O Natal através das gerações

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Artigo

Mark Cartwright
por , traduzido por Rafhael Sampaio
publicado em 07 dezembro 2021
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A comemoração do Natal tem reunido costumes e tradições por mais de 2 milênios, sendo que algumas dessas são de um período anterior a própria comemoração do Natal. Da troca de presentes até a refinada mesa de jantar do natal. Esse artigo seguirá a história dessa celebração, dos tempos dos Romanos até a era Vitoriana onde nossa visão moderna da comemoração foi estabelecida por ações e pela literatura. Apesar de várias tradições aqui descritas serem comuns em todos os países cristãos, especialmente perto do final da idade média, nós aqui apresentaremos as tradições natalinas sob o âmbito anglo-saxônico.

Silent Night by Viggo Johansen
Noite Silenciosa de Viggo Johansen
Viggo Johansen (Public Domain)

Origens: Satunárlia

Muitas das tradições associadas com o Natal atualmente têm uma longa história de fato, muitas delas sendo até anteriores ao Natal. O cristianismo antigo tinha como objetivo se distanciar de práticas pagãs, com isso, Imperadores Romanos fecharam locais sagrados antigos, proibiram rituais e a prática de jogos que homenageavam deuses pagãos. No entanto, mudar os hábitos das pessoas era muito mais difícil. O festival pagão de Saturnália era muito popular, e suas tradições que resistiram a um milênio foram, em muitos casos, simplesmente transferidas para a comemoração do Natal.

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A folhagem do inverno estava disponível e a vegetação era recolhida para decorar as casas com grinaldas.

A saturnália era um festival Romano que durava uma semana, entre os dias 17 e 23 de dezembro em homenagem ao deus da agricultura Saturno, agradavelmente abrangendo o solstício de inverno, a comemoração era outro evento de significância no calendário pagão. O fato desse festival ser um dos mais festejados feriados romanos deve derivar do papel do Deus Saturno como um comandante do mundo na época dourada de felicidade e prosperidade. O festival, que tem sua existência registrada desde o século quinto a.C., foi descrito no século primeiro a.C. pelo poeta romano Catulo como “o melhor momento”.

Na Saturnália era comum dar presentes como velas, moedas e comida para amigos e família. As pessoas vestiam roupas menos formais, jogavam jogos, aproveitam banquetes e existiam até festa de inversão de papeis. As restrições sociais eram flexibilizadas, atividades como apostar em jogos de azar e aparecer bêbado em públicos eram menos reprovadas. Isso soa bem familiar, não? O festival foi empurrado para o final de dezembro com o passar do tempo, e assim como o Paternon de Atenas teve que comportar uma igreja e uma torre sineira no meio de suas colunas, a Saturnália também teve que se fundir a celebrações cristãs.

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Preparing the Yule Log
Preparação do Yule log
Robert Alexander Hillingford (Public Domain)

Um Natal Medieval

Durante o período medieval (500 até 1500), o Natal ganhou ainda mais força. A festa era o feriado mais longo do ano, durando geralmente doze dias. Da noite da véspera de natal (24 de dezembro) até 12º dia (5 de janeiro), as pessoas tinham um tempo de descanso merecido, que era consequência da pausa nas atividades agrícolas no meio do inverno.

As preparações para o natal começavam tanto nas casas dos pobres como nas dos ricos. A folhagem do inverno estava disponível e a vegetação era recolhida para decorar as casas com grinaldas. Ilex,hera e a erva-de-passarinho sempre foram admiradas pelos celtas e eram associadas a fertilidade e a proteção contra espíritos ruins. Um suporte de aro duplo gigante coberto por ervas-de-passarinho geralmente era colocado com orgulho nas salas em que a pessoas comemoravam a festa. A relação com a fertilidade explica o motivo pelo qual existia uma tradição em que os casais se beijavam perto das plantas que eram respeitadas, após cada beijo o casal deveria pegar uma das frutas brancas da planta. Outra característica das casas no natal e outra conexão com as práticas pagãs era conhecida como Yule log. A prática consistia em colocar um pedaço de tronco de madeira imenso na lareira e deixá-lo aceso durante os doze dias de Natal.

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O objetivo do Natal era, obviamente, comemorar o nascimento de Jesus Cristo. A presença de todos na igreja era esperada, e em certos momentos, até obrigatória. As igrejas locais faziam um grande esforço para prover um serviço de qualidade alta devido a importância da ocasião. Velas eram acesas, retábulos dourados e brilhantes eram abertos (vários desses só eram abertos nesse dia especial). Os corais cantavam e faziam diálogos dinâmicos conhecidos como “troping”. Dessa atividade que se originou a tradição de usar oradores individuais ou atores para performar cenas da história do presépio. Com o passar o tempo, o presépio se tornou uma peça teatral com figurinos e até animais vivos.

Em referência aos três presentes dos Reis Magos, que foram ouro, mirra e incenso, entregues na visita ao bebê Jesus em Belém, as pessoas desenvolveram o costume de dar presentes nessa época. Para os ricos, roupas finas e joias eram a norma; para os menos ricos, comidas caras, pacotes de lenha ou brinquedos de madeira simples como piões e bonecas eram os presentes mais frequentes. Servos, infelizmente, geralmente sofriam pressão social para presentear seus lordes com pães e ovos, e talvez até uma galinha inteira para a festa de natal. Por outro lado, os Aristocratas donos de terra davam presentes para seus empregados que recebiam roupas ou suprimentos de inverno. Presentes eram dados novamento no primeiro dia do ano. Conhecidos como “primeiros presentes” esses presentes tinham o objetivo mostrar a riqueza do patrão no ano seguinte. Outro prenúncio de como seria o futuro era determinado por qual seria sua primeira visita do ano. As pessoas visitavam as casas de uns aos outros no dia do ano novo, e para essa atividade, conhecida como “primeira passada”, era desejado que o convidado fosse homem, com cabelos escuros e desajeitado.

The Three Magi
Os Três Reis Magos
Nina Aldin Thune (CC BY-SA)

Na idade média, como agora, a comida era parte muito importante do Natal. Os ricos tinham que superar suas mesas senhoriais, provendo aos convidados carnes como povão assado, cisnes, cabeças de javali, iguarias como salmão e ostras. A sobremesas eram similares as de hoje em dia: Nozes, laranjas, bolos, pudins de frutas, figos e tâmaras. Para beber, tinha vinho adocicado ou temperado, cidras e cervejas. A grande refeição do Natal geralmente era um almoço um pouco antes da hora. O pano da mesa era trocado após cada prato principal e entretenimentos eram inclusos, como músicas, acrobacias, shows de bobos da corte e peças eram atuadas por menestréis itinerantes. O fato de que essas festas poderiam sair do controle é atestado pelos registros de vigias que eram pagos para garantir que as propriedades não seriam danificadas no período de doze dias do feriado, principalmente nas grandes festas realizadas no dia seis de janeiro, conhecidas como a “décima segunda noite”.

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“A entrega de presentes para relembrar os presentes dos 3 Reis Magos a Jesus continuou, assim como também a ideia de que esse era o momento do ano em que atos de caridade deveriam ser feitos.”

Os pobres aproveitavam entretenimentos mais modestos como jogar cartas, dados e jogos de tabuleiro, cantar músicas, tocar instrumentos musicais, contar histórias folclóricas e desfrutavam de jogos de festas tradicionais como permitir que um dos participantes fosse o “rei do banquete” se ele encontrasse um grão especial no meio de um bolo ou pão - todos os outros participantes deveriam então imitar o “rei” (um jogo de reversão de papel parecido com “lorde do desgoverno” que era praticado na Saturnália). Eventos públicos de entretenimento eram feitos pela igreja e guildas, tais como os shows de marionete, pantomimas e desfiles. Tinha também os mummers mascarados, animadores profissionais que visitavam a casa das pessoas e performavam por tarifas baixas ou uma refeição. Outra tradição medieval duradoura que sobrevive até hoje é o ato de ajudar os menos favorecidos. Os restos do almoço senhorial do dia 25 eram geralmente dados aos pobres, e alguns indivíduos ainda tinham sorte de serem convidados para o próprio banquete, como por exemplo, dois dos servos do lorde.

Um Natal Elizabetano

Com aproximação do fim da Idade Média, o papel dominante da igreja na vida das pessoas começou a diminuir. A presença em certas cerimônias da igreja continuaria a ser obrigatórias por lei, mas a reforma Anglicana e sua aversão a imagens e shows nas igrejas, fez com que o esplendor das cerimônias natalinas diminuísse. Durante o período Elizabetano (1558-1603) os “dias sagrados” continuaram a ser maior fonte de “feriados públicos” (um termo que estava sendo usado pela primeira vez), e existiam ainda mais atividades seculares se tornando tradições populares, por exemplo, o Advento era um tempo de jejum antes do Natal, começando no Dia do Santo André, no dia 30 de novembro. Mas naquele momento a tradição já havia se tornando apensas uma espécie de contagem regressiva para o feriado do natal, que ainda durava doze longos dias. Um número muito maior de crianças já frequentava as escolas, e elas tinham duas semanas de recesso durante a comemoração.

Lady Gathering Mistletoe
Uma senhora colhendo Erva-de-passarinho
Welcomeimages.org (CC BY)

A entrega presentes continuou, assim como a ideia de que esse era o momento do ano onde atos de caridade deveriam ser feitos. A tradição de entregar presentes no primeiro dia do ano continuo a ter força, até mesmo a rainha Isabel Primeira se beneficiava da prática, recebendo joias, vestidos extravagantes e leques de pena de seus cortesões. Indivíduos mais pobres davam geralmente broches, luvas e frutas nesse dia.

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A comida era inegavelmente a parte mais esperada da Festa, os banquetes ficaram tão extravagantes que agora o cozinheiro da casa precisava de muito mais tempo para preparar as comidas. Por essa razão, o feriado começou a ter início na véspera do Natal, no dia 24, geralmente no final da tarde. Nesse momento, o dia 25 já havia se tornado o dia principal do feriado, possuindo as maiores festas e celebrações, ofuscando as comemorações da décima segunda noite.

Em casa coradas por perenes e velas, os banquetes continham muitas variedades de carnes e frutos do mar, toda essa fartura era devida a presença de convidados que não eram comuns durante o ano. Tortas, bolos de frutas, nozes e “brawn” (carne de porco em vinagre) eram populares, assim como o wassail, um tipo de cerveja temperada que era apreciada em uma tigela enquanto músicas eram tocadas. A popularidade de jogos (sobretudo jogos de cartas) e entretenimentos continuou. Regras sociais também continuavam a serem flexibilizadas. Reversão de papeis de gênero, aprendizes tirando vantagem de seus mestres e a presença de dois plebeus agindo como “o Rei e a Rainha do banquete” trouxeram muita hilaridade e oportunidades para as pessoas demonstrarem sua perspicácia. Os dois monarcas eram escolhidos em um jogo que as pessoas deveriam encontrar um pedaço de grão ou uma ervilha no meio do bolo.

Christmas Partiers under the Mistletoe
Festas Natalinas de baixo da Erva-de-passarinho
Xavier Sager (Public Domain)

O Natal era uma oportunidade para se viajar e ver as atrações do Reino. Sem estradas públicas, viajar por cavalos e carruagem era uma maneira lenta e desconfortável; entretanto os mais corajosos poderiam visitar atrações como o navio golden hind de Francis Drake em Londres, que foi o primeiro navio inglês a fazer uma circum-navegação do mundo (1577 até 1580). O brilho das joias da coroa na Torre de Londres era outra atração popular no período Tudor.

O próprio nome "Christmas" (a palavra em inglês que equivale a Natal) começou a ser questionada durante a Reforma Anglicana quando a referência ao catolicismo não era vista com bons olhos pela Igreja Anglicana. O natal também foi seriamente ameaçado pelos Puritanos, Cristãos Radicais que preferiam jejuar no dia da comemoração. Felizmente para todos, a decisão de cancelar a comemoração do Natal por lei foi revertida em 1660. O feriado voltou e reestabeleceu como o mais importante do ano, tomando o lugar da páscoa.

Um Natal Vitoriano

O próximo salto no tempo nos leva até o reinado da Rainha Vitória que foi de 1837 até 1901, um período em que novas tradições que se tornariam parte importante do natal até hoje foram implementadas. Os Vitorianos sentiam uma nostalgia muito grande pelas comemorações natalinas da idade média, assim como hoje vários também romantizam saudosamente o Natal Vitoriano, portanto escritores do século 19 como o Sr. Walter Scott (1771-1832) também admiravam as comemorações passadas. Na prática, o feriado se um tornou um exercício para capturar o intangível mito de uma era dourada passada, um exercício que, de várias maneiras, perdura até a atualidade. Os Vitorianos se certificavam de que os elementos medievais como o culto da manhã de Natal, banquetes, jogos, presentes e pantominas continuariam a ter seus status de atividades essenciais no Natal.

The Jovial Christmas Polka
A polca do Natal alegre
Alfred Concanen (Public Domain)

O marido da Rainha Vitória, Alberto de Saxe-Coburgo-Gota (1819-61), o Príncipe consorte (nome dado ao marido da Rainha), foi quem introduziu a Britânia a tradição da árvore de Natal, que era algo muito popular no seu país de origem. Apesar de não ter sido o primeiro membro real a ter uma árvore de Natal na Inglaterra, desde 1841, o príncipe iniciou uma tradição que rapidamente se espalhou das praças da cidade até as salas de estar de todo o país, a ideia foi difundida pelas revistas ilustradas que revelavam como eram as comemorações privadas da família real. A Erva-de-passarinho continuaria a ser um elemento decorativo importante, mas a árvore, por fim, a substituiu como o ponto central das casas no Natal. A jovem árvore de pinheiro era decorada com velas e presentes pequenos (brinquedos, doces, amuletos e frutas cristalizadas) que eram pendurados nos galhos, os itens então eram destinados a serem distribuídos aos convidados que tivessem seu nome etiquetado no presente.

Cânticos e canções eram cantados envolta do piano da família ou por um pequeno grupo de cantores de hinos natalinos no exterior das casas na véspera de Natal, suas recompensas poderiam ser um ponche ou uma torta quente. O primeiro livro de Hinos de Natal na verdade é de 1521, mas foram os Vitorianos que espalharam essa tradição, coletando hinos já esquecidos e adicionando os seus próprios a novas coletâneas publicadas.

Victorian Christmas Card
Cartão de Natal Vitoriano
Minnesota Historical Society (CC BY-SA)

Um sistema de correio mais eficiente e a introdução do selo Penny Black em 1840 causaram uma maior facilidade no envio de correspondências, assim a tradição de mandar cartões de Natal para amigos e familiares distantes foi introduzida na Inglaterra em 1843. Chegando em todos os tipos de tamanhos e formatos eles eram litografados, coloridos a mão e geralmente exibiam faixas e laços. Eles eram tematizados de várias maneiras, mas um tema muito recorrente era as cenas de neve, o que é um reflexo dos invernos severos que os ingleses tiveram que enfrentar de 1830 até 1850. Natais com neve se tornaram muito mais raros após essa época, mas o cenário já havia sido enraizado no imaginário das pessoas.

Uma imensa variedade de presentes poderia ser vista nas lojas que enfeitavam suas janelas para poder atrair clientes indecisos, várias delas enviavam seus catálogos para os que não podiam visitar o estabelecimento em pessoa. Ao invés de serem feitos em casa, os brinquedos agora eram produzidos em massa, frequentemente importados da Alemanha e Holanda. Deixando de serem coisas simples feitas de madeira, os brinquedos se tornaram engenhosos. Mecanismos de miniatura faziam bonecas e trens andarem . Presentes agora eram dados no dia ou véspera de natal. O dia 26 de dezembro ficou conhecido como Boxing day na Grã-Bretanha, pois esse era o dia em que empregadores davam uma caixa de presentes e sobras para seus servos e empregados.

Scrooge & the Ghost of Christmas Present
Scrooge e o Fantasma dos Presentes de Natal
John Leech (Public Domain)

O maior doador de presentes do Natal é, obviamente, o Papai Noel. A alegre figura com uma longa barba branca que visita as casas na véspera de Natal para deixar presentes para as crianças comportadas teve origem no século quarto, inspirado em São Nicolau de Mira que se deleitava em distribuir presentes, incluindo sacos de ouro. Certa vez, um de seus destinatários recebeu o ouro por sua chaminé e o presente acabou caindo em uma meia, foi assim que o método de entrega do bom velhinho se tornou popular. O dia do Santo é celebrado no dia seis de dezembro, e ainda hoje, em vários países, esse é o dia em que as crianças penduram suas meias na esperança de receber um presente. O Papai Noel são só foi inspirado pelo Santo Nicolau, o personagem também assimilou elementos do “Espirito Natalino” do folclore, algo que justifica seu lado mais alegre e amável, um atributo que as crianças tentam imitar quando deixam uma bebida alcoólica para ele no lado de fora da casa na véspera do Natal. A figura bondosa que doa presentes tem várias faces, do Christkind (Alemanha) até o Santa Claus (Estados Unidos), o último é a versa americana do homem barrigudo de roupa vermelha que foi idealizado em por volta de 1850. E desde então essa é a versão que parece ter ganho o imaginário coletivo.

Houve um crescimento geral do padrão de vida (embora não para todos), e isso significava que carnes especiais eram um requisito do banquete natalino. Rosbife era muito popular no norte da Inglaterra e carne de ganso era a escolha do sul, mas com o passar dos anos, o bom e velho peru de natal tomou conta das mesas natalinas. Até mesmo as famílias de classe média tinham um pássaro grande em suas mesas para o Natal se elas aderissem a certos planos como O Clube do Ganso, onde o cliente pagava um valor semanalmente durante o ano para ter o seu pássaro no final do ano. Junto da ave assada, tinham sopas, ostras, cordeiro, gelatinas, frutas, nozes e qualquer outra iguaria que a família podia conseguir para a refeição mais farta do ano.

O grand finale do banquete era um pudim cozido, comummente chamado de pudim de ameixa por conta de seu ingrediente principal (que foi substituído por groselhas e passas no período Vitoriano). Uma moeda de prata tal como uma moeda de 3 cents era colocada dentro do pudim, em referência a tradição medieval de achar um grão no meio do bolo. O pudim de formato esférico era decorado com um raminho de azevinho e coberto por rum ou brandy para que pudessem ter um brilho ao ser servido. Esse pudim se tornou uma parte tão esperada do natal que até marinheiros, faroleiros e exploradores polares carregavam um desses consigo para poderem comê-los no grande dia. As mince pies eram muito populares, naquele tinham uma mistura de carne e frutas (a primeira foi descartada nas versões modernas). O bolo temperado de frutas dos elizabetanos se tornou o bolo gelado tradicional do Natal, sendo saboreado depois do jantar ou ceia, com talvez um pedaço de queijo ou uma taça de vinho.

Traditional British Christmas Food
Comidas Britânicas tradicionais no Natal
Mark Cartwright (CC BY-NC-SA)

A mesa era decorada com biscoitos de Natal, rolos de papel que duas pessoas tinham que puxar para abrir, e dentro tinham brinquedos pequenos, amuletos, retratos de contorno, doces, chapéus de papel e lemas. Houve também uma mudança de horários, algumas famílias continuaram a comer um almoço natalino, talvez um pouco mais tarde do que em tempos anteriores, já outras tinham sua refeição de Natal a noite no jantar. Após a refeição, tinham danças, cantos, recitações, talvez algum truque de mágica de um algum convidado ou um pouco de lanterna mágica (um aparelho de projeção antigo). Jogos como charadas, cabra-cega, hunt the slipper (tentar passar o chinelo às escondidas) e snap dragon (pegar uma uva passa no meio de tigela cheia de brandy) também faziam parte da comemoração.

Todas essas atividades Vitorianas foram capturadas, celebradas e preservadas para as futuras gerações pelos escritores do período, e nenhum deles exerceu melhor essa função do que Charles Dickens (1812-1870). Seu conto festivo Um Cântico de Natal, com sua história sobre o avarento recuperado Ebenezer Scrooge, se tornou uma parte da tradição de Natal desde sua publicação em 1843.

As tradições, obviamente, continuaram a crescer, com adições como Rudolph a Rena de nariz vermelho, crianças encontrando o Papai Noel em shoppings, calendários de advento de chocolate. Atualmente, as luzes elétricas substituíram as velas nas árvores, muitos dos cartões se tornaram eletrônicos, as igrejas não são tão povoadas como costumavam ser, as Yule log foram substituídas por chocolate, mas as tradições para celebrar o dia do Natal que sobreviveram aos séculos continuam ano após ano a encantar e inspirar como sempre fizeram.

A meia-noite chega. Você a ouve no silêncio da noite de Natal de uma maneira que nunca havia no resto do ano. O grande dia chegou ao seu final. Se você estiver no estrangeiro irá se assustar com a sua solidão. Você irá entender o quão verdadeiro é o Natal, o festival dos lares.

Natal em Londres, G. R. Sims

(Miall,149)

Esse artigo é dedicado à falecida mãe do autor Ruth Cartwright que, alegremente ocupada em seu fogão, se certificava sempre que cada Natal fosse alegre e radiante com a comida natalina.

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Sobre o tradutor

Rafhael  Sampaio
Tradutor freelancer de português para inglês Sou apaixonado por livros e um entusiasta de artigos sobre história Se você precisar de qualquer coisa pode contactar por email email: [email protected]

Sobre o autor

Mark Cartwright
Mark é um escritor em tempo integral, pesquisador, historiador e editor. Os seus principais interesses incluem arte, arquitetura e descobrir as ideias que todas as civilizações partilham. Tem Mestrado em Filosofia Política e é o Diretor Editorial da WHE.

Citar este trabalho

Estilo APA

Cartwright, M. (2021, dezembro 07). O Natal através das gerações [Christmas Through the Ages]. (R. Sampaio, Tradutor). World History Encyclopedia. Recuperado de https://www.worldhistory.org/trans/pt/2-1893/o-natal-atraves-das-geracoes/

Estilo Chicago

Cartwright, Mark. "O Natal através das gerações." Traduzido por Rafhael Sampaio. World History Encyclopedia. Última modificação dezembro 07, 2021. https://www.worldhistory.org/trans/pt/2-1893/o-natal-atraves-das-geracoes/.

Estilo MLA

Cartwright, Mark. "O Natal através das gerações." Traduzido por Rafhael Sampaio. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 07 dez 2021. Web. 21 dez 2024.