O vestuário e a aparência na Grécia da Idade do Bronze (c. 3100 a.C. - c. 1100 a.C.) desempenhavam um importante papel na definição dos gêneros e para enfatizar uma beleza idealizada que plantou as sementes dos padrões modernos. Os minoicos transformaram a ilha de Creta numa potência mediterrânea e dominaram a cultura egeia até cerca de 1450 a.C., quando a civilização micênica do continente grego ascendeu e disputou este controle. Os afrescos e estatuetas desta era revelam uma sociedade fabulosamente colorida, que se expressava através da indumentária, cabelos e acessórios. Tanto as mulheres minoicas quanto as micenianas buscavam uma cintura afinada para alcançar o epítome da estética feminina. A moda dos homens micenianos, no entanto, expressava seu temperamento guerreiro, em contraste com seus contrapartes cretenses, que optavam pela ostentação e esplendor.
As Mulheres Minoicas
Existem muitas representações femininas entre os achados arqueológicos em Cnossos, Akrotiri e outros centros urbanos minoicos. Um dos mais belos exemplos é a Estatueta da Deusa Serpente, que retrata o arquétipo do vestido minoico. Esta mulher usa uma saia rodada e em camadas, que vai até o chão. Seu corpete tem mangas curtas e um decote recortado que revela e acentua os seios. Este modelo se repete nos afrescos coloridos que enfatizam tecidos brilhantes e atraentes, tingidos com uma infinidade de cores. As cores primárias ousadas – vermelhos, amarelos e azuis - dominam a paleta padrão. Para obter esses tons, os minoicos aproveitavam os recursos naturais disponíveis. Usava-se o açafrão – atualmente a especiaria mais cara do mundo – para o amarelo e moluscos marinhos da espécie múrex forneciam um belo roxo.
Um dos aspectos mais interessantes da indumentária feminino era o uso de espartilhos ou cinturões largos e apertados para criar uma figura de ampulheta. As obras de arte sugerem uma grande idealização da cintura fina na cultura minoica e modificações corporais podem ter sido adotadas para alcançar esse padrão. Os espartilhos, naturalmente, entraram e saíram de moda nos milhares de anos decorridos desde o início do seu uso em Creta. As minoicas também usavam joias para emoldurar suas feições. Brincos de argola, colares e braceletes eram formas populares de expressão e decoração - as contas de ouro e vidro davam à indumentária um toque de glamour.
Nos afrescos, as mulheres usam cabelos pretos trançados em longos cachos ou tranças. Sua pele, em contraste, apresenta tipicamente um branco pálido, o que implica que as mulheres ideais teriam passado um tempo significativo dentro de casa e que o arquétipo da beleza feminina poderia ser obtido concentrando-se nos deveres domésticos.
As Mulheres Micênicas
A moda micênica recebeu forte influência de seus antecessores minoicos. As mulheres gregas do continente adotaram as saias rodadas e a silhueta ideal. No entanto, é notável que, em certos pontos da história micênica, optou-se por um corpete fechado mais conservador e, às vezes, apenas uma túnica simples, às vezes com cinto. Elas usavam xales tricotados ou mantos sobre seus vestidos e prendiam os penteados elaborados e trançados com alfinetes de cabelo de marfim.
As mulheres micênicas são frequentemente retratadas com um acessório distinto: o polos, uma coroa redonda e cilíndrica, num formato que lembra uma roda virada de lado. Era ostentada tipicamente por mulheres poderosas, como as deusas.
Os Homens Minoicos
Os minoicos preferiam usar o mínimo de roupas e, geralmente, aparecem com o torso despido. Como suas contrapartes femininas, eles não eram tímidos e gostavam de mostrar a parte superior do corpo, bem musculosa devido às competições esportivas, como taurocatapsia [salto acrobático sobre o touro] e boxe. Calções, tangas e saiotes tinham muita popularidade, especialmente quando combinados com um colete decorado. São indumentárias multicoloridas, com muito amarelo, azul e branco. Os minoicos também aparecem usando chapéus com plumas longas e vibrantes que se projetam do centro e apreciavam acessórios como colares, braceletes e faixas ornamentais que circundavam seus bíceps. Os desenhos nos anéis de sinete de ouro tinham significado muito específico. Eles serviam como selos, efetivamente um tipo de assinatura pré-histórica ou marca de identificação que podia ser impressa em argila. O Afresco do Boxeador de Akrotiri mostra dois meninos boxeando; no entanto, apenas o menino à esquerda é adornado com joias, o que pode indicar que tais itens simbolizavam riqueza ou status.
Os minoicos que aparecem nos afrescos estão barbeados e, a julgar pelas lâminas de barbear de obsidiana descobertas nos túmulos do início da Idade do Bronze, valorizava-se bastante uma aparência elegante e apresentável. Eles normalmente ostentam várias tranças negras longas e o restante do cabelo é cortado bem curto. Em contraste com as mulheres, aparecem com uma pele marrom-avermelhada semelhante aos afrescos existentes no Egito. Para adquirir esse tom mais bronzeado, o homem ideal teria passado uma quantidade significativa de tempo envolvido em atividades ao ar livre como caça, pesca e atletismo. A exceção a este padrão é o famoso Afresco do Rei-Sacerdote. Pelo seu colete, calção e torso musculoso, este indivíduo parece ser um homem. No entanto, sua pele tem uma tonalidade rosada muito mais pálida do que a das representações masculinas, ainda que mais escura do que os retratos femininos. Os estudiosos sustentam que isso pode indicar um homem proveniente de uma família de status superior, que não precisava trabalhar ao ar livre.
Os Homens Micênicos
Os micênicos gostavam de se cobrir um pouco mais do que os minoicos. Saiotes, túnicas e mantos se tornaram os principais itens da moda masculina e, aparentemente, são menos decorativos. Reconhecidos por sua perícia militar em todo o Egeu, a armadura de combate dos micênicos devia ser um item comum no guarda-roupa. Seus elmos consistiam num capacete de couro ou feltro (algumas vezes embelezado com uma pluma), reforçado com presas de javali. O trabalho envolvido para fabricar um único elmo deve ter sido imenso, requerendo a caça de dezenas de javalis.
A Panóplia de Dendra exibe armadura completa, incluindo um capacete, peitoral de bronze, saiote em camadas e protetores de ombro que teriam sido presos com tiras de couro. Ao todo, o equipamento pesava colossais 15 quilos, o que significava que força e aptidão consideráveis seriam certamente uma vantagem, se não um requisito, para o exército de Micenas. Grevas de bronze protegiam a canela e saiotes de couro ou couraças peitorais decoradas com tachas de metal são retratados em objetos como o Vaso do Guerreiro.
Comparações
Os desenvolvimentos no vestuário masculino do período minoico ao micênico refletem uma crescente prevalência da guerra e da atividade militar. Isso não quer dizer que os cretenses evitassem os combates. Sua posição na região do Egeu os tornavam um alvo preferencial de potências inimigas, o que requeria deles certamente habilidades defensivas consideráveis, mas foi a arte da guerra micênica que se tornou um componente central da sociedade grega. Isso é evidenciado pela concentração de armas e equipamentos militares nas sepulturas desta civilização. Esses homens deixavam claro que queriam ser lembrados como guerreiros e lutadores, com um legado de força, influência e poder.
Há muito pouca diferença entre os estilos de moda das mulheres minoicas e micênicas, o que sugere que o papel feminino permaneceu relativamente semelhante durante a Idade do Bronze, pois não havia necessidade de alterar substancialmente a praticidade da silhueta. Dito isto, durante o período minoico, as mulheres eram o ponto focal da religião, representadas como deusas e sacerdotisas em rituais e cerimônias. As indumentárias elaboradas e intrincadas podem indicar um papel mais central na religião da Idade do Bronze (e possivelmente até na política) do que o das mulheres micênicas, que muitas vezes aparecem retratadas com filhos, evocando mais as responsabilidades familiares e maternas.
Legado
Torna-se cativante perceber que estas indumentárias têm o poder de trazer os mitos gregos à vida. A Idade do Bronze também ficou conhecida como Idade Heroica, pois nela as figuras míticas vagavam pela Terra. Quando olhamos para os afrescos, torna-se fácil imaginar o vistoso vestido minoico que Ariadne teria usado ao dar seu fio mágico a Teseu para guiá-lo pelo labirinto do Minotauro ou a gloriosa armadura micênica que Agamenon teria usado enquanto liderava suas tropas na batalha contra os troianos.
Entre c. 1250 - c. 1100 a.C., uma série de terremotos, secas, fomes, guerras e a invasão dos misteriosos Povos do Mar, sobre os quais sabemos muito pouco, provocaram o colapso da Idade do Bronze. Esta série de desastres derrubou algumas das maiores civilizações que o mundo já conheceu e prenunciou a Idade das Trevas grega (c. 1100 - c. 750 a.C.), na qual os estilos de vestuário da Idade do Bronze foram eventualmente substituídos pelo peplos e chiton - as indumentárias que nós, nos dias modernos, associamos mais comumente à Grécia antiga. Em centros culturais como Atenas, as roupas tornaram-se mais conservadoras para as mulheres, enquanto a nudez masculina passou a ser idealizada e normalizada em certos ambientes sociais, sinalizando um aumento da divisão entre os gêneros.
Três mil anos após o colapso da Idade do Bronze, seus estilos e padrões de beleza ainda ressoam junto ao público moderno. Cinturas de ampulheta e corpos musculosos ainda são glorificados e vestidos de cintura apertada aparecem comumente na mídia. Embora separados por um intervalo de tempo incrivelmente vasto, é fascinante pensar que nossos ancestrais pré-históricos compartilhavam nossas ambições e gostos estéticos.