A cerimônia de coroação da monarquia britânica, como a conhecemos atualmente, envolve muitos elementos que fazem parte do fausto desde o século XI. Tais características da cerimônia realizada na Abadia de Westminster desde 1066 vem sendo mantida pelos sucessivos monarcas até à atual rainha, Elizabeth II (rein. 1952 - 2022), em sua própria coroação em 2 de junho de 1953. Tal cerimônia sempre foi importante, uma maneira dos governantes se mostrarem, com avidez, de que fazem parte de uma tradição de longa data.
O propósito essencial da cerimônia é ver o monarca prestar um juramento para preservar a Igreja e governar com honra, sabedoria e clemência. O monarca é ungido com óleo consagrado e recebe espada, orbe, anel, cetro e, finalmente, a coroa. Em seguida, todos os nobres e clero presentes juram lealdade ao seu soberano. O novo monarca, em seguida, embarca em uma procissão para ser apresentado ao povo e finalmente – embora atualmente um tanto fora de moda – ocorria uma grande festa de celebração, agora substituída por TV ao vivo.
Origens
A primeira coroação inglesa registrada em detalhe, embora não certamente a primeira, é a coroação do rei anglo-saxão Edgar (rein. 959-975), em Bath em 973. Os primeiros reis ingleses podiam mesmo ter decidido por serem coroados com um elmo ornamentado ao invés de uma coroa, porém com a chegada de William, o Conquistador (rein.1066-1087), iniciou-se a tradição de manter uma extravagante cerimônia de coroação na Abadia de Westminster. William foi ele mesmo coroado ali no Natal de 1066. Reis e rainhas posteriores, todos zelosos em manter uma ligação com a história e acentuar suas legitimidades para o cargo, repetiram muitos dos elementos cerimoniais que ainda constituem uma parte da circunstância atualmente. Cada monarca poderia acrescentar alguma coisa à cerimônia, porém, na sua essencialidade, a combinação de rituais religiosos e seculares, permaneceu inalterada por centenas de anos.
A Cerimônia
Na Idade Média, os monarcas se preparavam para o grande dia banhando-se como um ato ritual de purificação realizado na véspera da coroação na Torre de Londres, seguindo-se uma vigília na Capela da Torre. Os dois atos eram típicos do processo em que um escudeiro se tornava um cavaleiro medieval. Ainda na véspera da coroação, o monarca investia alguns novos cavaleiros, cerimônia que ficou conhecida, a partir de 1399, como Cavaleiros de Bath (e, a partir de 1725, como membros da ordem do mesmo nome).
O primeiro ato público do espetáculo da coroação era a procissão que conduzia o monarca para a Abadia de Westminster e permitia a um maior número possível de pessoas presenciar os eventos. O principal ator do espetáculo, neste ponto, encontrava-se vestido com a toga parlamentar vermelha, enquanto músicos e porta-bandeiras acompanhavam a carruagem principal da Torre de Londres (ou o Palácio de Buckingham em tempos mais modernos) até seu destino. A partir de 1685, a procissão iniciava-se próxima à Abadia de Westminster. À sua chegada, um grupo de dignitários acompanhava o monarca conduzindo os vários objetos preciosos das Joias da Coroa Britânica, que mais tarde seriam usados durante a cerimônia. Guarda-costas de sargentos-em-armas, cada um transportando uma maça cerimonial (um aviso de que a proteção era o principal objetivo deles), escoltavam o monarca até a nave da Abadia.
Soavam os trompetes, retumbavam os tambores, à medida que uma fila de dignitários acompanhava seu monarca até um pódio, com três deles carregando uma espada cada um. Estas espadas eram a Espada da Justiça Temporal, Espada da Justiça Espiritual e a Espada da Clemência (aka “Curtana”), sem ponta, todas sobreviventes da destruição das Joias da Coroa em 1649. A música sempre exerceu um importante papel na coroação, com algumas peças com posição fixa, como a Oração de Zadok, de George Frederick Handel, executada em todas as cerimônias desde 1727. A congregação, em seguida, grita sua aceitação e lealdade ao monarca, que agora está vestido com magníficas túnicas de seda e ouro. A túnica vestida por Elizabeth II foi o dourado Manto Imperial, acompanhada por uma estola bordada com símbolos das nações britânicas e plantas da Comunidade. O monarca agora já se encontra sentado na cadeira conhecida como Cadeira do Rei Edward, feita em c.1300. A assistência se assenta e a cerimônia tem início.
Ungindo o Monarca
Outro item sobrevivente desde antes de 1649 é a colher da coroação, usada para ungir o monarca com o óleo consagrado no início da cerimônia. Como o monarca é visto como escolhido por Deus para governar, sua cerimônia de coroação possui diversas características semelhantes à consagração de um bispo. Neste caso, a unção é dada pelo Arcebispo de Canterbury, que coloca uma pequena quantidade de óleo na cabeça, peito e palma das mãos do monarca.
Acreditava-se que o óleo utilizado na coroação de Henry IV da Inglaterra (rein. 1399 - 1413) em 1399 foi miraculosamente dado ao Arcebispo de Canterbury, Thomas Becket (no cargo de 1162 a 1170) pela Virgem Maria. Este maravilhoso óleo, foi descoberto recentemente escondido em um dos cantos escuros das adegas da Torre de Londres. O óleo, seja qual for sua verdadeira origem, foi uma útil adição na procura de Henry para legitimar sua usurpação do trono de Richard II da Inglaterra (rein. 1377 -1399). Apesar dos melhores planos de Henry IV, sua coroação sofreu um contratempo quando ele deixou cair a moeda de outro que, supostamente, iria oferecer cerimoniosamente a Deus. A moeda rolou pelo chão e nunca mais foi vista, um péssimo presságio da rebelião que iria arruinar seu reinado. No entanto, o óleo sagrado usado por Becket foi usado em diversas coroações a partir de então.
Símbolos do Poder
As traditionally a monarch was also a knight, the coronation ceremony involves symbols associated with that rank such as golden spurs, armills (bracelets), and a sword. The two swords which are presented to the monarch at coronations are the Sword of State, which dates to 1678 CE, and the Jewelled Sword of Offering, which was first used by George IV of England (r. 1820-1830 CE) for his coronation in 1821 CE. The archbishop presents these swords and proclaims the following:
Com a espada faça justiça, impeça o crescimento da iniquidade, proteja a Santa Igreja de Deus, auxilie e defenda as viúva e órfãos, restaure as coisas que se deterioraram, mantenha as coisas que estão restauradas, puna e reforme o que está errado e confirme o que está em boa ordem. (Holmes,5)
O monarca, em seguida, recebe o Orbe do Soberano, encimado por uma cruz e simbólico do domínio cristão do monarca sobre o mundo secular, em sua mão esquerda. O globo orbe oco, ornado com pérolas, pedras preciosas e uma grande ametista abaixo da cruz, foi feito em 1661 e desde então é usado em todas as coroações.
O próximo passo é o do Anel de Dignidade Real, colocado em seu terceiro dedo da mão esquerda (tradicionalmente usado para o anel de casamento). O anel usado atualmente, Anel do Soberano, foi originalmente feito em 1831 para William IV da Inglaterra (rein. 1830-1837) e possui uma cruz de São Jorge (santo padroeiro da Inglaterra) em rubis (considerado como representando a dignidade) sobre base de uma única safira azul. Uma atrapalhada ocorreu durante a coroação da Rainha Victoria (rein. 1837-1901): o anel era muito justo e a ranha escreveu, posteriormente, que o arcebispo teve muita dificuldade em colocá-lo em seu dedo e ela, posteriormente, em retirá-lo.
Em seguida o monarca recebe o cetro e o bastão, símbolos tradicionais do poder real e da justiça. O Cetro do Soberano (ou Cetro do Rei) foi pela primeira vez feito em 1685, com modificações subsequentes. Atualmente, possui o diamante Cullinan I de 530 quilates, também conhecido como Primeira Estrela da África, lampejando em sua parte superior.
Momento da Coroação
O clímax de toda a cerimônia é, evidentemente, a coroação do monarca. A coroa usada, em geral, é a Coroa de Santo Eduardo (se for usada uma alternativa, esta também terá o nome do Santo). A coroa tem este nome devido a Edward, o Confessor (rein. 1042-1066) e foi feita quando Henry III da Inglaterra (rein. 1216-1272), um admirador do santo, sofisticou novas insígnias reais para sua coroação. É provável que partes de uma coroa de ouro anglo-saxônica mais antiga foram incorporadas nesta nova versão. Infelizmente, muitas das Joias da Coroa Britânica, incluindo a coroa, foram destruídas, divididas ou vendidas em 1649, após a execução de Charles I da Inglaterra (rein. 1600-1649) e a (o que foi revelado mais tarde) abolição temporária da monarquia.
A restauração da monarquia de 1660 necessitava da produção de novas insígnias monárquicas, para uso imediato na coroação de Charles II da Inglaterra (rein. 1660-1685). Embora não estejam exatamente claros por quais meios elas foram encontradas ou readquiridas, muitas das pedras preciosas que sobreviveram das antigas insígnias reais foram incorporadas na novas Joias da Coroa do século XVII e na nova Coroa de Santo Eduardo. Esta coroa é a que foi usada nas coroações desde então. É de ouro e pesa 2,3 quilos (5 libras/peso). Por ser muito pesada, após o rito de coroação é substituída por uma mais leve, como a Coroa de Estado Imperial. Curiosamente, a Coroa de Santo Eduardo era ornada com pedras preciosas alugadas, quando necessária para uma coroação, até 1911, quando recebeu engastes permanentes.
A Coroa de Estado Imperial foi criada para a coroação da Rainha Vitória em 1838, como uma alternativa mais leve à Coroa de Santo Eduardo. É uma coroa espetacular e contém mais de 2.800 diamantes, 17 safiras., 11 esmeraldas, quatro rubis e 269 pérolas. Entre as gemas encontra-se o Rubi do Príncipe Negro (na verdade um espinélio), logo abaixo dele, o Diamante Culllinan II de 317 quilates (ou Segunda Estrela da África), bem como a Safira Stuart, com lapidação oval e 104 quilates e a Safira de Santo Eduardo (colocada na cruz). Diz-se que esta última, uma pedra com lapidação rosa octogonal, teria sido retirada do anel de Edward, o Confessor, tornando-se o item mais antigo de todas as Joias da Coroa.
Finalmente, a esposa do monarca também recebe uma coroa durante a cerimônia. A mais famosa destas coroas na atualidade, é a Coroa da Rainha Elizabeth a Rainha Mãe. Feita de platina em 1937, contém o diamante Koh-i-Noor de 105,60 quilates, procedente da Índia, dado à Rainha Vitória como parte do tratado que colocou fim nas Guerras Anglo-Sikh (1845-1849). Diz-se que o grande diamante traz sorte para uma mulher que o usa e azar para um homem, por isso somente aparece nas várias coroas de Rainhas.
O final do dramático ato neste drama real envolve os nobres prestando homenagem e jurando obediência ao seu soberano. Todos que tiverem direito deverão usar suas coroas, e pequenas coroas, e toda a congregação aclama o novo monarca gritando “Deus salve o Rei/Rainha”. Os sinos da Abadia de Westminster soam e, simultaneamente, uma saudação de 62 tiros de canhão da Torre de Londres. O monarca se dirige ao trono colocado em uma plataforma elevada e recebe a homenagem da elite do clero e nobres que beijam sua mão. Finalmente, o monarca pode editar um perdão geral das pessoas consideradas culpadas de delitos durante o reinado de seu predecessor e algumas vezes atira moedas ou medalhas na assembleia.
Procissão
O monarca, em seguida, deixa a Abadia de Westminster, agora vestindo roupas imperiais púrpura, e é transportado em uma carruagem pelas ruas, para que seja apresentado ao seu povo. Finalmente, o monarca chega à Sala Westminster onde uma grande festa tem lugar. A manifestação de uma coroação é um tanto medieval, mas uma oportunidade para que um monarca possa demonstrar alguma graça e favor a seus mais importantes súditos. As festas de coroação medieval podiam ser imensas, com até 5.000 pratos servidos. Sabemos que os convidados, para a festa de coroação de Edward II da Inglaterra (rein. 1307-1327) em 1308, consumiram 1.000 tonéis de vinho. Pratos exóticos foram preparados e muitas vezes esculpidos em formatos maravilhosos e bizarros, todos servidos em pratos, cálices, fontes de vinho, tigelas de ponche e saleiros de ouro, para entretenimento dos convidados. Quando tudo acabava, era permitido ao povo comer as sobras. A última festa de coroação foi realizada em 1821.
Ao invés das festas, temos agora a televisão. Na metade do século XX, a coroação de Elizabeth II incendiou a imaginação da nação. A cerimônia foi vista por algo como 20 milhões de pessoas e, para a grande maioria delas, o primeiro evento que assistiram pela televisão. Cada um pode imaginar a próxima coroação sendo transmitida ao vivo para todo o mundo, dando uma visão melhor do que as pessoas na Abadia de Westminster, com sua linha de visão notoriamente ruim. Como o famoso escritor de diários Samuel Pepys (*1633 +1703) observou a respeito da coroação de Charles II em 1661: “Sentei-me das 4 até às 11 antes da chegada do Rei... o Rei ali permaneceu durante toda a cerimônia de Coroação, a qual, para meu grande desespero, eu e a maioria na Abadia não pudemos ver” (Dixon-Smith, 46). Felizmente, com câmeras modernas e superiores tecnologicamente, podemos ver a congregação de frente, como estando ao lado do esplêndido trono, sempre que acontecer uma coroação.