Como ler um glifo maia

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Artigo

Lily Ball
por , traduzido por Ricardo Albuquerque
publicado em 25 janeiro 2015
Disponível noutras línguas: Inglês, francês, espanhol
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Por mais de três séculos, os antigos Maias prosperaram na Mesoamérica. Eles construíram pirâmides de pedra gigantes, cercadas pela floresta densa, usavam um calendário que fez muitos acreditarem que 2012 seria o fim do mundo e criaram um sistema de escrita tão belo quanto complexo. Sua decifração encontra-se em andamento até os dias atuais. De fato, sua escrita é tão esteticamente rica e difícil de dominar que somente um artista competente pode escrevê-la apropriadamente. Como seria de se esperar, os antigos escribas e artistas maias eram conhecidos pelo mesmo título: t'zib.

Decifrando os Antigos Maias: Sílabas e Conceitos

O sistema de escrita dos maias é logossilábico, o que significa que seus símbolos podem representar sons na forma de sílabas (como "ma" ou "tot") ou conceitos completos (como "rio" e "casa"). Isso fez com que a linguagem fosse muito difícil de decifrar e, de fato, os estudiosos inicialmente pensavam que se tratasse de um sistema fonético, devido às infundadas suposições de um missionário chamado Diego de Landa. Nascido na Espanha, a primeira língua do missionário, naturalmente, era o espanhol. Portanto, quando tentou decifrar a escrita dos maias, ele a dividiu em sons individuais (vogais e consoantes) e não em sílabas, resultando num registro incorreto da linguagem escrita e falada dos maias e um guia enganoso para os acadêmicos. Somente em 1952 sugeriu-se que poderia se tratar de um sistema silábico e não fonético. Este foi um importante progresso rumo à decifração definitiva da antiga linguagem escrita dos maias.

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Mesmo com estes percalços, os estudiosos conseguiram decifrar muito da linguagem escrita dos antigos maias, abrangendo tópicos desde matemática astronômica até linhagens reais.

A distinção entre uma linguagem fonética e silábica é pequena, mas essencial. Uma linguagem fonética usa sons individuais para construir a pronúncia de palavras. Inglês, Alemão e as linguagens modernas românicas, como Francês, Italiano, Espanhol e Português, para citar somente algumas, são fonéticas. Quanto redigidas, cada símbolo (letra) representa um único som (uma vogal ou consoante), como "o" ou "b". Linguagens silábicas, porém, são compostas de combinações de consoante-vogal (CV) ou consoante-vogal-consoante (CVC), como "ta" ou "bot". O Japonês, por exemplo, usa o modelo silábico para a maior parte de seus dois alfabetos: katakana e hiragana.

Os glifos maias são complicados ainda mais pelo uso da fusão, na qual dois ou mais glifos são combinados e alguns dos seus elementos são eliminados ou simplificados, reduzindo sua complexidade individual para criar um novo glifo, legível e esteticamente atraente, que se encaixe no espaço disponível, seja ele uma pequena taça decorada ou uma estela gigante de pedra.

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Lendo a Antiga Linguagem Maia

Mesmo com todos estes obstáculos, os estudiosos conseguiram decifrar muito da antiga linguagem, abrangendo tópicos do vasto conhecimento maia sobre matemática astronômica, suas vívidas histórias e as linhagens reais. A estrutura básica deste sistema consiste em um ou mais glifos principais, com outros adicionados se necessário. Por exemplo, o complexo glifo abaixo representa a antiga cidade maia de Copán. O glifo principal é a cabeça de um morcego, completa com um nariz erguido, asas estendidas e uma boca com dentes arreganhados. Com um glifo como este, é fácil perceber o sofisticado talento artístico necessário para se tornar um perfeito t'zib.

Copan glyph
Glifo de Copán
Zykasaa (Public Domain)

Possivelmente um dos mais famosos glifos da linguagem escrita maia é o que representa o chocolate [cacau]. Este glifo era pintado ou gravado em muitos vasilhames, alguns dos quais ainda continham traços de chocolate, o que levou os estudiosos a acreditar que, nestes casos, os maias etiquetavam os recipientes de acordo com seu uso. Felizmente, o glifo para chocolate é inteiramente silábico, fazendo-o mais fácil de ser lido.

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Maya kakau glyph
Glifo Maia do Cacau
VVVladimir (Public Domain)

Há três elementos essenciais para a leitura deste glifo:

  • O glifo principal, que lembra um peixe (chamaremos esta parte do glifo elemento "A").
  • As formas oval e em formato de gancho à direita, que se parecem com a cauda de um peixe, mas na verdade são um glifo separado (que vamos chamar de elemento "B").
  • Os dois pontinhos que se assemelham ao sinal de pontuação "dois pontos", próximos à boca do peixe (elemento "C").

O glifo principal, A, representa o som silábico "ka". O elemento B, próximo à cauda do peixe, representa o som silábico "ua" (também soletrado como "wa"). Até agora, pronuncia-se o glifo "ka-ua", pois os maias liam da esquerda para a direita e de cima para baixo. Porém, ainda precisamos levar em conta o elemento C, próximo à boca do peixe. Qualquer um que leia partituras musicais reconhecerá o elemento C como um sinal repetido, inserido ao final de uma linha musical para indicar que uma parte da peça deve ser repetida. De maneira surpreendente, é exatamente esta a função deste sinal no glifo. Ele diz ao leitor para repetir o som do símbolo próximo a ele. No caso, é o elemento A, "ka". Assim, seguindo-se a ordem correta de leitura, esquerda para a direita e de cima para baixo, lemos o glifo como "ka-ka-ua".

Uma informação adicional é necessária para pronunciar este glifo corretamente: os maias eram conhecidos por não pronunciar a última vogal de uma palavra falada. Portanto, este glifo deveria ser lido sem o som "a" que o finaliza. Sem este último "a", o glifo pode ser lido como "ka-ka-u", ou, como o soletramos atualmente, cacau, o principal ingrediente do chocolate.

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Bibliografia

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Sobre o tradutor

Ricardo Albuquerque
Jornalista brasileiro que vive no Rio de Janeiro. Seus principais interesses são a República Romana e os povos da Mesoamérica, entre outros temas.

Sobre o autor

Lily Ball
Enquanto estudava História da Arte na faculdade, Lily tornou-se fascinada com as antigas culturas do Mediterrâneo e da Mesoamérica. Ela passou um mês numa expedição arqueológica em Belize em 2004. Em seu tempo livre, ela se dedica à apicultura e à leitura de velhas histórias de fantasmas.

Citar este trabalho

Estilo APA

Ball, L. (2015, janeiro 25). Como ler um glifo maia [How to Read a Maya Glyph]. (R. Albuquerque, Tradutor). World History Encyclopedia. Recuperado de https://www.worldhistory.org/trans/pt/2-789/como-ler-um-glifo-maia/

Estilo Chicago

Ball, Lily. "Como ler um glifo maia." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. Última modificação janeiro 25, 2015. https://www.worldhistory.org/trans/pt/2-789/como-ler-um-glifo-maia/.

Estilo MLA

Ball, Lily. "Como ler um glifo maia." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 25 jan 2015. Web. 25 dez 2024.