A Batalha de Colmar (58 a.C.) foi um dos primeiros confrontos das Guerras Gálicas, no qual César derrotou um exército liderado pelo líder germânico Ariovisto.
Em 58 a.C., Júlio César tinha invadido a Gália Central. O pretexto era o plano dos helvécios de migrar para a Aquitânia, algo que o general romano considerava inaceitável. Após vencer os invasores, César recebeu um pedido de ajuda para combater os guerreiros suébios de Ariovisto, que estavam na Alsácia. De acordo com César, que trouxe esta informação sobre eventos anteriores na sua obra As Guerras Gálicas (1.31), inicialmente havia 15.000 guerreiros, convidados pelos sequanos, que por sua vez sentiam-se ameaçados pelo éduos. Os germanos tinham derrotado os éduos de forma decisiva numa batalha em Admagetobriga, a qual parece ter ocorrido em Março de 60 a.C. (Cícero, Cartas a Ático, 1.19.2). Desde então, com a chegada de reforços, seu grande número - incluindo mulheres e crianças - alcançava agora 120.000 pessoas. Eles demandavam terras dos sequanos.
César decidiu interferir. Os éduos eram seus aliados e, se quisesse conquistar a Gália, não poderia haver germanos criadores de problemas a oeste do Reno. Ao mesmo tempo, era uma situação embaraçosa, já que, enquanto cônsul, em 59 a.C., ele acertara um tratado com Ariovisto, que recebera inclusive o honorífico status de amigo (amicus). Após negociações infrutíferas, César marchou para Besançon, a capital dos sequanos, que ocupou antes que Ariovisto pudesse tomá-la.
Ele deu então algum tempo de descanso ao exército, tentou obter mais informações, organizou suas linhas de suprimentos e dirigiu-se então para a Alsácia através das Montanhas Vosges (talvez pela rota atualmente chamadas D486/D417), evitando a passagem Belfort. A alguma distância do Reno (15 milhas, conforme As Guerras Gálicas, 1.53), os dois exércitos se encontraram. O local exato não foi identificado até então por achados arqueológicos, mas deve ter sido ao norte da moderna Colmar. A estratégia de Ariovisto foi superior a princípio: ao instalar seu acampamento na linha de suprimentos romana, ele forçava os romanos a combater, mas, ainda assim, se recusou a formar para a batalha por vários dias, fazendo com que os inimigos – instalados em dois acampamentos – ficassem famintos.
Finalmente, porém, Ariovisto convenceu-se de que os romanos estavam suficientemente exaustos e a batalha aconteceu. O relato de César é nossa principal fonte de informações. A tradução em inglês é de Anne e Peter Wisemann, com adaptações.
Júlio César, As Guerras Gálicas, 1.51-52
No dia seguinte, deixando ao que me parecia guarnições suficientes nos dois acampamentos, formei todas as minhas tropas auxiliares à frente do acampamento menor (na ala esquerda), bem à vista do inimigo. Meus legionários estavam em desvantagem em números em comparação com os germanos, então eu queria usar os auxiliares para dar uma demonstração de força. Com as legiões dispostas para a batalha em três linhas, marchei diretamente para o acampamento inimigo.
Agora, finalmente, os germanos foram forçados a sair com suas tropas. Eles fizeram uma formação por tribos, em intervalos regulares - Harudos, Marcomanos, Tríbocos, Vangiões, Nêmetes, Sedúsios e Suébios. Eles então dispuseram as carroças e vagões atrás de suas linhas para tirar qualquer possibilidade de fuga. Nesta barreira incluíram as mulheres que, chorando e com as mãos estendidas, imploravam aos seus companheiros que não as deixassem se tornar escravas dos romanos.
Coloquei cada um de meus cinco legados no comando de uma legião, e meu questor à frente da remanescente [...] Eu mesmo iniciei a luta da sua ala direita, porque tinha notado que este era o ponto mais fraco da linha inimiga. Quando o sinal foi dado, as tropas fizeram uma carga tão impetuosa contra o inimigo, e eles correram em nossa direção de forma tão veloz e repentina, que não houve tempo de atirar os javelins. Eles foram deixados de lado e a luta passou a ser corpo a corpo, com espadas. Os germanos, porém, rapidamente adotaram sua formação habitual de falange e suportaram nossos golpes. Muitos homens jogaram-se contra o muro de escudos, arrancaram-nos das mãos dos inimigos e os golpearam de cima para baixo.
Na ala esquerda, a linha dos germanos foi desfeita, mas, à direita, com a pura força dos números, eles pressionavam nossos homens. O jovem Públio Crasso [filho do triúnviro Marco Licínio Crasso], que estava no comando da cavalaria e, portanto, capaz de se mover mais facilmente do que os oficiais lutando na linha de frente, viu o que estava acontecendo e enviou a terceira linha para apoiar nossas tropas em dificuldades. Assim, a batalha ficou novamente a nosso favor.
Os inimigos deram meia volta e fugiram sem parar até chegar ao Reno, cerca de 15 milhas de distância. Lá alguns poucos, confiando em suas forças, fizeram o melhor que puderam para cruzar o rio a nado, ou acharam botes e, assim, conseguiram se salvar. Ariovisto foi um deles; ele encontrou um pequeno barco encalhado na margem e escapou. Os restantes foram alcançados pela cavalaria e mortos. (Júlio César, As Guerras Gálicas, 1.51-52)
Comentário
Há outro relato da batalha, escrito por Cássio Dio (História Romana, 38.48-50). Ele difere da história de César num ponto importante: Dio conta que, no dia anterior à batalha, os romanos formaram para o combate, mas retornaram ao acampamento quando os inimigos se recusaram a sair do acampamento. Após retornarem, foram repentinamente atacados pelos germanos, que conseguiram chegar a uma das fortalezas. Por causa deste sucesso, que César parece encobrir em seu relato, Ariovisto deve ter acreditado que poderia aceitar a batalha com segurança no dia seguinte. O relato de Dio pode ou não ser correto.
Se foi ou não, César obteve seu objetivo: os germanos foram expulsos da Gália, que os romanos poderiam agora continuar a conquistar. Ele conseguiu, além disso, milhares de escravos para vender e a fama de ter derrotado os germanos, o que o colocava em pé de igualdade com Caio Mário.