural entre o Egito e cidades como Chichén Itzá, Tikal ou a grande capital asteca de Tenochtitlán. Acredita-se que as grandes pirâmides da civilização maia e outras tribos indígenas da região representem montanhas, que simbolizavam a tentativa do homem de se aproximar do reino dos deuses. A pirâmide conhecida como El Castillo, em Chichén Itzá, foi projetada especificamente para receber o grande deus Kukulcan de volta à terra nos equinócios de primavera e outono. Nessas datas, o sol lança uma sombra que, devido ao design da pirâmide, parece ser o deus serpente descendo a escadaria até o chão.
Outras Pirâmides
Existem evidências da construção de pirâmides na Grécia, descobertas em escavações arqueológicas em Hellinikon, além de menções nas obras do antigo escritor Pausânias, que registrou ter visto duas pirâmides gregas. A função destas pirâmides permanece misteriosa, pois as ruínas de Hellinikon não estão tão bem preservadas quanto as pirâmides egípcias e não existem registros gregos mencionando a construção deste tipo de monumento.
Os relatos de Pausânias parecem indicar que as pirâmides eram monumentos a heróis caídos e, talvez, algumas fossem; mas o fato das ruínas de Hellinikon terem uma porta na base que só pode ser trancada por dentro levou alguns estudiosos a especular que talvez as pirâmides fossem usadas como torres de vigia (erguendo-se em forma de pirâmide, mas sem o pináculo). Como o topo da pirâmide em Hellinikon está há muito desaparecido, no entanto, e como não há relatos sobre ela desde a antiguidade, esta possível utilização não passa de especulação.
Na época romana, a pirâmide retornou ao uso egípcio, como um túmulo, como se constata na Pirâmide de Céstio, que ainda pode ser vista atualmente em Roma, perto da Porta de São Paulo. Construída entre 18 e 12 a.C., a pirâmide abrigava o túmulo do magistrado Caio Céstio Epulo, com altura de 38 metros e base de 30 metros. Há algum desacordo sobre se os romanos empregaram o formato piramidal do Egito ou da Núbia, já que a forma e o design interior da pirâmide de Céstio poderiam ser interpretados como um ou outro, mas não de maneira definitiva. As pirâmides da cidade de Meroé (ao sul do Egito, no atual Sudão) são idênticas às do Egito, embora pareçam não ter a complexidade das câmaras interiores.
Conclusão
Em todas as culturas que fizeram uso deles (e, é claro, como mencionado, havia pirâmides também na China, em toda a Mesoamérica, na Índia e, mais tarde, em toda a Europa), a pirâmide era a peça central de um complexo circundante. Hoje, a Grande Pirâmide de Gizé fica entre as duas pirâmides menores e outras mastabas recentemente escavadas mas, originalmente, teria se erguido acima de terraços e passeios, além de edifícios dedicados ao espírito do falecido ou aos deuses daquele lugar em particular. As aldeias de trabalhadores que se erguiam no planalto de Gizé deram lugar às lojas e centros comerciais. Esses trabalhadores não eram escravos estrangeiros e sim egípcios, recrutados para o trabalho como forma de sacrifício religioso; de maneira voluntária; como um serviço comunitário; ou sendo pagos por seu tempo e especialidades. As escavações arqueológicas não encontraram evidências de trabalho forçado nas pirâmides de Gizé nem em nenhum dos outros monumentos do Egito.
A concepção popular de escravos hebreus labutando sob o chicote para construir as pirâmides provém do Livro do Êxodo bíblico e em nenhuma outra fonte, com exceção das obras de ficção e filmes que popularizaram a história. O planalto de Gizé não abrigava um bairro de escravos, no qual as pessoas eram forçadas a trabalhar contra sua vontade, mas sim uma próspera comunidade de egípcios que viviam, trabalhavam e veneravam ali. O posicionamento da Grande Esfinge de Gizé, bem como as recentes descobertas arqueológicas no sítio e em outras partes do Egito, apoiam a teoria dos complexos das pirâmides como centros de culto, trabalho, comércio e vida social, em vez de tumbas solitárias erguidas em planícies vazias.