A Revolução Industrial Britânica (1760-1840) testemunhou um grande número de inovações técnicas, como as máquinas a vapor, que resultaram em novas práticas de trabalho, que por sua vez trouxeram muitas mudanças sociais. Mais mulheres e crianças trabalhavam do que antes; pela primeira vez, os habitantes de vilas e cidades superaram os do campo; as pessoas se casavam mais jovens e tinham mais filhos; e a dieta da população melhorou. A mão de obra tornou-se muito menos qualificada do que antes e as novas instalações fabris se transformaram em locais insalubres e perigosos. As cidades sofriam com a poluição, a falta de saneamento e a criminalidade. A classe média urbana se expandiu, mas ainda havia um fosso amplo e intransponível entre os pobres, a maioria dos quais composta por trabalhadores não qualificados, e os ricos, que passaram a ser avaliados também por seu capital e bens e não mais apenas pela posse da terra.
Urbanização
A população da Grã-Bretanha aumentou dramaticamente no século XVIII, a tal ponto que o primeiro censo nacional ocorreu em 1801. Repetido a cada década seguinte, o censo mostrou resultados interessantes. Entre 1750 e 1851, a população da Grã-Bretanha aumentou de 6 milhões para 21 milhões. A população de Londres cresceu de 959.000 em 1801 para 3.254.000 em 1871. A população de Manchester passou de 75.000 em 1801 para 351.000 em 1871. Outras cidades testemunharam um crescimento semelhante. O censo de 1851 revelou que, pela primeira vez, mais pessoas viviam em vilas e cidades do que no campo.
Com mais jovens se encontrando no confinado ambiente urbano, os casamentos passaram a acontecer mais cedo e a taxa de natalidade aumentou em comparação com as comunidades rurais (nas quais também havia elevação, mas com menor intensidade). Por exemplo, "na área urbana de Lancashire, em 1800, 40% dos jovens de 17 a 30 anos eram casados, em comparação com 19% na área rural. Na Grã-Bretanha rural, a idade média do casamento era de 27 anos; na maioria das áreas industriais, 24 anos; e, nas regiões mineiras, cerca de 20 anos" (Shelley, 98).
A urbanização não significou o fim do espírito comunitário nas vilas e cidades. Com muita frequência, as pessoas que moravam numa mesma rua se uniam em momentos de crise. As comunidades em torno de minas e fábricas têxteis revelavam-se particularmente unidas no que se referia aos pertencentes à mesma profissão, cujo espírito comunitário e orgulho despertavam em atividades como as minas de carvão ou fábricas. Os trabalhadores também se reuniam para formar clubes que permitiam economizar nas excursões anuais, geralmente para beira-mar.
A vida se tornou mais confinada nas cidades que cresciam nas imediações das fábricas e regiões de mineração. Várias famílias eram obrigadas a compartilhar a mesma residência precária. "Em Liverpoool, durante a década de 1840, 40.000 pessoas viviam em porões, com uma média de seis moradores em cada um" (Armstrong, 188). A poluição se tornou um problema sério em muitos locais. As condições precárias de saneamento - poucas ruas dispunham de água corrente ou esgotos e os banheiros sem descarga precisavam ser compartilhados entre diferentes moradias - resultavam na disseminação de doenças. Em 1837, 1839 e 1847 houve epidemias de tifo. Em 1831 e 1849, irromperam epidemias de cólera. A expectativa de vida aumentou devido à melhoria na dieta e novas vacinações, mas a mortalidade infantil podia se elevar em alguns períodos, algumas vezes superando 50% das crianças até os cinco anos de idade. Somente com a Lei da Saúde Pública de 1848 os governos começaram a assumir a responsabilidade pelas melhorias em termos de saneamento e, mesmo assim, os conselhos de saúde locais demoravam a colocar as medida em prática. Outro efeito da urbanização foi a ascensão dos crimes menores. Os criminosos ficaram mais confiantes em escapar da captura no crescente anonimato da vida urbana.
As cidades se tornaram concentrações de pobres que sobreviviam da caridade dos mais afortunados. Crianças vagueavam pelas ruas pedindo esmolas. As que não tinham lares ou empregos, se fossem garotos, acabavam sendo treinados como Shoe Black - engraxates que trabalhavam nas ruas. Estes miseráveis recebiam esta oportunidade das organizações de caridade para que não tivessem de ir para as infames workhouses. A workhouse surgiu em 1834, com a Poor Law Amendment Act. Estas instituições funcionavam com o objetivo deliberado de ser um local terrível, que fizesse pouco mais do que manter seus habitantes homens, mulheres e crianças vivos, na crença de que qualquer caridade adicional simplesmente encorajaria os pobres a não procurar por empregos remunerados. A workhouse [casa de trabalho] representava o que o nome sugeria - trabalho, de fato o mais tedioso possível, com tarefas tipicamente desagradáveis e repetitivas, como quebrar ossos para a fabricação de cola ou a limpeza das instalações. A despeito de todos estes problemas, a urbanização continuou, de forma que, por volta de 1880, somente 20% da população britânica vivia em áreas rurais.
A Vida dos Trabalhadores
Homens
Os trabalhadores passaram a ter mais oportunidades do que nunca durante a Revolução Industrial, graças ao boom na mineração, fábricas mecanizadas, construção naval e as ferrovias, com suas estações e projetos de construção. Vários destes empregos não requeriam especialização, no entanto, e aqueles que possuíam habilidades em setores como carpintaria, tecelagem e criação de cavalos acabaram substituídos por máquinas. Os homens também passaram a enfrentar a crescente competição das mulheres, bem mais baratas em termos de salários. Quem conseguia trabalho garantia um salário estável, mas os locais de trabalho mecanizado podiam ser perigosos, com atividades geralmente tediosas e repetitivas. O sistema fabril, no qual os trabalhadores se concentravam apenas numa parte específica do processo de produção, trazia muito pouco senso de realização quanto ao produto final, ao contrário do sistema manual, no qual se fabricava um produto completo.
Os sindicatos surgiram então para proteger os direitos dos trabalhadores, mas acabaram banidos por lei entre 1799 e 1824. Mesmo na década de 1830, muitos empregadores insistiam que os novos contratados assinassem uma declaração prometendo que não se tornariam associados de um sindicato. As instituições mais bem-sucedidos representavam trabalhadores especializados, como os engenheiros, que podiam custear a contribuição coletiva para que o sindicato dispusesse de funcionários atuando em tempo integral em defesa dos associados. Neste período, os sindicatos não representavam mulheres ou crianças.
A Gallery of 30 Industrial Revolution Inventions
Mulheres
Com muita frequência, as mulheres desempenhavam as mesmas tarefas que os homens nos locais de trabalho, pois eram mais baratas e poucas máquinas requeriam de grande força física para operar. A maioria das mulheres nas fábricas tinha menos de 30 anos de idade e a maior parte delas ainda se achava na adolescência. "Uma pesquisa britânica realizada em 1818 descobriu que as mulheres representavam pouco mais da metade dos trabalhadores na indústria têxtil de algodão" (Horn, 57). Tais números eram ainda maiores nas fábricas escocesas. Além disso, em Manchester, por exemplo, "a trabalhadora de fábrica mais bem paga recebia o equivalente a um quarto do maior salário de um homem" (Horn, 59).
Nas minas, empregavam-se as mulheres para carregar cestas pesadas de carvão na cabeça para carrinhos de transporte, o que geralmente significava caminhar na água o dia todo. Apenas com a aprovação da Lei de Minas, em 1842, ficou proibido o emprego de mulheres, meninas e meninos com menos de 10 anos de idade para trabalhar no subsolo. No curto prazo, muitas mulheres perderam seus empregos e as famílias com filhas sofreram graves dificuldades financeiras como resultado dessas reformas.
Mais positivamente, durante a Revolução Industrial, as novas possibilidades de emprego resultaram em maior independência para as mulheres em relação à que desfrutavam nas tradicionais comunidades rurais. As mulheres jovens conquistavam independência financeira de seus pais mais cedo e, dado o aumento do contato social, passaram a ser mais seletivas na escolha dos maridos (assim como os homens, é claro). Além disso, na década de 1850, “as mulheres casadas também ficaram um pouco mais propensas a ter filhos e a minimizar o espaço de tempo entre os nascimentos” (Horn, 5).
Crianças
As crianças trabalhavam nos mesmos turnos de 12 horas que os adultos, mas recebiam um salário muito menor (80% menos do que os homens e 50% menos do que as mulheres). As crianças, muitas vezes com apenas 5 anos, mas em média a partir dos 8 anos de idade, realizavam tarefas específicas que os adultos não conseguiam, como transportar carvão através de poços estreitos de minas ou escalar máquinas em fábricas para coletar resíduos de algodão. De 1800 a 1850, as crianças compunham entre 20-50% da força de trabalho no setor de mineração. Nas fábricas, elas representavam cerca de um terço da mão de obra britânica.
As crianças eram enviadas diretamente por seus pais ou encontravam trabalho por conta própria. Havia também um sistema semelhante a um contrato de aprendizagem, no qual os pais recebiam dinheiro da paróquia em troca de colocar seus filhos como aprendizes numa fábrica. Tratava-se de uma prática comum e apenas em 1816 estabeleceu-se um limite de 64 km na distância máxima para o deslocamento das crianças até o local de trabalho.
Na agricultura, as crianças trabalhavam como sempre, cuidando do gado e realizando qualquer tarefa servil de que fossem fisicamente capazes. Com o tempo, as crianças passaram a ser empregadas em grupos agrícolas, enviados pelas paróquias para realizar tarefas sazonais, como ajudar na colheita.
Educação
A substituição da educação infantil pela jornada de trabalho representava uma escolha feita pelos pais para suplementar a magra renda familiar. Havia algumas escolas rudimentares, como as de aldeia, escolas dominicais e (apenas a partir de 1844) as ragged schools [literalmente, escolas maltrapilhas ou irregulares, voltadas para alunos carentes, que não precisavam estar uniformizados], que se concentravam nos três Rs: leitura, escrita e aritmética [Reading, wRiting e aRithmetic]. Mesmo as escolas mais baratas custavam um penny por dia, um fardo nada insignificante para uma família trabalhadora. A qualidade dos professores variava bastante e a sala de aula geralmente ficava superlotada, já que a única renda dos docentes vinha das mensalidades e, portanto, eles tentavam matricular tantos alunos quanto o espaço permitisse.
Alguns empregadores ofereciam educação a seus trabalhadores infantis e adultos para fins de alfabetização. No entanto, para a população em geral, o ensino certamente ficava em segundo plano em relação ao trabalho: "pelo menos metade das crianças em idade escolar nominal trabalhava em tempo integral durante a Revolução Industrial" (Horn, 57). A educação obrigatória para crianças de 5 a 12 anos e as instituições necessárias para fornecê-la não apareceriam até a década de 1870. Os índices de alfabetização melhoraram no século XIX, um desenvolvimento ajudado pela disponibilidade de livros mais baratos, graças à economia de escala proporcionada pelas máquinas de fabricação de papel e pelas impressoras. A alfabetização permitiu que as pessoas aproveitassem o sistema postal de baixo custo (Penny Post) que surgiu a partir de 1840. A leitura também foi estimulada pela disponibilidade de jornais diários baratos no final do século XIX.
As Classes Baixa, Média e Alta
Para os ricos e poderosos, a propriedade da terra, como sempre havia sido, permaneceu uma característica definidora da elite social. Em 1876, 95% da população não tinha propriedade de terras e, em consequência, o grupo de grandes proprietários tornou-se mais concentrado do que nunca. No entanto, havia outra característica definidora da elite, além da terra, durante a Revolução Industrial: o capital. Os mais abastados mantinham sua riqueza investindo diretamente em empresas e financiando novos negócios e inventores com empréstimos, em troca de uma participação futura em quaisquer lucros, além de comprar ações de empresas de transporte fluvial, ferroviárias e de construção naval. Os bancos privados tornaram-se uma característica do novo e proeminente setor financeiro, que ajudava a quem tinha dinheiro a aumentar suas fortunas.
Abaixo dos proprietários de terras e investidores capitalistas ricos havia empresários que conquistaram grande poder graças à total ausência de intervenção governamental em seus negócios. Mesmo quando as leis finalmente foram aprovadas, a partir da década de 1830, limitando as atividades destes empresários, as consequentes restrições em termos de expediente máximo e regulamentos de saúde e segurança raramente se tornavam realidade, devido à crônica falta de fiscais. Não havia salário mínimo ou vinculação dos salários à inflação e os empregados deparavam-se com a sempre presente ameaça de demissão imediata. Em resumo, os empresários enriqueceram, enquanto os trabalhadores esforçavam-se mais do que nunca e ainda assim ficavam relativamente mais pobres.
O fosso se ampliou entre aqueles situados no topo e os da base da pirâmide social. Os trabalhadores fabris, por exemplo, tinham poucas habilidades transferíveis e, assim, estavam limitados ao seu nível de atuação. No passado, um tecelão manual podia economizar, talvez por muitos anos, para instalar seu próprio negócio com seus próprios empregados, mas este método de subir na escala social tornou-se muito mais difícil de concretizar. Para competir com as fábricas maiores, requeria-se um grande investimento em maquinário, algo muito distante das possibilidades da classe trabalhadora. Os pequenos produtores rurais também tiveram seu número reduzido, pois os valores de arrendamentos aumentaram e a mecanização favorecia a economia de escala, o que resultou em propriedades rurais maiores e em menor número.
Havia a possibilidade de ascensão através do acesso à educação, mas isso requeria um investimento disponível para poucos. A aprendizagem continuava a ser um meio para que as crianças conseguissem um emprego melhor, mas, novamente, com as pesadas taxas exigidas antecipadamente, e os vários anos de trabalho e estudo não remunerados que se seguiam, nem todos podiam fazer essa opção. Alguns, como Robert Owen (1771-1858), proprietário de várias fábricas, ascenderam da posição humildes aprendizes para se tornarem grandes industriais, mas tratava-se de exceções que comprovavam a regra. Deve-se destacar também que a maioria dos inventores durante a Revolução Industrial recebeu uma boa educação, na maioria das vezes até o nível universitário.
A profissão e o status social certamente tinham relação direta com a saúde durante a Revolução Industrial. Em 1842, um médico de Leeds, Dr. Holland, coligiu a expectativa de vida de diferentes grupos sociais. Ele descobriu que a expectativa de vida média dos empresários e das classes altas era de 44 anos, em comparação com 27 anos para os lojistas e apenas 19 anos para os trabalhadores – mais baixa do que nunca.
A classe média urbana cresceu – cerca de 25% da população em 1800 –, mas muitos se mudaram do centro das cidades, cada vez mais apertados e sujos, para novas propriedades nos subúrbios, muitas vezes com jardins. Profissionais como engenheiros, cientistas, advogados, entre outros, podiam se dar ao luxo de contratar criados para cuidar de seus filhos, manter a casa arrumada e cozinhar refeições. As classes médias compravam produtos de lojas novas e elegantes, como os showrooms de Josiah Wedgwood (1730-1795) em Londres. A partir da década de 1810, a nova iluminação pública, que usava gás de carvão, tornou as ruas mais seguras à noite e, assim, restaurantes, teatros e outros estabelecimentos de entretenimento floresceram. As classes médias, além dos lojistas e artesãos mais prósperos, podiam se dar ao luxo de mandar seus filhos para a escola ou empregar tutores particulares.
O alvorecer do período vitoriano, a partir de 1837, testemunhou um forte apoio público da classe alta e média para "melhorar" as classes mais pobres, fazendo com que trabalhassem mais e vivessem vidas "mais limpas". De fato, esse moralismo muitas vezes condescendente havia começado anteriormente, com o movimento da escola dominical, em 1780, e da Sociedade da Escola Dominical, em 1785. Havia uma ligação estreita entre religião e filantropia, uma vez que a maioria dos reformadores sociais era composta de cristãos não conformistas. Em 1811, fundou-se a Sociedade Nacional de Promoção da Educação dos Pobres. Esta instituição e outras organizações filantrópicas semelhantes demonstram que houve algum tipo de reação por parte das classes médias, intelectuais e artistas contra o uso indiscriminado da mão de obra neste novo mundo industrializado de fábricas e cidades superlotadas.
O padrão de vida aumentou para a maioria das pessoas durante a Revolução Industrial, em média cerca de 30%, mas apenas a partir da década de 1830 isso começou a se refletir na experiência das classes mais baixas. A situação dos mais pobres tornou-se visível para o resto da população através do crescente interesse em jornais, panfletos e literatura. Obras de arte como a pintura The Age of Innocence (A Era da Inocência, 1788), de Joshua Reynolds, e o romance Oliver Twist (1837), de Charles Dickens, ajudaram a promover novas crenças, segundo as quais devia-se proteger as crianças e oferecer aos adultos pobres oportunidades de melhorar suas condições de vida ou, pelo menos, a de seus filhos. Infelizmente, as reformas, investimentos e instituições necessárias para alcançar esses objetivos só entrariam em vigor de maneira efetiva após a Revolução Industrial.