Deuses e Deusas do Antigo Egito - Uma Breve História

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Artigo

Joshua J. Mark
por , traduzido por Mateus José Aleixo Miranda
publicado em 17 abril 2016
Disponível noutras línguas: Inglês, bengali, Chinês, francês, espanhol
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A terra do antigo Egito pulsava com o espírito dos deuses. O deus sol, Rá, emergia das trevas todas as manhãs em seu grande barco trazendo a luz, e muitos dos deuses vigiavam o povo durante a noite, como as estrelas. Osíris fazia o rio Nilo inundar suas margens e fertilizar a terra, enquanto Quenúbis dirigia seu fluxo. Ísis e sua irmã Néftis caminhavam com o povo da terra em vida e os protegiam após a morte, assim como muitos outros deuses, e Bastet guardava a vida das mulheres e vigiava o lar. Tenenet era a deusa da cerveja, da sua fabricação e também estava presente no parto, enquanto Hathor, que tinha muitos papéis, era companheira íntima em qualquer festa ou festival como a Senhora da Embriaguez.

Ra Travelling Through the Underworld
Rá Viajando Pelo Submundo
Unknown Artist (Public Domain)

Os deuses e deusas não eram divindades distantes a serem temidas, mas amigos próximos que viviam entre o povo nas casas-templos, nas árvores, lagos, riachos, pântanos e no deserto além do Vale do Nilo. Quando os ventos quentes sopravam dos terrenos áridos, não era apenas uma confluência de ar e sim o deus Seth causando algum transtorno. Quando a chuva caía, era um presente de Tefnut, deusa da umidade, que também estava associada à seca e era solicitada para segurar a chuva em dias de festival. Os seres humanos nasceram das lágrimas de Atum (também conhecido como Rá ou Atum-Rá) ao chorar de alegria pelo retorno de seus filhos Shu e Tefnut no início dos tempos, quando o mundo foi criado a partir das águas do caos. Em todos os aspectos da vida, as divindades do Egito estavam presentes e continuavam a cuidar de seu povo após a morte.

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Origens das Divindades

A crença em entidades sobrenaturais remonta ao Período Pré-Dinástico no Egito (c. 6000-3150 a.C.), embora suas raízes provavelmente se estendam além. A historiadora Margaret Bunson observa:

Os egípcios lidavam com forças incompreensíveis. Tempestades, terremotos, inundações e secas pareciam inexplicáveis, e ainda assim o povo percebia agudamente a influência dos fenômenos naturais nos assuntos humanos. Consequentemente, os espíritos da natureza eram reverenciados por sua potência, capazes de causar estragos nos mortais (98).

A devoção inicial nos deuses assumiu as formas de animismo (a crendice de que objetos inanimados, plantas, animais e a terra possuem almas e estariam imbuídos da centelha divina); de fetichismo (conviccção de que um objeto tinha consciência e poderes sobrenaturais) e totemismo, a crença de que indivíduos ou clãs têm uma relação espiritual com determinada planta, animal ou símbolo. No Período Pré-Dinástico, o animismo era a compreensão primária do universo, assim como foi para os primeiros povos em qualquer cultura. Bunson escreve: "Por meio do animismo, a humanidade procurava explicar as forças naturais e o lugar dos seres humanos no padrão de vida na terra" (98). O animismo não apenas dizia respeito às forças cósmicas superiores e à energia terrena, mas também às almas daqueles que haviam morrido. Bunson explica:

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Os egípcios acreditavam firmemente que a morte era apenas uma porta para outra forma de existência, então reconheciam a possibilidade de que aqueles que haviam morrido fossem mais poderosos em seu estado ressuscitado. Assim, membros politicamente, espiritualmente ou magicamente poderosos de cada comunidade assumiam uma significância especial na morte ou no além. Cuidados especiais eram tomados para fornecer a essas almas todas as devidas homenagens, oferendas e reverência. Acredita-se que as pessoas mortas pudessem se envolver nos assuntos dos vivos, para o bem ou para o mal, e, portanto, tinham que ser aplacadas com sacrifícios diários (98).

A concepção em uma vida após a morte deu origem a uma compreensão de seres sobrenaturais que presidiam sobre este outro reino, conectando-os ao plano terreno de forma harmoniosa. A evolução inicial do pensamento religioso talvez seja melhor resumida pela linha do poema número 96 de Emily Dickinson (mais conhecido como A minha vida fechou-se duas vezes antes de se fechar): "A despedida é tudo o que conhecemos do céu e tudo o que precisamos do inferno", ou de Aubade de Larkin, onde a religião é "criada para fingir que nunca morremos". A experiência da morte exigia alguma explicação e significado, que era fornecido por uma crença em poderes superiores.

O animismo ramificou-se em fetichismo e totemismo. O fetichismo é exemplificado pelo símbolo do djed, representando estabilidade terrestre e cósmica. Cogita-se que o símbolo do djed foi originalmente um sinal de fertilidade, que passou a ser associado tão intimamente a Osíris que inscrições como "o Djed está deitado ao seu lado" significavam que Osíris morrera, enquanto que o erguer do símbolo djed simbolizava sua ressurreição. Por sua vez, o totemismo evoluiu a partir da associação local com uma determinada planta ou animal. Cada nomo (província) do antigo Egito tinha seu próprio totem, seja uma planta, animal ou símbolo, que representava a conexão espiritual do povo com aquele lugar. Todo exército egípcio marchava para a batalha dividido em nomos, e cada nomo carregava o próprio estandarte com seu respectivo totem. Indivíduos tinham seu próprio totem, um guia espiritual único. O rei do Egito, em todas as épocas, era vigiado por um falcão que representava o deus Hórus.

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Com o passar do tempo, esses espíritos intermediados através do animismo foram antropomorfizados (atribuição de características humanas a coisas não humanas). Os espíritos invisíveis que habitavam o universo foram tomados por forma, aparência e nomes, e estes se tornaram as divindades do antigo Egito.

Origens Mitológicas

O principal mito de criação dos egípcios começa com a calmaria das águas primordiais antes do início dos tempos. Dessas águas infinitas e sem fundo surgiu o monte primordial (o ben-ben). As pirâmides do Egito foram interpretadas como representantes dessa primeira colina de terra a surgir das profundezas primordiais. Existindo eternamente nessas águas silenciosas (Nu) estava heka - magia - personificada no deus Heka, que em algumas versões do mito faz o ben-ben surgir.

Sobre o monte pairava o deus Atum (ou Rá) ou, segundo algumas versões, ele pousa proveniente dos céus. Atum olhou para o vazio do caos e reconheceu que estava solitário; assim, por meio da manipulação de heka, ele se acasalou com sua própria sombra para dar à luz dois filhos, Shu (deus do ar, que Atum cuspiu) e Tefnut (deusa da umidade, que Atum vomitou). Shu deu ao mundo primitivo os princípios da vida, enquanto Tefnut contribuiu com os princípios da ordem.

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Deixando seu pai no ben-ben, eles partiram para organizar o mundo. Com o tempo, Atum ficou preocupado com a ausência de seus filhos e então removeu seu olho e o enviou em busca deles. Enquanto seu olho estava removido, Atum sentava-se sozinho no monte ao redor do caos e contemplava a eternidade. Shu e Tefnut retornaram com o olho do pai (símbolo do famoso Olho Que Tudo Vê), e ele, em estado de gratidão, derramou lágrimas de alegria.

Essas lágrimas, caindo sobre a terra escura e fértil do ben-ben, deram origem aos homens e às mulheres. Essas criaturas não tinham onde morar, então Shu e Tefnut copularam para dar à luz Geb (terra) e Nut (céu), que se apaixonaram tão profundamente a ponto de se tornarem inseparáveis. Atum ficou descontente e os afastou um do outro, elevando Nut bem acima de Geb e a aprisionando ao dossel do cosmos. Contudo, ela já estava grávida de Geb e logo pariu os primeiros cinco deuses: Osíris, Ísis, Set, Néftis e Hórus. A partir desses deuses originais surgiram todos os outros.

The Greenfield Papyrus
O Papiro Greenfield
The Trustees of the British Museum (Copyright)

Uma versão alternativa da criação é muito semelhante, mas inclui a deusa Neith, uma das mais antigas de todas as divindades egípcias. Nessa versão, Neith é a esposa de Nu, o caos primordial, que dá à luz Atum-Rá e todos os outros deuses. Mesmo nesse mito, Heka antecede Neith e todos os demais. Em várias inscrições ao longo da história do Egito, Neith é referida como a "Mãe dos Deuses" ou "Mãe de Tudo" e está entre os primeiros exemplos da figura da Deusa Mãe da História. Em outra versão, Nu (desordem) é personificado como Nun, o pai e mãe de toda a criação, que concebe os deuses e todo o resto no universo.

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Segundo a egiptóloga Geraldine Pinch, uma vez que os deuses nasceram e a criação foi posta em movimento:

As qualidades do estado primevo, como sua escuridão, foram retrospectivamente dotadas de consciência e se tornaram um grupo de divindades conhecidas como os Oito ou a Ogdóade de Hermópolis. Os Oito eram imaginados como anfíbios e répteis, criaturas férteis da primitiva lama escura. Eles eram as forças que moldaram o criador ou até mesmo as primeiras manifestações do criador (58).

O símbolo do ouroboros, a serpente engolindo sua própria cauda, representando a eternidade, vem dessa conexão da serpente com a criação e o divino. Atum-Rá é ilustrado em inscrições antigas como uma serpente. Posteriormente, ele se torna a serpente-sol (ou uma divindade solar protegida por uma serpente) que batalha contra as forças do caos idealizadas pela serpente Apófis.

A Natureza dos Deuses e Deusas

As divindades do antigo Egito mantinham a harmonia e o equilíbrio após a divisão do Uno primordial. Geraldine Pinch escreve: "Textos que aludem à era desconhecida antes da criação definem-na como o tempo 'antes que duas coisas se desenvolvessem'. O cosmos ainda não estava dividido em pares de opostos, como terra e céu, luz e escuridão, masculino e feminino, ou vida e morte" (58). No começo, tudo era Uno e, então, com o surgimento do ben-ben e o nascimento dos deuses, a multiplicidade entrou na criação: o Uno se tornou muitos.

As crenças religiosas egípcias centravam-se no equilíbrio desses 'muitos' através do princípio de harmonia conhecido como ma'at. Ma'at era o valor central da cultura egípcia, influenciando todos os aspectos da vida das pessoas, desde o comportamento em sociedade até a arte, a arquitetura, a literatura e o pós-vida. O poder que permitia aos deuses realizarem suas funções também dava aos seres humanos acesso ao divino, e o que sustentava ma'at era heka. Heka, o deus, é citado nos Textos dos Sarcófagos como precedente de qualquer outra deidade.

Assim como a civilização da Mesopotâmia, de quem alguns estudiosos alegam que os egípcios desenvolveram sua religião, o povo do Egito acreditava que eram partícipes dos deuses na manutenção da ordem e na contenção das forças do caos. A história que melhor ilustra esse conceito é A Derrota de Apófis, a qual gerou seu próprio ritual. Apófis era a serpente primordial que, todas as noites, atacava a barca solar de Rá enquanto ela viajava pela escuridão em direção ao amanhecer. Diferentes deuses e deusas tripulavam o barco com Rá para protegê-lo de Apófis, e esperava-se que as almas dos mortos também ajudassem a afastar a serpente. Uma das imagens mais famosas dessa história mostra o deus Seth (antes de se tornar conhecido como o vilão do Mito de Osíris) arremessando uma lança na serpente e protegendo a luz.

Apophis Defeated
A Derrota de Apófis
kairoinfo4u (CC BY-NC-SA)

O ritual que surgiu dessa história inspirou que as pessoas fizessem efígies de Apófis em madeira ou cera; dessa forma elas poderiam ser queimadas para ajudar as almas dos mortos e as divindades que viajavam com elas a trazer o sol pela manhã. Dias nublados eram problemáticos para os antigos egípcios porque eram vistos como o presságio de que Apófis estava sobrepujando Rá; um eclipse solar era uma fonte de grande temor. Os egípcios, por intermédio de ritos e devoção aos deuses, ajudavam o sol a nascer novamente todas as manhãs, e cada dia era visto como uma luta entre as forças da ordem e do caos. Geraldine Pinch escreve:

Quando deuses primordiais como Atum são mencionados como serpentes, eles geralmente representam o aspecto positivo do caos como uma força de energia, mas tinham uma contraparte negativa na grande serpente Apófis. Esta representava o aspecto destrutivo do caos que constantemente tentava ultrapassar todos os seres e reduzir tudo ao seu estado fundamental de 'unidade'. Então, mesmo antes de a criação iniciar-se, o mundo continha os elementos de sua própria destruição (58).

Essa destruição dominaria até mesmo os próprios deuses e deusas. O retorno ao estado de totalidade, dos muitos se combinando novamente no Uno, era considerado inevitável. O estudioso R. H. Wilkinson observa: "um número de textos egípcios evidencia que, embora os deuses não fossem considerados mortais no sentido usual, eles ainda assim podiam morrer" (20). Essa crença parece ter vindo do valor egípcio de equilíbrio e harmonia; como a multiplicidade do universo havia surgido do Uno, um dia retornaria ao seu estado original. Um deus como Osíris poderia ser morto e depois retornar à vida, todavia isso era apenas uma situação temporária; um dia, todos seriam reintegrados ao caos basilar de onde vieram. Wilkinson escreve:

O princípio da morte divina aplica-se, na verdade, a todas as divindades egípcias. Textos que datam pelo menos do Novo Império falam sobre o deus Thoth atribuindo durações de vida fixas tanto para humanos quanto para deuses, e o Feitiço 154 do Livro dos Mortos afirma inequivocamente que a morte (literalmente, 'decadência' e 'desaparecimento') aguarda 'todo deus e deusa'... e apenas os elementos dos quais o mundo primordial havia surgido eventualmente permaneceriam (21).

O conceito de unidade, de reconhecimento de um todo indiferenciado, não era glorificado pela cultura egípcia tal como por certos aspectos das culturas chinesa ou hindu, e sim temido. Retornar à unidade irredutível significava a perda da identidade pessoal, das memórias, das realizações na vida e dos entes queridos. Esse pensamento era intolerável para os antigos egípcios. Na vida após a morte, em vez de um 'inferno', a pior coisa que poderia acontecer a uma alma era ser julgada inapta para o paraíso. Se o coração da alma fosse mais pesado que a pena branca da verdade de Maat, ele seria jogado no chão e devorado pelo monstro Ammut.

Por isso, acreditava-se que o coração era o centro da personalidade e do espírito de uma pessoa, e, uma vez devorado, a alma deixava de existir. A inexistência era aterrorizante para os egípcios. Bunson escreve: "Os egípcios temiam a escuridão eterna e a inconsciência na vida após a morte, porque ambas as condições contrariavam a transmissão ordenada de luz e movimento evidente no universo" (86). Essa "transmissão de luz e movimento" era a própria vida. A visão elaborada da vida após a morte egípcia como um reflexo perfeito da vida na terra se desenvolveu precisamente por causa desse medo da inexistência, de perder a si mesmo. Quando os deuses finalmente morressem, após milhões de anos, os seres humanos morreriam com eles e toda a história humana se tornaria vazia.

A Morte dos Deuses e Deusas do Egito

Os deuses e deusas do antigo Egito eventualmente se extinguiram e isso não levou nem milhões de anos. A ascensão do cristianismo significou o fim das práticas religiosas egípcias antigas e um mundo imbuído e sustentado por magia. Deus agora residia no céu, uma única divindade distante da Terra, e não havia mais a multiplicidade de deuses e espíritos habitando a vida cotidiana. Mesmo que esse novo deus pudesse estar presente através do intermediário de seu filho Jesus Cristo, ele ainda é descrito pelas escrituras cristãs como "habitando em luz inacessível" (I Timóteo 6:16). A imagem da serpente divina já havia sido tomada pelos escribas judeus e transformada em um símbolo da queda dos seres humanos do paraíso (Gênesis 3). Além disso, a própria terra, longe de estar imbuída dos espíritos de deuses amigáveis, agora era considerada má pelas escrituras cristãs e sob o controle de seu adversário Satanás (Romanos 5:2, II Coríntios 4:4, Gálatas 1:4, I João 5:19, etc.). No século V E.C., os deuses egípcios estavam em declínio, e no século VII E.C., eles desapareceram. Como observa Wilkinson, porém, eles não desapareceram silenciosamente:

Em 383 d.C., templos pagãos em todo o Império Romano foram fechados por ordem do imperador Teodósio e uma série de outros decretos, culminando nas decisões de Teodósio em 391 d.C. e Valentiniano III em 435 d.C. em sancionarem a destruição real de estruturas religiosas pagãs. Logo, a maioria dos templos do Egito foi evitada, reclamados para outros usos ou ativamente destruídos por cristãos zelosos; e os antigos deuses foram largamente abandonados (22).

Wilkinson e outros observam como a religião dos antigos egípcíos continuaram a existir apesar das tentativas do cristianismo e depois do islamismo de destruí-las. O Mito de Osíris, com sua figura central de um Deus que morre e revive, tornou-se central para o Culto de Ísis, que viajou para a Grécia após Alexandre, o Grande, conquistar o Egito em 331 a.C. Da Grécia, o culto a Ísis foi levado para Roma, onde se tornou o dogma mais popular no Império Romano antes da ascensão do cristianismo, assim como seu oponente mais teimoso posteriormente. Templos para Ísis foram encontrados em todo o mundo antigo: de Pompéia a Ásia Menor, por toda a Europa e até na Grã-Bretanha.

O conceito de um Deus que morre e revive, que há muito havia sido estabelecido através do Mito de Osíris, agora se manifestava na figura do filho de Deus, Jesus Cristo. Com o tempo, os epítetos para Ísis tornaram-se da Virgem Maria, como "Mãe de Deus" e "Rainha do Céu", à medida que a nova religião se apoiava no poder da antiga para se estabelecer. A Tríade de Abidos de Osíris, Ísis e Hórus tornou-se a Santíssima Trindade de Pai, Filho e Espírito Santo - um novo princípio que teve que destruir os antigos costumes para alcançar a supremacia.

O Templo de Ísis em Philae, no Egito, é considerado o último templo pagão a ter sobrevivido. Registros mostram que, em 452 E.C., peregrinos visitaram o Templo de Philae e removeram a estátua de Ísis, carregando-a com grande honra, tal qual nos tempos antigos, para visitar os deuses vizinhos da Núbia (Wilkinson, 23). Entretanto, na época do imperador Justiniano, em 529 E.C., todas as crenças pagãs foram suprimidas. Sem dúvida, havia bolsões de resistência à nova fé, mas a veneração generalizada dos antigos deuses agora era uma memória. Wilkinson escreve:

Em 639 d.C., quando os exércitos árabes reivindicaram o Egito, encontraram apenas cristãos e o legado dos antigos deuses desaparecendo- aqueles mesmos que haviam governado um dos maiores centros civilizacionais por bem mais de 3.000 anos (23).

Os deuses e deusas do Egito nunca desapareceriam completamente, no entanto. Eles infundiram as novas ideologias monoteístas do judaísmo, cristianismo e islamismo. Os Cinco Pilares do Islã (a oração, a peregrinação, o jejum e a caridade) já eram praticados milênios antes pelos antigos egípcios no culto aos seus deuses. O conceito de heka, uma força eterna e invisível que impulsionava a criação e sustentava a vida, foi desenvolvido pelos estoicos gregos, romanos e neoplatônicos como o Logos e o Nous, respectivamente, e ambas as filosofias influenciaram o desenvolvimento do cristianismo.

Nos dias atuais, as pessoas costumam se referir à fé dos antigos egípcios como uma fé primitiva e politeísta; contudo, os deuses egípcios foram adorados por mais de 3.000 anos e o único conflito de tema religioso registrado foi durante o reinado de Aquenáton (1353-1336 a.C.), quando ele insistiu em uma reverência monoteísta pelo deus supremo Atón. Até esse evento foi, muito provavelmente, mais uma manobra política para diminuir o poder dos sacerdotes de Amon. Muito pelo contrário, durante a maior parte da história do Antigo Egito, fazer guerra por motivos religiosos iria contra um dos valores mais importantes que os deuses deram ao povo: a harmonia.

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Sobre o tradutor

Mateus José Aleixo Miranda
Graduando de Jornalismo pelo Centro Universitário UNINASSAU. Entusiasta de História e tradutor contribuinte em conteúdos culturais de YouTube e Wikipedia.

Sobre o autor

Joshua J. Mark
Joshua J. Mark é cofundador e diretor de conteúdos da World History Encyclopedia. Anteriormente, foi professor no Marist College (NY), onde lecionou história, filosofia, literatura e redação. Ele viajou bastante e morou na Grécia e na Alemanha.

Citar este trabalho

Estilo APA

Mark, J. J. (2016, abril 17). Deuses e Deusas do Antigo Egito - Uma Breve História [Gods & Goddesses of Ancient Egypt - A Brief History]. (M. J. A. Miranda, Tradutor). World History Encyclopedia. Recuperado de https://www.worldhistory.org/trans/pt/2-884/deuses-e-deusas-do-antigo-egito---uma-breve-histor/

Estilo Chicago

Mark, Joshua J.. "Deuses e Deusas do Antigo Egito - Uma Breve História." Traduzido por Mateus José Aleixo Miranda. World History Encyclopedia. Última modificação abril 17, 2016. https://www.worldhistory.org/trans/pt/2-884/deuses-e-deusas-do-antigo-egito---uma-breve-histor/.

Estilo MLA

Mark, Joshua J.. "Deuses e Deusas do Antigo Egito - Uma Breve História." Traduzido por Mateus José Aleixo Miranda. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 17 abr 2016. Web. 21 dez 2024.