Legio I Germanica

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Donald L. Wasson
por , traduzido por Ana Carolina de Sousa
publicado em 06 julho 2021
Disponível noutras línguas: Inglês, francês
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Roman Soldiers (by Brett, CC BY-NC)
Soldados romanos
Brett (CC BY-NC)

A Legio I Germanica foi uma legião romana que ganhou aclamação sob o governo de Augusto (27 a.C. - 14 d.C.), mas foi destituída de seu título devido à covardia. Estacionada no Baixo Reno, a legião se amotinou em 14 d.C. e então enfrentou a desgraça quando se tornou traidora de Roma durante a Revolta dos Batavos. Foi dissolvida por Vespasiano em 70 d.C.

Origem

Como muitas legiões do período, a origem da I Germanica é questionável. Alguns afirmam que a Legio I Germanica foi uma das legiões de elite de Pompeu (106-48 a.C.) e lutou com ele contra Júlio César (100-44 a.C.) na Batalha de Farsalo (48 a.C.), além de ter participado da Batalha de Thapsus (46 a.C.) e da Batalha de Munda (45 a.C.) durante a Guerra Civil. Há também a alegação de que ela foi formada pelo comandante do exército romano e governador Gaius Vibius Pansa Caetronianus para lutar contra Marco Antônio (83-30 a.C.). No entanto, a maioria das fontes sustenta que a 1ª legião de Otaviano, criada por volta de 48 a.C., era descendente da 1ª de Pompeu e lutou com o futuro imperador romano na Batalha de Mutina (43 a.C.), na Batalha de Filipos (42 a.C.) e, mais tarde, participou das Guerras Cantábricas (29-19 a.C.). Foi a conduta da legião durante as guerras que lhe rendeu o título de Augusta. Porém, a legião foi destituída de seu título pelo comandante romano Marcus Agrippa por covardia ou comportamento rebelde quando uma rebelião ressurgiu nas Montanhas Cantábricas.

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Embora alguns acreditem que a legião foi dissolvida, a Legio I reaparece por volta de 19 a.C. na Gália, onde foi transferida ou reformada pelo então governador, futuro imperador, Tibério (r. 14-37 d.C.). Em 6 d.C., a legião ficou brevemente estacionada na Colonia Agrippinensis (Colônia, atualmente) no Baixo Reno com a Legio V Alaudae até ser transferida para Bonna (moderna Bonn) após a desastrosa derrota de Publius Quinctilius Varus na Batalha da Floresta de Teutoburgo em 9 d.C. Mais tarde, fez parte de um vasto exército ao lado de outras onze legiões comandadas por Gaius Saturninus para a campanha abortada de Tibério contra os marcomanos, mas o ataque foi descontinuado devido à Revolta da Panônia.

Motim

As legiões estavam preocupadas não apenas com as condições de serviço e pagamento, mas também esperaVAM que Germânico substituísse Tibério no trono.

Em 14 d.C., após a morte de Augusto, a legião participou de um motim liderado pela Legio V Alaudae e a Legio XXI Rapax. As reclamações das legiões eram duplas: elas estavam preocupadas não apenas com as condições de serviço e pagamento, mas também esperavam que o comandante romano Germânico substituísse seu tio Tibério no trono. Ao contrário de seu antecessor Augusto, Tibério não estava interessado em expansão. No entanto, nenhum legionário romano - o orgulho do exército romano - queria ficar sentado ociosamente no acampamento. De acordo com o historiador Barry Strauss em seu livro Ten Caesars, o amado Germânico queria recuperar o território alemão a leste do Reno, mas Tibério não. O imperador não viu nada a ganhar conquistando a área; não havia riquezas, apenas uma fronteira a defender. A retirada de Germânico em 16 d.C. encerrou qualquer tentativa futura de reconquistar o território.

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Em seus Anais, o historiador romano Tácito (c. 56 - c. 118 d.C.) escreveu a respeito das preocupações iniciais das legiões no motim:

... as legiões da Germânia se rebelaram, com uma fúria proporcional ao seu maior número, na esperança confiante de que Germânico César não seria capaz de suportar a supremacia de outro e se ofereceria às legiões, cuja força empurraria tudo a sua frente. (Anais I. 31)

As legiões da fronteira do Reno estavam desorganizadas, e a Legio I foi arrastada para a desordem. Tácito escreveu que os exércitos do Alto Reno, sob seu comandante, Caio Sílio, assistiram ao motim de fora, enquanto os do Baixo Reno, sob o comando de Aulus Caecina "... caíram em um frenesi que teve seu início nos homens da vigésima primeira e quinta legiões, e para o qual a primeira e a vigésima também foram arrastadas." (I. 31) Enquanto Germânico conseguiu resolver algumas das demandas, a 5ª e a 21ª se recusaram a cumprir. Uma das legiões a ser apaziguada foi a Legio I. Tácito escreveu:

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A primeira e a vigésima legiões foram levadas de volta por seu oficial Caecina ao cantão de Ubii, marchando em desgraça, já que somas de dinheiro que haviam sido extorquidas do general foram carregadas entre as águias e estandartes. (I. 37)

A 2ª, 13ª, 16ª e 14ª legiões logo aceitaram a proposta de Germânico e fizeram um juramento de fidelidade. Entretanto, as tensões ressurgiram quando enviados do Senado Romano chegaram ao acampamento.

Duas legiões, a primeira e a vigésima, com veteranos dispensados ​​e servindo sob um estandarte, estavam lá em alojamentos de inverno. No espanto do terror e da culpa consciente, eles foram penetrados por uma apreensão de que pessoas tinham vindo por ordem do Senado para cancelar as concessões que eles haviam extorquido por motim. (I. 39)

Temendo o pior, as legiões invadiram a tenda do emissário chefe, Munatius Plancus. As legiões exigiram o estandarte imperial mantido nos aposentos de Germânico e, então, tendo suas exigências atendidas, "arrastou César de sua cama e o forçou, por ameaças de morte, a entregar o estandarte." (I. 39) Felizmente, ele foi salvo pelo portador da águia, Calpúrnio.

Germanicus Marble Bust
Busto de mármore de Germânico
Carole Raddato (CC BY-SA)

Na manhã seguinte, Germânico entrou no acampamento. Depois de dispensar os emissários, ele se dirigiu à multidão de legionários. Ele falou de Augusto lutando na Batalha de Ácio e Júlio César que interrompeu um motim com uma única palavra. Ele falou diretamente às duas legiões que atacaram e ameaçaram o emissário.

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Primeira e vigésima legiões, vocês que receberam seus estandartes de Tibério, vocês, homens da vigésima que compartilharam comigo tantas batalhas e foram enriquecidos com tantas recompensas, não é esta uma bela gratidão com a qual vocês estão retribuindo ao seu general? (I. 42)

Após seu discurso, as legiões estavam arrependidas "... como suplicantes confessando que suas reprovações eram verdadeiras, imploraram que ele punisse os culpados, perdoasse aqueles que erraram e os liderasse contra o inimigo." (I. 44) Os culpados ficaram em uma plataforma elevada e foram cortados em pedaços. Tendo resolvido a situação com a 1ª e a 20ª, ele voltou sua atenção para a 5ª e a 21ª legiões que estavam estacionadas a 95 km de distância em Vetera (Xanten, atualmente). Ele propôs uma série de contramedidas e até ameaçou executar os amotinados, a menos que Caecina os punisse. Seu comandante e um punhado de legionários leais entraram nas tendas dos amotinados e mataram os infratores. No final, ele conseguiu restaurar a lealdade ao impopular Tibério.

Campanhas na Germânia

A Legio I conseguiu se redimir com sua participação nas campanhas de Germânio na Germânia. Em 16 d.C., a Legio Prima serviu sob o comando de Caecina na Batalha de Long Bridges contra Armínio e seu exército de tribos germânicas. Caecina comandou quatro legiões: Legio I, V Alaudae, Legio XX e XXI Rapax. Durante a batalha, o comandante foi jogado do cavalo e despedaçado por dardos germânicos. Os legionários da 1ª Legião cercaram seu comandante caído e lutaram contra os atacantes. Embora algumas fontes discordem sobre a data e a ocasião da recompensa, devido à bravura demonstrada durante a batalha, a legião recebeu o título de Germanica. A legião recém-nomeada continuou a se provar em batalha. Em 21 d.C., sob o comando do governador da Germânia Superior, Gaius Silius, a legião, junto à V Alaudae, XX Valeria Victrix e XXI Rapax, lutou contra uma rebelião das tribos gaulesas dos tréveros e dos turones lideradas por Julius Florus e Julius Sacrovir.

Map of the Rhine frontier of the Roman empire, 70AD
Mapa da fronteira do Reno do Império Romano, 70 d.C.
Hans Erren (CC BY-SA)

Pouco se ouve falar da legião até 67 d.C., quando foi enviada contra Júlio Vindex, o governador da Gália Romana, que liderou uma revolta contra o Imperador Nero (r. 54-68 d.C.). Vindex favoreceu as reivindicações ao trono do governador da Espanha, Sérvio Galba. Embora Vindex tenha sido derrotado, a morte de Nero em 68 d.C. não apenas levaria Galba (r. 68-69 d.C.) ao trono, mas também jogaria o Império Romano no caos e inauguraria o Ano dos Quatro Imperadores. Legiões do outro lado do Reno entraram um estado de confusão, imaginando se apoiariam ou não o novo imperador com um juramento de fidelidade. Em suas Histórias, Tácito escreveu sobre a relutância de muitas das legiões em fazer o juramento de apoiar a reivindicação de Galba ao trono:

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No entanto, foi a Galba que as legiões da Germânia Inferior fizeram o juramento de fidelidade anualmente administrado no primeiro dia de janeiro. Foi feito após um longo atraso... E mesmo nas várias legiões havia uma diferença de sentimentos. Os soldados da 1ª e da 5ª estavam tão amotinados que alguns deles atiraram pedras nas imagens de Galba. (I. 55)

Ano dos Quatro Imperadores

O verdadeiro caos ocorreu com a morte de Galba em 69 d.C. nas mãos da Guarda Pretoriana. As legiões estavam divididas entre apoiar o novo imperador Otho (r. 69 d.C.), o governador da Germânia Inferior Vitellius (r. 69 d.C.) ou o comandante e governador romano Vespasiano (r. 69-79 d.C.), que tinha o apoio de oito legiões. Como outros no Baixo Reno, a I Germanica, sob o comando de Fábio Valente, apoiou Vitellius. Na Batalha de Bedriacum, coortes da I Germânica, junto com a IV Macedônica, V Alaudae, XV Primigênia e XXI Rapax, lutaram com Vitellius contra Otho. Com o suicídio de Otho, Vitellius marchou para Roma e foi aclamado o novo imperador. Novamente, as lealdades foram questionadas quando a segurança do trono do imperador foi desafiada não apenas por Vespasiano, mas também por uma rebelião liderada por Gaius Civilis, um antigo comandante romano de oito coortes de tropas auxiliares batavas. A rebelião traria o fim de Vitellius e ajudaria a colocar Vespasiano no trono. Civilis tinha um antigo rancor contra o imperador. No início da rebelião, ele jurou lealdade (embora temporariamente) a Vespasiano.

A I GermAnica e seis outras coortes, leais a VitElLIUS, saíram correndo dos portões do acampamento tentaNDO interceptar os BaTaVos.

No início da revolta, tribos germânicas atacaram as forças romanas em Vetera (Xanten). Civilis e suas coortes batavas se ofereceram para marchar como uma força de socorro ao acampamento. Porém, quando chegou, ele surpreendentemente se virou e atacou as forças romanas. Mais auxiliares logo desertaram e se juntaram a Civilis. Quando quatro coortes de tropas batavas e cananefates marchavam para a Itália, Civilis emitiu uma ordem para que elas se virassem e se juntassem à rebelião; elas se tornaram traidores e juraram a Vespasiano. Flaccus, o comandante romano das legiões do Reno em Mogontiacum (moderna Mainz) havia inicialmente emitido uma ordem para Herênio Galo, comandante em Bonna, para detê-los, mas então enviou uma segunda ordem para permitir que as tribos passassem. Enquanto a XVI Gallica permaneceu no acampamento, a I Germanica e seis outras coortes, leais a Vitellius, provaram sua coragem, desobedeceram a segunda ordem e saíram correndo dos portões do acampamento tentando interceptar os batavos. A legião falhou, sofrendo pesadas baixas; as coortes traidoras continuaram sua marcha desimpedidas para se juntar a Civilis em sua revolta. Mais tarde, a I Germanica reclamou com Flaccus sobre sua falha em dar-lhes apoio adequado, e Flaccus mais tarde admitiu apoio a Vespasiano.

Legio I se torna traidora

A legião aparece em seguida após a morte de Vitellius. Os exércitos de Vitellius e Vespasiano se encontraram na Segunda Batalha de Bedriacum, onde o exército de Vitellius foi derrotado. O imperador tentou escapar disfarçado, mas foi capturado pelos homens de Vespasiano e, enquanto implorava por sua vida, foi arrastado pelas ruas, torturado e morto. Novamente, as legiões do Reno estavam relutantes em jurar lealdade ao novo imperador. Com a queda contínua das fortalezas romanas e a deserção dos auxiliares, Civilis controlou o Reno, recusando-se a abandonar sua revolta mesmo depois que Vespasiano se tornou imperador. Com isso, ele se divorciou de Vespasiano e começou uma nova guerra contra Roma.

Muitas dessas legiões que apoiaram Vitellius permaneceram relutantes em jurar lealdade a Vespasiano. O comandante romano Vocula da XXII Primigenia, que havia jurado apoiar Vespasiano, foi avisado de que muitos de seus legionários estavam considerando se juntar a Civilis. Ele tentou convencê-los a permanecerem leais a Roma, mas um desertor da I Germanica chamado Aemilius Longinus entrou em sua tenda, sacou a espada e o matou.

Roman Emperor Vespasian, Neues Museum
Vespasiano, imperador romano, Museu Neues
Carole Raddato (CC BY-SA)

Após a morte de Vocula, legiões como a I Germanica, IV Macedonica, XVI Gallica e XVIII se juntaram à Revolta Batava de Civilis. No entanto, durante esse tempo, Roma não ficou parada e começou a formar uma ofensiva sob o comando de Quintus Petillius Cerialis. Os dois exércitos se encontrariam nas Batalhas de Rigodolum e Trier. Antes de Rigodolum, ficou óbvio que Roma estava montando um exército formidável; houve até conversas entre alguns dos rebeldes para pedir por paz. Preocupados com seu futuro, as I Germanica e XVI Gallica perceberam seu erro, desertaram, voltando para os romanos, e juraram lealdade a Vespasiano. Cerialis prometeu que seus crimes passados ​​seriam esquecidos. Tácito escreveu:

Esses homens teimosos, covardes e sem ânimo, como uma multidão sem um líder sempre é, com a aprovação de Civilis, rapidamente pegaram em armas e, tão rapidamente, as abandonaram, puseram-se em fuga... os homens da 1ª, 4ª e 18ª legiões, arrependidos de sua conduta, seguiram Vocula e novamente fizeram em sua presença o juramento de lealdade a Vespasiano e marcharam para o alívio de Mogontiacum. (Histórias, IV. 37)

Os exércitos se encontrariam pela última vez em Vetera. Embora tenha havido algum sucesso rebelde, o fim estava garantido, e quando seus homens falaram em entregá-lo aos romanos, Civilis buscou a paz com Cerialis. Seu tempo após a revolta é uma dessas questões sem resposta. Quanto à I Germanica e à 18ª, Vespasiano não foi tão indulgente quanto Cerialis, e ambas as legiões, assim como a IV Macedonica e a XVI Gallica (reformada como XVI Flavia), foram dissolvidas. Alguns afirmam que a I Germanica pode ter sido absorvida pela VII Gemina.

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Sobre o tradutor

Ana Carolina de Sousa
Ana Carolina é tradutora e revisora e graduanda de Tradução pela Universidade Federal de Uberlândia. Ela é apaixonada por línguas e literatura. Em seu tempo livre, gosta de ler e assistir séries históricas.

Sobre o autor

Donald L. Wasson
Donald ensina História Antiga, Medieval e dos Estados Unidos no Lincoln College (Normal, Illinois) e sempre foi e sempre será um estudante de História, dedicando-se, desde então, a se aprofundar no conhecimento sobre Alexandre, o Grande. É uma pessoa ávida a transmitir conhecimentos aos seus estudantes.

Citar este trabalho

Estilo APA

Wasson, D. L. (2021, julho 06). Legio I Germanica [Legio I Germanica]. (A. C. d. Sousa, Tradutor). World History Encyclopedia. Recuperado de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-19883/legio-i-germanica/

Estilo Chicago

Wasson, Donald L.. "Legio I Germanica." Traduzido por Ana Carolina de Sousa. World History Encyclopedia. Última modificação julho 06, 2021. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-19883/legio-i-germanica/.

Estilo MLA

Wasson, Donald L.. "Legio I Germanica." Traduzido por Ana Carolina de Sousa. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 06 jul 2021. Web. 21 dez 2024.