Os animais de estimação na América Colonial eram criados pelos colonos pelas mesmas razões que os europeus: para companhia e, no caso dos cachorros, para proteção, caça e pastoreio. Os gatos faziam o controle de pragas em residências e celeiros até o século XVIII, quando passaram a ser valorizados como animais domésticos.
Os colonos criavam várias espécies como animais de estimação, incluindo esquilos, pássaros selvagens, guaxinins, cervos, cobras, rãs e tartarugas, entre outros. Os colonizadores trouxeram consigo seus próprios cães, cavalos e gatos da Europa e posteriormente domesticaram outros animais - como o cervo, a lontra e o castor - que encontraram na América do Norte.
Muito antes da chegada dos primeiros europeus, os americanos nativos também criavam animais de estimação, principalmente cachorros e perus, embora haja evidência de que linces também tenham sido domesticados. Eles possuíam os cães com os mesmos propósitos dos colonos, mas também os usavam para transportar produtos em trenós puxados através de arreios amarrados em torno de seus torsos. Relatos iniciais da colonização descrevem os cachorros sendo utilizados desta forma mas, com o tempo, os nativos adotaram a coleira dos europeus e os arreios passaram a ser usados com menos frequência.
Cada tribo tinha raças diferentes de cães para propósitos específicos, da mesma forma que observavam tradições diversas e distintas uma das outras. Não havia um único cão nativo na América do Norte. Os colonos, porém, eram mais constantes no uso de cachorros – e animais domésticos em geral – e o modelo europeu eventualmente se tornou padrão em todo o país. Atualmente, os donos de animais de estimação ainda seguem o mesmo modelo observado na América Colonial.
Cachorros Americanos Nativos
Exatamente quando e onde os cães foram domesticados em primeiro lugar ainda é motivo de debate, mas acredita-se que não eram nativos da América do Norte e teriam acompanhado os paleoindígenas que migraram através do Estreito de Bering (também conhecido como Beríngia) mais de 14.000 anos atrás. A estudiosa Marion Schwartz assinala que
Cães são notáveis pela sua sensibilidade única aos atributos culturais do povo com o qual vivem. Não somente são produtos de uma cultura, mas também participam das culturas dos humanos. De fato, cachorros são os primeiros animais a compartilhar a moradia com pessoas e os únicos animais encontrados em sociedades humanas por todo o mundo. Devido à sua ubiquidade em diferentes fronteiras culturais, os cães têm sido tão comuns que sua história não parece merecer muita consideração. E, ainda assim, há pelo menos doze mil anos os cães têm desempenhado um papel integral em vidas humanas. Os que é mais notável sobre os cães é sua habilidade de se adaptar às necessidades das pessoas com as quais vivem. Eles têm se mostrado como seres incrivelmente flexíveis e isso tanto era verdade nas Américas quando no restante do mundo. (2)
Acredita-se que o primeiro cachorro a entrar na América do Norte fosse um tipo de dingo, embora esta alegação seja contestada, e é possível que várias raças diferentes tenham acompanhado os primeiros imigrantes humanos. Eles eram usados para proteger os lares e povoados, para a caça, transporte de produtos em trenós e, no caso da raça Salish da costa oeste (uma versão maior dos pomerânios), usava-se a pele para fazer tapetes e cobertores. Algumas tribos possuíam cães como animais de estimação e também como fonte de alimento, outras principalmente como guardiões e caçadores, mas todas os consideravam como bens valiosos.
Os cães eram altamente valorizados como um presente dos deuses, e embora existam vários mitos relativos à forma como passaram a viver entre os seres humanos, a história do Cão e o Grande Remédio dos Cheyennes do meio-oeste dos EUA é típica. O deus Grande Remédio fez os seres humanos após a criação do mundo e mostrou a seu povo a terra coberta de campos de milho e repleta de rebanhos de búfalos. Os cheyennes gostaram daquelas dádivas, mas não tinham meios de perseguir os búfalos para caçá-los ou como transportar o milho após a colheita. Eles também eram atacados às vezes por outras tribos, que se esgueiravam à noite e levavam pequenas quantidades de milho e búfalos trazidos para o povoado. O Grande Remédio mostrou-lhes como capturar jovens lobos e criá-los como animais domésticos. Estes animais então evoluíram para os cães domesticados que alertariam o povoado de um ataque, transportariam o milho e ajudariam os nativos a rastrear o búfalo, bem como caçar outros animais.
Em algumas lendas tribais, o cachorro está entre as primeiras criaturas criadas e em outras, como a dos cheyennes, resulta de uma dádiva divina para fazer a vida das pessoas mais fácil. Eles também eram considerados como intermediários entre o mundo físico e o espiritual - a morada dos mortais e a dos deuses -, por personificarem tanto a esfera selvagem quanto a doméstica. Este ponto de vista contrastava vivamente com visão que os europeus, que consideravam os cães como seres criados com o único propósito de servir aos humanos.
Os Colonos e Seus Cachorros
De acordo com os cristãos europeus, os cães não tinham almas – assim como quaisquer outros animais –, já que uma alma imortal animava somente os seres humanos, que responderiam por seus atos após após a morte no julgamento diante do trono de Deus. O cachorro, portanto, não era visto como um animal especial e as referências bíblicas a ele encorajavam este ponto de vista, pois nesta obra os cães são geralmente associados com a pobreza e baixa condição social. Para citar somente um exemplo, embora a parábola bíblica de Lázaro e o Homem Rico, que aparece em Lucas 16:19-31 tenha sido interpretada como mostrando os cães de forma positiva (como curadores que lambiam as feridas de um homem pobre), a associação com a pobreza fica evidente por este simples ato.
Ainda assim, os colonos não desprezavam os cães, e, ao contrário, importavam-se bastante com eles. A primeira lei referente aos maus-tratos de cães (ou de qualquer outro animal) nas colônias ingleses foi a Regulation against Tyranny ou Cruelty (Regulamento contra Tirania ou Crueldade) da Colônia da Baía de Massachusetts, datada de 1641. A crueldade proposital sobre um animal era punível por multa ou uma sentença no cepo ou pelourinho. Os colonos que criavam cães, especialmente, tinham grande orgulho deles e gostavam de mostrar a superioridade dos seus animais sobre os dos vizinhos com coleiras muitas vezes enfeitadas e, entre as classes de maior renda, de alto valor.
Coleiras de couro com uma placa de latão com o nome do cão gravado, o nome do proprietário e algumas vezes um conciso epigrama eram populares na Europa e copiados nos primórdios da América Colonial. A propriedade dos cachorros começou a ser associada com o grau de riqueza, revelando que se podia alimentar um cão além da própria família, e a coleira com cadeado foi desenvolvida, em parte, para comprová-la. Tratava-se de uma argola curvada de metal presa no pescoço do cachorro por fechos e unida por um pequeno cadeado, do qual somente o dono possuía a chave. Se o cão fosse perdido ou roubado, podia-se comprovar a posse do animal com o uso da chave para abrir a coleira, já que seria impossível removê-la de outra forma sem feri-lo.
Os cães eram usados para caçar, tomar conta da casa e em esportes sangrentos, tais como luta de cães ou bearbaiting [antigo esporte que consistia em açular cães contra um urso acorrentado]. Entre as raças existentes podem ser citadas o sabujo, buldogue, mastim, pointer, spaniel, terrier e outras. Raças menores eram conhecidas como "cães de conforto", preferidos como companhias tanto pelas mulheres quanto pelos mais idosos. Cavalheiros das classes mais altas, como George Washington (v. 1732-1799) e Thomas Jefferson (1743-1826) mantinham inventários de raças e o primeiro orgulhava-se do seu conhecimento a respeito de cães em geral. O general francês Lafayette (v. 1757-1834), aliado de Washington durante a Revolução, soube do fato e deu ao colega americano dois bassets de presente; desta forma, introduziu a raça na América do Norte. Uma das mais conhecidas anedotas referentes a Washington e um cão data do período da Guerra da Independência Americana (1775-1783) e dá conta de como, após a Batalha de Germantown, em 1777, o general encontrou o cachorro de seu oponente, o general William Howe (v. 1729-1814) e o devolveu com seus cumprimentos. Ele identificou o proprietário do animal pela inscrição na coleira.
Quando se perdia um cachorro, se eles não possuíam identificação, tal como o de Howe, anúncios seriam postados na sala de reuniões local, igreja ou taverna, oferecendo uma recompensa pela devolução, exatamente como as pessoas fazem hoje em dia. Na Williamsburg colonial, as recompensas pela devolução de cães chegavam a 20 shillings (o equivalente ao salário de nove dias de trabalho na época) no período entre 1774-1777, o que dá uma ideia de como os donos valorizavam seus animais. Anúncios em Nova York durante a Revolução seguiam o mesmo modelo, conforme se comprova pelos que foram postados por oficiais britânicos para o retorno de seus cães perdidos. Os retratos de cavalheiros das classes mais altas da época frequentemente os mostram posando com seu cão de caça favorito e, no caso das mulheres, com seus cães de conforto. Eles começaram a aparecer, de fato, com bastante regularidade em retratos de família a partir de c. 1700 em diante.
Outros Animais Domésticos
Os cães obviamente não eram os únicos animais domesticados a desfrutar de uma elevação de status durante o século XVIII; os gatos se tornaram altamente valorizados como companhia, ainda que inicialmente fossem considerados apenas de forma utilitária para o controle de pragas. O Renascimento encorajou as pessoas a questionar muitas das crenças e tradições do passado e, entre elas, estava a condição do gato como uma espécie de mal necessário. Gatos estavam associados a culturas pagãs e, para piorar, não eram mencionados em parte alguma da Bíblia, o que despertava suspeitas. Eram úteis no controle da população de ratos e camundongos, no entanto, e por isso mais tolerados do que efetivamente cuidados.
Durante o século XVIII, o gato se tornou o animal doméstico mimado que nos é familiar nos dias atuais. Retratos de família, bem como individuais, com frequência apresentavam o gato da família ou da pessoa. Eles começaram também a aparecer na poesia e literatura. Já amplamente reconhecidos como íntimos e favoritos das bruxas, não foram acolhidos como membros da família tão cedo quanto os cachorros, mas, na época da Revolução Americana, encontravam-se em condição semelhante, pelo menos no que se refere à pintura de retratos.
Os cervos também apareciam em retratos e se tornaram um dos mais buscados e populares animais domésticos da América colonial. Eles usavam coleiras, eram levados para passear com correias e, se se as pinturas não mentem, viviam tão confortavelmente como gatos ou cães junto às famílias. Os cervos domesticados eram deixados livres nos jardins das propriedades coloniais para diversão dos convidados em festas. Um exemplo disso é um certo Benjamin Jones, médico da colônia da Virgínia que treinou cem cervos para sua propriedade com este objetivo, assim como para o prazer da família. Os retratos de cervos os mostram em poses semelhantes àquelas dos galgos da época, com coleiras de latão, em geral com cadeado.
Outro animal doméstico que aparecia com regularidade em retratos era o esquilo. Os filhotes se tornaram mais populares do que cachorrinhos ou gatinhos junto às crianças. Eram retirados dos ninhos, domesticados e depois vendidos em mercados como animais de estimação. Estes esquilos domésticos tinham coleiras, correias e passeavam exatamente como os cães de conforto. Esquilos voadores eram especialmente populares e treinados para se sentarem nos ombros dos meninos enquanto estes passeavam pelos povoados. A popularidade dos esquilos como animais de estimação desagradava às esposas e mães da época, que reclamavam daquelas criaturas que roíam armários, roupas e tecidos em geral e não podiam ser contidos, já que escapavam com facilidade de caixas ou jaulas de madeira. Os funileiros lucraram com o problema, criando jaulas de metal com rodas de exercício e outros itens interiores, de forma que o esquilo ainda podia entreter a família sem ficar à solta pela casa.
Pássaros domesticados eram especialmente apreciados entre as meninas e mulheres, que criavam cardeais e outras espécies em jaulas elaboradas nas suas salas de estar. Acreditava-se que se podia ensinar melodias ao pássaro através da repetição e, assim, pequenas flautas conhecidas como flajolés se tornaram comuns entre proprietários de pássaros. A pessoa repetia uma melodia simples ao longo do dia, achando que o pássaro aprenderia a cantá-la. No entanto, não há registros de que esta prática tenha sido bem-sucedida, exceto no caso mockingbird [espécie de pássaro que tem o hábito de repetir o canto de outras espécies].
Castores também eram comuns, principalmente entre homens e meninos, que os treinavam para apanhar peixes e levá-los para casa. Lontras eram ensinadas a recuperar caça que caía na água, do mesmo modo que os cães de caça faziam anteriormente. Os pescadores apreciavam muito as lontras treinadas que mergulhavam na água e retornavam com peixe. Guaxinins, também domesticados, tinham menos popularidade devido ao seu hábito de penetrar em despensas e furtar comida ou outros itens das residências. Independente do treinamento, um guaxinim acabaria matando as galinhas da família, o que os levou a ser menos considerados como animais de estimação e mais como predadores que traziam aborrecimentos.
Outros animais, tais como cobras e pequenos macacos, desfrutavam de certa popularidade, ainda que tivessem seus próprios problemas. As mulheres não apreciavam as cobras, mas eram adeptas dos macacos, muito mais problemáticos no que se referia a manter uma casa organizada e limpa. As meninas gostavam muito de ovelhas, que costumavam ser retratadas em pinturas usando uma fita em torno do pescoço. As galinhas, naturalmente, também serviam como animais domésticos, embora nenhum retrato as mostre enfeitadas como ovelhas e macacos.
Conclusão
As mudanças na propriedade de animais de estimação, referentes aos tipos de animais mantidos em residências, vieram com a Revolução Industrial, no final do século XVIII e início do século XIX. O industrial britânico Samuel Slater (v. 1768-1835) introduziu as fábricas têxteis nos Estados Unidos por volta de 1789. Ele recebeu a ajuda do industrial Moses Brown (v. 1738-1836), que instalou a primeira fábrica movida por rodas d'água da América em Pawtucket, Rhode Island, em 1790. As fábricas têxteis geravam lucros consideráveis para os homens de negócios, o que encorajou o desenvolvimento de mais tecnologias com menos força de trabalho humana e isso levou à urbanização, pois as pessoas se mudaram para as cidades em busca de emprego. Com o crescimento da industrialização e urbanização, a propriedade de animais domésticos ficou mais restritiva no que se referia à escolha; um apartamento urbano não era lugar para cervos, cavalos ou ovelhas. Nas áreas rurais, ainda se criavam estas espécies como animais de estimação, mas eles não mais aparecem em pinturas no século XIX, o mesmo ocorrendo com os esquilos.
A colonização, expansão para o oeste e imigração também afetaram a escolha de animais domésticos. Os cervos eram caçados regularmente como alimento e peles mesmo no período em que eram domesticados. À medida que os habitats começaram a diminuir e as populações se deslocavam para longe dos povoados, capturar e domesticar um cervo como animal doméstico ficou menos comum do que matá-lo e comê-lo no jantar. As cobras, tão populares durante o período colonial, seguiram este mesmo curso, sendo afugentadas para longe das cidades e vilarejos e, finalmente, relegadas à esfera do entretenimento junto a mágicos ambulantes ou artistas de circo em meados do século XIX.
Com o aumento de terras colonizadas, mais pessoas precisavam se alimentar e animais como o castor, a lontra e o guaxinim – já caçados por causa da pele e carne mesmo quando populares como animais de estimação – passaram a ser considerados como fonte de comida, em vez de companheiros e assistentes. Os povoados dos nativos americanos, bastante numerosos ao longo do litoral oriental da América do Norte, foram destruídos pelos colonos para abrir espaços para novos assentamentos. Transferidos para reservas, os habitantes foram proibidos de possuir cachorros, assim como ter acesso às armas de fogo. Os cães dos nativos americanos acabaram confiscados e estas raças se extinguiram ao cruzarem com raças europeias – uma extinção tão completa que não podemos identificá-las atualmente.
As restrições quanto aos tipos de animais de estimação parecem ter ocorrido naturalmente, pois ficou mais difícil conseguir espécies exóticas. Restaram os cães e gatos, então, como as principais escolhas para a maioria das pessoas e sua popularidade cresceu à medida que mais residências se adaptavam a eles. Na atualidade, o cão e o gato permanecem como os animais domésticos mais populares e comuns, ainda que muitos americanos possuam espécies exóticas em suas residências, tal como seus ancestrais.