Os piratas ficaram famosos pelas roupas e acessórios vistosos e característicos durante a Era de Ouro da Pirataria (1690-1730), mesmo que, na realidade, a maior parte disso provenha das obras de ficção como A Ilha do Tesouro, romance de Robert Louis Stevenson (1883). Em princípio e antes de tudo, tratavam-se de marinheiros e, assim, eles usavam as vestimentas típicas das tripulações do período. É verdade, no entanto, que alguns piratas, especialmente os capitães, vestiam-se para impressionar e as sedas vistosas e chapéus com plumagens demonstravam seu sucesso para as vítimas e para a própria tripulação.
Materiais e Cores
Não há evidências de que os piratas usassem vestimentas particularmente diferentes dos demais marinheiros dos séculos XVII e XVIII enquanto navegavam. A vida no mar representava uma carreira árdua e o vestuário precisava ser tanto resistente quanto prático. Os capitães e tripulação geralmente vestiam roupas mais extravagantes quando em terra, mas a vestimenta cotidiana, em geral, era roubada dos marujos de navios capturados.
Os historiadores A. Konstam e D. Rickman fornecem o seguinte sumário dos materiais comuns no vestuário dos marinheiros durante a Era de Ouro:
Roupas resistentes de linho e lã eram as mais práticas para a vida no mar. A partir de várias fontes, sabemos que os tecidos de algodão preferidos pelos marujos incluíam broadcloth [casimira fina enfestada], que se destacava pela qualidade do acabamento e cor; kersey [tecido grosseiro de lã], bom para mantê-los secos e aquecidos; shag [pelúcia], um tecido robusto semelhante a um veludo grosseiro; welsh plains, que lembrava a flanela; e cotton [algodão], um tecido barato de lã que tomou seu nome da superfície felpuda. Os tecidos feitos de algodão verdadeiro eram importações dispendiosas na época, ainda que o fustão, que mesclava algodão e linho, fosse usado em roupas baratas. (21)
Em termos de cores, predominavam os azuis, castanho amarelado, verdes escuros, brancos e cinzas. A maior parte das roupas era lisa, mas havia também as estampadas com faixas e padrões axadrezados e um toque de cores mais vivas, como escarlate e amarelo, podia ser acrescentado à aparência com o uso de lenços de seda e faixas estreitas.
Casacos, Jaquetas e Camisas
Muitos capitães piratas vestiam um longo casaco, tipicamente roubado de um prisioneiro rico ou adquirido em terra firme. Eles podiam custear tais itens, já que sua parcela do butim era o dobro da destinada a um membro comum da tripulação. Na época, a moda masculina para os mais abastados favorecia os casacos com uma incrível quantidade de botões em toda a extensão frontal, com punhos largos abotoados na parte de trás. Bartholomew Roberts (apelidado 'Black Bart' Roberts, c. 1682-1722) ficou tão famoso pelo casaco de seda escarlate e colete damasco combinando que os franceses - seus principais inimigos - o chamavam de le jolie rouge [o belo vermelho]. Roberts, provavelmente o mais bem-sucedido de todos os piratas da Era de Ouro, propagandeava este fato ao usar um grande colar de ouro com uma cruz incrustada de diamantes. Ele não somente cuidava da própria aparência em termos de vestimenta, mas também buscava garantir que sua tripulação nunca ficasse maltrapilha. Os artigos do seu navio, que todos os tripulantes tinham de assinar, estipulavam que cada homem receberia uma "muda de roupas" de cada embarcação capturada.
Os marujos comuns podiam vestir um casaco curto, útil para mantê-los aquecidos, mas sem caudas que prejudicassem os movimentos ou que os fizessem se enganchar no cordame do navio. Estes casacos, feitos com tecidos azuis escuros ou cinzentos, eram conhecidos como fearnoughts [temerários], pois quem os vestia costumava escalar os mastros principais para rizar as velas (daí seu nome posterior, "casaco do rizador"). Esta roupa costumava ser fabricada em lã ou fustão resistente. Os "oficiais" piratas, como o intendente ou contramestre, podiam usar um casaco um pouco mais longo, que terminava no meio da coxa. Os botões dos casacos e outros tipos de roupas eram geralmente feitos de latão, estanho, osso, chifre ou discos cobertos de tecido.
Em períodos de mau tempo, os marinheiros optavam por um casaco mais longo e à prova d'água, feito de lona. O pescoço ficava protegido do vento por um lenço, muito útil também, no Caribe, para secar o suor. Sob os casacos ou jaquetas, os marujos vestiam camisas sem colarinho de linho, que eram puxadas sobre a cabeça. Usavam também coletes, com ou sem mangas, lisos, com listras ou axadrezados.
Calças
Marinheiros de todos os tipos eram conhecidos por usar calças largas, geralmente com calças boca de sino, já que isso permitia utilizar com mais facilidade todo o conteúdo de um rolo de material como a sarja. As calças folgadas podiam ser facilmente arregaçadas quando eles esfregavam os conveses, subiam pelos mastros ou vadeavam pelas águas costeiras. Houve duas célebres piratas, Anne Bonny e Mary Read (m. 1721), que usavam calças e camisas típicas de marujos do sexo masculino quando em combate. Opcionalmente, vestiam-se calças curtas ondulantes, conhecidas como "calças de anágua", que podiam ser amarradas nos joelhos. Bolsos de couro costumavam ser costurados nas calças. Por ocasião de regiões ou estações mais frias, também existia a opção das meias de lã de vários comprimentos.
Chapéus e Perucas
Ao contrário da maioria das representações na mídia, os capitães piratas não são conhecidos por usar chapéus tricórnios, embora seja possível que os mais aburguesados o tenham feito, como o antigo corsário Capitão Kidd (c. 1645-1701) e o ex-proprietário rural Stede Bonnet (m. 1718). Os chapéus tricórnios certamente estavam na moda para os marinheiros de água doce e na terra firme, mas a grande aba frontal pontiaguda iria obscurecer a visão nas várias ocasiões em que se abaixava sob o cordame oscilante, blocos de içamento e vergas num navio em alto-mar. Com suas três pontas largas, ele provavelmente seria levado pelos ventos, mesmo moderados, e sumiria no horizonte. Bartholomew Roberts ficou célebre pelo chapéu de penas, enquanto Barbanegra (apelido de Edward Teach, m. 1718) ficou conhecido por acender pavios sob o chapéu sempre que ia para o combate.
Numa tentativa de parecer mais respeitáveis e bem-sucedidos, alguns capitães usavam as perucas que estavam na moda entre os nobres abastados nos séculos XVII e XVIII. As perucas da época tinham uma fabricação dispendiosa e, portanto, quanto mais compridas fossem, mais rico seria o usuário, o que gerou o termo em inglês big wig [literalmente, "peruca grande"] para designar personalidades importantes. Conhecido por seu estilo e extravagância, um capitão pirata mais aburguesado podia decorar sua peruca branca ou preta com fitas coloridas amarradas nas extremidades. Até onde sabemos, Barbanegra não usava perucas, optando por atar fitas pretas na vistosa barba que lhe rendeu o apelido.
Os piratas aparecem usando bandanas coloridas em muitas ilustrações e filmes, mas há bem poucas evidências de que esse habito realmente existisse. A palavra bandana vem da palavra hindi bandhnu, que se refere a um método de tingimento de tecidos. Os marinheiros comuns usavam às vezes um lenço amarrado ao redor da cabeça, deixando topo da cabeça exposto para evaporar o suor, caso em que o nó era tipicamente amarrado na frente e não na parte de trás da cabeça.
Todos os tipos de marujos certamente usavam chapéus, geralmente reservados para o tempo frio, e que consistiam em bonés apertados, feitos de lã ou couro, mais difíceis de serem arrancados pelos ventos fortes. Para o tempo chuvoso, empregava-se um chapéu feito de lona, alcatroado para deixá-lo à prova d'água. Uma capa do mesmo material também costumava ser usada em tempestades. As roupas para o tempo chuvoso e frio (sloppes) provavelmente ficavam armazenadas como suprimentos comunitários do navio e distribuídas a quem estivesse acima do convés e de vigia na ocasião. Em climas mais quentes, o chapéu mais popular para se manter longe do sol - pelo menos de acordo com algumas descrições contemporâneas - era um chapéu redondo claro com uma aba muito estreita e circular.
Acessórios
Apesar de famosos por seus brincos de ouro e tapa-olhos, estes dois acessórios não eram comuns para os piratas em geral durante a Era de Ouro. Ainda que alguns afirmem que os marujos usavam os brincos como forma de economizar um pouco de ouro para emergências (como o sepultamento) se por acaso morressem em terra (quando navegando, seriam atirados ao mar sem nenhum custo para ninguém), na realidade, considerava-se este acessório como efeminado (os cortesãos elisabetanos parecem ter sido os únicos homens que ousavam ostentar tais enfeites, sendo frequentemente ridicularizados pelo hábito). Os tapa-olhos podem ter sido usados por alguns piratas, pois ferimentos oculares não eram incomuns num navio a vela, repleto de cordas e equipamentos balançando perigosamente. Os marinheiros também perdiam a visão devido à necessidade de olhar diretamente para o sol sobre o bastão de observação, um instrumentos utilizado na navegação. No entanto, no mundo masculinizado da pirataria, exibir as cicatrizes seria uma maneira dos marinheiros demonstrarem sua longa experiência no mar, daí, talvez, a falta de tapa-olhos no registro histórico.
Um acessório comum a muitos piratas consistia em alguma coisa amarrada no peito para guardar diversos apetrechos. Uma faixa de seda podia ser usada no ombro, servindo como uma espécie de coldre para pistolas. Pequenas pedaços de cordas (chamadas lanyards) eram amarrados à faixa para evitar que pequenos objetos fossem perdidos, como um canivete dobrável. As pistolas também podiam ser presas à faixa com uma corda para que, uma vez disparadas, pudessem ser postas de lado rapidamente, mas não perdidas, enquanto se sacava a espada ou o cutelo. Finalmente, em climas mais frios, os marinheiros usavam luvas de malha ou de couro e sapatos de couro de bico redondo, amarrados com uma pequena fivela ou cadarços, chamados na época de latches.
Vestindo-se para a Terra Firme
Ainda que o vestuário para as tarefas cotidianas possa ter sido bastante utilitário e sem enfeites, os piratas procuravam se produzir quando iam para a terra firme como, por exemplo, quando visitavam os refúgios piratas na Era de Ouro da Pirataria. As roupas mais extravagantes seriam certamente roubadas dos passageiros mais abastados a bordo dos navios capturados. Certamente há registros de piratas vestindo roupas fora do comum em suas últimas aparições públicas: as execuções. Há relatos de condenados, prestes a serem executados, usando elegantes casacos e jaquetas de veludo, calças de tafetá, camisas de seda alegremente coloridas, meias com fitas, sapatos com fivelas vistosas e chapéus tricórnios de feltro. Imagine esse conjunto de trajes extravagantes com uma ou duas pistolas enfiadas em algum lugar e um cutelo na cintura, e você terá a imagem perfeita de um pirata em ação, pronto para fazer uma boa farra.