Roupas na Inglaterra Medieval

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Artigo

Mark Cartwright
por , traduzido por Jose Monteiro Queiroz-Neto
publicado em 28 junho 2018
Disponível noutras línguas: Inglês, francês, espanhol
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Como em qualquer período da história, as roupas na Idade Média eram usadas por necessidade, conforto e exibicionismo. Cores exuberantes e ricas decorações contribuíam para um marcante guarda-roupa medieval, pelo menos entre os ricos, embora houvesse uma surpreendente semelhança nas roupas nos diferentes sexos e classes sociais. Itens mais caros eram geralmente mais diferenciados, não pelos seu modelo, mas pelo uso de materiais superiores e pelo corte, com os governos algumas vezes intervindo decidindo quem deveria usar o que. Ao mesmo tempo muitos itens eram taxados e alguns membros do clero, em particular, eram censurados por se mostrarem com ostentação e vestindo-se semelhantes aos cavaleiros. A moda ia e vinha, como hoje, com rendas e sapatos pontiagudos em voga como assunto do momento, e as túnicas feitas cada vez menores, no final do período, quando mostrar um pouco mais das pernas era considerado o máximo da moda (o mesmo para os homens).

English Medieval Clothing, c. 1200 CE
Vestimenta Medieval Inglesa, c. 1200 d.C.
Albert Kretschmer (Public Domain)

Materiais e Cores

Os modelos de roupas eram os mesmos para todas as classes, com as importantes diferenças nos ornamentos, uso de materiais mais numerosos e mais finos e um corte mais aperfeiçoado para os mais ricos. Acréscimo de metais, jóias e pele ou intrincados bordados também diferenciavam o guarda-roupa do rico e do pobre. As roupas exteriores não eram muito diferentes entre os sexos, exceto que as masculinas eram mais curtas e as mangas mais largas. Todas as roupas eram feitas sob medida, garantindo-se um bom ajuste.

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o gosto pelas cores era quanto mais brilhante, melhor e carmim, Azul, amarelo, verde e púrpura as cores mais populares para todos os tipos de roupas.

As vestimentas eram comumente feitas de lã, mas seda e brocado podiam ser usados em ocasiões especiais. Roupas externas podiam ser feitas também com pelo de camelo ou cabra, mantendo a pessoa bem aquecida no inverno. As peles eram uma óbvia maneira de manter o isolamento e fornecer acompanhamentos decorativos, sendo as peles mais comuns as de coelho, cordeiro, castor, raposa, lontra, esquilo, arminho e marta (as últimas três transformaram-se em um padrão para a imagem da heráldica medieval, devido a seu uso comum). Mais decorações eram realizadas pela adição de borlas, franjas, penachos e desenhos bordados, enquanto acréscimos mais caros incluíam costuras e botões de metais preciosos, pérolas e cabochões de vidro ou pedras semipreciosas. Quanto mais clara as cores, melhor, as mais populares escolhas em todos tipos de roupa, em geral, carmim, azul, amarelo, verde e púrpura.

Roupas Íntimas

A roupa de dormir não constituía um indicador social e não era objeto de muita preocupação, pois a maioria das pessoas dormia nua. Após um rápido banho com água quente em uma bacia, a primeira coisa que se vestia, pela manhã, pelo menos para os mais abastados membros da sociedade, eram as roupas de baixo ou íntimas, em geral feitas de linho – camisas de mangas longas e cuecas para homens (até o joelho ou abaixo) e camisolas longas para as mulheres.

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Anglo-Saxon Clothing, 6-9th century CE
Vestimenta anglo-saxônica, séculos VI-IX a.C.
Albert Kretschmer (Public Domain)

Ambos os sexos vestiam túnicas de mangas longas, com uma gola com corte curto ou com um corte na frente, de modo que podiam ser vestidas pela cabeça e, em seguida, atada no pescoço, algumas vezes com um broche. A túnica podia descer até os joelhos ou aos tornozelos, no caso de uma roupa mais formal para a nobreza. As versões mais longas eram comumente divididas até a cintura, na frente e a atrás. Muitas túnicas eram monocromáticas, embora pudessem possuir um forro de cor diferente. Bordados decorativos adornavam a região do pescoço, punhos e bainhas, menos frequentes nos braços e ou em toda a roupa. No século XIV, a moda era o gibão, uma túnica justa ou jaqueta com enchimento. O gibão era preso por botões ou laços em toda a frente e, algumas vezes, botões desde o cotovelo até o punho, com as mangas alcançando a palma da mão.

Roupas Exteriores

Sobre a primeira túnica, vestia-se outra túnica, tanto sem mangas, como com mangas muito folgadas, mais curta do que a túnica de baixo, indo até a cintura. Para um inverno muito frio, essas túnicas de cima eram, muitas vezes, preenchidas com peles (recebendo o nome de “pelisson”). Um cinto com uma fivela em metal decorativo, era colocado sobre a túnica e era a parte mais ostentativa do guarda-roupa masculino, às vezes em ouro, prata e com adição de jóias.

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ilustrações da idade média quase sempre mostram vestidos relativamente simples com uma decoração mínima

Um modelo alternativo de túnica externa era o tabardo, com corte semelhante a um poncho, mas com os lados fechados por uma costura ou fechos. Os arautos vestiam uma versão do tabardo com mangas somente cobrindo a parte externa dos braços e o peito decorado com a cota de armas do nobre que representavam. Uma vez mais, o século XIV viu uma nova moda, a do cote-hardie, uma jaqueta apertada, com mangas somente até os cotovelos e botões ou cadarços desde o pescoço até a cintura (os cadarços eram especialmente elegantes no século XII). Mantido com um cinto, a parte abaixo da cintura aumentava de volume, abaulando-se, como uma saia, algumas vezes com uma bainha de punhal. Com tempo acrescentou-se uma bainha pontiaguda às mangas, as quais ficaram mais longas e adicionado um colarinho.

As mulheres da nobreza usavam roupas finas, particularmente na corte e em eventos sociais, como torneios medievais. Mais tarde, em contraste às pinturas mais românticas, ilustrações da Idade Média muitas vezes mostram vestidos relativamente mais simples com uma decoração mínima. Tipicamente com uma cor única (algumas vezes com um forro de cor diferente), eram longos, mangas longas, com abertura lateral na perna e cintura apertada por um cinto. Os cintos femininos, quase sempre presentes em túmulos e ilustrações, às vezes com correntes penduradas (châtelaine) adornadas com pequenos objetos decorativos (como instrumentos do ofício para trabalhadoras, úteis para tecelagem e bordados). A decoração extra mais comum é uma bordadura nos punhos e decote do vestido. As ilustrações mais frequentes mostram chapéus pontiagudos ou achatados, usados com véus caindo, mas sem cobrir o rosto.

English Medieval Clothing, c. 1300 CE
Vestimenta Inglesa Medieval, c.1300
Albert Kretschmer (Public Domain)

Os homens usavam meias-calças ou longas meias de lã ou linho até o joelho ou bem mais acima e mantidas pelo cinto da calça. As meias das mulheres eram mais curtas e mantidas por uma liga abaixo dos joelhos. Algumas serviam como um apoio, enquanto as que encobriam o pé podiam ter uma sola de couro. As meias podiam também ser acolchoadas, para criar uma elegante ponta afilada nos dedos dos pés.

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Capas e Mantos

Para sair, vestia-se uma capa ou manto, comumente feitos, grosso modo, de uma peça de tecido circular ou retangular, que poderiam ter uma parte coberta por pele. E aqui se encontra uma outra oportunidade para o uso de jóias, pois as capas eram fechadas com uma corrente ou broche no pescoço. Uma alternativa de presilha era puxar um lado da capa através de um orifício do outro lado da capa e dar um nó. O homem podia prender sua capa no ombro esquerdo, permitindo deixar livre seu braço direito para desembainhar sua espada. Uma alternativa à capa era um grande casaco que se alargava até a abaixo do joelho ou tornozelo e possuía mangas amplas até o ombro. Tanto as capas e grandes casacos podiam ter um capuz, alguns presos por um botão. Um capuz inteiramente separado, que cobria até os ombros, era uma alternativa ao chapéu. Uma roupa externa do século XIV era uma longa túnica, aberta dos lados da cintura para baixo e com pernas tipo boca-de-sino e um colarinho alto.

Henry, Duke of Lancaster
Henry, Duque de Lancaster
Unknown Artist (Public Domain)

Luvas, Chapéus e Calçados

As luvas eram usadas fora de casa e podiam chegar até aos cotovelos. Faziam uso de peles na parte de dentro e poderiam ter desenhos bordados, tipicamente listras de ouro. Os chapéus eram usados por todos. Em casa, os homens usavam uma touca de tecido um pouco apertada, amarrada no queixo e decorada com bordados. As mulheres usavam uma touca que cobria o pescoço e os lados da face. Os acessórios da cabeça usados dentro de casa, podiam também ser usados fora ou, quando viajando, um chapéu com uma aba que podia ser levantada na frente ou atrás. Alguns chapéus tinham a parte do topo da cabeça mole e sem forma definida, outros eram redondos ou possuíam a parte de cima achatada e todos os tipos podiam ser facilmente decorados com um par de penas de avestruz ou de pavão. A partir do século XIV, ficaram na moda chapéus com faixas.

As botas, comumente um tanto frouxas, eram altas para equitação ou baixas até às pernas (borzeguins). Sapatos cobrindo os tornozelos eram usados fora de casa e chinelos tipo mocassim nos aposentos privados. Sapatos, feitos de tecido ou couro, eram fechados por laços internos, uma correia ou fivela, o que era uma outra oportunidade para exibir decorações ou personalização. Os calçados vieram a se tornar cada vez mais pontiagudos à medida que a Idade Média avançava, especialmente para os homens.

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Cuidados

Para a aristocracia, não havia preocupação a respeito dos cuidados com seus guarda-roupas, o que era feito pelos seus empregados. O camareiro era (antes de seu status ser ampliado e se tornar mais importante) responsável pelo vestuário de seu mestre, o qual era mantido dobrado em arcas ou cabideiros, quando não em uso. As senhoras tinham suas damas-de-companhia ou criadas para ajudá-las a se vestirem. A lavagem era feita pelas lavadeiras que deixavam as roupas de molho, ou pelos menos as menos delicadas peças íntimas, em barris de água com soda cáustica e cinzas de madeira, em seguida limpadas utilizando pás de madeira.

Ostentação e Controle Social

Como já mencionado, não havia uma distinção entre os diferentes estilos de roupas nas diferentes classes sociais, exceto em termos de modelagem e materiais. No entanto, a distinção era muito nítida e protegida pelas classes superiores, especialmente quando as pessoas tentavam se vestir acima de suas condições socioeconômicas. Várias leis suntuárias foram editadas a partir do século XIII, restringindo o emprego de certos materiais pelas classes inferiores com o objetivo de manter a divisão de classes na sociedade. Havia mesmo limites a respeito das quantidades permitidas de importação de materiais como peles e tecidos luxuosos, como seda, com o mesmo objetivo. Outro indicador das relações entre roupas e status social é o fato de que a roupa era considerada, junto com outros itens, como propriedade pessoal para se calcular a taxação do imposto, porém para as classes mais altas as roupas muitas vezes eram deixadas de lado, sugerindo que a ostentação social era vista como uma necessidade para elas e um luxo desnecessário para todos os outros.

Herald of Arms
Arauto das Armas
Unknown Artist (Public Domain)

O clero era uma divisão da sociedade que possuía mais restrições de roupas que a maioria: monjas não podiam vestir peles caras e os membros de ordens monásticas específicas deviam se vestir com um hábito de estilo particular, para torná-los facilmente identificáveis. Nem os membros do clero secular podiam adotar certos modelos mais comuns, principalmente o encurtamento das túnicas no século XIII que passaram a mostrar um pouco mais das pernas e o uso de muitas cores em uma única peça de roupa. Embora se saiba que as regras eram frequentemente ignoradas, a ideia era manter a distinção entre o clero e os outros membros da sociedade, principalmente os cavaleiros. Existiam até mesmo medidas para distinguir entre as crenças, e o clero judeu, por exemplo, deveria usar dois pedaços quadrados de pano branco ou pergaminho no peito a partir da metade do século XIII.

O acesso às roupas também era limitado em épocas de crise econômica ou durante as guerras, como a Guerra dos Cem Anos com a França (1337-1453), presumivelmente para cessar os desperdícios de gastos. Nessas épocas os governos racionavam as roupas de modo que, por exemplo, aos sacerdotes somente era permitida uma nova batina por ano e, aos bispos, três. As mesmas regras aplicavam-se às senhoras da aristocracia e aos cavaleiros, os quais somente poderiam ter uma nova roupa por ano. Para os funcionários a serviço de um barão local ou proprietário de castelo, havia diferenças no custo, nos tecidos e nas cores das roupas que os seus senhores lhes forneciam, de modo que havia acentuadas distinções entre grupos como serviçais, escudeiros, vendedores, soldados e sargentos.

Roupas permaneceram como um importante e fácil método de demonstrar a posição social e o título de uma pessoa no governo. No campo de batalha, os cavaleiros podiam usar cota de malha ou armadura de placa, com um toque de cores fornecido pela túnica ou elmo emplumado, mas ainda tinham de se mostrarem como embaixadores da sociedade de cavalaria a que pertenciam, mesmo em tempo livre. Túnicas particulares eram usadas em ocasiões especiais por aqueles que possuíam o privilegiado direito de usá-las. Por exemplo, membros de ordens particulares de cavaleiros, como a Ordem da Jarreteira, podiam vestir uma fina túnica azul escuro com um colar de ouro feito de nós e rosas vermelhas envolvidas com ligas. Enfim, existiam distinções sutis e não sutis de guarda-roupa, não somente entre certas classes, mas também dentro da mesma classe em um contínuo jogo de exibição social, acentuando exatamente quem tinha o direito e os meios de vestir o que e quando.

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Bibliografia

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Sobre o tradutor

Jose Monteiro Queiroz-Neto
Monteiro é um pediatra aposentado interessado na história do Império Romano e da Idade Média. Tem como objetivo ampliar o conhecimento dos artigos da WH para o público de língua portuguesa. Atualmente reside em Santos, Brasil.

Sobre o autor

Mark Cartwright
Mark é um escritor em tempo integral, pesquisador, historiador e editor. Os seus principais interesses incluem arte, arquitetura e descobrir as ideias que todas as civilizações partilham. Tem Mestrado em Filosofia Política e é o Diretor Editorial da WHE.

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Estilo APA

Cartwright, M. (2018, junho 28). Roupas na Inglaterra Medieval [Clothes in Medieval England]. (J. M. Queiroz-Neto, Tradutor). World History Encyclopedia. Recuperado de https://www.worldhistory.org/trans/pt/2-1248/roupas-na-inglaterra-medieval/

Estilo Chicago

Cartwright, Mark. "Roupas na Inglaterra Medieval." Traduzido por Jose Monteiro Queiroz-Neto. World History Encyclopedia. Última modificação junho 28, 2018. https://www.worldhistory.org/trans/pt/2-1248/roupas-na-inglaterra-medieval/.

Estilo MLA

Cartwright, Mark. "Roupas na Inglaterra Medieval." Traduzido por Jose Monteiro Queiroz-Neto. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 28 jun 2018. Web. 20 dez 2024.