A dieta Egípcia era baseada em pão, cerveja e vegetais, a carne era cara e raramente consumida. A maioria das pessoas consumia comidas básicas, enquanto as classe mais altas consumia pratos mais exóticos e elaborados. As comidas e bebidas dependiam da cevada e do trigo, que eram as principais culturas cultivadas ao longo do Nilo.
Pão e mingau
Pães e mingau eram a base da dieta Egípcia, os dois eram feitos basicamente com cevada ou trigo, as duas principais plantações do Egito. O grão era moído manualmente com moinhos de pedra para produzir farinha. Apesar de esforços para impedir, areia e cascalho frequentemente eram encontrados na farinha enquanto ela estava sendo processada e transportada. Muitas múmias tem os dentes desgastados por terem comido pão arenoso por muitos anos.
A culinária Egípcia de fato permitiu a preparação de pães em todos os possíveis formatos: achatado, cônico, esférico, as vezes moldado no formato de objetos ou animais e os mais variados ingredientes poderiam ser adicionados à massa para adoçar ou aromatizar: sementes de tremoço, coentro, uma decocção de figo, e sementes de papoula ou azevém. (Tallet, 320)
O tipo mais comum de pão era um pão denso e achatado feito com farinha, sal e água. A massa era tipicamente moldada em formatos redondos ou triangulares, mas também podia ser feita no formato de figuras humanas ou animais. Eles podiam ser assados em uma pedra dentro do forno, no chão do próprio forno ou até mesmo enterrados em brasas quentes.
Como o pão era tão importante, foram inventadas diferentes variedades. Alguns tipos de pão incluíam gorduras, óleos, ovos ou laticínios, além dos ingredientes básicos de farinha ou água. O fermento era usado para criar pães mais fofinhos e diferentes tipos de fôrmas e panelas eram usados para assar os pães em diferentes formatos e consistências. Os pães muitas vezes eram cobertos com sementes, temperos e nozes antes de assar.
Frutas e vegetais
Frutas e vegetais eram componentes importantes da dieta Egípcia. Lentilhas, feijões e ervilhas adicionavam fibras e proteínas a mingaus e sopas. Enquanto vegetais das hortas como cebolas, cenouras, pepinos, alho e rabanetes eram os alimentos base das refeições. Plantas aquáticas como juncos, incluindo juncos de papiro, também eram comumente colhidos como alimento. Os egípcios gostavam dos vegetais tanto crus, quanto cozidos ou assados.
Como o Nilo tem uma correnteza suave, carrega consigo uma grande quantidade de todos os tipos de terra e, além disso, reúne-se em poças estagnadas em locais baixos, formando pântanos que geram todo tipo de planta. Nelas crescem tubérculos de todos os sabores, além de frutas e vegetais que crescem em talos, de uma natureza peculiar ao país, fornecendo uma abundância suficiente para tornar os pobres e os doentes entre os habitantes autossustentáveis. (Diodorus Siculus, 1.34.3)
As frutas eram usadas como ingredientes ou comidas puras como sobremesa. Figos, tâmaras, uvas, melões e frutos silvestres eram servidos como petiscos e sobremesas. Azeitonas e alcaparras também eram consumidas apesar de não serem tão fundamentais para a dieta Egípcia quanto era para as culturas Gregas e Romanas. Já as maçãs foram provavelmente introduzidas da Palestina, e a palavra Egípcia para maçã, depeh, é um empréstimo semítico.
Bebidas
Cerveja de cevada era a bebida nacional, geralmente fabricada em casa. Era feita fermentando pão e cevada moída em um recipiente com água. Uma vez que a fermentação estava completa, era coada em um filtro e engarrafada. O produto resultante era espesso, nutritivo e geralmente tinha baixo teor alcoólico, o que significava que era adequado para ser consumido o dia todo.
A cerveja era categorizada pela cor, indicando seu teor alcoólico. Cerveja vermelha era mais leve e menos alcoólica, enquanto a cerveja preta era mais forte. Frutas e especiarias algumas vezes eram adicionadas a mistura para melhorar o sabor. Este método de fabricação de cerveja ainda é usado no Egito e Sudão. As uvas não cresciam com tanto facilidade no Egito quanto em outras partes do Mediterrâneo, então vinho era produzido em pequenas quantidades para a elite rica e alguns vinhos eram importados da Grécia e Mesopotâmia. As primeiras evidências da produção de vinho no Egito remontam a 3200 a.C., antes Período Arcaico ter iniciado.
O vinho Egípcio era produzido fermentando uvas em jarros de barro, que eram perfurados com pequenos buracos para permitir a saída dos gases criados pela fermentação. O produto final era etiquetado com selos de argilas descrevendo a procedência, qualidade e ano do vinho. Os vinhos algumas vezes também eram feitos de tâmaras, figos, romãs ou seiva de palmeira. Um forte licor de vinho chamado shedeh também era produzido, tinha uma cor vermelha e alta concentração álcool, mas pouco se sabe sobre como era a sua fabricação.
Aves e laticínios
Laticínios, ovos e aves eram as fontes primárias de proteínas, além dos legumes. Fazendeiros criavam vacas, cabras e ovelhas para leite, manteiga e nata. As cabras e ovelhas eram mais baratas para criar do que gado, tornando-os preferíveis aos fazendeiros mais pobres.
A produção de queijos provavelmente foi introduzida no Egito durante o período Neolítico, e uma indústria de produção de queijo com certeza existia na época do Período Arcaico. A amostra mais antiga de queijo sólido descoberta foi encontrada na tumba de Ptahmes, prefeito de Memphis durante a XIX Dinastia. A indústria de produção de queijo se tornou cada vez mais especializada com o passar do tempo, com diferentes tipos de queijos duros e macios sendo criados.
Pássaros, tanto selvagens quanto domésticos, foram a primeira fonte de carne e ovos no antigo Egito. Gansos, grous e patos eram alimentados à força para engordar antes de serem cozidos. Já pombos e rolas eram considerados iguarias e eram usados como ofertas de alimentos. Os antigos Egípcios também comiam a carne e ovos de pelicanos e avestruz. Os ovos de avestruz, devido ao seu grande tamanho e excelente sabor, eram tidos em alta conta.
Há evidências mais limitadas para galinhas, originárias do sul da Ásia, no antigo Egito. Um ostraco Egípcio de 1350 a.C. descreve uma ave selvagem vermelha, o ancestral selvagem das galinhas. Galinhas e ovos de galinha eram importados, mas eles não começaram a ser criadas em grande escala até o período Ptolemaico.
Carnes e frutos do mar
Muitos tipos de gados eram criados no antigo Egito incluindo vacas, bois, cabras, burros, ovelhas, antílopes e porcos. No entanto, a carne era consumida muito raramente pois era mais vantajoso economicamente usar o gado como animais de tração ou para produção de leite. As ocasiões em que a carne era consumida incluíam festas e sacrifícios onde os animais eram abatidos como oferendas para os deuses.
Algumas fontes antigas, incluindo o historiador grego Heródoto (século V a.C.), afirmam que os antigos Egípcios tinham um tabu religioso contra porcos. Evidências arqueológicas mostram que porcos não eram populares mas eram consumidos, especialmente nas classes mais baixas. Alguns historiadores modernos sugerem que esse tabu talvez fosse aplicado somente a alguns grupos como padres e as classes mais altas. As origens desse tabu pode estar relacionada a percepção dos porcos como animais sujos ou de baixo status. Caça selvagem também era consumida no antigo Egito. A caça era associada as classes mais altas, cuja tumbas eram frequentemente decorados com cenas de caça. Gazelas, antílopes e hipopótamos forneciam carnes saborosas e podiam ser encontrados nos pântanos e pastagens do Egito. Aves de caça como patos, gansos e codornas também eram abundantes.
Peixes de água doce como carpas, bagres, salmão do Nilo e enguias podiam ser encontrados em rios e lagos, peixes costeiros como tainha também eram populares. Defumar e desidratar o peixe ajudava a preservá-lo no clima quente do Egito. O peixe-nariz-de-elefante, conhecido como medjed em Egípcio e oxyrhyncus ("peixe de nariz afiado") em grego, era considerado sagrado. A cidade de Per-Medjed ou Oxyrhyncus foi nomeada em sua homenagem. Os Egípicos costumavam usar redes ou varas para pescar os peixes.
Doces e sobremesas
Os Egípcios consumiam variados tipos de doces, incluindo bolos, tortas e confeitos, os quais muitas vezes continham frutas picadas, nozes ou xaropes doces. O mel foi um dos primeiros adoçantes no mundo antigo, já que a cana de açúcar ainda não tinha sido importada do sul da Ásia. Como o mel era caro, tâmaras e feijões de alfarroba eram mais usados como adoçantes. A farinha de tâmara era usada com tanta frequência que os chefs das confeitarias eram chamados de "trabalhadores de tâmaras".
A chufa, um tipo de junco com a raiz de sabor adocicado, era amplamente usada em doces. A tumba de Rekhmire, um vizir da XVIII dinastia, foi decorada com arte Egípcia retratando a produção de bolos de chufa. Esses bolos provavelmente foram servidos com xarope de tâmaras e mel, cujos preparos também são retratados nas paredes das tumbas.
A 'farinha' de chufa produzida de maneira primitiva demonstrada na tumba de Rekhmire ficaria grossa mesmo após peneirada, com uma textura similar a amêndoas moídas grosseiramente. A natureza do líquido adicionado a mistura da massa é incerta, já que a inscrição está danificada, mas poderia ser água, óleo, gordura derretida ou uma mistura dos três. Embora não haja nenhuma imagem da mistura sendo amassada na cena de Rekhmire, fica claro que ela resulta em uma massa maleável.
(Wilson, 216)
Métodos de cozimento
Pouco se sabe sobre as receitas do antigo Egito, já que não há exemplos conhecidos de livros de receitas Egípcias. Pesquisadores reconstruíram as comidas Egípcias baseado na arte, descrições da produção de comida e resíduos de plantas e animais encontrados em sítios arqueológicos. Métodos simples de preparação como sopas, ensopados e caçarolas eram os mais populares. As carnes eram geralmente refogadas ou fervidas em grandes panelas, e assados ou fritos com menos frequência. Já as aves e outros animais pequenos eram normalmente recheados com especiarias e vegetais picados. Ouriços eram assados com uma camada de argila por cima que endurecia durante o cozimento; quando a argila era removida, os pelos espinhentos do ouriços eram arrancados com ela.
Os Egípcios produziam diferentes tipos de especiarias e temperos usados para melhorar o sabor da comida. Ervas como endro, salsinha, tomilho, cominho, feno-grego, orégano e menta eram cultivados. Outros aditivos como mostarda, palm nuts e flor de lótus adicionavam vitalidade aos pratos. O óleo vegetal e a gordura animal eram usados para cozinhar. Já para fazer o óleo eram usados bálsamo, linhaça, gergelim e mamona.
Os utensílios de cozinha geralmente eram feitos de pedra ou barro. Esses materiais eram usados para fazer potes e recipientes de armazenamento resistentes, mas podiam ser afiados e transformados em utensílios eficazes. Algumas facas de pedras antigas encontradas por arqueólogos no Egito têm pontas afiadas até hoje. Nas casas das famílias de classes mais altas as cozinheiras também usavam caldeirões de bronze e cobre como utensílios de cozinha e as lareiras geralmente eram colocadas do lado de fora ou em um andar superior para evitar que o calor, a fumaça e os cheiros de comida invadissem a casa.
As comidas geralmente eram preservadas através da desidratação, conservas ou salgando-as. A secagem ao sol de tiras finas de alimentos era uma maneira fácil e efetiva de preservá-los. As carnes também eram armazenadas em salmouras e sal para preservá-las, o peixe salgado em conserva era especialmente popular no mundo antigo. Os Egípcios provavelmente inventaram o caviar, que é feito armazenando ovas - ou ovos de peixe - no sal, era usado a tainha para isso. Carne e outros alimentos também eram preservados através do seu cozimento lento em gordura para confitar, depois eram armazenados em potes selados. Pássaros, porcos e hienas eram alimentados a força para ajudá-los a engordar, provavelmente para esse propósito.
Refeições
Na maioria das vezes, as pessoas comiam sentadas em bancos ou no chão ao redor de mesas baixas. Os convidados pegavam a comida de pratos comunitários, geralmente tigelas e esteiras de junco, usando colheres ou as mãos. Xícaras de barros ou utensílios de madeira simples eram comuns, enquanto as famílias mais ricas tinham utensílios de jantar finamente trabalhados feitos de metal, vidro e porcelana. Enquanto comiam eles limpavam as mãos com guardanapos ou água. No Império Novo do Egito, virou moda para as pessoas das classes mais altas se sentarem em mesas altas com cadeiras de espaldar alto.
Um café da manhã simples com pão, cerveja e cebolinha era o mais comum. Isso era o suficiente para dar a energia que a maioria das pessoas precisavam para realizar trabalhos manuais como agricultura ou construção. Os trabalhadores podiam comprar comida de padarias e tavernas que geralmente ficavam perto dos locais de trabalho. E após voltarem para casa depois do trabalho eles se sentariam para uma refeição com mais sustância, que podia incluir cerveja, legumes cozidos, ovos e pão.
Na tumba de Sacará da Segunda Dinastia, foi encontrada uma refeição completa que havia sido preparado para um nobre não identificado. Que incluía pratos de cerâmica e alabastro contendo um mingau de cevada moída, uma codorna assada no espeto, dois rins de cordeiro cozidos, caçarola de pombo, peixe cozido, costelas de boi grelhadas, pães triangulares feitos de espelta moída, pequenos bolos redondos, um prato de figos cozidos, um prato de amoras silvestres e queijo, tudo acompanhado de jarras que antes continham vinho e cerveja. (Alcock, 182)
As famílias de classes mais elevadas que tinham servos para preparar as refeições consumiam pratos mais elaborados, eles podiam ter de duas a três refeições por dia, sendo as refeições noturnas mais pesadas. Esses banquetes podiam ser longos eventos, com várias comidas e pratos complexos. Durante festivais pessoas mais pobres também tinham acesso a banquetes de comidas mais caros.
Mudanças no período Grego-Romano
A conquista do Egito por Alexandre, o Grande (336-323 a.C.) em 332 a.C. trouxe influências da culinária grega. Durante a Dinastia Ptolemaica milhares de gregos imigraram para o Egito, eles trouxeram com eles novos tipos de utensílios de cozinhas e fornos, que eram mais adequados ao seu próprio estilo de cozinhar. Os gregos preferiam trigo ao invés de cevada e não compartilhavam do desprezo Egípcio pela carne de porco. As plantações mediterrâneas de peras, nozes, pêssegos, damascos e ameixas foram introduzidos ao Egito quando a economia do Egito Ptolemaico mudou. Alimentos especiais preparados, como vinho e queijos, também foram importados da Grécia.
O vinho também se tornou um produto importante no período Ptolemaico. Vinhedos foram plantados por todo o Egito, às vezes com videiras importadas da Grécia. O Lago Mareotis, perto de Alexandria, se tornou famoso pelo vinho branco de alta qualidade produzido nas suas margens. A maioria dos vinhos Egípcios eram considerados de baixa qualidade por escritores de culturas onde o vinho ocupava um lugar importante na sociedade, como Grécia e Roma.
A capital de Alexandria desenvolveu uma culinária única influenciada pela cultura urbana cosmopolitana. Depois de 30 a.C. o Egito romano absorveu influências italianas e por ser localizada na costa, frutos do mar eram uma parte marcante da antiga culinária de Alexandria. A culinária Helenística do Egito é descrita pelo autor Ateneu (3º século d.C.), que veio da cidade portuárias de Náucratis, no Egito. Em seu livro Banquete dos Eruditos ele discute receitas de pratos como tubarão assado, lula recheada e peixe empanado.