O magnífico monumento de pedra referido como Monumento da Guerra Sagrada, o Teocalli da Guerra Sagrada, o Templo de Pedra ou, mais simplesmente, o Trono de Motecuhzoma II (Montezuma) - o rei asteca (tlatoani) que governava na época da conquista espanhola -, é coberto com relevos esculpidos retratando símbolos, deuses e o próprio governante. O trono, entalhado na forma de um templo piramidal, comemora a Cerimônia Asteca do Fogo Novo de 1507 e, através da arte, demonstra o elo inseparável entre fogo e água e entre os governantes deste mundo e o universo eterno. É uma das obras-primas da arte asteca e pode ser admirado em seu lar permanente, no Museu Nacional de Antropologia da Cidade do México.
Propósito
Descoberto em 1831, próximo ao palácio de Motecuhzoma II, sob o que é agora a Cidade do México, o trono foi entalhado em 1507 em pedra vulcânica e mede 1,23 metro de altura e cerca de 1 metro tanto em profundidade quando em largura. O objeto como um todo celebra o triunfo do sol e no topo há uma inscrição do ano 2 Casa, que equivale a 1345, considerada como a tradicional data de fundação da capital asteca, Tenochtitlán. O trono toma a forma de uma típica pirâmide asteca em degraus, com a parte traseira representando o templo sagrado que se ergue no topo de tais monumentos. A pedra pode, de fato, ser considerada como uma comemoração votiva ou teocalli (que significa "casa do deus") da guerra sagrada e da Cerimônia do Fogo Novo (Toxiuhmolpilia). Este ritual, realizado a cada 52 anos, quando se completava o ciclo completo do calendário asteca, era talvez o evento mais importante da religião e da vida dos astecas.
Sob os auspícios de Xiuhtechutli, o deus do fogo, o propósito da cerimônia era garantir a renovação bem-sucedida (ou o reaparecimento) do sol. No topo do Monte Uixachtecatl (ou Citlaltepec), próximo a Tenochtitlán, sacerdotes se reuniam à meia-noite e esperavam o alinhamento preciso de estrelas. Então sacrificava-se a Xiuhtecuhtli, removendo-se o coração da vítima. Tentava-se então acender o fogo dentro da cavidade peitoral e, se o fogo ardesse normalmente, tudo estava bem. Se a chama não acendesse, acreditava-se então que seria o sinal da vinda de monstros terríveis, as Tzitzimime, que iriam vaguear pela escuridão devorando toda a humanidade.
Com a impensável possibilidade de que o sol na verdade pudesse não reaparecer, cada cerimônia tornava-se um momento crucial para a sociedade asteca, mas talvez a de 1507 tenha sido mais significativa do que as demais. O império asteca sofrera vários infortúnios antes do evento, principalmente uma fome devastadora e destrutivas tempestades de neve e, assim, um novo ciclo e recomeço era justamente o que Motecuhzoma precisava. No fim das contas, o sol apareceu novamente para dar as boas-vindas a outros 52 anos de harmonia cósmica mas, na realidade, apenas 14 anos mais tarde os estrangeiros do Velho Mundo trariam o colapso cataclísmico da civilização asteca.
Detalhes
Os doze degraus que levam ao assento são flanqueados por uma imagem de um coelho na esquerda, significando a data 1 do calendário, enquanto no lado direito juncos representam a data 2. Estudiosos sugeriram que estas datas representariam os primeiros e últimos anos do ciclo de 52 anos ou, então, os anos nos quais esta Cerimônia do Fogo Novo em particular ocorreu. Acima destes símbolos, novamente com um em cada lado, há representações de cuauhxicalli, os recipientes usados para portar oferendas, tais como os corações das vítimas sacrificiais durante as cerimônias religiosas. O da esquerda contém marcações indicando uma pele de jaguar e o da direita plumas de águia.
Nas costas do assento do trono existe um grande disco solar, no qual estão indicados os pontos cardeais e medianos, um tema comum na arte asteca. À esquerda do disco solar ergue-se a figura de Huitzilopochtli, o deus da guerra e do sol, vestindo seu habitual adorno de cabeça de beija-flor e com seu pé esquerdo no formato de uma serpente de fogo, enquanto que, à direita, pode-se ver Motecuhzoma II realizando um sacrifício para a divindade. O assento do trono tem um relevo do monstro da terra da mitologia asteca, Tlaltecuhtli. Portanto, quando Motecuhzoma sentava-se no trono, estava em contato tanto com a terra quando com o sol e, assim, cumpria seu papel de guardião sagrado de ambos, separando-os com sua pessoa e evitando que o sol se precipitasse na terra.
A grande águia nas costas do trono relembra a lenda da fundação de Tenochtitlán, quando Huitzilopochtli indicou o local correto através de uma águia sentada num cacto. As figuras são o povo asteca, que oferecem seus corações em sacrifício e homenagem aos seus deuses e ao governante. Nos lados da pedra há deuses sentados, cada qual com um tetl ou símbolo de pedra em suas costas e sangue de seus quadris que ofertam em autossacrifício, um ritual típico da religião asteca. As quatro divindades representadas são Tlaloc (deus da chuva), Tlahuizcalpantecuhtli (Alvorecer), Xiuhtecuhtli (deus do fogo) e Xochipilli (deus das flores, verão e música). Estão também gravadas as datas 1 Sílex e 1 Morte e um espelho fumegante para representar Tezcatlipoca, o deus do destino. Estas cenas, portanto, combinam com os demais relevos esculpidos em todos os lados da pedra para oferecer um testemunho convincente do favor divino desfrutado pelo reinado de Motecuhzoma.