Teodora I, a esposa do imperador Justiniano de Bizâncio (r. 527 – 565), foi uma heroína? O historiador Warren Treadgold a chama de protetora das mulheres, pois ela usou sua influência para ajudá-las a ganhar direitos. Ela também é lembrada pelas narrativas populares como protetora e defensora dos pobres e fragilizados. Por ser uma colaboradora próxima, alguns chegam a chamá-la de corregente, junto do marido; é extremamente plausível que ela possa ter influenciado a política e até mesmo leis que ajudaram a alcançar estes fins. Isto faz dela uma heroína? A resposta a esta questão depende do modo como definimos heroína e de quem faz a pergunta.
Teodora se tornou uma personagem nas narrativas populares gregas que possuía muitas das qualidades dos heróis. Campbell afirma que os heróis são parcialmente definidos como protetores e defensores, atributos que aparecem na personagem de Teodora, e ela também era bela e inteligente, qualidades também frequentemente atribuídas aos heróis clássicos. Teodora de fato mudou o curso da história quando dissuadiu o seu marido de fugir durante a revolta de Nika e quando influenciou mudanças nas leis e nos direitos. Por causa disso, ela é às vezes chamada de heroína, apesar de Procópio e alguns outros historiadores destacarem as mortes que esta dissuasão custou. Teodora também possuía três valores cristãos que são atribuíveis à heroína cristã: o valor da fé é apontado por Treadgold, pois ela foi piedosa além de fiel ao marido; também era caridosa com os menos afortunados, pois ela mesma já havia sido uma deles; e dizem que foi penitente em um sentido que a aproxima da figura de Maria Madalena. Estes valores fundamentam a ideia de que Teodora foi uma heroína no sentido religioso e cristão.
Há controvérsia considerável sobre a personalidade de Teodora e isso desempenha um importante papel ao se determinar se Teodora foi ou não uma heroína. Procópio, um oficial de alto escalão, historiador e contemporâneo de Teodora, desaprovava fortemente a personalidade e os antecedentes de Teodora – ela era esperta e impiedosa, e, em sua vida pregressa, havia sido prostituta e atriz –, culpando-a por turbulências políticas e econômicas. Foss a descreve como “não sendo exatamene um santa” . A notória descrição que Procópio faz de Teodora em História Secreta mostra um extremo desprezo pela figura histórica; o historiador e a sociedade bizantina em geral julgavam suas ocupações anteriores como muito próximas das mais baixas na “hierarquia dos ofícios”. Procópio escreve que Teodora era furtiva e não confiável, mas esta caracterização pode ser creditada sobretudo ao seu viés pessoal contra ela; os historiadores sugerem que esta caracterização não é completamente acurada, pelo modo como Teodora se tornou uma proeminente figura no imaginário grego.
Teodora possuía uma personalidade muito imperativa, com grande influência, como visto quanto ao persuadir Justiniano a modificar leis e à sua reação à deslealdade quando ela esteve efetivamente no comando enquanto Justiniano sofria com a praga. Teodora era obstinada e teimosa, e acreditava que as mulheres deveriam ter direitos. Esta visão das mulheres em si era controversa naquela que era essencialmente uma sociedade patriarcal. Isso não significa que Teodora não foi uma heroína, por óbvio. Se pudéssemos conversar com Procópio sobre esta questão, provavelmente ele diria que não. As mulheres e os pobres que ela defendeu provavelmente diriam que sim.