A Vida de Hércules em Mito e Lenda

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Artigo

Joshua J. Mark
por , traduzido por Ricardo Albuquerque
publicado em 23 julho 2014
Disponível noutras línguas: Inglês, francês, espanhol
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Hércules é o nome romano do herói grego Héracles, a figura mais popular da antiga mitologia grega. Era filho de Zeus, o rei dos deuses, e da mulher mortal Alcmena. Zeus, que estava sempre perseguindo uma mulher ou outra, assumiu a forma do marido de Alcmena, Anfitrião, e a visitou numa noite em sua cama, e assim nasceu Hércules, um semideus com incrível força e resistência. Ele realizou feitos incríveis, incluindo a luta contra a morte e duas viagens ao submundo.

Suas histórias foram contadas em toda a Grécia e mais tarde em Roma, mas sua vida jamais foi fácil, desde o nascimento, e seus relacionamentos com os demais muitas vezes resultavam em desastres. Isso acontecia porque Hera, esposa de Zeus, sabia que da condição do herói como um filho ilegítimo de seu marido e procurou destruí-lo. De fato, ao nascer ele recebeu o nome de Alceu (ou Alcides) e, mais tarde, passou a ser chamado de Héracles, que significa "Glória de Hera", significando que ele se tornaria famoso através de suas dificuldades com a deusa.

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Gilded Bronze Hercules
Hércules de Bronze Dourado
Mark Cartwright (CC BY-NC-SA)

O semideus, que sofria como os mortais e que podia se envolver em problemas tão facilmente quanto qualquer homem ou mulher, enquanto realizava ações que nenhum mortal seria capaz, conquistou grande apelo entre o povo da Grécia e de Roma. Hércules era uma espécie de homem comum superpoderoso que sofria decepções, tinha dias ruins - até anos ruins - e acabou morrendo devido aos truques alheios. Essas histórias, além de entretenimento puro e simples, serviam às audiências antigas, permitindo-as entender que, se coisas ruins podiam acontecer a um herói como Hércules, eles não tinham do que reclamar sobre as decepções e tragédias de suas vidas.Hércules simbolizava a condição humana na qual, para usar a frase de Hemingway, "um homem pode ser destruído, mas não derrotado".

Um aspecto interessante do caráter de Hércules é que, por causa de sua força e habilidades divinas, ele não foi obrigado a se submeter a nenhum dos trabalhos ou punições que lhe foram impostos. O herói escolheu sofrer indignidades tais como os famosos Doze Trabalhos ou seu período de servidão à rainha Ônfale e o fez de bom grado. Sua força interior e capacidade de suportar dificuldades o tornaram uma figura inspiradora para o povo e um símbolo de estabilidade em meio ao caos, mesmo que fosse um caos causado por ele mesmo. O historiador Thomas R. Martin escreve:

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O único herói que teve cultos estabelecidos internacionalmente, em todo o mundo grego, foi o homem forte Héracles (Hércules). Seus feitos sobre-humanos, ao vencer monstros e geralmente fazer o impossível, o tornaram atrativo como protetor de muitas cidades-estados (129).

Infância e Juventude

Embora fosse visto como defensor e grande protetor dos fracos, os problemas pessoais de Hércules começaram literalmente no nascimento. Hera enviou duas bruxas para impedir o nascimento, mas elas foram enganadas por um dos servos de Alcmena e enviadas para outra sala. Hera então enviou serpentes para matá-lo em seu berço, mas Hércules estrangulou as duas. Numa das versões do mito, Alcmena abandonou seu bebê na floresta para protegê-lo da ira da esposa de Zeus, mas ele foi encontrado pela deusa Atena, que o trouxe para Hera, alegando que se tratava de uma criança órfã, achada na floresta, que precisava de alimento. Hera amamentou Hércules em seu próprio seio até que a criança mordeu seu mamilo, momento em que ela o empurrou para longe, derramando o leite pelo céu noturno e, assim, criando a Via Láctea. A deusa devolveu o bebê a Atena, dizendo-lhe para cuidar dele por conta própria. Ao alimentar a criança com seu próprio seio, Atena inadvertidamente o imbuiu de força e poder adicionais.

The Infant Hercules
O Menino Hércules
Mark Cartwright (CC BY-NC-SA)

Hércules foi criado na corte de seu suposto pai Anfitrião, onde teve os melhores tutores da região, que lhe ensinaram luta livre, cavalgadas, esgrima, tiro com arco, como dirigir uma carruagem, tocar lira e cantar. O jovem não conhecia sua própria força, porém, e matou seu professor de música, Linus, atingindo-o certo dia com uma lira durante uma discussão. Foi enviado então para cuidar dos rebanhos do reino, numa tentativa de mantê-lo longe de problemas. Isso parecia ser impossível para Hércules: ao ouvir que o exército tebano tinha sido derrotado por um bando de mínios e sentindo que havia ocorrido uma injustiça, liderou os guerreiros tebanos, derrotou os invasores e restaurou a ordem a Tebas. Em sinal de gratidão, o rei Creonte de Tebas deu ao herói sua filha, Mégara, em casamento.

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A Loucura de Hera e os Doze Trabalhos

Nesta altura da história, Hércules aparece como um herói jovem e bem-sucedido, casado e, com o tempo, pai de três crianças saudáveis. Sem conseguir tolerar a situação, Hera causou-lhe um acesso de loucura, no qual ele matou suas crianças (e, em algumas versões, a própria Mégara). Hércules continuou enlouquecido até que Atena o deixou inconsciente com uma pedrada. Quando voltou a si, ficou devastado ao perceber o que havia feito. O herói teria se suicidado, mas seu primo Teseu o convenceu de que isso seria um ato covarde, e que deveria encontrar um meio de reparação. Hércules consultou o Oráculo de Delfos, que lhe disse para procurar seu primo Euristeu, rei de Tirinto e Micenas, que lhe designaria trabalhos como forma de expiar sua culpa. Originalmente, eram dez trabalhos, que mais tarde aumentariam para doze. Após esta experiência em Delfos, ele não mais ficou conhecido como Alceu e tomou o nome de Héracles.

Os Doze Trabalhos de Hércules eram:

1. Matar o Leão da Nemeia, invulnerável a qualquer arma. Ele prendeu o leão em uma caverna e o estrangulou com as mãos nuas. Depois disso, esfolou o animal e passou a vestir sua pele como uma capa.

Hercules and the Nemean Lion
Hércules e o Leão da Nemeia
Clio20 (CC BY-SA)

2. Matar o monstro conhecido como Hidra de Lerna, que tinha nove cabeças venenosas. Quando cada cabeça era cortada, surgiam duas outras em seu lugar. Hércules cortou as cabeças e, à medida que o fazia, seu sobrinho Iolau queimava os pescoços com uma tocha para impedir que crescessem novamente. O herói mergulhou suas flechas no sangue da Hidra para uso futuro; o veneno nele contido provocava uma morte rápida. Devido à ajuda que teve neste trabalho, Euristeu não o levou em consideração como um dos dez e designou-lhe outro.

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Hercules and the Hydra
Hércules e a Hidra
The Yorck Project (Public Domain)

3. Capturar a Corça da Cerínia, animal sagrado da deusa Ártemis. Hércules passou mais de um ano tentando capturar a corça com chifres dourados e finalmente a derrubou com uma flecha em seu casco. Mesmo assim, Ártemis recusou-se a autorizar que ele levasse a corça - e poderia tê-lo matado por capturá-la - até que soube da história dos seus trabalhos expiatórios e o deixou partir.

4. Capturar o Javali de Erimanto. Este trabalho levou Hércules à terra dos centauros, que tiveram a atenção despertada pelo vinho que fora dado ao herói para atrair o animal. Eles o atacaram e Hércules matou muitos deles até finalmente capturar o javali, que foi levado vivo para Euristeu. Durante este trabalho, Hércules também tomou parte na aventura com o herói Jasão e os Argonautas.

5. Limpar os Estábulos de Augias num dia. Euristeu considerou a aventura particular com os Argonautas como um luxo desnecessário da parte de Hércules e, assim, planejou uma tarefa impossível para seu próximo trabalho. Os estábulos do rei Augias eram imensos e seus rebanhos enormes e, assim, parecia não haver maneira de limpá-los em um mês, muito menos em um dia. Hércules afirmou que o faria, mas fez Augias prometer que ele receberia um décimo do rebanho caso fosse bem-sucedido. Augias concordou, pois sabia que não podia perder, mas Hércules desviou dois rios para fluir através dos estábulos e os limpou completamente. O rei recusou-se a honrar o acordo. Sentindo-se enganado, Hércules jurou que retornaria e mataria Augias após ter completado os trabalhos para Euristeu. O rei de Micenas, porém, disse-lhe que não poderia receber nenhum pagamento por seus trabalhos e que, ao tentar lucrar com a tarefa, ele a tinha desqualificado e teria de completar outra para compensar.

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6. Afugentar as Aves do Lago Estínfale, que estavam devastando o campo. Ele completou esta tarefa com um chocalho dado por Atena. O chocalho assustou os pássaros, que voaram para longe, e Hércules então as derrubou em pleno voo com suas flechas.

7. Trazer o Touro de Creta de Cnossos. O touro pertencia ao rei Minos, de Creta, e era sagrado para o deus dos oceanos, Poseidon; desta forma, podia caminhar sobre a água. Minos não mais queria o touro porque sua esposa tinha se apaixonado pelo animal que, de fato, a engravidou (o que levou ao nascimento do Minotauro). Assim, o rei ficou feliz em dar o touro para Hércules, que navegou de volta até Atenas e o levou para Euristeu. Solto nos campos, o touro causaria muitos outros problemas em toda a Ática até finalmente ser morto por Teseu.

Hercules & The Cretan Bull
Hércules e o Touro de Creta
Mark Cartwright (CC BY-NC-SA)

8. Capturar as Éguas de Diomedes. Diomedes, um rei trácio, costumava alimentar seus cavalos com uma dieta constante de carne humana para que ninguém se aproximasse deles. Hércules então alimentou os cavalos com o próprio Diomedes e, com os animais saciados, os levou de volta a Euristeu. Foi durante esse trabalho, indo ou vindo do palácio de Diomedes, que Hércules parou para visitar seu velho amigo Admeto, cuja esposa Alceste havia morrido recentemente. Hércules lutou contra a morte pela alma de Alceste e a devolveu ao marido.

9. Trazer o Cinturão de Hipólita. Este cinturão era um simbolo do direito de governar de Hipólita, a Rainha das Amazonas. As Amazonas inicialmente deram as boas-vindas a Hércules, mas Hera, disfarçada como uma delas, espalhou o boato de que Hércules tinha vindo para sequestrar a rainha e escravizá-las. As guerreiras atacaram e Hipólita foi morta durante o conflito; Hércules então apanhou o cinturão e partiu. Em outra versão deste trabalho, porém, ninguém morre; Hércules sequestra a irmã de Hipólita e pede o cinturão como resgate, partindo depois pacificamente. Na viagem de volta houve muitas outras aventuras paralelas, o que deixou Euristeu ainda mais enfurecido, mas o rei aceitou o cinturão como uma tarefa legítima.

10. Capturar o Gado de Gerião, rei de Cádiz. Hércules teve várias aventuras paralelas neste trabalho, incluindo criar inadvertidamente os Pilares de Hércules, em Gibraltar, e ameaçar o sol com flechas por estar se sentindo com muito calor. Quando finalmente alcançou Cádiz, na Espanha, ele teve vários problemas reunindo o gado, incluindo ter de caçar um touro (o rebanho tinha de estar completo para ser aceito como um dos trabalhos). Na viagem de volta para a Grécia, Hera enviou moscardos para picar o rebanho e espalhar os animais, de forma que o herói precisou reuni-los novamente. Então, a princesa Celtina viu Hércules e se apaixonou por ele. A princesa escondeu o gado e só revelaria o esconderijo se o herói dormisse com ela. Hércules obedeceu e se tornou pai de Celtus, progenitor dos Celtas. Finalmente, o herói conseguiu levar o gado para Euristeu, que aceitou o trabalho como legítimo.

11. Pegar os Pomos das Hespérides. A caminho do bosque sagrado onde os pomos cresciam, Hércules encontrou Prometeu preso à uma rocha e o libertou. Prometeu ficou grato e contou-lhe que os pomos eram guardados por um dragão invencível, chamado Ládon; portanto Hércules deveria tentar fazer com que o titã Atlas, que segurava a terra e os céus nos ombros, apanhasse os pomos em seu lugar. Quando Hércules chegou ao bosque das Hespérides, Atlas concordou em ajudar, mas Hércules teria que carregar o peso do mundo enquanto titã pegaria os pomos. Hércules aceitou a carga e Atlas apanhou os pomos. Quando retornou, porém, não se mostrou disposto a voltar à sua pesada carga, deixando o herói em seu lugar. Hércules concordou alegremente em continuar, mas perguntou a Atlas se ele poderia sustentar o peso novamente apenas um momento para que pudesse ajustar uma almofada sobre seus ombros, amortecendo o peso. Quando Atlas recolocou o universo em seus ombros, Hércules apossou-se dos pomos e partiu.

Hercules and Atlas
Hércules e Atlas
Mark Cartwright (CC BY-NC-SA)

12. Trazer Cérbero, o cão de guarda do submundo. Para o último trabalho, Euristeu decidiu-se por algo que parecia impossível: trazer de volta, vivo, o cão de três cabeças que guardava a entrada do Hades, o mundo dos mortos dos gregos. Antes que pudesse entrar no submundo, Hércules precisou se iniciar nos Mistérios Eleusinos, realizados na cidade sagrada de Elêusis. Em seguida, partiu para o Hades, onde mais aventuras se sucederam, como a libertação de seu primo Teseu da Cadeira do Esquecimento, na qual ele havia sido amarrado. Ele também se encontrou com o herói Meleagro - com quem havia viajado com os Argonautas -, que lhe recomendou se casar com sua irmã, Djanira (ou Dejanira), quando retornasse à terra. Hércules foi autorizado por Hades, o deus que tinha o mesmo nome do submundo, a levar Cérbero, desde que não machucasse o cão. O herói lutou com Cérbero e o dominou, levando-o para Euristeu, que ficou aterrorizado com o animal. O rei disse a Hércules que seus trabalhos estavam concluídos e que levasse o animal de volta para onde o havia encontrado.

Outras Aventuras e Escravidão

Hércules agora estava livre para fazer o que quisesse com sua vida e, depois de tudo o que havia realizado, pode-se pensar que agora conseguiria aproveitar seus dias em paz; mas não seria assim. Através dos truques de Hera ou de seu próprio temperamento e falta de contenção, o herói acabaria enfrentando outros desafios. Novamente enlouquecido por Hera, Hércules matou o príncipe Ífito da Ecália e foi informado pelo oráculo que deveria se vender como escravo para expiar seus pecados. Tornou-se então propriedade da rainha Ônfale, da Lídia, que fez o herói se vestir com roupas femininas e fazer bordados com as outras damas da corte. Ônfale acabou fazendo do herói seu amante e o libertou.

Hércules partiu numa expedição para Troia, que conquistou com a ajuda de outros heróis (muito antes da Guerra de Troia) e depois se envolveu numa guerra com os titãs da Sicília. Os titãs, derrotados séculos antes por Zeus, tinham ressuscitado e, de acordo com a profecia, os deuses só poderiam vencer desta vez com a ajuda de um herói mortal. Hércules ajudou a derrotá-los definitivamente, resgatando o mundo do caos e os deuses da prisão. Ele então navegou de volta à Grécia para se vingar do rei Augias por se recusar a honrar o acordo feito quando o herói limpou os estábulos reais. No entanto, acabou derrotado nesta batalha porque ainda estava enfraquecido pela guerra com os titãs. Ele deixou o reino de Augias e, depois de mais aventuras, desembarcou em Calidon, onde conheceu e se apaixonou pela princesa Djanira, irmã de Meleagro. O herói precisou lutar contra o deus do rio Aqueloo pela mão da princesa e venceu, casando-se em seguida.

Djanira e Casamento

Djanira e Hércules viveram felizes por algum tempo em Calidon até que ele acidentalmente matou o copeiro de seu sogro. Embora tudo não passasse de um acidente, motivo pelo qual acabou perdoado pelo rei, Hércules não conseguiu se conformar e decidiu deixar a cidade com Djanira. Quando chegaram ao rio Êueno, encontraram o centauro Nesso, que se ofereceu para carregar Djanira nas costas. Ao chegar ao outro lado, no entanto, ele tentou estuprá-la e Hércules o atingiu com uma de suas flechas. Eram as mesmas flechas que Hércules mergulhara no sangue da Hidra, e o centauro, enquanto expirava, disse a Djanira que seu sangue possuía uma qualidade especial como poção do amor e que ela deveria guardar um pouco dele em um frasco. Se porventura sentisse que Hércules estava perdendo o interesse amoroso, ele disse, a princesa deveria borrifar o sangue na camisa do herói, fazendo com que se apaixonasse para sempre. Nesso, que tinha conhecimento de que o sangue seria fatal para qualquer mortal, queria se vingar por ter sido atingido pela flecha venenosa de Hércules.

Hercules Fighting the Centaur Nessos
Hércules Lutando contra o Centauro Nesso
Mary Harrsch (Photographed at the Loggia dei Lanzi, Florence) (CC BY-NC-SA)

Hércules e Djanira instalaram-se na cidade de Tráquis, formaram uma família e, novamente, tiveram anos de felicidade até que Hércules entrou em guerra contra Êurito, que, como Augias, o insultara anteriormente. Ele matou Êurito e tomou sua filha Iole, que já havia sido prometida anteriormente como prêmio maior de um concurso de arco e flecha vencido pelo herói, como sua concubina. Outra versão do mito relata que ele ajudou Ártemis a matar um javali que estava devastando o reino e recebeu Iole como presente. Hércules então preparou um banquete da vitória e enviou uma mensagem a Djanira para lhe mandar sua melhor vestimenta. Djanira, temendo que Hércules estivesse mais interessado em Iole do que nela, mergulhou a camisa no sangue de Nesso e então lavou as manchas, deixando somente o veneno. Tão logo Hércules vestiu a camisa, foi tomado pela agonia e começou a queimar. Ele arrancou a camisa de seu corpo, mas o veneno já estava embebido em sua pele. Como era um semideus, não podia morrer rapidamente e assim sofreu enquanto o veneno penetrava em seu corpo e ele ficava cada vez mais enfraquecido. Djanira, percebendo que fora enganada por Nesso e havia assassinado seu marido, enforcou-se.

A Morte de Hércules

Hércules subiu ao Monte Etna, onde fez sua pira funerária numa clareira, distribuiu seus bens e então deitou-se com a cabeça descansando em sua clava e coberto com a pele do Leão da Nemeia; então, as tochas foram acesas e as chamas envolveram a pira. Thomas Bullfinch, o famoso mitólogo, escreve:

Os próprios deuses sentiam-se perturbados ao ver o campeão da terra chegar ao seu fim. Mas Zeus, com semblante alegre, dirigiu-se a eles desta forma: "Estou satisfeito em ver sua preocupação, meus príncipes, e gratificado ao perceber que sou o líder de pessoas leais, e que meu filho desfruta de seu favor. Pois embora seu interesse seja despertado pelas nobres ações dele, isso não me deixa menos gratificado. Mas agora digo a vocês, não temam. Ele, que conquistou a tudo, não será vencido pelas chamas que vocês veem ardendo no Monte Etna. Somente a parte de sua mãe pode perecer; o que herdou de mim é imortal. Devo levá-lo, morto na terra, para as margens do céu, e peço a todos vocês que o recebam gentilmente. Se qualquer um de vocês se sente pesaroso por ele alcançar esta honra, ainda assim ninguém pode negar que a mereceu." Todos os deuses deram seu consentimento; Hera ouviu as últimas palavras com desprazer por ser tão especificamente mencionada, mas não o suficiente para fazê-la se lamentar da determinação de seu marido. Assim, quando as chamas consumiram a porção mortal de Hércules, a parte divina, em vez de ser ferida, pareceu se recuperar com novo vigor, assumindo um porte ainda mais nobre e digno. Zeus o envolveu numa nuvem e o levou num carro com quatro cavalos para se instalar entre as estrelas (143).

Legado

Assim, Hércules deixou a terra para viver eternamente entre os deuses e, através das suas aventuras, desfrutar da imortalidade. Sua vida não foi sempre feliz e, ainda que tivesse um deus como pai, suas lutas cotidianas e relacionamentos não ficaram mais fáceis por causa de sua força. Mesmo capaz de realizar grandes feitos, isso não o deixou imune aos desapontamentos e épocas ruins que são parte da experiência humana. O historiador Sir. R. W. Livingstone afirma que "os gregos eram fascinados pelo espetáculo do homem e do mundo e seu fascínio não é visto somente na filosofia formal. Pode-se dizer de seus poetas que nasceram para ver o mundo e a vida humana - não para moralizar ou entregar-se aos sentimentos ou retórica ou misticismo sobre ela, mas para assisti-la" (270).

Os mitos de Hércules mostram o mundo como é: todos têm monstros que precisam dominar, tarefas aparentemente impossíveis com as quais se deparam e tragédias difíceis de suportar. Assim como na antiga Grécia, quando as pessoas sentavam-se e ouviam as histórias do herói, mesmo nos dias atuais, as histórias em quadrinhos, graphic novels, livros, séries de televisão e filmes de Hollywood com Hércules continuam populares. Ele permanece um herói com o qual qualquer um pode se identificar, precisamente porque sua vida estava longe de ser perfeita e seu caráter menos do que o ideal. Quando se depara com alguma situação difícil na vida, é possível se confortar com o pensamento que, se Hércules conseguiu suportar seus sofrimentos, nós podemos sobreviver aos nossos.

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Sobre o tradutor

Ricardo Albuquerque
Jornalista brasileiro que vive no Rio de Janeiro. Seus principais interesses são a República Romana e os povos da Mesoamérica, entre outros temas.

Sobre o autor

Joshua J. Mark
Joshua J. Mark é cofundador e diretor de conteúdos da World History Encyclopedia. Anteriormente, foi professor no Marist College (NY), onde lecionou história, filosofia, literatura e redação. Ele viajou bastante e morou na Grécia e na Alemanha.

Citar este trabalho

Estilo APA

Mark, J. J. (2014, julho 23). A Vida de Hércules em Mito e Lenda [The Life of Hercules in Myth & Legend]. (R. Albuquerque, Tradutor). World History Encyclopedia. Recuperado de https://www.worldhistory.org/trans/pt/2-733/a-vida-de-hercules-em-mito-e-lenda/

Estilo Chicago

Mark, Joshua J.. "A Vida de Hércules em Mito e Lenda." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. Última modificação julho 23, 2014. https://www.worldhistory.org/trans/pt/2-733/a-vida-de-hercules-em-mito-e-lenda/.

Estilo MLA

Mark, Joshua J.. "A Vida de Hércules em Mito e Lenda." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 23 jul 2014. Web. 21 dez 2024.