A Reforma Protestante nos Países Baixos foi uma das mais violentas e destrutivas de qualquer região nos primeiros 50 anos do movimento, que acabou gerando a guerra dos Oitenta anos (1568-1648), e consecutivamente causando uma destruição massiva como também inúmeras mortes mesmo antes daquele conflito através da intolerância religiosa e incapacidade de se chegar a um compromisso por ambos os lados.
A Reforma chegou primeiro nos Países Baixos (Holanda) em meados de 1530 e avançou através dos esforços evangélicos de Melchior Hoffman (I. c. 1495 a c. 1543), originalmente um adepto de Martin Lutero (1483-1546) mesmo antes de adotar o ponto de vista de Huldrych Zwingli (I. 1484-1531) e a posteriori alinhando-se com os anabaptistas. Hoffman defendia o abatimento dos ‘sem Deus’ - identificados não somente como Católicos, mas qualquer seita Protestante que acreditasse diferentemente e eram contrariados (c. 1535) por outro líder Anabaptista, Menon Simons (I. 1496-1561) e suas mensagens de não violência.
Esses dois fatores - os Melquioritas e Menonitas- cada um com diferentes visões da mensagem Cristã, eram somente dois das inúmeras seitas Protestantes nos Países Baixos. (c. 1530-1648), que também incluía os Anabaptistas que não aderiam rigorosamente a um ou outro, os Calvinistas (seguidores de John Calvin, I. 1509-1564), os Testemunhos (que apoiavam os arminianismo de Jacobus Arminius (I. 1560-1609) os Zwinglianos, e outros grupos secundários influenciados por Lutero, Andreas Karlstadt (I. 1486-1541) Thomas Muntzer (I.c. 1489-1525) Martin Bucer (I. 1491-1551) entre outros.
Os Países Baixos foi governado pela Espanha sob o Rei Católico Felipe II (r. 1556-1598), filho de Carlos V, Santo Imperador Romano (r. 1519-1556) que continuou a expandir as políticas antiprotestantes de seu pai. Carlos V tinha trazido a Inquisição aos Países Baixos, e Filipe II outorgou aos inquisidores e magistrados locais um passe livre para identificar e destruir aqueles que se definiam como ‘Heréticos’. Estas políticas foram impostas mais veementemente pelo Cardinal Antoine Perrenot de Granvelle (I. 1517-1586), que liderou a Inquisição até que foi chamado em 1564, na época por Fernando Álvarez de Toledo, o terceiro Duque de Alba (I. 1507-1582) no qual as perseguições junto aos altos impostos e descontamento generalizado do domínio Espanhol levou a Guerra dos Oitenta Anos.
Depois de cem anos de violência, destruição e morte, a grande maioria em nome da religião Católica, o Tratado de Paz de Vestefália (1648) terminou a guerra assim estabelecendo a República Protestante e Independente Holandesa das sete províncias do Norte, enquanto as Províncias do Sul permaneceram católicas e sobre o controle da Espanha. Os anos de violência, destruição e morte que a Guerra dos Oitenta Anos infligiu difere das perseguições dos Protestantes em outras regiões em termos de severidade, número de pessoas mortas, políticas governamentais encorajando as mortes, e fanatismo religioso em ambos os lados.
Seitas Protestantes e o Édito de 1556
As 95 teses de Martin Lutero deram início a Reforma depois que foram publicadas em 1517, mas depois de dez nos, o Luteranismo ainda não tinha um pé nos Países Baixos. Os ensinamentos de Zwingli´s em Zurich na Suíça inspiraram a instauração dos Anabaptistas que foram os primeiros a se inserirem nos Países Baixos, muito e primeiramente pela sua aceitação inicial de visões divergentes e suas insistências sobre o iminente fim do mundo, no qual todos deveriam se preparar. As pregações apocalípticas dos Ministros Anabaptistas atraiu grandes números de convertidos temerosos pelo julgamento das suas almas no Dia do Juízo Final.
Melchior Hoffman compartilhava muito das crenças dos Anabaptistas e finalmente foi batizado na seita no ano de 1530 em Estrasburgo, posteriormente chegando aos Países Baixos e convertendo novos fiéis ao Anabaptismos em Leeuwarden. As execuções dos Anabaptistas nos Países Baixos começou em Leeuwarden em 1531. O iconoclasmos dos Melquioritas resultou na destruição das igrejas e estatuas Católicas entre 1531-1535, com muitos participantes apreendidos ou executados, e uma estimativa de 30,000 Anabaptistas tiveram o mesmo destino entre 1537-1547. O próprio Hoffman foi aprendido durante este tempo, morrendo na cadeia c. 1543, após sua antevisão fracassada do Segundo Advento em Munster em 1533, que em grande parte informou a Rebelião Munster (1533-1534) levando a grande perda de vida no local.
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Em 1535, Menon Simons, em princípio um padre Católico convertido ao Anabaptismo, publicou um trato contra o uso da violência, especialmente de Cristãos contra outros cristãos. Aqueles que aceitaram suas opiniões então se identificaram como Menonitas, na mesma época que os Melquioritas tinham se separado do Anabaptistas convencionais entre outros, assim o seguimento de diferentes líderes foi o próximo passo dado. Em 1555, Carlos V, que vinha tentando controlar e conter as fragmentações ‘heréticas’ nos Países Baixos através da Inquisição, transferiu o problema para o seu filho, que assumiu o controle da região antes de se tornar rei em 1556.. Um dos primeiros decretos de Filipe II foi uma continuidade do ‘Édito de Sangre” de Carlos V de 1550. Emitido em 1556, se lê, em parte:
Ninguém ira imprimir, escrever, copiar, guardar, esconder, vender, comprar ou outorgar em igreja, ruas, ou outros locais, qualquer livro ou escritura feito por Martin Lutero, João Oecolampadius, Huldrych Zwingli, Martin Bucer, John Calvin, ou outros Heréticos reprovados pela Igreja Católica...nem quebrar, nem de outro modo lastimar, a imagem da santa maria, ou santos canonizados, nem mesmo em sua própria casa administrar convocatória ou reuniões ilegais, ou estar presente em quaisquer com as adesões que os heréticos previamente mencionados ensinam, batizam, e forma conspirações contra a igreja Católica e o bem -estar geral.
Além do mais, nós proibimos todas as pessoas comuns a conversarem ou discutirem em relação as escrituras sagradas, abertamente ou em segredo, especialmente em quaisquer temas duvidoso ou difícil, ou em ler, ensinar, ou expor as escrituras a não ser que eles tenham devidamente estudado teologia e tenham sido aprovados por uma universidade conceituada. Ou em pregar em segredo, ou abertamente, ou em entreter quaisquer das opiniões dos heréticos acima mencionados em relação a dor, caso alguém tenha sido visto infringindo quaisquer dos pontos mencionados acima, como perturbadores do nosso estado e do silêncio comum, deveram ser punidos da seguinte maneira...
Que os perturbadores do silêncio comum deveram ser executados, dito que os homens com as espadas e as mulheres a serem enterradas com vida, se eles não persistirem em seus erros, se eles não persistirem, então eles deveram ser executados com fogo, todas as suas propriedades em ambos os casos sendo confiscadas com a coroa...
Nós proibimos todas as pessoas a alojar-se, entreter, fornecer com comida, fogo, ou roupa, ou favorecer com qualquer pessoa ou notoriamente suspeita de ser um herético...e qualquer um falhando em denunciar qualquer um, serão ordenados e responsabilizado as punições mencionadas acima...
Todos que conheçam quaisquer pessoas com traços de heresia estão obrigadas a denunciar e entregar todos eles a todos os juízes, oficiais dos bispos ou outros que possuem autoridade no tema, no risco de serem punidos de acordo a determinação do juiz. Igualmente, todos devem ser obrigados, se souberam de qualquer lugar aonde tais hereges se escondem, de declarar eles as autoridades, no risco de serem considerados cúmplices, e com chances de serem punidos como heréticos eles próprios se forem apreendidos...
O informante, no caso de condenação do suposto herege, deverá ser intitulado na quantia de um e meio da propriedade do acusado, se não mais do que cem libras Flamenga; se for mais, então dez por cento de todo o excesso qualquer homem estiver presente em qualquer convocatória secreta, deverá posteriormente vier a tona e trair seus companheiros membros da congregação, ele receberá perdão total. (Lindberg; Source 11.2, p. 196-197)
O Édito de 1556, como constata claramente, endereçava-se a qualquer seita Protestante, mas primariamente calvinista, estabelecida nos Países Baixos nos anos 1540, espalhando-se rapidamente e adquirindo um apoio enorme. Os Calvinistas tinham chegado em grandes números após as perseguições na França pelo Rei Francisco I da França (Francois I, r. 1515-1547) decretados em 1534 após o caso dos Cartazes, no qual os Calvinistas postaram mensagens anticatólicas em toda a França. Mais iriam chegar nos anos que conduziram e durante as Guerras Francesas de Religião (1562-1598) e assim iriam formar blocos políticos poderosos. Os Menonitas eram também um alvo já que seus pontos de vista pacifista e rejeição em participar de assuntos públicos eram vistos como ameaças ao estado, que colocou uma recompensa na cabeça do Mennos, mesmo assim, ele nunca foi capturado e morreu de causas naturais em 1561.
O édito, postado publicamente em cartazes ao redor da região em agosto de 1556, encorajava traição entre vizinhos, não somente na esperança de ganhos pessoais, mas também em razão de preocupações de segurança de si próprios como também de suas famílias. Se um denunciasse um herético a Inquisição, um era menos provável de ser um suspeito em si de heresia. Mesmo assim, isto não fez nada para parar a propagação de seitas Protestantes (que outorgaram suas Confissões de Fé a Filipe II em 1562) ou a proliferação de pregadores ambulantes, que constantemente atraiam grandes públicos em centros urbanos, campos, fazendas e mercados.
Pregações Acobertadas e Perseguições
Estes serviços religiosos em aberto, liderado em grande parte pelos Calvinistas, veio a ser conhecido como hagenpreken (sing. “hagenpreenk,” sermões acobertados” ou, mais conhecido como, “Pregações acobertadas”). Em um relatório ao novo governo da época de Margarete de Parma (I. 1522-1586, filha ilegítima de Charles V), em 1566, um oficial relatou:
Eu sou forçado a contar sua Alteza que ontem à noite houve duas pregações a mais. A maior tinha 4,000 pessoas. No caminho a Tournai e foi liderado por um padre chamado (ou assim creio eu) Cornille de La Zenne, um filho de serralheiro de Roubaix. Suas crenças o tornaram um fugitivo da justiça por um tempo já. Nós temos medo que assim que a colheita esteja dentro e os celeiros cheios (em dois ou três semanas proximamente) eles tomaram o interior e deixaram as cidades sem comida e famintas. Assim, eles usaram pobreza para forçar as pessoas a lhes seguirem. Eu, portanto, acredito, que ordens deveriam ser dadas o quanto antes para encontrar uma maneira de proibir estas reuniões. Alguns me disseram que certos cavalheiros Franceses estão prontos para ajudar a rebelião traiçoeira assim que vier. Estou esperançoso que nós podemos contar nos nobres dos Países Baixos.
No Domingo 7 de julho de 1566-apesar das regras- houveram mais sermões, desta vez ao meio-dia em Staleendriesche. Milhares de pessoas da cidade e do país se juntaram incluindo muito das pessoas comuns que tinham pouco treinamento na Bíblia e nos Padres da Igreja. Os pregadores falaram que a verdade estava sendo apresentadas e o Evangelho pregado corretamente pela primeira vez. Para provar isso, os pregadores citaram a Bíblia altamente e abruptamente. Eles encorajavam a audiência a verificar o que eles falavam contra o que estava escrito na Bíblia para ver que eles estavam pregando verdadeiramente. (Lindeberg; Fonte 11.5; p. 199)
Neste mesmo ano, o Grande Iconoclasmo (Beeldenstorm,” tempestade de estátua”) foi liberado pelo verão no qual multidões Calvinistas destruíram igrejas Católicas e iconografia. Margarete de Parma tentou confrontar o caos diplomaticamente e costurou um acordo com os líderes Calvinistas, outorgando-lhes sua liberdade de religião em troca da promessa deles de permitir o mesmo acordo aos Católicos. Estes líderes não tinham controle sobre as várias seitas Protestantes; no entanto, todos que discordavam de uma maneira ou outra com si mesmos e só encontravam semelhanças em seu ódio compartilhado com a Igreja Católica, no qual de acordo com suas crenças, era satânico e um inimigo da verdadeira Fé.
O Cardinal Granvelle tinha sido chamado ao redor deste tempo, e então Margarete direcionou os problemas aos stadtholder (administrador) Wiliam o Silencioso (I. 1533-1584, também conhecido como William de Laranja) quem, sendo católico neste período, tinha sido criado por Luteranos e era simpatizante a causa Protestante. O Epiteto “O Silêncio” de Wiliam não tinha nada a ver com a deficiência da fala, mas foi dado pela sua habilidade de manter seus pensamentos com sigo mesmo, especialmente na presença de visões opostas. Tendo sido tanto católico como também Protestante, ele era um grande defensor de liberdade religiosa.
Mesmo assim, antes que William pudesse ter tomado o assunto em mãos, Filipe II já tinha encomendado o Duke de Alba a região. A perseguição de Alba aos calvinistas foi imediata e tão severa que Margarete de Parma renunciou como governadora, não querendo mais nenhuma participação nas atrocidades. As perseguições religiosas de Alba, dando seguimento a agenda da Inquisição, junto ao Édito de Filipe II de 1555, os impostos altos para pagar as guerras estrangeiras, e a negligência evidente da região por parte da Espanha de qualquer outra coisa que não fosse o massacre dos Calvinistas, culminou no gatilho para a Guerra dos oitenta anos em 1568.
Conclusão
William o Silencioso rompeu com a Espanha e o Catolicismo para comandar as forças Protestantes até seu assassinato em 1584, no mesmo período aproximadamente que o Duque de Alba liderou os exércitos Católicos com cidadãos dos Países Baixos que apoiavam um ou o outro. Os Protestantes Holandeses e os Católicos se uniram por um momento breve contra as forças Espanholas quando o último se propôs a saquear cidades, mas, pela grande parte, continuaram matando entre si no nome das suas respectivas visões religiosas. Os Generais do Estado dos Países Baixos já tinham rejeitado o reinado de Filipe II antes do desencadeamento da guerra, mas em 1581, foi oficializado no Ato de abjuração, que lê em parte:
Que todos os homens saibam que, em consideração aos assuntos considerados acima e sob pressão da maior necessidade, declaramos e atestamos por este meio, de comum acordo, decisão e consentimento, que o Rei da Espanha desistiu de seu senhorio, principado, jurisdição e herança dos países, e que determinamos não reconhecê-lo doravante em qualquer questão relativa ao principado, supremacia, jurisdição ou domínio desses Países Baixos, nem usar ou permitir que outros usem seu nome como Senhor Soberano sobre eles após este tempo. (Lindberg; Fonte 11.13, p. 203)
Os Generais do Estado, no conselho de William o Silencioso, ofereceram a coroa ao nobre Frances Francis, Duque de Anjou e Alençon (I. 1555-1584) que a aceitou, mas que permitiu sua própria avareza o conduzir a invadir Antuérpia em 1583, onde ele foi derrotado e acabou retornando a França. A coroa também foi oferecida a Rainha Elizabeth I da Inglaterra (r. 1558-1603) que a rejeitou, mas em contrapartida ofereceu um protetorado incluindo assistência militar. Ao redor deste mesmo período, divisões religiosas continuaram resultando em mais mortes, incluindo o assassinato de William o Silencioso em 1584 por o zelote Católico Balthazar Gerard, que respondia a uma recompensa que Filipe II tinha colocado em William.
Enquanto a guerra seguia seu passo e mais pessoas morriam, Filipe II se recusou a reconhecer o Ato de Abjuração ou qualquer apelação para comprometer a tolerância religiosa.
Apesar de tudo, eu iria me arrepender em demasia ao ver essa tolerância concedida sem limites. O primeiro passo [para a Holanda e Zelândia] precisa ser em admitir e manter o propósito da religião Católica em paz e a se submeterem a Igreja Romana, sem ceder ou permitir, em qualquer acordo o exercício de qualquer outra fé em qualquer cidade, fazenda, ou lugar especial posto de lado nos campos ou dentro de um assentamento. E em nisto não deverá existir nenhuma exceção, nenhuma mudança, nenhuma concessão por nenhum tratado de liberdade ou consciência...Eles deveram abraçar a Fé Católica e a prática de somente isso será permitido. (Lindberg; Source 11.14, p. 204)
Mesmo assim, Filipe II era de longe a única fonte de discórdia e conflito. Mesmo antes do ressentimento Holandês referente ao domínio Espanhol e que acabou desencadeou-se em guerra, as pessoas estavam se matando uma as outras nos Países Baixos sobre conflitos de religião. Durante o período da guerra dos Oitenta Anos conhecido como a trégua dos doze anos (16089-1621) quando as hostilidades entre a Espanha e os Países Baixos deixou de existir, Protestantes lutaram entre si pela religião com diferentes fações que clamavam que a outra tinha traído a visão calvinistas e que assim não eram ‘verdadeiros Cristãos’. Anabaptistas rejeitaram o pacifismo rigoroso dos Menonitas, Calvinistas rejeitaram os Anabaptistas, e ambos rejeitavam os Luteranos.
Apesar que as políticas que os Reis Espanhóis decretavam eram duras e certamente contribuíram a Guerra dos Oitentas Anos, Carlos V, Filipe II, e seus sucessor Filipe III (r. 1598-1621) e Filipe IV (r. 1621-1665) estavam aderindo ao princípio Católico articulado no início da Reforma Protestante contra as reinvindicações de Lutero, e no qual acabou sendo central para a Contra Reforma Católica (1545 c. 1700) mais tarde; se não houver uma única autoridade para poder separar a crença religiosa verdadeira da falsa, então qualquer um pode reivindicar suas verdades particulares como a verdade máxima sem referenciar um padrão objetivo.
Esta reinvindicação da Igreja se provou ser profético nos primeiros cinco anos da publicação das 95 teses de Lutero, enquanto seitas Protestantes separaram-se da sua visão para formar sua própria. Este paradigma era visível na Alemanha tão cedo quanto 1521, e depois se repetiu em outros lugares posteriormente, mas capaz em nenhum outro lugar com uma devastadora perda de vida e de propriedade que nos Países Baixos, no período que vai até e durante a Guerra dos Oitenta Anos.