Iran, ou Pérsia como era formalmente conhecida, é um país com uma longa e rica história que se estende por milhares de anos e onde muitas civilizações prosperaram. Com 24 sítios históricos registrados na Lista de Herança Mundial da UNESCO e cada uma com sua própria estória para contar, Iran oferece uma variedade incrível de maravilhas arqueológicas e culturais.
Não faltam lugares maravilhosos para explorar no Iran, desde zigurates até palácios antigos, templos zoroastrianos, mesquitas sublimes, monastérios cristãos e lindos jardins persas.
O Iran ainda é terreno desconhecido para grande parte dos viajantes e a imagem negativa que os meios de comunicação ocidentais fazem do país desencoraja muitas pessoas a visitá-lo. É uma pena, pois o Iran acomoda alguns dos monumentos culturais mais antigos do mundo e é um dos países mais amigáveis do mundo. Em abril de 2019, eu fui em um tour arqueológico de duas semanas com “Viaje pelo Desconhecido”, uma agência de viagens localizada no Reino Unido que se especializa em “rotas não convencionais” para grupos pequenos (suas atividades cessaram devido a pandemia de COVID-19 que ainda se alonga)
Nosso tour arqueológico “Glória da Pérsia” nos leva para quatro capitais antigas do Iran: Susa, Ecbatana, Pasárgada, e claro, Persépolis. Nós traçamos as raízes dos Elamitas (3200 até 539 a.C.), do Império Aquemênida (553 – 312 a.C.), Pártia (247 a.C. até 224 d.C.), e o Império Sassânida (224 – 651 d.C.), o último império Persa antes da invasão árabe no século 7. Os tours mais clássicos do Iran em sua maioria vão para Teerã, Ispaã, Xiraz, Persépolis e Yazd, mas nós nos aventuramos para além dos caminhos conhecidos para visitar sítios ancestrais menos conhecidos.
Teerã
Nós começamos nossa visita para o Iran com um tour no Museu Nacional de Teerã, um lindo edifício de tijolos influenciado pelos cofres sassânidas do famoso arco de Ctesifonte no Iraque. O museu tem uma rica coleção de exibições que abrange a longa história do país, desde a pré-história até a Aquemênida e períodos posteriores. Nele estão contidos diversos achados arqueológicos obtidos de através de escavações de todas as partes do Iran, incluindo Persépolis, Susa e outros sítios importantes.
Um dos tesouros do museu é uma sofisticada escultura em baixo-relevo vinda de Persépolis, que representa um rei sentado, Dário I (522 – 486 a.C.) ou Xerxes I (486 – 465 a.C.), recebendo uma audiência. Outros destaques incluem uma estátua de Dário de Susa, uma coluna com um capitel em forma de touro, de Persépolis e embarcações prateadas do período Sassânida. Depois de visitarmos o museu, passeamos pelas ruas de Teerã, tivemos nossa primeira refeição persa e desfrutamos da vista maravilhosa do horizonte contrastante com as montanhas nevadas.
Hamadã e Kermanshah
No nosso segundo dia, deixamos a capital para chegar em Hamadã, considerado o berço da história e civilização do Iran. É aqui, nas montanhas de Zagros no centro-oeste iraniano, que Hegmataneh, a primeira capital Média, foi fundada no século 8 a.C. Ciro, o Grande (530 a.C.) derrotou o último rei Médio, Astiages (585 – 550 a.C.), em 550 a. C., e Hegmataneh tornou-se a casa de versão da côrte aquemênida.
A cidade foi tomada por Alexandre, o Grande (356 – 323 a.C.) em 330 a.C. e foi renomeada Ecbátana. O testemunho da presença de Alexandre é uma intrigante estátua de um leão localizada no centro da cidade, que se acredita ter sido erigida em honra de seu grande companheiro Heféstion (356 – 324 a.C.), que morreu ali em 324 a.C. Ecbátana depois tornou-se uma das capitais do Império Pártia.
No dia seguinte, rumamos ao sul em direção a Kermanshah, parando no tempo de Anahita em Kangavar. O tempo foi um grande santuário erigido para a deusa da água e da fertilidade, que foi adorada na antiga religião persa, juntamente a Aúra-Masda. O vasto templo remete as eras Selêucida ou Pártia e foi construído com enormes blocos de pedra. O templo tem uma entrada imponente que ecoa o Apadana em Persépolis. Infelizmente, a maioria das construções está em ruínas, mas os vestígios espalhados pela área ajudou-nos a imaginar quão enorme essa estrutura deveria ter sido 2000 anos atrás.
Mais ao sul, exploramos o penhasco cênico de Behinstun, que abriga o famoso baixo-relevo esculpido por Dário o Grande em 521 a.C. como propaganda para sua vitória sobre nove reis que haviam se rebelado contra ele. A Inscrição de Behinstun foi crucial para decifrar o roteiro coniforme como inclui o mesmo texto escrito em três idiomas: Persa Antigo, Elamita e Acadiano. Além do relevo aquemênida, há três entalhos pártias e um entalho selêucida mostrando um Hércules reclinado.
O quinto dia presenciou o nosso primeiro encontro com os sassânidas. A alguns quilômetros ao nordeste de Kermanshah se encontra o sítio sassânida Taq-e Bostan, com um baixo-relevo impressionante entalhado na base de um penhasco. O primeiro desses três relevos mostra a investidura de Ardashir II (379 – 383 d.C.), recebendo a coroa sagrada de seu predecessor Shapur II (309 – 379 d.C.) ou Aúra-Masda. O rei está por cima do imperador romano Juliano, o Apóstata (361– 363 d.C.), o qual ele derrotou em 363 d. C. Os outros dois entalhos estão abrigados em uma gruta. O maior de todos representa a coroação de Kosrau II (590 – 628), o último grande rei sassânida, que é representado montado em um cavalo com armadura de combate completa. O outro nicho tem o rei Shapur III (383 – 388 a.C.) e seu avô Shapur II, representados apoiando-se sobre suas espadas.
Susa, Chogha Zanbil & Shushtar
O dia seguinte havia sido aguardado com ansiedade, já que estávamos prestes a visitar o antigo sítio de Susa, próximo ao zigurate Chogha Zanbil, e o moinho de água sassânida em Shushtar. Entretanto, uma inundação recente trouxe incerteza acerca da programação daquele dia, já que algumas das ruas principais da região haviam sido fechadas por semanas. Foi com certo alívio que chegamos a primeira parada do dia, em Susa. Inabitada desde o fim do quinto milênio a.C., Susa foi uma das principais cidades elamitas antes de tornar-se a capital do Império Persa-Arquemênida no século 4 a.C.
Dário, o Grande fez de Susa uma de suas residências e reformou o centro urbano da cidade construindo o complexo do palácio. Os restos de Susa remetem a esse período e se dispersam em duas colinas. Eles consistem na Apadana e no monte Acrópole, nos quais residem um castelo do século 19 construído por escavadores franceses. Muitos artefatos de Susa acharam seus caminhos até o Louvre em Paris, mas o museu localizado em Susa abriga algumas peças interessantes.
Durante nossa visita a Susa, o guia local nos informou que a estrada até Chogha Zanbil, há 30 quilômetros (17 milhas), tinha acabado de ser reaberta e que, portanto, deveríamos poder visitá-la. Chogha Zanbil é um magnífico complexo elamita de 3300 anos de idade. O elemento principal desse complexo é um enorme zigurate de tijolos, um templo piramidal escalonado dedicado a divindade elamita Inshushinak, o protetor e deus patrono de Susa. O zigurate Chogha Zanbil é considerado o mais bem preservado dentre seus iguais e o melhor testemunho sobrevivente da então grandiosa civilização elamita. Chogha Zanbil tornou-se o primeiro sítio iraniano inscrito na lista da UNESCO de Herança Mundial.
Terminamos o dia com uma visita ao Sistema Hidráulico de Shushtar. Datando da era sassânida, essa peça extraordinária de engenharia é composta de uma série de represas, canais, túneis e azenhas que formam um sistema de irrigação sofisticado. Os moinhos, dos quais um ainda está funcionando, eram usados para triturar trigo e cevada. A aproximadamente dois quilômetros (1,24 milhas) da represa estão os restos da ponte romana mais ao oriente.
Bixapur, Xiraz e Firuzabad
Depois da noite em Ahvaz, passamos uma grande parte do dia dirigindo em direção a Xiraz. O cenário montanhoso feito para uma viagem agradável apesar das muitas horas que nos tomou para que chegássemos na nossa única visita do dia, em Bixapur. O sítio é conhecido pelo seu baixo-relevo da era sassânida e pelas ruínas do que um dia foi uma cidade real. Bixapur foi construída em 266 d.C. sob ordem de Sapor I (240 – 270 d.C.) por soldados romanos que foram capturados após a derrota do imperador romano Valério (253 – 260 d.C.).
O rei sassânida também mandou decorar os lados do desfiladeiro com enormes relevos históricos para comemorar seu triunfo triplo sobre Roma. Os seis relevos apresentam cenas, como por exemplo, Sapor escravizando Valério. O sítio foi declaro como um sítio de Herança Mundial da UNESCO em junho de 2018 como parte da "Paisagem Arqueológica Sassânida de Região de Fars."
O dia seguinte foi passado explorando os principais pontos turísticos da linda cidade de Xiraz. Com uma história que data de 4000 anos atrás, Xiraz tem sido um importante centro de troca e o coração da cultura persa por milênios. Mas acima de tudo, Xiraz é a cidade da poesia, de Saadi (1210 até c. 1291) e Hafez Xiraz (1315 – 1390). A popularidade desses poetas famosos é tão grande na literatura persa que suas tumbas memoriais tornaram-se grandes sítios de peregrinação para os Iranianos. Xiraz também é casa de mesquitas maravilhosas e lindos jardins.
Meu ponto turístico favorito foi a mesquita de Nasir al-Molk (também conhecida como Mesquita Rosa) com suas telhas rosas e suas janelas de vitral. A mesquita é, inquestionavelmente, o edifício mais fotografado em Xiraz. A luz brilha através de suas vitrines coloridas na alvorada, criando um caleidoscópio de pontos de luz padronizados em seu chão de carpete.
No nono dia, nós fizemos uma excursão para Firuzabad, uma antiga cidade sassânida localizada a 120 quilômetros (74 milhas) ao sul de Xiraz. A aproximadamente 20 quilômetros (12.4 milhas) de Firuzabad, a estrada entra em um desfiladeiro impressionante, ocultado pelas fortificações de um castelo sassânida, construído cerca de 100 metros (328 pés) acima da estrada por Ardashir I (224–240 d.C.), o fundador do Império Sassânida. Um pouco mais a frente estão os vestígios de uma linda ponte sassânida e o baixo-relevo entalhado em pedra que mostra a celebração da vitória de Ardashir I sobre o rei pártia Artabanus IV (213 – 224 d.C.). Próximo está o enorme palácio de Ardashir, que foi construído em área plana, encobrindo um pequeno lago natural.
Alguns quilômetros mais a frente estão as ruínas do palácio de Ardashir I com seus distintos cômodos abobadados e um grande pátio. Firuzabad é também parte da “Paisagem Arqueológica Sassânida de Região de Fars.”
Persépolis, Naqsh-e Rostam e Pasárgada
Finalmente, tivemos a chance de ver Persépolis e a tumba de Ciro, o Grande. Persépolis é inquestionavelmente o mais famoso dentre os sítios arqueológicos no Iran. Fundado cerca de 518 a.C. por Dário, o Grande, o sítio serviu como a capital cerimonial do Império Arquemênida. Foi pensado e desenhado para ser uma exibição do império, já que era ali que embaixadores de todas as partes do mundo persa, da Etiópia ao Elão, congregavam todos os anos para oferecer tributos ao rei. Entretanto, Artaxerxes I (465 – 424 a.C.) não completou a tremenda tarefa de construir tal complexo até aproximadamente 100 anos mais tarde.
Nosso guia decidiu contratar um arqueólogo no local para nos ajudar a apreciar as ruínas de forma completa. Após haver entrado em Persépolis, fomos imediatamente confrontados por um impressionante muro de aproximadamente 15 metros (49 pés) de altura – um terraço artificial construído no complexo. Conforme escalávamos a escadaria monumental, o resto do sítio ia progressivamente sendo revelado para nós em seu esplendor. Encontramo-nos face a face com dois gigantescos touros alados que decoravam o Portão de Todas as Nações, construído por Xerxes I.
Da porta que ficava ao sul do Portão de Todas as Nações, nós prosseguimos diretamente para a escadaria oriental de Apadana, adornada com frisos finamente construídos que representavam a procissão de dignatários trazendo valiosos presentes para o rei. Nós então nos atravessamos o Palácio de Apadana, um grande salão de audiências, onde o rei recebia delegações estrangeiras. Seis fileiras de seis colunas, algumas com 20 metros de altura (65.6 pés) com capitéis em forma de cabeças de animais erigidos em seu imenso salão. O palácio de Dário permaneceu bem preservado e é o mais impressionante entre os dois. Terminamos nossa visita escalando as tumbas de pedra para desfrutar de uma visão panorâmica de Persépolis.
Então nos dirigimos ao sítio de Naqsh-e Rostam, a necrópole da Dinastia Aquemênida, onde monumentais tumbas reais foram recortadas das rochas. O sítio apresenta quatro tumbas funerárias de reis aquemênidas que acreditam-se ser as de Dário I, Xerxes I, Artaxerxes I, Dário II Ochus (423 –404 a.C.) e oito relevos sassânidas representando cenas vívidas de conquistas imperiais e cerimônias reais. Outro importante monumento aquemênida em Naqsh-e Rostam é uma estrutura de pedra da qual o propósito original foi discutida por várias décadas.
Vimos outros relevos sassânidas em Naqsh-e Rajab, onde quatro inscrições em muralhas de calcário e baixos-relevos representam as investiduras de Ardashir I e Shapur I, como também a vitória militar de Shapur sobre o exército romano.
Terminamos o dia com uma visita a Pasárgada, primeira capital do Império Arquemênida, fundada por Ciro, o Grande no século 6 a.C. As ruínas estão em pior estado de conservação do que as de Persépolis, mas o sítio abriga a famosa Tumba de Ciro. Pasárgada também o primeiro exemplo de “Chahar Bagh”, uma forma tradicional e sofisticada dos jardins persas.
Yazd, Meybod, Na'in, Ispaã e Caxã
Nossa próxima parada, a cidade de Yazd, é o centro da pequena comunidade zoroástrica do Iran, onde se diz que a chama do Templo de Fogo Zoroástrico está queimando há 1500 anos. Nós visitamos as Torres do Silêncio Zoroástricas, que são estruturas circulares construídas pelos zoroástricos para excarnação – ou seja, para que corpos sem vida fossem expostos ao sol e aves necrófagas, impedindo a contaminação por demônios. As torres foram usadas até a década de 1970.
A cidade deserta de Yazd é uma das mais pitorescas do Oriente Médio. Suas casas de tijolo de barro bem preservadas, distintos badgirs (torres de vento) e numerosos sítios históricos fazem dela uma destinação imperdível no Iran.
No dia seguinte visitamos Meybod, outra linda cidade do deserto, composta por edifícios de tijolo de barro que datam de 1800 anos atrás. Então seguimos para Na'in para visitar o Castelo de Narenj, um templo de fogo das eras pártia e sassânida, antes de ir para Ispaã. A então deslumbrante capital das dinastias Seljuk e Safavid, Ispaã é reconhecida por sua beleza e esplendor, que deu origem ao provérbio "Ispaã é metade do mundo." Passamos o dia inteiro visitando pontos turísticos, visitando os principais sítios e andando através do bazar histórico através da praça Naqsh-e Jahan, listada pela UNESCO como uma das maiores do mundo.
Nosso último dia no Iran foi explorando a cidade de Kashan, visitando o Jardin Fin, uma tradicional casa com um jardin persa e os Monte Sialk, um zigurate que data do terceiro milênio a.C., antes de retornar para Teerã.
A fantástica hospitalidade do povo iraniano, juntamente à incrível oferta de sítios históricos, lindas paisagens e deliciosa comida, faz do Iran uma das destinações de passeio mais subestimadas. Viajar para o Iran é viajar através do tempo, ainda que não haja tempo o suficiente para conhecer tudo em uma visita. O Iran é um vasto país e eu espero voltar um dia para explorar mais.
Esse artigo foi originalmente publicado na Edição 25 da Ancient History Magazine.