A faca com cabo de mosaico asteca atualmente exibida no Museu Britânico, em Londres, está datada entre 1400 a 1521 e acredita-se que costumava ser usada em cerimônias religiosas. Feira de madeira e sílex, o cabo da faca representa um guerreiro asteca, mas a lâmina não revelou nenhum traço de sangue nos testes realizados e, portanto, provavelmente não era utilizada para sacrificar vítimas, uma prática religiosa asteca comum.
A faca cerimonial ou ixcuac mede aproximadamente 32 centímetros de comprimento e 10 centímetros de altura. A lâmina, feita de sílex, é inserida num cabo de madeira de cedro (Cedrela odorata), fixada com resina de almecegueira e amarrada com uma corda feita de fibras de agave, um tipo de cacto. O sílex foi repetidamente britado para produzir uma lâmina muito fina e quase translúcida, que se afunila numa ponta afiada.
O cabo da faca está esculpido de forma a se parecer com uma figura agachada, que ostenta a vestimenta ritual do guerreiro-águia asteca ou cuauhtliocelotl, um dos mais elevados postos militares e que também pode ser traduzido como águia-jaguar. Um mosaico composto por pequenas peças de turquesa azul pálida cobre a figura. Alguns detalhes, tais como os olhos, dentes e unhas dos dedos são feitos com azulejos ainda menores de malaquita verde-escura e três tipos de conchas: concha branca (Strombus sp.), ostra espinhosa (Spondylus princeps) e madrepérola (Pinctada mazatlantica). Outros detalhes realizados em malaquita, concha e madrepérola incluem joias, como braceletes, tornozeleiras, decoração de peito e ornamento nasal. Os lábios e gengivas do guerreiro sorridente são dramaticamente realçados com o uso de conchas vermelho-alaranjadas.
Para colar os azulejos do mosaico utilizou-se resinas de pinho e copal, também empegadas nas decorações incrustadas. Curiosamente, a figura encontra-se segurando a faca com ambas as mãos. Tipico das representações astecas dos guerreiros-águias, a figura veste uma tanga ou maxtlatl e um manto largo decorado com estrelas brancas. A cabeça aparece num adorno em forma de bico, igualmente decorado com estrelas, representando a cabeça de um animal de rapina. A figura também veste alguma coisa que pende das costas, talvez representando um raio de sol, corpo celeste estreitamente associado com as águias e com estes guerreiros em particular.
Não se trata de um exemplar exclusivo, pois duas facas similares sobreviveram e podem ser vistas no Museu Nacional Pré-Histórico e Etnográfico Luigi Pigorini, em Roma e no Museu Nacional de Antropologia da Cidade do México. Um dos papéis dos guerreiros-águias de elite era fornecer vítimas sacrificiais para "alimentar" o sol com seus corações e sangue e, assim, eles formam um tema totalmente adequado para tais facas cerimoniais.