Fortificações de um tipo ou de outro foram usadas no Japão desde os tempos antigos, mas no período de 1576 a 1639, um estilo novo e diferenciado de castelo foi criado. Ao invés de serem usados para batalhas, os castelos eram estruturas impressionantes que buscavam reforçar o poder e o prestígio da pessoa que o construiu. O exemplo mais famoso desse estilo de arquitetura que perdura até hoje é o Castelo Himeji na Prefeitura de Hyogo.
O Período dos Estados Beligerantes
O período do começo da Guerra Onin, em 1467, até o colapso do bakufu (governo militar) Muromachi, em 1573, é conhecido como período Sengoku (período dos Estados Beligerantes). Como o nome indica, foi uma época de guerra civil. Com o colapso da autoridade central, famílias de guerreiros poderosas lutaram umas com as outras por território e poder. Em japonês, elas são chamadas de sengoku daimyo.
Com o passar do tempo, o número de sengoku daimyo gradualmente diminuiu conforme as famílias mais bem-sucedidas eliminavam as mais fracas. Para um daimyo ser bem-sucedido, era necessário não só ter um bom exército, mas também um sistema administrativo bem organizado que conseguia usar com eficiência os recursos humanos e naturais sob seu controle. Nos anos 1560, Oda Nobunaga (1534-1582) se tornou o daimyo mais forte do Japão e, em 1573, ele foi para Heiankyo (Kyoto) e destituiu o bakufu do período Muromachi.
Oda Nobunaga e o Castelo Azuchi
Para aumentar seu poder e prestígio, Nobunaga construiu um grande castelo em Azuchi, perto das margens do Lago Biwa no centro do Japão. O castelo levou três anos para ser construído e foi finalizado em 1579. O Castelo Azuchi era diferente de qualquer outra fortificação já construída no Japão. Os fortes anteriores eram pouco mais que muros de pedra e paliçadas. Eles geralmente ficavam em topos de montanha remotos e vantajosos estrategicamente, além de serem ocupados apenas em tempos de guerra. Em contrapartida, o Castelo Azuchi ficava no topo de uma pequena colina e era uma residência.
O Castelo Azuchi possuía várias particularidades que mais tarde viriam a caracterizar todos os castelos construídos nesse período. Em primeiro lugar, tinha muros enormes de cinco a seis metros de largura, feitos com blocos de granito cuidadosamente alinhados sem o uso de argamassa. Os destroços deles podem ser vistos até hoje. Em segundo lugar, a torre principal era muito mais alta que qualquer outra fortificação anterior. Em japonês, a torre principal de um castelo é chamada de tenshu. Isso normalmente é traduzido para o português como “torre do castelo” ou “torre central”. No entanto, os tenshu eram muito diferentes das estruturas dos castelos europeus. Em Azuchi, o tenshu era uma construção de sete andares feita de madeira e com as paredes externas cobertas de gesso. O andar mais alto era um octógono. Uma série de beirais suspensos e frontões protegiam as paredes da chuva. Havia camadas alternadas de frontões arredondados e pontudos; janelas com pontas; berloques pendurados nos beirais; e golfinhos ornamentais montados no telhado como um amuleto contra o fogo. O interior possuía salas de audiência, câmaras privadas, escritórios e uma tesouraria, e era decorado de modo extravagante, inclusive com pinturas do renomado artista Kano Eitoku (1543-1590). Infelizmente, após o assassinato de Nobunaga em 1582, o castelo foi destruído e, entre historiadores modernos, há muito debate sobre como o Castelo Azuchi realmente era.
Discute-se muito que esse novo tipo de castelo foi construído devido à introdução das armas de fogo ao Japão, vindas da Europa no século 16. Porém, esse parece não ser o caso. As armas de fogo disponíveis na época simplesmente não eram efetivas o suficiente para mudar a natureza da guerra. Aparentemente, Nobunaga construiu o Castelo Azuchi sobretudo por razões políticas, a fim de reforçar suas aspirações de se tornar o governante do Japão. Embora o castelo tivesse muitas fortificações, elas não eram destinadas ao uso militar de fato. Elas serviam para mostrar seu poder. Esse objetivo também é refletido na posição do castelo, que fica ao leste de Kyoto, em um ponto em que três estradas importantes que conectavam a capital ao leste do Japão estavam localizadas.
Após a morte de Nobunaga, Toyotomi Hideyoshi (1537-1598), um de seus daimyo subordinados, concluiu em grande parte a reunificação do Japão. Hideyoshi também construiu vários grandes castelos, incluindo alguns em Osaka e Fushimi (Momoyama), perto de Kyoto. Em 1598, Hideyoshi morreu, mas, antes de sua morte, ele criou o Conselho dos Cinco Regentes para agir como governante até que seu filho de oito anos, Hideyori, tivesse idade para assumir. Porém, os membros de conselho rapidamente se dividiram em dois grupos. Um apoiava Hideyori, enquanto os outros apoiavam um daimyo rival chamado Tokugawa Ieyasu (1543-1616). Em 1600, eles começaram a lutar e, na Batalha de Sekigahara, Ieyasu saiu vitorioso. Em 1603, ele fez o imperador o nomear xogum, e isso o permitiu criar seu próprio governo. O período de 1573 a 1600 da história japonesa é chamado de período Azuchi-Momoyama. Recebeu esse nome dos castelos que Oda Nobunaga e Toyotomi Hideyoshi construíram.
Tokugawa Ieyasu e o Castelo de Edo
O segundo período na história da construção de castelos japoneses começou em 1600, com a Batalha de Sekigahara, e terminou em 1615, com a morte de Toyotomi Hideyori e a destruição do Castelo de Osaka.
Em 1590, quando ainda era subordinado de Hideyoshi, Ieyasu mudou sua sede do Japão central para a região Kanto. Lá ele começou a construir um castelo em uma pequena vila pesqueira chamada Edo (atual Tóquio). Depois de se tornar xogum, ele rapidamente expandiu a construção e criou o maior castelo da história do Japão. O Castelo de Edo não era apenas grande, mas também elaborado. O terreno era dividido em várias cidadelas cercadas por fossos e grandes muros de pedra. Nesses muros, várias torres e guaritas foram construídas. Era possível chegar em cada cidadela através de pontes de madeira com portões de cada lado. A circunferência do perímetro externo era de aproximadamente 16 quilômetros. A cidade de Edo cresceu ao redor do castelo. Após a destituição do xogunato Tokugawa em 1868, o Castelo de Edo se tornou a casa da família imperial e foi renomeado para Palácio Imperial. O terreno do Palácio Imperial atual é apenas de cerca de um terço do tamanho do terreno do castelo original. Porém, seus fossos e muros de pedra são um lembrete do quão grande o Castelo Edo era.
Além do Castelo de Edo, Ieyasu construiu muitos outros castelos, como o Castelo de Nagoya e o Castelo de Nijo em Kyoto. Naquele período, outros daimyo também construíram castelos. Entre eles Kato Kiyomasa (1562-1611), que construiu o Castelo de Kumamoto, Ikeda Terumasu (1565-1613), que construiu o Castelo Himeji, e Mori Terumoto (1553-1625), que construiu o Castelo de Hagi. Cidades se desenvolveram ao redor dos castelos, e essas “cidades-castelo” (jokamachi) se tornaram uma das características mais marcantes do desenvolvimento urbano no período Edo.
Nos anos 1610, Tokugawa Ieyasu tomou várias medidas para consolidar seu controle sobre o país. No entanto, ele sentia que Toyotomi Hideyori ainda estar vivo era uma ameaça. Em 1614, ele decidiu atacar o Castelo de Osaka, com o objetivo de matar Hideyori. A primeira campanha não foi decisiva, mas em negociações subsequentes, Hideyori concordou em preencher os fossos externos do castelo e demolir parte dos muros em troca do fim do cerco e de uma promessa de paz. Porém, no ano seguinte, Ieyasu voltou atrás no acordo e atacou novamente. Ele destruiu o castelo e enfim aniquilou o clã Toyotomi. Esta foi a única vez em que um desses grandes castelos foi realmente atacado.
O Fim da Construção de Castelos
O último período de construção de castelos foi de 1615 até 1638. Imediatamente após a destruição do Castelo de Osaka, Ieyasu implementou várias normas com o objetivo de fortalecer o controle do clã Tokugawa sobre o país. Algumas delas impactaram diretamente a construção de castelos. Dali em diante, os daimyo só tinham permissão para ter um castelo em seu território e todos os outros deviam ser demolidos. Castelos existentes só podiam ser consertados com a aprovação dos Tokugawa e a construção de novos era proibida. Isso significa que, nesse período, os únicos projetos de construção de castelos eram conduzidos pelo próprio clã Tokugawa, incluindo a reconstrução do Castelo de Osaka e o desenvolvimento contínuo do Castelo de Edo, que foi finalizado em 1638.
O Declínio dos Castelos
Com a paz e a proibição de novas construções, os castelos entraram em declínio. Durante o período Edo, muitos daimyo passaram por dificuldades financeiras, e castelos eram caros de manter e tinham pouca utilidade prática. Com o tempo, terremotos, erosão, raios, tufões e incêndios destruíram dúzias de tenshu e centenas de portões e torres de vigia. Em 1657, por exemplo, um incêndio destruiu o tenshu do Castelo de Edo. Em 1660, a queda de um raio atingiu um depósito de pólvora no Castelo de Osaka e o castelo pegou fogo. Em 1665, outro raio caiu e incendiou o tenshu. A mesma coisa aconteceu com o Castelo de Nijo em 1750 e, em 1788, um incêndio em toda a cidade destruiu várias outras construções do castelo. Quando castelos eram danificados de tal forma, dificilmente eram reconstruídos.
Nos anos 1860, um movimento para destituir os Tokugawa e restabelecer o governo imperial surgiu. Isso levou a batalhas na Guerra Boshin, mas os castelos tiveram pouca importância. Assim como no Castelo de Edo, a maioria dos guardas se rendeu sem lutar ou após uma breve resistência. As poucas regiões em que os castelos foram seriamente defendidos eram, em geral, distantes do centro do conflito e só precisavam lidar com forças de ataque limitadas. Apesar disso, alguns castelos foram destruídos nas batalhas. Por exemplo, o tenshu do Castelo de Osaka foi queimado após terem se rendido.
Castelos Depois da Restauração Meiji
Após a Restauração Meiji, o sistema político Tokugawa foi abolido. Os daimyo perderam suas posições, e a posse de vários castelos foi passada para o novo governo central. Como os castelos não tinham mais nenhuma função, eles passaram a ser vistos como símbolos de uma era passada e muitos foram demolidos ou simplesmente abandonados. Em 1872, o governo fez um levantamento para decidir quais mereciam ser mantidos e de quais iriam se desfazer. O novo Ministro do Exército tomou posse de vários castelos, acreditando que eles poderiam ser usados para fins militares no futuro. Alguns quartéis do regimento passaram a se instalar no terreno dos castelos. Essa conexão com os castelos serviu como propaganda, pois ajudava a promover a ideia de que o exército japonês moderno havia herdado diretamente as tradições dos guerreiros do país, apesar de esse não ser realmente o caso.
Com a passagem do tempo, as pessoas que nasceram antes da Restauração Meiji gradualmente morreram, e o período Edo passou a ser visto como um período histórico de pouca importância para a política contemporânea. Conforme isso acontecia, os castelos passaram a serem considerados um elemento importante do patrimônio cultural do Japão. Historiadores começaram a pesquisar sobre eles e houve um movimento para preservar os castelos que restaram. Refletindo esse novo espírito, em 1931, o tenshu do Castelo de Osaka foi reconstruído com concreto.
O tenshu dos castelos de Hiroshima e Nagoya foram destruídos durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Porém, no período pós-guerra, conforme a economia japonesa se recuperava, houve um movimento para reconstruir mais tenshu. Além disso, os castelos, especialmente aqueles que mantinham suas construções originais, se tornaram fontes de orgulho para os japoneses e atrações turísticas populares. Para turistas estrangeiros, nenhuma viagem ao Japão está completa sem visitar um castelo. Os de mais fácil acesso são os que estão localizados em cidades grandes, mas os tenshu dos castelos de Nagoya e Osaka são reconstruções. Há doze castelos com o tenshu original. São eles:
- Maruoka (1576, Prefeitura de Fukui)
- Matsumoto (1596, Prefeitura de Nagano)
- Inuyama (1601, 1620, Prefeitura de Aichi)
- Hikone (1606, Prefeitura de Shiga)
- Himeji (1609, Prefeitura de Hyogo)
- Matsue (1611, Prefeitura de Shimane)
- Marugame (1660, Prefeitura de Kagawa)
- Uwakima (1665, Prefeitura de Ehime)
- Bitchu-Matsuyama (1684, Prefeitura de Ehime)
- Kochi (1747, Prefeitura de Kochi)
- Hirosaki (1810, Prefeitura de Aomori)
- Matsuyama (1854, Prefeitura de Ehime)
Entre esses castelos, Himeji e Matsumoto normalmente são considerados os mais impressionantes.