Os nórdicos podem ter governado partes do norte de Gales no começo do século XI, especificamente em Anglesey e Gwyned, embora não se saiba até que ponto. O nórdico antigo teve relativamente pouco impacto na língua galesa, e os nomes de lugares influenciados por ele ou derivados dele se restringem principalmente às regiões costeiras, onde os ataques eram mais comuns.
Os ataques vikings em Gales
A primeira fase dos ataques vikings em Gales começou em c. 850. A Crônica dos Príncipes (Brut y Tywysogion) relata um ataque em Gales neste ano, em que um galês, Cyngen, "foi estrangulado por pagãos" (Brut y Tywysogion, 13). A Crônica também registra um ataque a Mona em c. 853, o nome latino para Anglesey, sendo que a ilha foi destruída por pagãos. Rhodri Mawr, o governante de Gwynedd, liderou uma resistência bem-sucedida contra os nórdicos e, por volta de 855-856, matou um líder viking chamado Orm, de Dublin. Em 887, os Anais de Ulster registram que Rhodri "veio às pressas dos estrangeiros sombrios para a Irlanda" (334). Estes provavelmente faziam parte do mesmo grupo (descrito em anais irlandeses como "estrangeiros sombrios"), ao qual Orm, morto por Rhodri alguns 20 anos antes, pertencia. Rhodri retornou um ano depois, em 878, para derrotar os vikings em Anglesey. Depois, no mesmo ano, tanto ele quanto o filho Gwiard foram mortos pelos saxões que tentavam se expandir para Gwynedd. Os Annales Cambriae também registram um ataque em 895.
Considerando a atividade dos vikings cuja base era Dublin, no norte de Gales, e a alegação do escritor galês Asser de que os filhos de Rhodri Mawr dependiam dos escandinavos de York, surgiu, por volta de 870, a oportunidade para o domínio viking no norte de Gales. O interesse viking por Anglesey fica ainda mais evidente com a atividade do líder viking Ingmund. Expulso de Dublin em c. 902 por razões desconhecidas, Ingmund chegou em Anglesey com seus homens e tentou estabelecer uma base. Os Annales Cambriae registram que ele capturou um lugar chamado Maes Osfeilion, mas antes de poder estabelecer uma base permanente em Anglesey, ele foi expuslo pelo rei galês e, junto com seus homens, recebeu permissão para se estabelecer perto de Chester, na Inglaterra. Também por volta dessa época, c. 902/903, os Annales Cambriae registram que outro filho de Rhodri Mawr, Merfyn ap Rhodri, foi morto por pagãos.
Uma segunda fase de atividade viking em Gales começou em c. 950 quando os vikings se viraram para as terras baixas da costa. No final da metade do séxulo X, monastérios em Penmon e Caer Gybi em Anglesey, Tywyn (em Gwynedd), St. David, Clynonog Fawr, St. Dogmaels em Pembrokeshire, Llanbadarn Fawr em Ceredigion e Llantwit Major e Llancarfan no Vale de Glamorganforam foram atacados. Em 989, Maredudd ab Owain, tataraneto de Rhodri Mawr, pagou um grupo de vikings uma moeda por cabeça em troca de galeses capturados e tomados como escravo durante os ataques.
Ocasionalmente havia cooperação entre os vikings e galeses, contanto que estes os pagassem o suficiente por seus serviços. Por volta de 990/991, Maredudd contratou um grupo de vikings dispostos a se juntarem a ele num ataque a Glamorgan. Em 991, a obra Brut registra um ataque em Anglesey por pagãos de novo, desta vez na Quinta-feira de Ascensão do Senhor. Em 999, os vikings "despovoaram" Menevia (uma diocese católica no sul de Gales) e mataram o bispo Morgenau. Foi também neste ano que Maredudd ab Owain, "o rei mais celebrado dos bretões", morreu. Em 1000, o reino de Dyfed foi atacado pelos vikings (Brut y Tywysogion, 33).
Uma terceira fase de ataques e atividade vikings parece ter começado no século XI. Durante esse período, a presença viking no Sétimo Estuário (desembarcando no Canal Bristol entre o sudoeste da Inglaterra e o sul de Gales) aumentou. Um registro dessa época relembra como o conde Eilaf, um danês a serviço do rei Cnut, pilhou Glamorgan no sul de Gales. Os clérigos do monastério de St. Cadog na vila de Llancarfan fugiram com as relíquias sagradas e o relicário de St. Cadog apenas para serem atacados de novo, agora em Mamhilad, em Monmouthshire; um dos atacantes aparentemente até danificou o relicário com seu machado.
Nesse período, os galeses às vezes usavam os vikings como aliados ou mercenários e usavam eles em suas próprias batalhas políticas. Disputando o trono de Deheubarth, Gruffudd ap Llywelyn (1100-1063), o rei de Gwynedd e Powys se viu diante de um ataque de uma frota danesa liderada por um colega galês chamado Hywel ab Edawin em 1044 em Aber Tywi. Foi a derradeira tentativa de Hywel de manter seu reino depois de ter sido expulso de Deheubarth por Gruffudd um ano antes. O Brut registra que Gruffudd foi capturado pelos "pagãos de Dublin" (Brut y Tywysogion, 41).
Vikings e galeses lutaram juntos de novo em c. 1055 quando uma aliança entre Gruffudd e Aelfgar, conde do reino anglo-saxão da Anglia do Leste que fora exilado sob acusações de traição, saqueou Hereford com a ajuda de uma frota de 18 navios vikings vindos de Dublin (Lloyd, 365). Eles marcharam sobre a cidade em 24 de outubro. Foi uma derrota desastrosa para os defensores, liderados por Ralph, o tímido, conde de Hereford (d. c. 1057); eles foram rapidamente expulsos, e as forças conjuntas dos galeses, anglo-saxões e vikings pilharam e destruíram a cidade. A nova catedral, construída pelo bispo Athelstan, foi roubada, e sete dos clérigos foram mortos. Os cativos e o saque foram levados de volta para Gales e a cidade deixada em chamas.
Por fim, o poema galês do século X Armes Prydein Fawr (A Grande Profecia da Britânia) fala de um futuro no qual os galeses ("homens de Cymry, no poema") se unem aos irlandeses, escoceses e nórdicos de Dublin para expulsar os anglo-saxões da Britânia. De acordo com o poema, os mercenários saxões originais, liderados pelos irmãos Hengist e Horsa, tinham agido de má fé quando traíram Vortigern, rei dos bretões, o qual havia solicitado a ajuda deles para se defender contra os pictos da Escócia. Vortigern dara terra aos dois na ilha de Thanet, supondo erroneadamente que eles iriam embora quando o problema com os pictos se resolvesse. Em vez disso, os irmãos convidaram mais saxões para se estabelecerem ali e exigiram um aumento da parcela mensal deles. Quando Vortigern recusou, eles se revoltaram e formaram o primeiro reino saxão em Kent.
A obra Armes Prydein Fawr alega que o imposto cobrado dos galeses pelos anglo-saxões era injusto e que estes não tinha nenhum direito às terras da Britânia, seja por herança ou por lei, considerando a traição de Hengist e Horsa à Vortigern. Enquanto o poema proclama um futuro em que os irlandeses, galeses, escoceses e nórdicos se reconciliam, ele não tem nenhum interesse nas metas de qualquer grupo senão os galeses. Simplesmente declara que tal aliança acontecerá, e o resultado final é o fim dos impostos e a expulsão dos anglo-saxões da Britânia.
Nomes de lugares nórdicos & assentamentos em Gales
O nome de lugares nórdicos preservado em Gales são pontos de navegação visual, tipicamente ao longo da costa, ou nomes de assentamentos ao estilo esncandinavo combinados com nomes pessoais. Para o primeiro grupo, o sufixo -holmr (que significa "ilhazinha" ou "ilha") é comum, representado em nomes de lugares como Pristholm, Grassholm, Skokholm, Gateholm, Burry Holms, Flat Holm e Steep Holm. Flat Holm era conhecida pelos anglo-saxões como Braden Relice, cujo significado é "cemitério amplo". Segundo As Crônicas Anglo-Saxãs, a nobre danesa Gytha Thorkelsdóttir (c. 997-1069), mãe do último rei anglo-saxão Harold Godwinson (c. 1022-1066), usou Flat Holm como um refúgio depois da conquista normanda da Inglaterra antes de partir para St. Omer na França. Mais de um século antes, em 914, um grupo de vikings liderados pelos condes Hróadl e Óttar fugiram de Flat Holm para Steep Holm (Steapan Relice ou "cemitério íngreme" para os saxões), onde muitos morreram de fome.
Nomes de lugares como Fishguard, the Skerries (sker significa "pedra isolada"), Emsger, Tusker, The Stacks (stakkr significa "pilar em formato de pedra"), Stackpole, Midland (do nórdico antigo meðal ou "middle" e -holmr), e Orms Head (ormr significa "cobra") também são de origem nórdica. Anglesey, Bardsey, Caldy, Skomer (skálm significa "lado de um", e -ey), Ramsey e Lundy preservaram o final -ey, o nórdico para "ilha".
Alguns exemplos de nomes de assentamentos ao estilo escandinavo juntamente com nomes pessoais são Furzton, Haroldston e Yerbston em Pembrokeshire. Esses nomes são a junção de um nome pessoal escandinavo e a terminação anglo-saxã -tun. Nomes como Goultrop, Hasguard, Wolf's Castle e Scollock de Pembrokeshire também podem indicar uma influência nórdica. Embora nomes de lugares nórdicos de regiões costeiras como Ardsey, Anglesey e Orme's Head tenham sido incorporados no inglês, seus nomes galeses, Ynys Enlli, Môn e Penygogarth, respectivamente, permanecem intactos. O vocabulário galês foi dificilmente influenciado pelo nórdico antigo, e a pequena relação entre nomes galeses dessas regiões e os nomes nórdicos sugere pouco envolvimento nórdico com a população galesa nativa.
Evidências arqueológicas
Comparado à Inglaterra e Irlanda, há poucas descobertas arqueológicas sobre os nórdicos em Gales, refletindo um menor grau de atividade viking. Ainda assim, certas descobertas apoiam o que sabemos dos registros históricos e dos nomes de lugares. As cinco braçadeiras de prata encontradas em Red Wharf Bay são um exemplo. É pouco provável que elas tenham sido depositadas por escandinavos e/ou tinham uma função econômica ou eram usadas para conferir status a recipientes pela troca de presentes. Sugere-se que a atividade do líder viking Ingmund, em Anglesey, levou diretamente à deposição e não-recuperação dessas cinco braçadeiras.
Onze tesouros de prata nórdicos foram encontrados em Gales, provavelmente depositados entre 850 e 1030. Dos dois encontrados em Bangor, Gwynedd, um provavelmente foi depositado depois de 925 e contém uma mistura de moedas e pedaços de prata. Isso pode indicar um movimento de metais do leste-oeste ou oeste-leste. Há também descobertas de uma espada de um guarda encontrada por um mergulhador na costa de Pembrokeshire, em Small Reef. A guarda inferior é composta de latão e prata e representa vários animais, alguns semelhantes a cobras.
Quatro possíveis cemitérios escandinavos da Era Viking foram localizados, todos ao longo da costa. Dois deles, Talacre, em Flintshire, e Benllech, em Anglesey, contêm esqueletos e objetos funerários. O terceiro é visto como um contexto de um par de estribos do final do século IX e começo do X em St. Mary Hill no Vale de Glamorgan, enquanto o quarto é um achado de lança e machado do final do século X ou começo do XI.
Escavações feitas pelo Museu Nacional de Gales também revelaram o local de um assentamento fortificado na costa de Anglesey em Llanberdrgoch. Esse assentamento se ligava a outros ao redor do Mar da Irlanda em trocas sociais e econômicas. Artefatos encontrados no local são típicos do estilo marítimo nórdico ou irlandês, enquanto outros são do tipo irlandês nativo. A descoberta de pedaços de prata demonstra uma economia de metais ativa, ao passo que itens voltados para o adorno pessoal têm semelhanças com aqueles encontrados em Dublin, Meols, York e Whithorn.
Legado
Enquanto Gales sofreu uma série de ataques a suas regiões costeiras ao decorrer da Era Viking, não houve nenhum assentamento viking permanente. Os líderes vikings, como Ingmund e Orm, podem ter tentado estabelecer uma base em Anglesey, mas enquanto os vikings na Irlanda tinham Dublin, tal centro não existia em Gales. O nome de certos lugares, sobretudo na costa, apontam para uma influência nórdica, mas o nórdico antigo não teve um impacto duradouro no galês.