O Holocausto foi o assassinato de 6 milhões de pessoas judias pela SS, Gestapo, e outras organizações da Alemanha Nazista e seus aliados nos anos anteriores e durante a Segunda Guerra Mundial (1939-45). Homens, mulheres e crianças inocentes foram executadas em massa, caso não fossem muito jovens ou muito idosos, eram enviados aos campos de concentração para trabalharem até não conseguirem mais. O destino de milhões foi morrer nas câmaras de gás de extermínio, nos campos de Auschiwitz, na Polônia, durante a ocupação.
Neste artigo, são apresentados relatos daqueles que testemunharam o genocídio causado durante o Holocausto em primeira mão. Serão apresentados relatos de vítimas e daqueles envolvidos nas execuções, que foram obrigados a apresentar evidências, como, por exemplo, nos Julgamentos de Nuremberg em 1945-6.
Os Nazistas e os judeus
Adolf Hitler (1889-1945) se denominou como o ditador da Alemanha Nazista em 1933, e identificou os judeus como os principais inimigos do estado. Baseados em duvidosas e inconsistentes teorias raciais propagadas por figuras Nazistas como Alfred Rosenberg (1893-1946), Hitler e o partido Nazista começaram a propaganda contra judeus alemães, e os apresentou como uma raça inferior, que estavam impedindo a Alemanha de conquistar seu maior potencial econômico.
Hitler tinha o propósito de remover todos os Judeus do território alemão, mas o primeiro passo foi identificar quem eram os judeus. As Leis de Nuremberga de 1935 identificavam vagamente os judeus, uma vez que ter três avós judeus colocava um indivíduo nessa categoria. Uma série de 'soluções' para o que Hitler chamava de "problema judeu" se desenvolveu, como o encorajamento para emigração e perseguição de empresas das quais os donos eram judeus. Após isso eles foram atacados em pogroms como o Kristallnacht em novembro de 1938. Em seguida, os judeus foram aglomerados e obrigados a viver em áreas segregadas, como os guetos nas cidades ou campos de concentração. Os judeus foram privados de sua cidadania e outros direitos básicos.
Em 1942, os Nazistas começaram a "Solução Final", como era secretamente conhecido. Esse plano consistia em matar todos os judeus europeus. Eles eram transportados para campos de trabalho onde trabalhavam até morrer devido a doenças, desnutrição severa ou exaustão física. Outros judeus, aqueles que não poderiam trabalhar e aqueles que eram muito jovens ou muito idosos, eram transportados diretamente para os campos de extermínio, como no complexo de Auschwitz-Birkenau, na Polônia, onde eram mortos nas câmaras de gás e seus corpos cremados em vala comum. Os judeus não foram as únicas vítimas, pois os Nazistas também perseguiram ciganos, comunistas, Testemunhas de Jeová, maçons, homossexuais, rivais políticos, entre outros. Além disso, mais milhares de vítimas foram assassinadas em execuções em massa em território ocupado durante a Segunda Guerra Mundial por Esquadrões Móveis de Extermínio, conhecidos como Einsatzgruppen. Os Judeus foram, de longe, a maioria das vítimas desses assassinatos, e é estimado que 6 milhões foram mortos no que hoje chamamos de Holocausto. A escala extrema do programa Nazista impossibilita a determinação de um número preciso de vítimas.
Hugh Greene, um jornalista britânico, se lembra do que viu em Kristallnacht em 1938:
Eu estava em Berlim naquela época e vi algumas coisas muito revoltantes - a destruição de lojas judias, judeus sendo levados e presos, a polícia não fazendo nada enquanto gangs destruíam as lojas e até mesmo mulheres bem vestidas comemorando.
(Holmes, 42)
Avraham Aviel, um judeu polonês e sobrevivente de uma execução em massa, relata sua experiência vivida em maio de 1942:
Todos nós fomos levados para próximo de um cemitério, a uma distância de oitocentos metros de um longa e profunda cova. Novamente todos foram obrigados a se ajoelhar. Não havia a possibilidade de levantar a cabeça. Eu fiquei mais ou menos no centro das pessoas. Eu olhei para frente e vi a longa cova e talvez grupos de vinte, trinta pessoas sendo levadas até a borda, nuas, para provavelmente não levarem nada de valor com elas. Eles foram levados até a borda, onde foram executados com tiros na cabeça e um atrás do outro cairam na cova.
(Holmes, 319)
Um sobrevivente anônimo do massacre no gueto em Lviv, Ucrânia, em agosto de 1942, relata a descrição do que ocorreu após:
Eu fui com a minha mãe para o escritório da comunidade judia a respeito de um apartamento, e lá na brisa leve, os corpos pendurados, com seus rostos azuis, suas cabeças pendentes para trás, suas línguas pretas e para fora de suas bocas. Carros de luxo vieram rapidamente do centro da cidade, civis alemães com suas esposas foram ver o espetáculo, e, como era de costume, os visitantes entusiasticamente tiravam fotos da cena. Após isso, os ucranianos e polacos chegaram com mais modéstia.
(Fiedländer, 436)
Rivka Yoselevska, uma polonesa judia, descreve sua experiência e de sua familía durante o massacre no gueto Hansovic em agosto de 1943:
Alguns dos mais jovens [crianças] tentaram fugir. Eles mal conseguiram dar alguns passos, foram pegos e executados. E chegou nossa vez. Foi difícil segurar as crianças pois elas estavam tremendo... Nós fomos colocados em filas de quatro pessoas e ficamos lá, em pé, nus. Nossas roupas foram levadas. Meu pai não quis ficar completamente nu e continuou vestido com sua roupa íntima, mas quando ele estava na fila aguardando a execução, mandaram ele retirar sua roupa e ele se recusou e apanhou... Eles arrancaram suas coisas e atiraram. E então, eles pegaram a minha mãe. Ela não queria ir, mas queria que fossemos primeiro, mas, ainda assim, nós a fizemos ir primeiro. Eles a pegaram e atiraram. Havia a mãe do meu pai, que tinha 80 anos e dois netos nos braços. A irmã do meu pai que também estava lá. Ela, também, foi executada com duas crianças em seus braços. E chegou a minha vez e a vez da minha irmã mais nova. Ela sofreu tanto no gueto, e ainda assim, em seus últimos momentos queria continuar viva, e implorou aos alemães para deixarem ela viver. Ela estava em pé, nua, segurando a mão de sua amiga. Então ele olhou para ela e atirou nas duas. As duas caíram ao chão, minha irmã e sua amiga. Minha outra irmã foi a próxima... Ele se preparou para atirar em mim... Ele tirou a criança de perto de mim. Eu escutei seu último choro e ele atirou nela. Então ele ficou pronto para me matar... Me virou de costas e atirou. Eu cai [na pilha de corpos] e não senti nada... corpos caíram em cima de mim. Eu senti que estava me afogando... [mais tarde] eu sai dali nua e coberta de sangue... eu ainda estava viva. Para onde eu deveria ir? O que eu deveria fazer?
(Holmes, 320-1)
O Tenente-Coronel da SS, Adolf Eichmann (1906-1962), responsável pelos requisitos de transporte da Solução Final, aqui mente para os judeus para que eles não criem problemas enquanto são transportados por trens, do gueto até os campos de concentração:
Judeus: Vocês não têm com o que se preocupar. Nós queremos somente o melhor para vocês. Vocês irão sair daqui em breve e serão enviados para lugares melhores. Vocês irão trabalhar, suas esposas ficarão em casa, e seus filhos irão para a escola. Vocês terão vidas maravilhosas.
(Bascomb, 6)
Os campos de extermínio foram deliberadamente alocados no interior da Polônia para providenciar mais sigilo aos projetos da Solução Final. Rudolf Höss (1901-1947), um comandante do campo de Auschwitz, disse:
Nós éramos solicitados a fazer aqueles extermínios em sigilo, mas claro, que a poluição e o fedor nauseante que saiam dos corpos sendo continuamente queimados permeavam a área completamente, e as comunidades que viviam nas redondezas sabiam que estavam ocorrendo extermínios em Auschwitz.
(Neville, 49)
As típicas condições das viagens de trens para os campos são descritas aqui por Avraham Kochav, um sobrevivente de Auschwitz:
Haviam entre vinte e vinte e cinco vagões em cada trem... Eu escutei choros horríveis. Eu vi como as pessoas atacavam umas às outras somente para terem um lugar para ficarem em pé, como as pessoas se empurravam para que elas conseguissem ficar em algum lugar ou para conseguirem somente um pouco de ar para respirar. Era horrível, extremamente sufocante. Os primeiros a desmaiarem eram as crianças, mulheres, homens idosos, eles todos caiam como moscas.
(Holmes, 332)
Zygmunt Klukowski, o diretor de um hospital polonês, descreveu as viagens de trem dos judeus enviados para os campos de exterminação Belzec, na ocupação da polônia.
No caminho até Belzec os judeus experienciaram coisas terríveis. Eles estavam cientes do que iria acontecer com eles. Alguns tentaram lutar contra. Na estação ferroviária em Szczebrzeszyn, uma jovem mulher deu seu anel de ouro em troca de um copo d’água para seu filho que estava morrendo. Em Lublin as pessoas presenciaram crianças pequenas sendo jogadas pela janela dos trens em alta velocidade. Muitas pessoas morreram antes de chegarem a Belzec.
(Friedländer, 358)
Yaacov Silberstein, um adolescente judeu, descreveu sua chegada em Auschwitz em outubro de 1942:
Quando nós chegamos vimos como os judeus estavam correndo até a cerca elétrica. Eles estavam presos. Eles estavam cansados da vida e não podiam mais continuar com isso.
(Holmes, 330)
Dr Lucie Adelsberger, um prisioneiro de Auschwitz, descreve o processo de chegada das pessoas destinadas ao campo de trabalho:
Nós ficamos nus, cortaram nosso cabelo - não, na verdade, nossos cabelos foram totalmente raspados; então vinham os banhos e logo após, as tatuagens. Ali eram onde retiravam nossos últimos vestígios de pertencimento; nada permanecia... nenhum documento escrito que nos identificava, nenhuma foto, nenhuma mensagem de um ente querido. Nosso passado foi arrancado, apagado...
(Cesarini, 656)
Bernd Naumann, um sobrevivente do campo Birkenau, descreve a prevalência de ratos nos campos:
Eles roíam não só os corpos, mas também as pessoas severamente doentes. Eu tenho fotos mostrando mulheres à beira da morte sendo mordidas por ratos.
(Neville, 50)
Seweryna Smaglewska, uma prisioneira no campo para mulheres em Birkenau, descreve as condições de vida lá:
Não haviam entradas ou caminhos entre os blocos. Nas profundezas de tocas escuras, em beliches, como gaiolas de vários andares, a fraca luz de uma vela iluminando aqui e ali, tremulando sobre corpos nus e esqueléticos, curvados, azuis do frio, deitados sobre uma pilha de trapos sujos, com suas mãos segurando suas cabeças raspadas, pegando um inseto com seus dedos magros e os amassando na quina da beliche - era assim que eram os quarteis em 1942.
(Cesarini, 528)
Os SS, que administravam os campos, faziam questão de criar uma hierarquia entre os prisioneiros, como aqueles que eram de confiança, que sobreviveriam por um pouco mais de tempo ao serem 'favorecidos' com certos trabalhos, como queimar os corpos nos crematórios ou bater nos outros prisioneiros. O anspeçada da SS, Richard Bock, um guarda em Auschwitz-Birkenau, relata:
Um chefe do campo chamava o kapo [prisioneiro de confiança] ferozmente, 'Kapo, venha aqui'. O kapo iria até ele - boom - ele dava um tapa no rosto do kapo de forma tão forte que ele caia... E dizia "Kapo, você não consegue bater neles de forma melhor que essa?" E o kapo corria e pegava um taco para bater no grupo de prisioneiros de forma indiscriminada. "Kapo, vem aqui", ele grita novamente. O kapo iria e ele dizia "Acabe com eles", e então ele saia novamente e acabava com os prisioneiros, batendo neles até a morte... um kapo precisava bater e matar para salvar sua própria vida.
(Holmes, 325)
Aqueles destinados para as câmaras de gás eram, normalmente, inconscientes de seus destinos. Bock descreve o procedimento que ele testemunhou com um colega chamado Holbinger, que era responsável pelas latas de Zyklon B que produziam o gás letal:
... os novos chegados tinham que tirar suas roupas, e então a ordem vinha "preparem-se para a desinfectação". Haviam enormes pilhas de roupas... Muitos deles escondiam seus filhos embaixo das roupas e os cobriam, e então os guardas gritavam "Fiquem prontos", e então todos saiam, eles tinham que correr nus por aproximadamente 20 quadras do corredor até o bunker Um. Haviam duas portas abertas e eles entravam, e quando um certo número de pessoas já havia entrado eles fechavam a porta. Isso aconteceu umas três vezes, e todas as vezes Holbinger tinha que ir até sua ambulância pegar um tipo de lata - ele e mais um de seus chefes do campo - então ele subia a escada e ao topo tinha uma porta redonda que ele abria, segurava a lata e chacoalhava para cair o produto, e fechava a porta novamente. Então gritos de medo começavam altos e logo após aproximadamente dez minutos ficavam mais quietos... Eles abriam a porta e então uma névoa azul saia. Eu olhei para dentro e vi uma pirâmide. Eles tinham escalado uns aos outros... Estavam todos emaranhados, eles tinham que puxar e puxar muito forte para conseguir desemaranhar todas aquelas pessoas.
(Holmes, 334-5)
Dov Paisikowic, um judeu russo sobrevivente de Auschwitz, era parte do time responsável por tirar os corpos das câmaras, remover coisas valiosas como anéis e dentes de ouro, e então levar os corpos ao crematório. Ele relembra:
... as portas de repente eram abertas para as câmaras de gás. Pessoas nuas começavam a cair para fora. Nós estávamos todos assustados, ninguém se atrevia a perguntar o que era aquilo. Nós éramos imediatamente levados para o outro lado da casa e de lá nós vimos o inferno na Terra - Grandes pilhas de pessoas mortas, e pessoas levando essas pessoas para um poço profundo, por volta de trinta metros de altura e dez metros de largura. Havia uma grande fogueira lá, com troncos de árvore. Do outro lado, gordura era retirada do poço com um balde.
(Holmes, 335)
Dezenas de detentos nos campos foram sujeitados a desnecessários e horríveis experimentos médicos. Um dos médicos mais infames da SS foi Josef Mengele (1911-1979), quem performou todos os tipos de operações macabras em Auschwitz. Mengele era, apesar de tudo, somente uma parte do grande grupo de médicos da SS, quem operou em diferentes campos. Dr Franz Blaha, um detendo tcheco do campo de concentração Dachau, foi obrigado a trabalhar nessa área do terror Nazista, especialmente performando autopsias. Blaha reportou:
Do meio de 1941 até o fim de 1942 algumas operações foram realizadas em 500 prisioneiros saudáveis. Esses eram para aulas à equipe médica da SS, incluindo estudantes e doutores, eles performavam cirurgias no estômago, vesícula biliar e garganta. Essas operações eram realizadas por estudantes e médicos com apenas dois anos de treinamento, apesar de serem muito perigosos e difíceis... Muitos prisioneiros morreram na mesa de operação e muitos outros de complicações pós-cirurgia... Essas pessoas nunca foram voluntárias, mas foram forçadas a se submeter a tais atos.
(MacDonald, 59)
Hertha Beese, uma dona de casa e trabalhadora da resistência subterrânea de Berlin, relembra que, ao contrário do público geral, o grupo de trabalhadores da resistência estavam mais informados sobre os campos. Ela declara:
Nós sabíamos que os campos de concentração existiam, por exemplo, Oranienburg, logo ao sair de Berlin. Nós, as vezes, ficávamos sabendo quais dos nossos amigos estavam lá, e também sabíamos das crueldades que ocorriam nos campos desde o começo.
(Holmes, 315)
Anthony Eden (1897-1977), Secretário Estrageiro Britânico durante a WWII, aponta:
Com o progresso da guerra alguns relatos horríveis começaram a ser expostos. A primeiro momento era difícil confirmar sua veracidade, e eram tão horríveis que eram difíceis de acreditar que poderiam ser verdade.
(Holmes, 314)
Wynford Vaughn-Thomas, um jornalista britânico, relembra as condições do campo de concentração Bergen-Belsen, na Alemanha quando foi liberado em 1945:
Nas cabanas, a febre tifoide, tudo, foi quebrado e você não conseguia se ouvir falar por causa do estertor da morte. Haviam pessoas umas em cima das outras, doentes, vomitando, corpos secos se rastejando de joelhos... Isso era selado na escura planície do norte da Alemanha, e você sentia que alcançara o fundo do poço da mente humana.
(Holmes, 337)
O Tenente Coronel britânico J. A. D. Johnson descreveu o que ele viu quando chegou em Bergen-Belsen:
O prisioneiros eram um grande grupo de pessoas esqueléticas, apáticas, espantalhos, juntas e amontoadas em cabanas de madeira, e em muitos casos sem camas ou cobertores, e em alguns casos, nem mesmo roupas... Haviam vários corpos esqueléticos em vários estados de decomposição deixados desenterrados. Saneamento era para todas as intenções, inexistente.
(Cesarini, 759)
Hans Stark, funcionário do Gestapo em Auschwitz, declarou que assim como muitos outros, eles estavam somente seguindo ordens:
Eu fui o responsável pela morte de muitas pessoas... Eu acreditava no Führer, eu queria servir a sociedade da qual eu fazia parte. Hoje sei que essa ideia era falsa. Eu me arrependo dos meus erros do passado, mas eu não posso muda-los.
(Neville, 57)
Rabbi Frankforter, que morreu no Holocausto, que judeus regularmente chamam de Shoah or Ha-Shoah em Hebraico, deu seu último desejo para o sobrevivente Yaacov Silberstein:
Você ainda é jovem e continuará vivo. Eu tenho somente um pedido para você, e desejo que você nunca deixe as pessoas esquecerem. Conte para todos o que eles fizeram conosco nesse pequeno campo, em Buchenwald. Para onde você for, conte, para os seus filhos também, para que dessa forma eles consigam passar adiante. Para lembrar e não esquecer.
(Holmes, 339)