História de Svalbard

Artigo

Kim Martins
por , traduzido por Filipa Oliveira
publicado em 14 janeiro 2022
Disponível : Inglês, francês, espanhol
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Svalbard é um arquipélago no Oceano Ártico, no canto noroeste da plataforma de Barentsz. Fica a 800 quilómetros (497 milhas) a norte da Noruega continental e aproximadamente a meio caminho entre o topo da Noruega e o Pólo Norte; faz fronteira a oeste com a Groenlândia (Dinamarca) e com Franz Josef Land (Rússia) a leste. Svalbard (termo nórdico antigo para "Costa Fria") era anteriormente conhecida pelo nome holandês de Spitsbergen ("montanhas irregulares").

Topographic map of Svalbard
Mapa Topográfico de Svalbard
Oona Räisänen (GNU FDL)

O arquipélago Svalbard consiste de nove ilhas principais, sendo Spitsbergen (anteriormente West Spitsbergen) a maior, com uma área de 37.673 quilómetros quadrados (14.545 milhas quadradas). A área total do arquipélago de Svalbard é de 62.700 quilómetros quadrados (24.208 milhas quadradas). O centro administrativo Longyearbyen é o local permanentemente habitado mais a norte do mundo, e assim nomeado em homenagem a John Munro Longyear (1850-1922), que em 1906 iniciou operações de mineração e pesquisa de carvão sendo o proprietário da Arctic Coal Company.

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O alpinista e explorador britânico Sir Martin Conway (1856-1937), que liderou uma expedição em 1896, referiu-se ao arquipélago como "terra de ninguém" ou terra nullius, porque várias nações mineraram, caçaram e exploraram a área desde 1596, a data oficial da descoberta de Svalbard. O arquipélago era uma área comum internacional, não reclamado por qualquer estado-nação até que a soberania norueguesa foi reconhecida pelas negociações de paz de Versalhes no final da Grande Guerra Mundial (1914-1918).

A 9 de fevereiro de 1920, foi assinado em Paris o Tratado de Spitsbergen, entrando em vigor a 14 de agosto de 1925, altura em que Svalbard ficou sob administração e legislação norueguesa.

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Contudo, a descoberta de Svalbard e a sua exploração inicial são debatidas. Devido à falta de fontes históricas e de evidências conclusivas, tendo sido apresentadas várias reivindicações concorrentes e controversas da descoberta do território, incluindo a da Noruega.

Quatro Teorias sobra a Descoberta

A descoberta holandesa de Svalbard em 1596 é reconhecida como fato histórico, mas este é o ponto de vista ocidental e compete com uma reivindicação russa anterior. Há também uma reivindicação nórdica e uma sugestão de que Svalbard foi colonizada durante a Idade da Pedra, por volta de 3000 a.C.. As quatro teorias são:

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Assentamento da Idade da Pedra.

Na década de 1970, dois arqueólogos escandinavos apresentaram a teoria de que os caçadores da Idade da Pedra podem ter erigido um assentamento em Spitsbergen. Em Russekeila, local baleeiro russo do século XVIII, foram encontrados objectos de sílex. Os arqueólogos afirmaram:

Há muito que para os arqueólogos é evidente a possibilidade de achados da Idade da Pedra nas Ilhas Spitsbergen. No nordeste da Groenlândia, as pessoas viveram por longos períodos em condições muito duras; se o homem não tivesse seguido as renas até a Terra de Franz Josef e Svalbard, seria o único lugar no mundo em que tal não aconteceria. (Citado em Bjerck, pág. 97).

Pesquisas de campo identificaram dez locais de pederneira, datando de há c.4500-2500 anos. Os arqueólogos estão divididos sobre se os artefatos eram feitos pelo homem ou se são pedras lascadas naturalmente. Em 1997, uma análise do material lítico (pedra) concluiu que não eram artefatos da Idade da Pedra.

OS ANAIS DA ISLÂNDIA REGISTRAM QUE SVALBARD FOI DESCOBERTO EM 1194 POR MARINHEIROS NÓRDICOS.

Uma rena da espécie Nenet (ártico russo) abatida em Svalbard, em 1911, levou à explicação plausível de que o animal terá cruzado o Mar de Barentsz no gelo flutuante, e os caçadores da Idade da Pedra, também, podem ter seguido a rota da rena pré-histórica.

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O registro arqueológico é, na melhor das hipóteses, fragmentário, e a hipótese do assentamento da Idade da Pedra foi amplamente descartada. No entanto, é concebível que possa ter havido uma presença humana pré-histórica em Svalbard, dado que as condições climáticas eram mais amenas do que hoje em dia. Os povos Inuit que habitavam as regiões árticas e subárticas da Groenlândia foram os primeiros exploradores e cartógrafos do Ártico e podiam ter conhecimento das ilhas do Ártico superior.

A Reivindicação Nórdica ou aTteoria Viking

O nome 'Svalbard' foi mencionado no Islandske Annaler (Anais da Islândia) do século XIV, onde se pode ler o registo que Svalbard foi descoberto em 1194 por marinheiros nórdicos. No Landnámabók ('Livro dos Estabelecimentos', compilado no início do século XII), há uma possível instrução de navegação: "de Langanes, no lado norte da Islândia, são quatro doegrs (horas, cf. infra) mar até Svalbard, no norte de Hafsbotn" (citado em Rudmose Brown, pág. 312).

A localização deste 'Svalbard' é controversa. Hafsbotn era o oceano ao norte da Noruega e a nordeste da Groenlândia. Spitsbergen fica a apenas 1.351 quilómetros (840 milhas) de Langanes, o que significa que, devem estar a referir-se: à costa oeste de Spitsbergen, à ilha de Jan Mayen (uma pequena ilha vulcânica no Oceano Atlântico Norte, 965 quilómetros (600 milhas) a oeste da Noruega), ou mesmo, à costa leste da Groenlândia. Em islandês antigo, doegr pode significar um período de 12 ou 24 horas. Usando a definição de doze horas aponta Jan Mayen como o local mais provável do Svalbard mencionado nos anais.

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O historiador norueguês Gustav Storm (1845-1903) foi o primeiro a sugerir que o 'Svalbard encontrado' registrado nos anais de 1194 era evidência das primeiras visitas nórdicas ao arquipélago. A sugestão ganhou popularidade entre os noruegueses, que estavam nas garras do fervor nacionalista, levando à dissolução da união entre a Noruega e a Suécia em 1905.

Não houve exploração ou levantamento da terra que se dizia ser 'Svalbard', nem outras fontes escritas, mas os nórdicos foram navegadores ousados, tendo descoberto a Groenlândia em 986 e a Islândia em 870, então é possível que os Vikings noruegueses tenham realmente descoberto Svalbard.

Pomor Seafarers
Caçadores Pomor
Yakov Leuzinger (Public Domain)

A Teoria Russa ou o Povo Pomor

No final de 1800, surgiu um argumento para a descoberta russa de Svalbard. Em 1901, traduz-se uma carta real dinamarquesa de 1576, sugerindo que o povo Pomor navegava regularmente para Grumant (o nome russo para Spitsbergen). A população indígena de Pomomerie (a região de Arkhangelskaya Oblast, no nordeste da Rússia, a sul do Mar Branco), designada por povo Pomor, era composta de marinheiros habilidosos, que habitavam a costa do Mar Branco e já caçavam no arquipélago próximo de Novaya Zemlya (também chamado de Nova Zembla) no início do século XVI e possivelmente antes.

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Sabe-se que membros do povo Pomor russo foram para Spitsbergen entre 1715 e 1850 para caçar ursos polares, renas, raposas, morsas e focas, e passavam o inverno em estações de caça. Arqueólogos russos descobriram pelo menos seis sítios em Spitsbergen, com um possivelmente datado de 1545. Tal como acontece com a reivindicação nórdica, a evidência arqueológica é inconclusiva. Historiadores ocidentais opuseram-se ao argumento da descoberta russa porque não há menção do povo Pomor na literatura da caça às baleias, nem os acampamentos Pomor estão marcados em quaisquer mapas antes de 1596.

A Teoria de Willem Barentsz

A descoberta holandesa de Svalbard em 1596 por Willem Barentsz (1550-1597) é a narrativa histórica commumente aceite, embora permaneça a questão controversa: havia pessoas em Svalbard antes dos holandeses o aportarem?

A Descoberta de Svalbard por Willem Barentsz

Willem Barentsz (c. 1550-1597) – anglicizado como Willam Barentsz ou Barents – foi um cartógrafo e navegador holandês, que nasceu em Terschelling, uma ilha no norte da Holanda, e fez três viagens em busca da cobiçada Rota do Mar do Norte para a Ásia. Os holandeses já estavam envolvidos em atividades comerciais no Ártico e com o norte da Rússia durante os séculos XVI e XVII, particularmente a caça à baleia e a pesca do bacalhau, bem como a exploração.

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Entre 1584 e 1668, houve tentativas de encontrar a Passagem do Nordeste acima da Noruega para que as naus mercantes pudessem chegar ao Catai (China) e às Ilhas das Especiarias (as Molucas) mais rapidamente, e esta exploração fazia parte dos planos holandeses de expansão global. Os seus rivais, os britânicos, obtiveram uma carta de incorporação para a Company of Merchant Adventurers de Londres em 1555. Geralmente conhecida como Muscovy Company, em 1556, enviaram o primeiro explorador e navegador do Ártico Stephen Borough (1525-1584) em busca de uma Passagem Nordeste, descobrindo o Estreito de Kara entre Novaya Zemlya e a Ilha de Vaygach, que o encontrou cheio de gelo e foi forçado a voltar para Inglaterra.

A primeira expedição de Willem Barentsz em 1594, encomendada por um grupo de comerciantes de Amsterdão, chegou a Novaya Zemlya, descobrindo as Ilhas de Orange ao largo da costa e mapeando o arquipélago antes de encontrar icebergs e voltar. A segunda expedição em 1595, financiada pelos Estados Gerais (órgão parlamentar holandês), não foi além do Mar de Kara e regressou para casa depois que dois tripulantes terem sido atacados e mortos por um urso polar.

1598 Map of the Three Arctic Voyages (1594–1596) by Willem Barentsz
Mapa das Três Viagens ao Ártico de 1598 (1594-1596), de Willem Barentsz
Willem Barentsz. (Public Domain)

As duas expedições foram consideradas um fracasso. A terceira e última viagem de Willem Barentsz foi financiada pela cidade de Amsterdão, e duas embacações sob o seu comando partiram em maio de 1596. Jacó van Heemskerk (também conhecido como Heemskerck, 1567-1607) e Jan Cornelisz Rijp (falecido em 1613) comandaram as duas naus, com Willem Barentsz como piloto no De Witte Swaen (O Cisne Branco). Depois de descobrir Ilha do Urso (a ilha mais a sul do arquipélago de Svalbard), avistam Spitsbergen a 17 de junho de 1596. Willem Barentsz recebeu o crédito histórico pela descoberta de Svalbard, e o Mar de Barentsz ao longo das costas norte da Noruega e da Rússia recebeu o seu nome. O canto noroeste de Spitsbergen foi cartografado e o brasão holandês foi erguido antes que navegassem novamente para a Ilha do Urso.

Willem Barentsz e Jan Cornelisz Rijp divergiam sobre a direção a tomar, com Rijp desejando explorar Spitsbergen e Willem Barentsz e Heemskerk desejando cruzar o Mar de Barentsz até Novaya Zemlya para cartografar a costa norte. Separaram-se e Willem Barentsz navegou para Novaya Zemlya com a intenção de chegar ao Estreito de Vaygach, mas The White Swan ficou preso no gelo em agosto de 1596, forçando-o e a tripulação a passar lá o inverno.

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Death of William Barents
Morte de William Barents
National Maritime Museum, London (Public Domain)

Gerrit de Veer (c. 1570 a c. 1598), um oficial na segunda e terceira viagens de Willem Barentsz, narrou as expedições e capturou o momento em que eram esmagados pelo gelo:

Por meio do qual tudo o que estava ao redor e dentro dele começou a rachar, de modo que parecia estourar em 100 pedaços, o que era muito assustador tanto de ver quanto de ouvir, e fez com que todos os cabelos de nossas cabeças se eriçassem de medo. (citado em Conway, pág. 15).

A tripulação usou a madeira da embarcação para construir uma cabana de forma a sobreviver às condições extenuantes que eram tão frias que os homens dormiam com balas de canhão aquecidas sob a cama. O abrigo foi nomeado Het Behouden Huys ("casa segura"), e Willem Barentsz e a tripulação viveram lá até junho de 1597, lutaram contra ursos polares e o escorbuto, que ceifaram muitas vidas, incluindo William Willem Barentsz, que morreu a 20 de junho de 1597.

As tentativas holandesas de descobrir a Passagem do Nordeste terminaram com a última viagem de Willem Barentsz, e só em 1878-1879, é que foi navegada com sucesso quando o explorador finlandês-sueco Adolf Erik Nordenskiöld (1832-1901) navegou no Vega por ela.

Indústria Baleeira em Expansão

Curiosamente, Willem Barentsz parece não ter notado os recursos naturais de Svalbard, como o óleo e as peles. Somente em maio de 1607 é que o navegador inglês Henry Hudson (falecido em 1611), no Hopewell, encontrou baleias, morsas e focas nas águas ao redor de Spitsbergen. Henry Hudson não estava a par da descoberta de Svalbard por Willem Barentsz, mas é possível que tenha descoberto Jan Mayen, chamando-o de Tutches (Toques) de Hudson. Tal, originou uma reivindicação de Spitsbergen em 1614 pela Muscovy Company em nome de Jaime I da Inglaterra (r. 1603-1625). Esta afirmação também se baseava na falsa suposição de que o explorador inglês Hugh Willoughby (falecido em 1554) havia descoberto o arquipélago de Svalbard em 1553, na tentativa de encontrar uma rota do nordeste de Europa para o Extremo Oriente.

Em 1612, os holandeses iniciaram as atividades baleeiras no Ártico, estabelecendo o acampamento de Smeerenburg em 1619. Em 1614 o cartel baleeiro holandês estabeleceu o Noordsche Compagnie e competia com a Muscovy Company, ambas enviaram baleeiros para Spitsbergen. A Europa precisava de óleo para lamparinas e sabonetes, e barbatanas (ossos de baleia) para espartilhos, guarda-chuvas e saias de aro. Os holandeses dominaram a indústria baleeira com a ajuda de experientes arpoadores bascos, que ferviam gordura de baleia em grandes potes de cobre nas estações costeiras. Havia mais de 10.000 caçadores em Spitsbergen e entre 200-300 baleeiros no final do século XVII, incluindo franceses, espanhóis, hanseáticos e dinamarqueses. Só os holandeses mataram 1.255 baleias, que renderam 41.344 barris de gordura. Em 1750, a caça franca e febril da baleia na Groenlândia resultou na diminuição da população e no abandono das estações baleeiras, incluindo Smeerenburg.

A Whale Oil Refinery at Smeerenburg, Svalbard
Uma Refinaria de Óleo de Baleia em Smeerenburg, Svalbard
Purchased by the Rijksmuseum Amsterdam with support of the Vereniging Rembrandt (Public Domain)

Os holandeses não reivindicaram a soberania sobre Svalbard após a descoberta de Willem Barentsz, devido ao princípio Mare Liberum de 1609 [declaração que o alto mar estava aberto a todos feita pelo jurista e filósofo holandês Hugo de Groot (1583-1645)] e abriu o caminho para o envolvimento de várias nações na indústria baleeira de Svalbard. Entrentato, também, os dinamarqueses tentaram reivindicar Svalbard quando o Rei Cristiano IV da Dinamarca (r. 1588-1648) argumentou que Spitsbergen fazia parte da Groenlândia. Os ingleses referiram-se a Spitsbergen como Groenlândia num esforço para negar a descoberta holandesa e anexaram Svalbard em 1614 para o Rei Jaime I - uma reivindicação ignorada pelos holandeses.

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Caçadores de Peles e de Focas

Quando os baleeiros abandonaram Svalbard em busca de novas áreas de caça em mar aberto, a próxima fase da história de Svalbard começou com a chegada de caçadores de peles e de focas. Em 1697, os pesqueiros russos, chamados lodyas com uma tripulação de 24 homens, foram vistos nas águas de Spitsbergen, enviados por empresas privadas como a White Sea Fishing Company, aventureiros particulares e até mosteiros. Os caçadores Pomor vieram de Mezen, Archangel, Kola, Kem, Onega e Rala no Mar Branco e caçaram ursos polares, renas, raposas, focas e morsas.

A primeira tarefa de uma equipa de caça Pomor era construir o isbuschka ou quartel-general, e foram escavadas várias estações, completas com cruzes ortodoxas russas, em Svalbard em Whales Point, Gotha Cove e Cape Lee. O grupo Pomor passaria o inverno, sendo substituído por um novo grupo de caça no ano seguinte. Durante a longa noite polar (outubro-fevereiro), enfrentaram o desafio de lutar contra a letargia.

Não se questiona como é que os caçadores se ocupavam durante o inverno. Imagine-se homens pálidos e emaciados, com olhos opacos e sem iluminação, sentados num quartel húmido, iluminado por uma lamparina a óleo? Assim são os caçadores de Archangel em Spitsbergen durante a longa e escura noite de inverno. Como autómatos, cada um vai atando numa corda num número infindável de nós, e novamente os desatam, e assim, ora atando os nós, ora desfazendo-os, passam quase metade do inverno. À primeira vista, este passatempo pode parecer estranho, até ridículo, mas para os caçadores é uma ocupação séria. (Citado em Conway, pág. 241).

O grande acampamento Pomor em Russekeila tornou-se conhecido pelo seu famoso habitante, Ivan Starostin, que passou 39 invernos em Svalbard, morrendo em 1826. O nome Cabo Starashchin é em sua honra.

Na década de 1790, em Spitsbergen havia 2.200 caçadores russos, com 270 embarcações, mas na década de 1820, a caça intensa levou à diminuição dos grupos de morsas em particular, e as empresas comerciais russas não obtinham lucro. Segundo as fontes históricas, a última menção aos caçadores Pomor foi na temporada de caça de inverno de 1851-1852. Consideravam ser cada vez mais difícil competir com os noruegueses dado que chegavam aos campos de caça mais cedo – era uma viagem de 50 dias do Mar Branco a Spitsbergen.

EM 1912, A ARCTIC COAL COMPANY EXTRAÍA 40.000 TONELADAS.

Os noruegueses assumiram o controlo de passar o inverno pela primeira vez em 1795-1796 e frequentemente ocupavam as lodyas abandonados e caçavam nas regiões orientais anteriormente desconhecidas de Spitsbergen, o que conduziu a algumas descobertas. Elling Carlsen (1819-1900), um conhecido caçador e explorador norueguês de focas, circunavegou todo o arquipélago em 1861 e descobriu Kong Karls Land (Ilhas do Rei Carlos), um grupo de ilhas no arquipélago. Em 1898, caçadores noruegueses encontraram uma nova ilha a meio caminho entre Svalbard e Franz Josef Land, que chamaram de Ilha Victoria.

A Corrida do Carvão Ártico e a Industrialização de Svalbard

Embora os ursos polares tenham sido caçados em Svalbard até serem protegidos em 1973, a exploração de carvão no início de 1900 foi a próxima fase da história de Svalbard, particularmente na costa oeste. O carvão foi descoberto em Kings Bay pelo caçador de focas inglês Jonas Poole (1566-1612) em 1610, mas o potencial económico só foi totalmente apreendido com a criação da Arctic Coal Company de Boston, Massachusetts, pelo empresário americano John Munroe Longyear. Em 1906, funda a Long Year City (desde 1926, Longyearbyen), para acomodar os mineiros que trabalhavam para a empresa (principalmente noruegueses) e em 1912, a Arctic Coal Company extraía 40.000 toneladas.

Kings Bay Kull Compagni's Mining Operations on Svalbard - 1918
Operações de Mineração da Companhia Kings Bay Kull em Svalbard - 1918
National Archives of Norway (Public Domain)

Não havia lei sobre quem poderia reivindicar terras e, entre 1898 e 1920, foram feitas mais de 100 reivindicações de posse de terras. Os suecos estabeleceram-se em Svea e os russos em Willem Barentszburg e Pyramiden (fechado em 1988 e agora preservada como uma cidade fantasma da era soviética que pode ser visitada). As duas companhias de mineração britânicas eram a Scottish Spitsbergen Syndicate e a Northern Exploration Company.

À medida que se intensificava a corrida do carvão aumentavam os acampamentos permanentes. Em 1920, a Igreja da Noruega e a empresa estatal norueguesa de carvão, Store Norske Spitsbergen Kulkompani, constrõem a primeira escola em Longyearbyen, a rádio Svalbard começou a transmitir em 1911 e um hotel pré-fabricado (Hotellneset) construído em 1896 é posteriormente usado pela Arctic Coal Company.

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Pyramiden
Pyramiden
Bjoertvedt (CC BY-NC-SA)

Em janeiro de 1920, o maior desastre de mineração de Spitsbergen na mina americana (conhecida como Mina 1) matou 26 mineiros e, nas décadas seguintes, as operações de mineração foram fechadas devido às preocupações ambientais e de segurança. Em 2023, a Store Norske fechará a última mina no arquipélago de Svalbard.

O Silo Global de Sementes

Atualmente, Svalbard é mais conhecido como um lugar remoto no alto Ártico, onde a lei norueguesa exige que os residentes andem armados para se protegerem dos ursos polares e onde não são permitidos enterros ou gatos (devido ao permafrost e à avifauna).

Global Seed Vault in Longyearbyen
O Silo Global de Sementes em Longyearbyen
Subiet (CC BY-NC-SA)

O futuro de Svalbard poderá ser o salvar a humanidade. Em 2008, nas profundezas de uma antiga mina de carvão norueguesa acima do aeroporto de Longyearbyen, construíu-se o Silo Global de Sementes de Svalbard ou o Bunker do Apocalipse (Global Seed Vault ou Doomsday Vault) para proteger milhões de amostras de sementes de colheitas de todo o mundo.

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Bibliografia

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Sobre o tradutor

Filipa Oliveira
Tradutora e autora, o gosto pelas letras é infindável – da sua concepção ao jogo de palavras, da sonoridade às inumeráveis possibilidades de expressão.

Sobre o autor

Kim Martins
A Kim é uma escritora freelancer sediada na Nova Zelândia. Ela tem uma Licenciatura em História e Mestrado em Ciência do Caos & Complexidade. Os seus interesses especiais são fábulas e mitologia, bem como a exploração do mundo antigo.

Citar este trabalho

Estilo APA

Martins, K. (2022, janeiro 14). História de Svalbard [A History of Svalbard]. (F. Oliveira, Tradutor). World History Encyclopedia. Recuperado de https://www.worldhistory.org/trans/pt/2-1922/historia-de-svalbard/

Estilo Chicago

Martins, Kim. "História de Svalbard." Traduzido por Filipa Oliveira. World History Encyclopedia. Última modificação janeiro 14, 2022. https://www.worldhistory.org/trans/pt/2-1922/historia-de-svalbard/.

Estilo MLA

Martins, Kim. "História de Svalbard." Traduzido por Filipa Oliveira. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 14 jan 2022, https://www.worldhistory.org/article/1922/a-history-of-svalbard/. Web. 26 abr 2025.