Sanitários em um Castelo Medieval

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Artigo

Mark Cartwright
por , traduzido por Jose Monteiro Queiroz-Neto
publicado em 07 junho 2018
Disponível noutras línguas: Inglês, francês
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Os sanitários medievais ou latrinas, na época chamados privada, constituíam, de modo geral, um assunto tosco. Mas em um castelo onde já havia um pouco mais de conforto, certamente que isto exigiu mais esforço arquitetônico do que o investido em outros elementos da construção. Praticamente, privacidade e eficiente eliminação de resíduos, foram todos levados em consideração e, mesmo nos dias de hoje, um dos aspectos mais evidentes e facilmente identificáveis nas ruínas dos castelos medievais, são as latrinas, as quais projetam-se na parte externa das muralhas.

Nomes

Nos tempos medievais, bem como nos atuais, os sanitários eram frequentemente referidos por eufemismos, o mais comum sendo “câmara privada”, ou somente “privada” ou “quarto privado”. Outros nomes incluíam draught (ar encanado), gong (caminhada, ida), siege-house (casa do assento), necessarium (necessário) e até Golden Tower (torre dourada). Garderobe, tempos mais tarde veio a significar guarda-roupa em francês, porém seu significado original era algo como qualquer armário pequeno ou quarto e, como o espaço no castelo era disputado a peso de ouro, os sanitários não ocupavam espaço maior que o absolutamente necessário.

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Medieval Castle Latrine
Latrina do Castelo Medieval
Père Igor (CC BY-SA)

Aparências

Os sanitários de um castelo eram, de modo geral, construídos nas muralhas, tanto que se projetavam para o exterior e os dejetos caíam no fosso do castelo ou, melhor, diretamente em um rio, como no caso das latrinas de uma das grandes salas de pedra no Castelo Chepstow em Gales, construído a partir do século XI. Alguns castelos, como o Castelo Corfe em Dorset, Inglaterra, construído no século XI, tinha o conjunto de latrinas esvaziando-se diretamente no pátio, enquanto outros se dependuravam convenientemente sobre a face de um penhasco, como no Castelo Peveril em Derbyshire, Inglaterra, construído entre 1176-1777.

No castelo Coity, em gales, havia três fileiras de toaletes com os vasos despejando no subsolo do pátio.

O bloco de cantaria protuso, que constituía um sanitário, era apoiado de baixo para cima ou aninhado na junção entre uma torre e a muralha. Alguns blocos de sanitário eram curtos, enquanto outros chegavam até próximo ao solo. Neste último caso, ficou provado um aspecto perigoso de projeto, caso ocorresse um sítio do castelo. De fato, os sitiantes utilizaram justamente esta estrutura da latrina em 1203-1204, para conseguirem entrar no Chateau Gaillard, no Rio Sena, França, construído por Richard I (rein. 1189-99) no final do século XII. Após o sítio, para assegurar que a artimanha não se repetiria, um muro de pedra foi construído na saída da privada.

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Outra disposição era construir fileiras de latrinas na parede externa, na qual todos os vasos descarregavam no mesmo ponto. O Castelo de Dover, construído na segunda metade do século XI, possuía uma fossa na base de uma muralha do torreão para coletar, os resíduos das toaletes acima. No Castelo de Coity em Gales, construído no século XII, havia três fileiras de toaletes com os vasos despejando no subsolo do pátio. A mesma disposição existia no Castelo Langley em Northumberland, Inglaterra, construído em 1350, com o mesmo ponto de coleta constituído por uma cova que era esvaziada por um curso d’água. Havia também toalete nas moradias comuns, porém estes possuíam canais de drenagem feitos de pedra despejando os dejetos longe do domicílio. Os dejetos destes pontos de coleta, ou em geral o fosso, provavelmente era coletado pelos fazendeiros locais para uso como fertilizante. Quando os castelos se tornaram maiores e mais confortáveis a partir do século XIV, ao mesmo tempo ampliaram-se o número de conveniências. O Castelo Bodiam em East Sussex, Inglaterra, por exemplo, tinha não menos que 28 toaletes esvaziando no seu fosso.

Garderobe, Peveril Castle
Garderobe, Castelo Peveril
Dave Dunford (Public Domain)

Interiores

Vista a partir do interior, a toalete era colocada em um recesso ou dentro de uma câmara mural (uma passagem dentro de uma muralha), porém nem todos se davam o luxo de uma porta de madeira. Uma curta e estreita passagem muitas vezes levava a uma toalete, muitas vezes com uma parede em ângulo reto para uma maior privacidade. Pares de privadas, separadas por uma parede, não eram incomuns, podendo compartilhar do mesmo conduto para os dejetos. A câmara do senhor do castelo quase sempre possuía uma privada exclusiva, porém mesmo ele possuía, como todos os demais, um urinol de quarto, se necessário. O sacerdote do castelo também podia ser um dos poucos felizardos a ter uma privada exclusiva em seu próprio quarto, como no Castelo Northampton, Inglaterra, construído no final do século XI. Outro lugar seguro para encontrar uma toalete de castelo era nos cantos da Grande Sala, onde as audiências e banquetes eram realizados.

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O assento do vaso sanitário era constituído por uma tábua de madeira cobrindo a abertura na pedra. A madeira era em geral cortada com uma abertura retangular ou circular. Feno, grama ou mesmo musgo eram usados como papel higiênico. Febre da privada é relacionada pelos escritores médicos medievais, embora indiretamente. Jocelin de Brakelond, um monge inglês, no século XII, relatou a história de que um incêndio quase destruiu a Abadia de Bury St. Edmonds, quando uma vela ficou acesa perigosamente próxima ao feno em uma das privadas da abadia.

Algumas toaletes possuíam uma janela para permitir ventilação, razão pela qual não possuíam persianas como as outras janelas de um castelo. Sobre o chão espalhavam-se ervas aromáticas, como era na Grande Sala do castelão, para espantar animais e oferecer uma fragrância mais agradável do que aquela fornecida pelos usuários. As paredes eram pintadas de branco com uma camada de argamassa, o que aumentava a luminosidade vinda da pequena janela e porque a cal mata bactérias.

Toilet, Tower of London
Toalete, Torre de Londres
Trevor Huxham (CC BY-NC-ND)

A privada era limpada tanto por um simples balde d’água lançada sobre a abertura ou utilizando a água de limpeza da cozinha. Mais raramente, a chuva era direcionada para as latrinas ou coletada em uma caixa d’água, abrindo-a periodicamente sobre a latrina. Apesar desses refinamentos, não há dúvida que uma toalete de castelo exalava muito mal cheiro. De fato, não era raro pendurar-se roupas próximo às latrinas pois o pungente odor da amônia ajudava a matar piolhos. Henry III da Inglaterra (rein. 1216-1272) mencionou o problema dos desagradáveis odores em uma carta para um dos condestáveis de seu castelo, determinando um reaparelhamento, sem preocupação com os custos, das amenidades da Torre de Londres:

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Como a câmara da privada ... em Londres está situada em um local indevido e impróprio, devido a que ela cheira pessimamente, determino, pela fé e pelo amor pelos quais vós sois vinculados a nós, que não vos omitis em edificar uma outra câmara privada ... em tal mais adequado e próprio local que vós selecionareis ali, muito embora custe uma centena de libras, que ela seja construída antes das festas da Translação de Santo Eduardo, antes de irmos para lá. (Gies.73)

Mictórios

Algumas muralhas possuíam mictórios triangulares, permitindo que os defensores permanecessem em seus postos por longos períodos. Um exemplo pode ser visto em uma passagem mural no Castelo Orford em Suffolk, Inglaterra, construído na segunda metade do século XII. É evidente que os arquitetos levavam em consideração estas atividades básicas humanas, ao fornecerem a melhor defesa possível do castelo contra todas as situações futuras. Curiosamente, no Castelo Rising em Norfolk, Inglaterra, construído na metade do século XII, existiam duas toaletes próximas uma da outra, em recintos separados, uma com mictório e a outra com privada, o que parece indicar uma separação de sexos.

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Bibliografia

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Sobre o tradutor

Jose Monteiro Queiroz-Neto
Monteiro é um pediatra aposentado interessado na história do Império Romano e da Idade Média. Tem como objetivo ampliar o conhecimento dos artigos da WH para o público de língua portuguesa. Atualmente reside em Santos, Brasil.

Sobre o autor

Mark Cartwright
Mark é um escritor em tempo integral, pesquisador, historiador e editor. Os seus principais interesses incluem arte, arquitetura e descobrir as ideias que todas as civilizações partilham. Tem Mestrado em Filosofia Política e é o Diretor Editorial da WHE.

Citar este trabalho

Estilo APA

Cartwright, M. (2018, junho 07). Sanitários em um Castelo Medieval [Toilets in a Medieval Castle]. (J. M. Queiroz-Neto, Tradutor). World History Encyclopedia. Recuperado de https://www.worldhistory.org/trans/pt/2-1239/sanitarios-em--um-castelo-medieval/

Estilo Chicago

Cartwright, Mark. "Sanitários em um Castelo Medieval." Traduzido por Jose Monteiro Queiroz-Neto. World History Encyclopedia. Última modificação junho 07, 2018. https://www.worldhistory.org/trans/pt/2-1239/sanitarios-em--um-castelo-medieval/.

Estilo MLA

Cartwright, Mark. "Sanitários em um Castelo Medieval." Traduzido por Jose Monteiro Queiroz-Neto. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 07 jun 2018. Web. 21 dez 2024.