Boudica (morta em 61 d.C.) foi a rainha celta da tribo dos icenos que liderou uma revolta contra a ocupação romana na atual região de East Anglia, na Inglaterra. Ela se mostrou tão carismática que as fontes antigas registram o apoio à revolta até das tribos que normalmente não apoiariam um conflito dos icenos. Em seu testamento, o rei dos icenos, Prasutagus, um aliado independente dos romanos, tinha dividido suas propriedades entre as filhas e o imperador romano Nero (r. 54-68 d.C.). Após sua morte, porém, as terras dos icenos foram usurpadas por Roma, Boudica acabou açoitada e as filhas violadas pela ousadia de presumir que seus direitos deveriam ser reconhecidos pelos romanos.
Sem demora, a rainha reuniu os icenos e atacou Camulodunum (atual Colchester), incendiando a cidade e massacrando seus habitantes. O governador romano, Caio Suetônio Paulino, ocupava-se naquele momento numa campanha na ilha de Mona e retornou rapidamente para acabar com a revolta. Neste meio tempo, Boudica atacou e destruiu Londinium (Londres) e Verulamium (St. Albans) O historiador romano Tácito relata:
Os nativos se divertiram com o saque e não pensaram em mais nada. Passando direto por fortes e guarnições, eles se dirigiram para onde o butim era mais rico e havia menos proteção. As mortes de romanos e provinciais nos locais mencionados são estimadas em setenta mil. Pois os bretões não faziam ou vendiam prisioneiros, nem praticavam trocas em tempos de guerra. Não podiam esperar para cortar gargantas, enforcar, queimar e crucificar - como se vingassem, de forma adiantada, a represália que estava a caminho. (Anais, Livro XIV, 33)
Cássio Dio, outra fonte primária sobre a revolta de Boudica, escreve que
Buduica [sic] liderou seu exército contra os romanos; pois ocorreu que eles estavam sem líder, já que Paulino, seu comandante, partira para uma expedição em Mona, uma ilha próxima da Britânia. Isso permitiu a ela que saqueasse e pilhasse duas cidades romanas e, como já disse, desencadeasse um indescritível massacre. Aqueles capturados pelos bretões foram sujeitos a todas as formas conhecidas de ultraje. A pior e mais bestial atrocidade cometida pelos captores era a descrita a seguir. Eles penduravam nuas as mulheres mais nobres e distintas e então cortavam fora seus seios e os enfiavam na boca, para parecer que as vítimas os estavam comendo; em seguida as empalavam em afiados espetos que perfuravam através do corpo inteiro. Tudo isso faziam em acompanhamento a sacrifícios, banquetes e comportamento devasso, não somente em todos os seus locais sagrados, mas particularmente no bosque de Andate. Este era seu nome para a deusa Vitória, e eles a consideravam com excepcional reverência (História Romana, Livro LXII).
Em 61 d.C., Boudica foi derrotada na Batalha de Watling Street por Suetônio, que escolheu o local judiciosamente para favorecer seu exército, numericamente inferior em relação aos rebeldes. Para sorte do comandante romano, as forças da rainha sentiam-se tão confiantes na vitória que cortaram sua própria rota de fuga com carroças, animais de carga e as famílias que haviam trazido para assistir à vitória final sobre Roma. Apesar de superiores em números, os bretões foram batidos pelas forças romanas (situadas em melhor posição estratégica) e ficaram encurralados entre o exército inimigo e sua própria caravana de suprimentos. Havia tantos, num espaço tão pequeno, que não tinham para onde fugir e ficaram compactados demais para contra-atacar e lutar, transformando a batalha numa debandada e então num massacre. De acordo com Tácito, nem mesmo mulheres e crianças foram poupadas: "Foi uma vitória gloriosa, comparável com triunfos passados. Conforme um relato, quase oitenta mil bretões caíram. Nossas próprias perdas foram de quatrocentos mortos e um número um pouco maior de feridos. Boudica envenenou-se" (Anais, Livro XIV, 37).
Boudica é descrita com mais detalhes por Cássio Dio:
[…] um terrível desastre para os romanos aconteceu na Britânia. Duas cidades foram saqueadas, oitenta mil romanos e aliados pereceram, e a ilha perdida para Roma. Ademais, uma mulher causou toda esta ruína para os romanos, um fato que por si só causou-lhes a maior vergonha. […] Mas a principal responsável em sublevar os nativos e persuadi-los a lutar contra os romanos, a pessoa que pensaram ser merecedora da liderança e que dirigiu a conduta de toda a guerra, foi Boudica, uma mulher bretã de família nobre, possuidora de maior inteligência do que o habitual nas mulheres. […] Em estatura ela era alta, em aparência a mais terrível, um feroz clarão em seu olhar e uma voz áspera; a grande massa de cabelos alourados caía até a cintura; em torno do pescoço usava um colar dourado; vestia uma túnica de diversas cores e sobre a qual um grosso manto, preso com um broche. Esta era sua invariável vestimenta. (História Romana, Livro LXII.1-2)
Por longo tempo se sustentou que o túmulo de Boudica estaria localizado abaixo da Plataforma 10 da Estação Ferroviária King's Cross, em Londres (gerando muitos mitos e lendas em relação à plataforma), mas esta alegação foi desmentida. Uma estátua de Boudica e suas filhas, completada em 1905, por ordem do príncipe Albert, ergue-se nas proximidades do Parlamento e da Ponte de Westminster, próximo da antiga cidade de Londres, a mesma que ela certa vez reduziu a cinzas.