A Origem de Satanás

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Artigo

Rebecca Denova
por , traduzido por Fernando Bergel Lipp
publicado em 18 fevereiro 2021
Disponível noutras línguas: Inglês, Árabe, francês, Persa, espanhol, Turco
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Satanás, ou o Diabo, é uma das personagens mais conhecidas nas tradições ocidentais do judaísmo, cristianismo e islamismo. Surpreendentemente, esta entidade aparece tardiamente no mundo antigo. Satanás, como um ser totalmente maligno, não é descrito desse modo na bíblia judaica. Ele se desenvolveu no auge no Império Persa, na dinastia Aquemênida (a qual se inicia aproximadamente em 550 a.C.), sendo utilizado pelos judeus que viviam sob o domínio persa naquele momento. O seu nome formal, Satanás, deriva do hebraico “ha-Satan”. "Ha" significa "o" e "Satan" significa "opositor" ou "adversário". O nome descreve sua função definitiva como o opositor da criação de Deus. O grego “diabolos”, bem como o inglês “devil”, significam “acusador”, “caluniador”, novamente destacando essa sua característica. O conceito de satanás desenvolveu-se ao longo do tempo e de modo gradual.

The Devil
O Demônio
National Library of Sweden (CC BY-SA)

A Questão da Existência do Mal

O mal sempre existiu. Os seres humanos enfrentaram desastres naturais (terremotos e inundações), guerras com pilhagens e estupros, doenças, pestes, mortalidade infantil, ações causadas por outros seres humanos, tais como assassinatos e roubos, e, naturalmente, a morte. À medida que as civilizações antigas desenvolviam os seus sistemas religiosos, a existência do mal deveria ser explicada e racionalizada. Os mitos da criação frequentemente descrevem um deus superior ou um rei dos deuses, o qual controlava tudo, incluindo os outros deuses e a natureza. Nesta condição, eles eram responsáveis tanto pelo bem quanto pelo mal. O termo para descrever esta habilidade é onipotência (todo poderoso). Em Deuteronômio 28, Deus declara que ele controla tanto a prosperidade quanto o sofrimento. Muitos mitos da criação abordam como e porquê o mal surgiu.

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A FUNÇÃO NARRATIVA DA HISTÓRIA DE ADÃO E EVA ERA DEMONSTRAR QUE O MAL COMEÇOU NÃO POR CULPA DE DEUS, MAS PELA HUMANA.

O livro de Gênesis pode ser entendido como um antagonismo a seus vizinhos, os antigos mesopotâmicos. No mito da criação babilônico, Enuma Elish, os próprios deuses são responsáveis pelo mal. São caprichosos e perturbados, tendo criado os humanos simplesmente como escravos para lhes oferecerem sacrifícios. O Deus de Israel é descrito de modo oposto; ele nunca é caprichoso, existe um plano divino e tudo o que ele criou é considerado bom. A função narrativa da "queda" no Jardim do Éden, a história de Adão e Eva, era demonstrar que o mal começou não por culpa de Deus, mas pela humana. Sua desobediência levou à necessidade do homem produzir sua própria comida e à dor no parto. Mas a punição mais severa foi a perda da sua imortalidade. O pecado de Adão e Eva provocou o maior mal, a morte. Como seus descendentes, estamos todos condenados a esse destino.

Como seres humanos, as pessoas projetaram as suas próprias experiências nos deuses. Os reis possuíam tribunais de nobres e conselheiros. Tal como na terra, assim também deve ser no céu. Como em qualquer tribunal, havia funcionários hierarquicamente superiores e inferiores. Os mais superiores eram os anjos do judaísmo. As entidades mais inferiores, daemons (em grego), eram originalmente neutros, mas, com o passar do tempo, foram culpados pelo mal.

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No livro de Gênesis, Deus fala a sua corte, “os filhos de Deus”, os anjos, enquanto realiza a criação da terra. No final da criação, temos uma estranha passagem em Gênesis 6. Lemos que “os filhos de Deus” tiveram relações sexuais com mulheres humanas, produzindo os “nefilins”, antigos gigantes. O objetivo desta narrativa é explicar porquê Deus causou o dilúvio (mal na terra). Muitos panteões possuem deuses que acasalavam com as mulheres, particularmente Zeus, da mitologia grega. A tradição israelita, no entanto, rejeitou este comportamento, pois estas relações poderiam levar ao grande pecado da idolatria.

Ha-Satan e O Livro de Jó

O livro de Jó (aproximadamente 600 a.C.) é o texto mais antigo a abordar o problema da teodiceia, um termo moderno para a questão de "se Deus é bom, por que Ele permite que o mal e o sofrimento existam?". O livro inicia com os anjos aparentemente se reportando a Deus. Entre eles, está o anjo ha-Satan, cuja função era viajar pelo mundo colocando “obstáculos” (o significado do seu nome) à frente dos humanos, exigindo-lhes que fizessem uma escolha (boa ou má). Neste função, podemos dizer que ele age como o promotor de justiça de Deus. Reportando-se a Deus, ele mencionou Jó, servo de Deus, que havia prosperado. Mas, diz ele, é claro que esse fato decorre de Deus conceder tantos favores a Jó.

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A aposta está feita. Deus ordena a ha-Satan que destrua toda a prosperidade de Jó, exceto a sua vida. Deus tem certeza de que Jó não se afastará dele. Os filhos de Jó são mortos, as suas colheitas e rebanhos são destruídos e ele é acometido de doenças horríveis. Todos os amigos de Jó procuram confortá-lo e convencê-lo de que ele deve ter pecado, pois Deus é um deus da justiça. A todo instante, Jó insiste que nunca pecou; Deus castigou-o injustamente. Frustrado, Jó exige de Deus uma explicação, e, então, uma voz em um redemoinho adverte-o: "Onde estavas tu quando Eu lancei os alicerces da terra?" (Jó 38:4). Em outras palavras: "Como te atreves (um mero mortal) a questionar-Me?”. Jó é humilhado, aceitando as prerrogativas e o poder de Deus.

Temptation & Expulsion from Paradise, Sistine Chapel
Tentação e Expulsão do Paraíso, Capela Sistina
Michelangelo (Public Domain)

Ha-Satan aparece raramente nas escrituras judaicas. Nas poucas referências a ele, está não está se opondo a Deus, mas aos humanos. No Éden, a serpente exerce essa função, oferecendo uma escolha a Adão e Eva. Na maioria dos livros dos Profetas, o mal é culpado pelo pecado humano da idolatria. Deus ainda está no controle, punindo Israel.

Domínio Persa e Zoroastrismo

Quando Jerusalém foi conquistada e destruída pelo Império Neobabilônico (587 a.C.), alguns judeus foram levados para o cativeiro na Babilônia. Ciro, o grande, conquistou os babilônios em 550 a.C. e iniciou o Império Persa. A religião oficial da Pérsia era o zoroastrismo, fundada pelo profeta Zoroastro. O mal era visto como o oposto do bem. Uma entidade pura e benéfica, Ahura Mazda ("sábio senhor") era o princípio de tudo, enquanto que no extremo oposto estava druj, o caos. Druj foi personificado como Angra Mainyu (“falso”, “enganoso”), também conhecido como Arimã. O céu, a terra e todos os seres humanos estavam inseridos nestes extremos.

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Ciro permitiu aos judeus retornarem a Jerusalém (539 d.C.), embora alguns não o fizessem. Eles levaram muitos aspectos da religião persa, mesclando a personificação do caos com visões prévias de ha-Satan. Agora ele era apenas Satanás, ou, em grego, diabolos, o demônio, sendo que os judeus passaram a atribuir todo o mal a Satanás e não mais a Deus.

Ahriman Statue Front View
Visão Frontal de Estátua de Arimã
Touraj Daryaee (CC BY-NC-SA)

Os Manuscritos do Mar Morto

Nos escritos da seita judaica dos essênios que se estabeleceram em Qumran (aproximadamente 150 a.C.), temos nossa primeiro escrito sobre um método conhecido como a personificação do mal. A literatura da seita equiparava Satanás não somente com o mal, mas também com qualquer pessoa ou grupo que não estivesse de acordo com suas próprias opiniões, incluindo outros judeus. De acordo com seus textos, Deus criou dois espíritos nos humanos: o caminho da luz e o caminho das trevas. Agora, os demônios estavam sob controle de Satanás; ele os enviou para possuir aqueles que estavam na escuridão para cometer o mal. Os essênios utilizavam nomes simbólicos para Satanás e seus agentes; Belial (hebraico para "inúteis") que liderará os "filhos das trevas" contra os da luz na batalha final (o Pergaminho da Guerra). Assim como os anjos e arcanjos no céu, agora temos hierarquia e diferentes funções na corte de Satanás. Belzebu foi um dos sete príncipes do inferno e originou-se de um antigo deus cananeu, conhecido por se livrar das moscas (portadores de doenças). Portanto, Belzebu, o senhor das moscas.

A ONIPOTÊNCIA DE DEUS PERMANECE INTACTA; SATANÁS NÃO CONSEGUE FAZER SEU TRABALHO SEM A PERMISSÃO DELE.

Vários textos apocalípticos estavam entre os pergaminhos de Qumran. Os livros de Enoque fornecem mais detalhes sobre os "filhos de Deus". Eles foram condenados por ensinar aos humanos metalurgia e magia, e, como punição, foram arremessados para fora do céu e acorrentados no abismo (o conceito judeu de sheol, a terra dos mortos), por toda a eternidade.

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Em outro texto, Jubileus, encontramos mais tradições demoníaca. O nome de Satanás aqui é Mastema (que significa “odiado” ou “hostilidade”). Aprendemos que Mastema queria ser mais grandioso que Deus, tendo se rebelado. Ele e seus anjos companheiros foram arremessados no poço sem fundo. Satanás se tornou o anjo caído. Deus quis destruir todos os demônios após o dilúvio, mas Mastema pediu a Deus que o permitisse manter um décimo deles, para continuar a atormentar os homens, porque “o mal dos filhos dos homens é grande” (10:8). Com a permissão de Deus, Mastema se tornou a tentação descrita em histórias prévias. Em Jubileus, foi Mastema quem teve permissão para testar Abraão com o sacrifício de Isaque. Em outras palavras, a onipotência de Deus permanece intacta; Satanás não consegue fazer seu trabalho sem a permissão Dele.

O Novo Testamento

Nas Cartas de Paulo e nos evangelhos, temos a visão de que Satanás é agora o governante deste mundo. Isto é expresso em uma carta escrita por um dos discípulos de Paulo:

Coloque toda a armadura de Deus, de modo que você possa enfrentar os desafios do Diabo. Pois nossa luta não é contra a carne e o sangue, mas contra os governantes, contra as autoridades, contra os poderes deste mundo escuro e contra as forças espirituais do mal nos reinos celestes (Efésios 6:11-12).

Paulo frequentemente se referia aos demônios como os agentes de Satanás, que interferiam em sua missão. Escrevendo da prisão, explicou que não podia visitar seus correligionários “porque Satanás impedia” (1 Tessalonicenses 2:17-18). As lutas internas de Paulo foram expressas no que pode ser entendido como uma forma de possessão: “E para evitar que eu me alegrasse em demasia… foi-me colocado um espinho na carne, um mensageiro de Satanás, para me assediar…” (2 Coríntios 12:7-9). Paulo entendeu tal fato como a capacidade de Deus de controlar Satanás para testá-lo. Sua frase familiar, que os crentes agora vivem em Cristo, referia-se à proteção de Cristo contra a influência dos demônios de Satanás no universo.

Temptation of Jesus
Tentação de Jesus
Lawrence OP (CC BY-NC-ND)

O diabo também se apresenta importante no primeiro evangelho, Marcos (aproximadamente 70 d.C.). Marcos utilizou um estereótipo comum para descrever o ministério de Jesus, o de um exorcista carismático que tanto pregou quanto realizou milagres por todo o Império Romano. “Carismático” (do grego, “dom”) é a afirmação de que suas habilidades eram um “dom dos deuses”. Um exorcista era alguém que expulsava demônios. No primeiro século, deficiências físicas e mentais, bem como doenças, eram entendidas como possessões demoníacas. Marcos enfatizou o ministério como uma batalha entre Jesus e o atual papel do Diabo na terra.

Imediatamente o Espírito o enviou ao deserto e ele esteve no deserto por quarenta dias, sendo tentado por Satanás. Ele estava com os animais selvagens e anjos o auxiliaram. (Marcos 1:12-13).

É interessante que Marcos não precisa explicar o caráter de Satanás; ele assume que seus leitores conhecem-no. Tanto Mateus como Lucas ampliaram esta situação (Mateus 4:1-11; Lucas 4:1-13). Satanás, em seu papel como tentação, apresentou a Jesus três tentações, mas Jesus sempre conhece a resposta correta das Escrituras. É significativo que Jesus não conteste a afirmação de Satanás de controlar os reinos deste mundo.

Enquanto os discípulos de Marcos estão comumente confusos sobre a identidade de Jesus, todos os demônios o conhecem, reconhecendo sua superioridade. Em Marcos 5:1-13, o nome coletivo dos demônios expulsos por Jesus é "Legião", que refere-se à ideia pouco sutil de Marcos sobre o exército romano. Marcos e os outros apresentam os opositores de Jesus como estando sob a influência de Satanás. Em Lucas e João, Satanás "entrou em Judas" para trair Jesus (Lucas 22:3). O ápice da culpa pela morte de Jesus atingiu seu apogeu em João 8:40. No evangelho de João, os judeus nunca poderão alcançar a salvação porque são filhos de seu "verdadeiro pai, o Diabo".

LÚCIFER SE TORNOU O NOME MAIS POPULAR NA IDADE MÉDIA.

O livro do Apocalipse (aproximadamente 90-100 d.C.), de João de Patmos, é uma visão apocalíptica de quando Deus intervirá nos assuntos humanos, nos últimos dias, e punirá Roma por sua perseguição aos cristãos. Ele inclui a afirmação de que Satanás foi acorrentado nos poços do inferno, precisando, então delegar seu trabalho a seus agentes. O agente principal é referido como “a besta” e o “enganador”; o termo “anticristo” não está no Apocalipse, mas nas três Epístolas de |João. O enganador aparecerá como alguém bom e reunirá um mundo de seguidores. Eles serão reconhecidos pelo sinal “666” que carregarão.

Em uma das visões de João, ele faz referência a Isaías 14, uma controvérsia contra o rei da Babilônia. Isaías castigou o rei que se intitulava "estrela do dia" por sua arrogância de acreditar que era divino: "Como caístes do céu, estrela da manhã, filho do amanhecer!”. Quando Jerônimo traduziu as escrituras hebraicas para o latim no século IV d.C., ele sabia que os romanos batizaram sua estrela da manhã – o planeta Vênus – de Lúcifer, traduzindo a passagem como tal. Lúcifer se tornou o nome mais popular na Idade Média.

Durante a maior parte do livro do Apocalipse, Satanás permanece acorrentado no poço. No final dos 1.000 anos do reinado de Cristo na Terra, Satanás é libertado para a batalha final. A ironia é encontrada na imagem de Cristo “como um cordeiro” que, no entanto, derrota este monstro. Ele é atirado no “lago de fogo”, o Mar Morto (Apocalipse 20:1-5).

A “Descida ao Inferno”

Nos Atos dos Apóstolos, Lucas afirmou que o hades (sheol) não pode manter o Cristo crucificado (2:27). Em 1 Pedro 3, Jesus “anunciou aos espíritos aprisionados que desobedeceram há muito tempo” e, em 4,6, “o evangelho foi pregado até mesmo aos que agora estão mortos”. No século II d.C., detalhes foram adicionados à história da morte de Jesus para elucidar dois detalhes:

  1. O que Jesus fez no período entre a sexta-feira santa e o domingo de Páscoa?
  2. Como uma pessoa justa já falecida poderia ser salva se não teve a oportunidade de conhecer Jesus?

The Harrowing of Hell
A Descida ao Inferno
Fra Angelico (Public Domain)

Enquanto seu corpo estava no túmulo, a alma de Jesus viajou para o inferno, onde lutou contra Satanás pelas almas dos justos. Quando a pedra foi retirada, essas almas justas vieram com ele (Adão, Noé, Moisés, Platão e Aristóteles). A ideia de que Cristo “desceu ao inferno [e] ao terceiro dia, ele ressuscitou” foi incorporado no Credo Niceno, no século IV d.C. No início da Idade Média, a história era conhecida como a Descida ao Inferno. A palavra “descida” significava uma invasão ou uma incursão, como as invasões vikings.

Características de Satanás e a Personificação do Mal

OS PRIMEIROS RETRATOS ICÔNICOS DE SATANÁS VIERAM DA DIVINDADE GRECO-ROMANA DA FERTILIDADE, PÃ, QUE ERA MEIO HOMEM, MEIO BODE.

Os líderes cristãos no século II d.C. adotaram o método da personificação do mal contra judeus, mulheres, hereges e todas as crenças pagãs. Os cultos nativos acreditavam que os deuses residiam nos seus templos, mas estes eram agentes de Satanás. Os primeiros retratos icônicos de Satanás vieram da divindade greco-romana da fertilidade, Pã, que era meio homem, meio bode. Foi assim que Satanás obteve os seus cascos e chifres. Pã foi representado com um pênis enorme e ereto, pelo qual era famoso. Este órgão tornou-se comum na descrição de Satanás. No início, desenhado de preto, o vermelho tornou-se sua cor padrão, associando-o ao fogo do inferno.

Foi também no século II d.C. que tanto os cristãos quanto os judeus – os primeiros rabinos – aplicaram novos entendimentos à história da queda. A partir desse momento, a serpente se tornou plenamente identificada como o Diabo disfarçado, sendo que Eva assumiu um significado relevante como a principal pecadora no Éden. Com uma visão misógina aplicável a todas as mulheres, Eva foi descrita como tendo sido seduzida pela serpente (por causa daquele enorme pênis), e, após, seduzindo Adão. No tratado rabínico Genesis Rabbah, a vergonha sexual de Eva é a razão pela qual as mulheres permanecem em segundo plano, sendo a menstruação o castigo por derramar o sangue de Adão. Tertuliano, um Pai da Igreja do século II d.C., afirmou que, através de Eva, todas as mulheres eram a "porta do diabo", sendo que por causa dela "até o filho de Deus tinha de morrer" (On the Apparel of Women, I).

As tradições religiosas da Europa (os celtas, o druidismo e os teutônicos) acrescentaram outras características. Os celtas tinham um deus do oeste com chifres, Cernuno, semelhante a Pã. A filha de Loki tinha um dupla função, tanto na fertilidade quanto no reinado sobre os mortos, sendo seu nome incorporado ao reino de "hel", ou inferno.

Com características animalescas, Lúcifer e seus demônios tinham a capacidade de mudar de forma e, portanto, era necessária uma vigilância constante. Era possível enganar Lúcifer e repeli-lo com sinal da cruz, água benta, rosário e hóstias de comunhão. Baseado nas relações feudais, o conceito de um pacto surgiu ao se vender sua alma a Lúcifer em troca de prosperidade (a famosa história de Fausto). Somente a intervenção de Maria, a mãe de Cristo, poderia quebrar o pacto. Foi quando se desenvolveram rituais de exorcismo, os quais ainda são ensinados a certos padres católicos.

Inferno, de Dante Alighieri (1265-1321) descreveu satanás como um monstro de três faces nas profundezas do inferno (no gelo, mais afastado da luz), com asas gigantes de morcegos. Para Dante, o maior pecado era a traição, então satanás consumia Bruto, Cássio e, é claro, Judas.

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Bibliografia

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Sobre o tradutor

Fernando Bergel Lipp
Médico Infectologista no Rio Grande do Sul, Brasil, há duas décadas. Ampla experiência com literatura médica inglesa. Leitura como hobby de modo bilíngue (português/inglês).

Sobre o autor

Rebecca Denova
Rebecca I. Denova, Ph.D. é Professora Emérita de Cristianismo Primitivo no Departamento de Estudos Religiosos da Universidade de Pittsburgh. Ela escreveu recentemente um livro didático, "The Origins of Christianity and the New Testament" [As Origens do Cristianismo e do Novo Testamento], publicado pela Wiley-Blackwell.

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Estilo APA

Denova, R. (2021, fevereiro 18). A Origem de Satanás [The Origin of Satan]. (F. B. Lipp, Tradutor). World History Encyclopedia. Recuperado de https://www.worldhistory.org/trans/pt/2-1685/a-origem-de-satanas/

Estilo Chicago

Denova, Rebecca. "A Origem de Satanás." Traduzido por Fernando Bergel Lipp. World History Encyclopedia. Última modificação fevereiro 18, 2021. https://www.worldhistory.org/trans/pt/2-1685/a-origem-de-satanas/.

Estilo MLA

Denova, Rebecca. "A Origem de Satanás." Traduzido por Fernando Bergel Lipp. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 18 fev 2021. Web. 21 dez 2024.