Os conquistadores espanhóis adquiriram uma duradoura reputação como os maiores caçadores de ouro da história, mas, na verdade, eles foram muito mais bem-sucedidos em obter prata. O ouro extraído das Américas de 1492 a 1560 superou as 100 toneladas, porém a quantidade de prata enviada nas frotas de tesouro espanholas de volta à Europa minimiza bastante este número. Por volta de 1600, 25.000 toneladas de prata tinham sido transportadas para a Espanha.
O processo de conseguir a prata tinha duas fases. Primeiro, os conquistadores roubavam qualquer coisa de valor que encontrassem, sequestravam e torturavam qualquer um que acreditassem ter conhecimento da localização de objetos valiosos. A segunda fase consistia em investigar a fonte do metal, ou seja, encontrar e expandir, através do trabalho forçado, as minas de prata que os governantes dos povos das Américas vinham explorando até então. Minas como a de Potosi, na Bolívia, mostraram-se tão lucrativas que a prata logo superou o ouro como a carga mais valiosa das frotas de tesouro espanhóis que levavam os recursos das Américas para a Europa.
Propriedades e Suprimento
Muitas antigas culturas apreciavam a prata por causa de sua relativa maciez, que a tornava mais fácil de ser trabalhada pelos artesãos, além do fato de que, quando polida, exibia um brilho lustroso. Extraída na antiga Mesoamérica e América do Sul, era bastante valorizada pelas culturas asteca, inca, moche, wari, lambayeque e chimu.
Os conquistadores espanhóis chegaram às Américas na década final do século XV, interessados sobretudo em descobrir ouro, muito mais valioso do que a prata – uma onça [medida de peso equivalente a 28 gramas] de ouro comprava 11 onças de prata em Amsterdam, no século XVI. No entanto, a prata não era desprezada como um segundo prêmio. Os primeiros conquistadores saqueavam qualquer artefato de prata em que pudessem colocar as mãos e os fundiam para criar moedas e barras, que facilitavam o transporte e a divisão do butim. Os povos indígenas acabaram roubados sem piedade, capturados e torturados para revelar esconderijos de metais preciosos. Incontáveis obras de arte, frequentemente de elevado significado religioso para os povos indígenas, foram perdidas para sempre nesta implacável busca por dinheiro vivo. Quando os itens de prata se esgotaram, os conquistadores voltaram-se para a fonte: as minas. As já existentes foram localizadas e exploradas enquanto se descobriam também novas jazidas. Com o tempo, graças aos montantes massivos das minas de prata do México e da Bolívia, foi a prata, e não o ouro, que dominou as meticulosas páginas dos contadores coloniais espanhóis. Por volta de 1540, a prata perfazia mais de 85% dos carregamentos de metais preciosos anuais para a Espanha.
As Minas de Prata do México
Na Mesoamérica, a prata era um material valioso, embora não tanto quanto o ouro, turquesa e jade. Os maias, por exemplo, não tinham nenhuma fonte própria deste metal nas terras baixas. Em 1547-8, as minas dos zacatecas, no México, um rico veio de prata que vinha sendo explorado em pequena escala por este povo, começaram a operar sob controle espanhol. Quem primeiro supervisionou a mineração foi Juan de Tolosa, que, como resultado, se tornou o homem mais rico da Nova Espanha. A mina de Guanajuato, no México Central (aberta em 1550), também trouxe elevados lucros. Para melhor extrair o minério contendo a prata, poços profundos eram necessários, assim como extensos canais de drenagem, um processo trabalhoso que requeria investimento considerável. Como ressaltam os historiadores D. A. Brading e H. E. Cross, "construir um poço profundo custava tanto quanto uma fábrica ou uma igreja" (549).
Refinar o minério de prata significava um novo ciclo de gastos. Uma mina como Sombrerete tinha não menos do que 84 moinhos de moagem (arrastres) para esmagar o minério e 14 fornalhas para extrair a prata. Felizmente para os espanhóis, havia, pelo menos, o conhecimento disseminado de especialistas europeus (especialmente mineradores alemães) sobre como extrair a prata de modo mais eficiente, além de trabalhos publicados, como o de G. Agrícola, intitulado De re metalica (1556). Métodos como o de amalgamamento usando mercúrio foram empregados mas, ainda assim, o montante de prata do minério era relativamente baixo se comparado com os períodos posteriores, em média 1-2 onças por 11 libras (28-56 gramas por 50 quilos). Não era incomum que mais de 30% da prata permanecesse presa ao minério.
Quando o proprietário da mina finalmente obtinha suas barras de prata devidamente empilhadas e prontas para o transporte, ele precisava dar à Coroa Espanhola um quinto do total. As barras eram levadas ao representante real local, que as carimbava como prontas para o envio ao rei da Espanha. A mesma taxa de 20% aplicava-se à prata na América do Sul.
As Minas de Prata da América do Sul
Os incas acreditavam que a prata surgia das lágrimas da deusa lunar Mama Kilya. Dedicaram-lhe um magnífico templo na sua capital, Cusco, coberto com placas de prata batida. O deus do trovão Illapa trazia chuvas e tempestades, e os relâmpagos, segundo se acreditava, provinham da agitação de seus mantos prateados. Por esta razão, geralmente as montanhas que abrigavam minas de metais preciosos dispunham de santuários, por serem lugares sagrados ou huacas.
As minas de Potosi, situadas na região dos Andes, em Cerro Rico (Bolívia) foram descobertas em 1545 por Diego de Huallpa e se mostraram como a mais espetacular fonte única de riqueza para os espanhóis em todo o seu império. Em seu auge, por volta de 1600, o número de minas chegava a 600, que no total rendiam cerca de 9 milhões de pesos anualmente, mais do que todas as minas de prata operantes no mundo à época. O lema da cota de armas de Potosi, ainda que ostensivo, era bastante preciso: "Sou a rica Potosi, tesouro do mundo, rainha de todas as montanhas e invejada por reis" (Sheppard, 89). Elas se tornaram um tal sinônimo de riqueza que emprestaram seu nome para outras minas do Império Espanhol, notadamente as minas de San Luis Potosi, no México (abertas em 1550). Há, também, uma expressão ainda utilizada na língua espanhola, vale un Potosi, significando "vale uma fortuna" e, em português, “potosi” é uma forma figurativa de “grande fonte de riqueza”, ou “tesouro”.
Na década de 1600, a América Espanhola produzia dez vezes a quantidade de prata extraída na Europa. A produção continuou crescendo durante o século XVII, mas os veios progressivamente se esgotaram. Por volta de 1700, as minas existentes produziam somente um quarto do que era extraído um século antes. Graças a novas minas abertas em vários lugares, e o maior investimento na mecanização da mineração, além da melhor conhecimento e disponibilidade de explosivos, a produção de prata nas Américas cresceu novamente no século XVIII.
A mão de obra que extraía a prata das minas era forçada pelo sistema de licença chamado encomienda, que dava ao seu detentor o direito de usar mão de obra local sem pagamento, em troca de oferecer um grau nominal de segurança e a "oportunidade" de ser educado na religião cristã. Como o estado espanhol recolhia um quinto de todos os metais preciosos das Américas, a exploração total de trabalhadores não era desencorajada. Porém, à medida que doenças e más condições de trabalho eventualmente acarretaram um preço alto demais para as populações, uma revisão foi necessária. Substituiu-se então a encomienda por um sistema de baixos salários, o repartimiento, chamado de mita nas colônias da América do Sul. Escravos africanos começaram a ser trazidos para trabalhar nas minas; mais de 100.000 foram enviados somente ao México entre 1521 e 1650, principalmente para compensar a carência de trabalhadores nativos, à medida que as Américas gradualmente se tornavam mais e mais despovoadas.
Minas como as de Potosi levaram ao crescimento das cidades do entorno para abrigar aqueles que labutavam para os senhores espanhóis. Por volta de 1600, Potosi, ainda que situada a mais de 4.000 metros acima do mar, tinha uma população de 160.000. Abrigava a maior população falante de espanhol nas Américas e tornou-se famosa pelas disputas assassinas entre os europeus. A despeito de sua riqueza e facilidade em atrair pessoas, a localização remota de Potosi, a altitude e os riscos das fronteiras nunca a fizeram ser escolhida como um núcleo governamental e comercial pelo governo colonial espanhol. A prata era transportada para portos florescentes, como Buenos Aires, no Rio de la Plata, assim chamado pela prata (plata, em espanhol) transportada em suas águas. O destino de Potosi foi permanecer como uma enorme vila de barracões precários, que prosperou somente enquanto os veios de prata resistiram.
Devido ao massivo número de trabalhadores envolvidos em minas como as de Potosi, indústrias inteiras se espalharam para dar-lhes suporte, como a produção de coca (as folhas eram mascadas pelos mineiros para tornar suportáveis as terríveis condições dos subterrâneos). Os ranchos também proliferaram para fornecer carne para os trabalhadores e mulas para transporte do minério e da prata refinada. Porém, novamente, tanto trigo e grãos eram exigidos para estas áreas industrializadas que as regiões rurais circundantes sofreram com a fome. Para extrair mais prata, o mercúrio era usado no processo a partir da década de 1560, deteriorando ainda mais as condições de trabalho nas minas, amplamente conhecidas como "boca do inferno", cuspindo prata mas engolindo incontáveis vítimas. O sistema de mita só foi abolido em 1821.
O Fluxo de Prata para a Europa e as Filipinas
Um montante nada insignificante da prata extraída nas Américas permanecia no continente. Como um crescente número de europeus se instalavam nas cidades, particularmente nas capitais de México City e Lima, a prata era necessária para comprar mercadorias importadas e para a elite se estabelecer num ambiente cada vez mais industrializado. Ainda que possuíssem terra e encomiendas em torno das minas, a elite preferia a vida urbana, e assim a prata encontrou seu caminho de volta para enriquecer as cidades da América espanhola. Porém, a principal raison d'être do império era extrair riqueza das colônias e, portanto, o grosso da prata destinava-se à Espanha.
Os galeões espanhóis que transportavam estas riquezas operavam em frotas do tesouro anuais, carregadas com tanta prata que passaram a ser chamados em inglês de plate fleets [plate, em inglês, significa prato, e forma uma corruptela com o espanhol plata], ainda que levassem todos os tipos de artigos valiosos, de esmeraldas a pimenta. Em Portobello (ou Puerto Bello), no Istmo do Panamá, encontrava-se o primeiro grande ponto de coleta para a prata extraída das minas de Potosi. A prata era enviada pelos galeões até o Panamá, na costa ocidental do istmo, e de lá por terra, em carregamentos de mulas, para Portobello (que substituíra o porto de Nombre de Dios nesta atividade em 1596). O inglês Francis Drake certa vez descreveu esta extremidade do Império espanhol como "a casa do tesouro do mundo" (Cordingly & Falconer, 15).
Enormes quantidades de prata também cruzavam o Oceano Pacífico nos galeões de Manila, que rumavam para as colônias espanholas nas Filipinas (1565-1815). Estes galeões retornavam com mercadorias valiosas como especiarias e seda, que seriam então despachados das Américas para a Europa. A prata enviada para as Filipinas seria usada para adquirir tais mercadorias. Em seu auge, cada galeão de Manila levava em média 2 milhões de pieces of eight [moeda antiga da Espanha] de prata por viagem.
O enorme fluxo de ouro e prata americanos para os mercados europeus causou hiperinflação, um conceito não exatamente compreendido por economistas da época. Os preços de commodities aumentaram mais de 400% ao longo do século XVI e as exportações espanholas também sofreram, após a correspondente elevação dos salários para se equiparar ao aumento do custo de vida. Além disso, a Coroa esbanjava seus metais preciosos, geralmente para garantir empréstimos bancários, antes mesmo que as frotas do tesouro anuais chegassem à Europa.
A assim chamada segunda onda de prata espanhola no século XVIII foi melhor administrada e novamente ajudou a melhorar a situação financeira da Espanha. Como o historiador J. H. Parry observa:
O fluxo de prata cresceu gradativamente; irrigou o solo econômico da Velha e da Nova Espanha, enriquecendo Cádiz e Barcelona. Junto com o ouro do Brasil, ajudou a financiar o início da revolução industrial da Europa setentrional; e desde que a demanda mais elevada e os melhores preços estavam no Oriente Distante, também ajudou a financiar as operações comerciais e militares da Companhia das Índias Orientais e agilizar o comércio marítimo europeu por todo o mundo (313).
A prata destinada aos cofres seguros do governo e dos ricos investidores na Espanha precisava passar por muitos riscos. Os contrabandistas não perdiam uma oportunidade de desviar as barras de prata antes que o estado pudesse cobrar seus impostos. A corrupção disseminava-se entre os contadores nas minas; entre os encarregados de reunir e transportar a prata para os portos principais, como Acapulco, Panamá e Buenos Aires; e, por fim, entre os contramestres responsáveis pelo envio através do Atlântico.
Então havia a ameaça vinda do mar - os bucaneiros, piratas e corsários de todas as nacionalidades, ansiosos por interceptar os galeões espanhóis que navegavam pelos oceanos. Em 1579, por exemplo, Francis Drake capturou o Nuestra Señora de la Concepción [Nossa Senhora da Conceição], ao longo da costa do Peru, que transportava tesouros que incluíam 26 toneladas de barras de prata. Em 1628, uma força holandesa de 31 navios, liderada pelo almirante Piet Pieterszoon (1577-1629), capturou uma frota inteira de navios de tesouro espanhóis a caminho de Havana. Hein conseguiu se apropriar de 46 toneladas de prata, além de vários artigos valiosos. Tempestades eram uma ameaça ainda maior e causaram muitos naufrágios, como o do Nuestra Señora de Atocha [Nossa Senhora de Atocha], que carregava uma carga avaliada em 400 milhões de dólares, incluindo 20 toneladas de prata, quando afundou em 1622, ao largo da costa da Flórida.
Ainda assim, a prata continuava chegando, apesar destas dificuldades, o que deixou a Coroa espanhola confiante demais, tanto na permanência deste fornecimento quanto em suas capacidades militares, levando o império a estender-se além dos seus limites. Isso levou a uma situação irreversível de negligência e carência de recursos. Mesmo toda a riqueza de Potosi não poderia financiar os enormes custos de manutenção dos exércitos espanhóis através da Europa, especialmente quando eram derrotados. Em meados do século XVII, o império havia atraído os olhares cobiçosos de outras nações europeias, dispostas a desafiar o domínio da Espanha para ter direito ao seu quinhão. Estados como a França, Países Baixos e a Grã-Bretanha, ocupados em construir seus próprios e lucrativos impérios, usaram suas marinhas poderosas e mais modernas, com efeitos devastadores, para redefinir o mapa mundial, tanto o Velho quanto o Novo.