Embora a expectativa de vida fosse mais baixa na Grécia e Roma da Antiguidade, muitas pessoas sobreviviam até a idade avançada. Aqueles que atingiam a velhice tendiam a acumular riqueza e poder político. No entanto, as sociedades do antigo Mediterrâneo também costumavam ser hostis aos visivelmente idosos e enfermos. A experiência da velhice na Antiguidade e a proporção em que os idosos eram marginalizados pela sociedade dependiam da riqueza, gênero e classe social.
Chegando à Velhice na Antiguidade
Ao contrário da crença popular, as pessoas no mundo antigo não tinham uma expectativa de vida extremamente curta. Embora a expectativa média de vida no mundo antigo seja estimada entre 20 e 30 anos, as taxas muito altas de mortalidade infantil distorcem as estatísticas. Quase todos os que sobreviviam à infância viviam até a meia-idade, e não era incomum que as pessoas chegassem aos 60 e 70 anos. No entanto, antes da medicina moderna, a expectativa de vida continuava a ser mais curta do que nos dias atuais e os problemas de saúde mais debilitantes. Karen Cokayne estima que aproximadamente 1,6% dos romanos atingiam 80 anos de idade, e apenas 0,05% atingiam os 90.
Na Antiguidade não havia uma definição estrita de velhice ou idade formal de aposentadoria. A transição da meia-idade para a velhice variava conforme as condições gerais de saúde e vida social das pessoas. Na Grécia e Roma antigas, considerava-se o início da velhice por volta dos 60 anos para os homens e cerca de 50 anos para as mulheres. Essas idades correspondiam ao momento em que as pessoas começavam a ter dificuldade em realizar trabalho físico e quando as mulheres normalmente atingiam a menopausa. Dispensava-se os homens do serviço militar e cívico obrigatório após essa idade. Estas mudanças sinalizavam o fim da idade de procriação e a capacidade de atuar no trabalho agrícola, momento em que as pessoas podiam adotar outros papéis na comunidade, com novas responsabilidades sociais.
[A idade avançada] traz a renúncia ao trabalho manual, árduo, conturbado e às atividades perigosas e em seu lugar surgem o decoro, previsão, retiro, junto com efetiva deliberação, admoestação e consolação; neste período, ela leva os homens a serem considerados pela honra, louvor e independência, acompanhadas por modéstia e dignidade. (Tetrabiblos, 4.8.206)
O estadista ateniense Sólon (c. 640 a c. 560 aC) considerou que a vida útil média era de 70 anos, podendo ser dividida em sete fases. O astrônomo Cláudio Ptolemeu (ou Ptolomeu) de Alexandria (c. 100-170 d.C.), em seu tratado astrológico, o Tetrabiblos, dividiu a vida humana de forma semelhante, em sete fases de 12 anos cada. Os estágios finais da vida ficavam associados à velhice, momento em que os homens se afastam do trabalho duro e do risco para se concentrarem na aposentadoria e na tomada de decisões mais sábias.
Cuidados Geriátricos
Os médicos greco-romanos conheciam vários problemas de saúde associados à velhice, incluindo problemas de visão e audição, artrite e aumento da suscetibilidade a doenças respiratórias. Também estavam cientes dos desafios mentais que ocorrem em idades muito avançadas, como problemas de memória e senilidade. Os médicos antigos acreditavam que tais mudanças deviam-se a desequilíbrios dos humores corporais, que criavam a deficiência de calor.
Mas no devido tempo, à medida que todos os órgãos se tornam ainda mais secos, não apenas suas funções são menos bem executadas, mas sua vitalidade se torna mais fraca e restrita. E, secando mais ainda, a criatura se torna não apenas mais magra, mas também enrugada e os membros fracos e instáveis em seus movimentos. Essa condição é chamada de velhice. Galeno, De Sanitate Tuenda, 5.1.2)
A despeito da consciência de doenças relacionadas à idade, as obras existentes sobre medicina grega e romana não dedicam muito espaço aos cuidados geriátricos ou à extensão da vida. A medicina romana e grega geralmente se concentrava na prevenção, não no tratamento. Autores como Hipócrates (c. 460-370 a.C.), Celso (c. 25 a.C. a 50 d.C.) e Galeno (c. 129-216 d.C.) recomendavam vários tratamentos médicos profiláticos e mudanças na dieta para ajudar a preservar a saúde na velhice.
Os regimes médicos antigos normalmente envolviam descanso adequado, exercícios e banhos regulares ao longo da vida. Galeno recomendava que homens idosos respeitassem uma dieta com menos carne e mais alimentos secos, vinho e frutas. Os autores greco-romanos também assinalaram a importância de exercícios intelectuais, como escrita e jardinagem, para preservar a acuidade mental na velhice.
O Papel Social dos Idosos na Antiguidade
À medida que homens e mulheres entravam na velhice, sua posição na sociedade grega e romana sofria alterações. A maioria das pessoas ganhava sua subsistência por meio de trabalho físico duro, como agricultura ou tecelagem, e a idade avançada aumentava a dificuldade para exercê-las. No entanto, a maioria das pessoas não tinha condições de se aposentar. Essas preocupações eram menos importantes para as classes altas, que dependiam da renda gerada por seus servos e propriedades. Para os ricos, a velhice podia ser um momento de lazer e aposentadoria.
Os aristocratas muitas vezes continuavam suas carreiras em direito e política até a velhice, beneficiando-se de anos de experiência e reputação acumuladas. Na antiga democracia ateniense, em outras cidades-estados gregas e no governo romano, muitos cargos políticos tinham requisitos de idade mínima, impedindo que candidatos jovens e irresponsáveis os ocupassem. Tanto a Gerúsia espartana quanto o Senado romano se originaram como conselhos de anciãos.
À medida que a idade aumentava, se as coisas seguissem o curso esperado ou de acordo com as aspirações de um homem ou família, ele poderia esperar subir na carreira, aumentar sua riqueza e ampliar suas redes sociais e econômicas através dos casamentos de seus filhos. (Harlow & Laurence, 121)
Ao mesmo tempo, muitos homens experimentavam o preconceito de idade ao competir com os mais jovens pelo poder político e influência social. Embora os homens em Roma e Atenas tivessem a autoridade final sobre sua casa e propriedade, poderiam ser desafiados pelos filhos adultos, especialmente se sua competência mental fosse questionada. A perda de independência e autoridade que podia acompanhar a velhice extrema era comparada à segunda infância por vários autores gregos e romanos.
Atitudes Greco-Romanas em Relação ao Envelhecimento
As atitudes em relação à velhice na literatura grega e romana são extremamente polarizadas entre autores que refletem sobre as maneiras pelas quais os idosos beneficiam a sociedade e aqueles que veem a velhice com desprezo. O filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.) tinha uma visão extremamente negativa da velhice, acreditando que o resfriamento dos humores contribuía para um suposto caráter tipicamente pessimista e covarde.
Alguns historiadores destacam que a literatura romana e grega que conhecemos foi desproporcionalmente produzida por homens mais velhos e aristocráticos. Em parte, isso ocorre porque esse grupo demográfico reunia pessoas mais instruídas e com mais tempo disponível. Um tratado particularmente influente sobre o assunto é Sobre a Velhice, de Cícero (106-43 a.C.), que utilizou como personagem um fictício Catão, o Velho (234-149 a.C.).
Há uma série de materiais literários sobre a sobrevivência na velhice porque os idosos usavam o ócio ou tempo de lazer associado a esse período da vida como oportunidade para escrever. Eles escreviam como uma forma de consolo para si próprios diante da idade avançada e da perspectiva da morte e esse formato produziu muito do que hoje associamos à filosofia estoica de sobrevivência na adversidade. Neste caso, a adversidade era a velhice. (citado em Harlow e Laurence, 12)
A velhice é retratada de maneira ambivalente nas mitologias grega e romana. Geras, o deus da velhice na mitologia grega, e sua contraparte romana, Senecto, são figuras temíveis, às quais nenhum mortal podia resistir. O mito de Titono, um homem que recebeu a dádiva da vida eterna dos deuses, mas não eterna juventude, também evoca o temor do envelhecimento. No entanto, outras figuras mitológicas, tais como Nestor, são mostradas crescendo em poder e conhecimento na velhice.
Envelhecimento e Padrões de Beleza na Antiguidade
Os padrões de beleza grego e romano davam grande valor à juventude. Como resultado, muitas pessoas tentavam mascarar os sinais da idade através de cosméticos como a maquiagem, tinturas capilares ou perucas. Estes cosméticos são satirizados com frequência na literatura greco-romana. Homens e mulheres que tentavam mascarar suas idades apareciam de maneira cômica com frequência, especialmente quando o faziam na tentativa de conquistar parceiros ou cônjuges mais jovens.
O imaginário grego oferece algumas representações positivas de filósofos idosos, que tendem a ser sobrepujadas por imagens da velhice como odiosa e a juventude, especialmente a masculina, como bela. (Troyansky, 27)
Na arte arcaica e clássica grega, figuras mais jovens são retratadas com muito mais frequência do que as mais velhas. Quando modelos idosos são representados, aparecem geralmente como tutores e sacerdotes ou, no caso de mulheres, como sacerdotisas e enfermeiras. A escultura helenística abrangia uma variedade mais ampla de modelos do que o período clássico grego, mas ainda retratava os idosos com um certo grau de desprezo.
As representações clássicas romanas diferem das convenções gregas ao retratar, realisticamente, as figuras masculinas e femininas de maneira mais positiva. Na arte romana, um rosto maduro ou severo remete a poder e experiência. Em retratos masculinos, itens como rugas profundas e cabelo rareando significavam dignidade, seriedade e maturidade.
Envelhecimento e Gênero
Tanto a literatura grega como a romana tendem a retratar as idosas de forma mais zombeteira do que os homens com idade avançada, em consonância com as normas patriarcais do Mediterrâneo. Como o papel das mulheres no mundo romano restringia-se primariamente aos de esposas e mães, elas corriam o grande risco de se tornarem socialmente marginalizadas uma vez que seus atrativos e capacidade reprodutiva diminuíssem. Também se acreditava que elas envelheciam mais rapidamente do que os homens, o que geralmente se explicava através da ideia de que seus corpos e mentes seriam naturalmente mais frágeis. A despeito disso, os autores médicos tipicamente ignoravam as mulheres em seus tratados sobre a velhice, preferindo focar nos tratamentos que poderiam afetar os homens.
Na Grécia antiga, as idosas constituíam uma categoria marginal, odiada e temida pelos homens. (Bremmer, 245)
As mulheres na Grécia antiga geralmente viviam bem mais do que seus maridos e era comum que enviuvassem na meia-idade ou na velhice, períodos em que dependiam dos filhos para o sustento. Quando as viúvas de mais idade casavam-se novamente, isso podia causar problemas entre o novo marido e os filhos adultos, especialmente no que diz respeito ao controle de heranças.
Mesmo com uma atitude negativa generalizada sobre as idosas, algumas delas encontraram-se em posições de maior poder após se libertarem das obrigações do casamento e da maternidade. Muitas mulheres exerciam poder político através da influência familiar e social, principalmente para auxiliar as carreiras dos filhos e netos. Lívia Drusila (59 a.C. a 29 d.C.) e Cornélia, a mãe dos irmãos Gracos (c. 190 - 115 a.C.) ficaram famosas como exemplos de matriarcas romanas politicamente proeminentes.
Sistemas de Apoio para os Idosos
Não havia sistemas governamentais de apoio para os idosos no mundo antigo e, assim, redes de parentesco tornavam-se as únicas fontes de cuidado para quem envelhecia. Tanto a cultura grega quanto a romana conferiam grande valor à piedade filial, ou seja, a obrigação social e moral que os filhos deviam ter em relação aos pais. Para respeitar estes valores, esperava-se que os adultos cuidassem de seus pais na velhice. Uma pessoa honrada proporcionaria aos pais os cuidados básicos e acompanhamento social. A maior parte das pessoas vivia em lares multigeracionais, o que facilitava o apoio aos parentes idosos. Seria extremamente vergonhoso para uma pessoa negligenciar seus pais idosos e, em algumas sociedades, estes podiam entrar com processos legais contra os filhos e herdeiros se não tivessem cuidados adequados.
Um juiz competente ordenará que você seja sustentado pelo seu filho, caso ele tenha meios para lhe fornecer alimentação. (Código de Justiniano, 5.25.2)
Os pais, em geral, buscavam melhorar as perspectivas econômicas dos filhos proporcionando-lhes educação ou arranjando um matrimônio proveitoso. Também costumavam transferir propriedades para os herdeiros ainda em vida, a fim de ajudá-los a custear os cuidados necessários. As famílias aristocráticas tinham mais facilidade em cuidar dos parentes idosos ou deficientes, graças ao auxílio dos servos, o que melhorava a qualidade de vida para todos os membros da família.
Uma pessoa que não tivesse filhos ou netos podia depender do cônjuge para o sustento. Escravos libertos também tinham a responsabilidade de apoiar seus antigos mestres na velhice. Estas obrigações sociais sobrepostas resultavam em que a maior parte das pessoas dispunha de alguma forma de assistência à medida que chegavam à idade madura.