
Gustav Holst (1874-1934) foi um compositor britânico de origem sueca, conhecido pela sua suíte orquestral dramática Os Planetas, apresentada publicamente pela primeira vez em 1919. Holst também compôs diversas óperas, escreveu corais sacros, como The Hymn of Jesus, e foi um ávido colecionador de canções folclóricas.
Primeiros anos
Gustav Holst nasceu em Cheltenham, em 21 de setembro de 1874, onde seus pais, que tinham ascendência sueca, tinham se estabelecido. O pai de Gustav era um organista e professor de piano em Cheltenham. Gustav deu continuidade ao interesse da família pela música, aprendendo a tocar piano e também regendo o coral local. Seu talento musical ganhou destaque e, em 1895, Gustav ganhou uma bolsa de estudos no Royal College of Music em Londres. A família Holst tinha condições financeiras modestas, e a bolsa de estudos – conquistada após a segunda tentativa – era uma necessidade para Gustav ampliar sua educação musical. Ele estudou sobre o trombone, um instrumento que usou para se manter, ensinando outros a tocar e se apresentando em bandas de metais à beira-mar e como membro da orquestra Carl Rosa Opera, em Londres.
Após sua graduação, Holst tornou-se professor de música em Londres. Em 1903, mudou-se para Dulwich, onde lecionou música em uma escola para garotas, cargo que ocupou até 1920. Em 1905, Holst também se tornou diretor musical na escola de música St. Paul's, em Hammersmith. O compositor certamente dedicou-se ao ensino, permanecendo na St. Paul's pelo resto de sua vida, mas ocupou outros cargos de magistério simultaneamente, incluindo a direção musical no Morley College for Working Men and Women em Londres (1907-1924) e uma cátedra de música na Reading University. Além disso, Holst encontrou tempo para retornar e ensinar composição no Royal College of Music.
Influências musicais
Holst começou a compor seriamente na primeira década do século XX, geralmente trabalhando em seus aposentos em St. Paul's. Holst não tinha muito tempo livre para compor, mas ele dedicava os fins de semana e as férias escolares para este lado da sua carreira. Certa vez Holst declarou: "Nunca componha algo, a não ser que não compor seja um incômodo para você" (Wade-Matthews, 444). Holst foi particularmente influenciado pela música folclórica inglesa, bem retratada na suíte A Somerset Rhapsody, finalizada em 1907. Influências de outros compositores sobre Holst incluem as obras dramáticas e altamente inovadoras de Igor Stravinsky (1882-1971) e Arnold Schoenberg (1874-1951).
Outra área de grande interesse para Holst foi o misticismo e antigas ideias religiosas do subcontinente indiano, temas que podem ser vistas em diversas de suas óperas e corais, como Sāvitri (composta em 1908, mas apresentada apenas em 1916). O primeiro sucesso de Holst em 1905 foi The Mystic Trumpeter, peça de inspiração religiosa, apresentada no Queen's Hall de Londres. Holst aprendeu a ler sânscrito, o que permitiu a ele utilizar elementos de hinos do Rig Veda, um dos quatro textos hindus sagrados que compõem Os Vedas, e transformá-los em música para uma orquestra e coro. Entre 1908 e 1912, o compositor criou quatro grupos de músicas intituladas coletivamente de Choral Hymns from the Rig Veda.
Holst se casou e estabeleceu sua residência em Richmond. Sua filha, Imogen, nasceu em 1907, e tornou-se uma compositora famosa por seus próprios méritos. Em 1908, sua família se mudou para Barnes, no sul de Londres. Outros interesses além da música e do misticismo incluíam a astrologia. Holst se tornou um estudioso fervoroso do assunto, e seu bom amigo, o autor Clifford Bax (1886-1962), observou que Holst "tornou-se um leitor habilidoso de horóscopos" (Burton). Este hobby era, talvez, uma exceção à regra imposta pelo compositor de que "eu apenas estudo assuntos que me sugerem música" (ibid), embora, mesmo aqui, a importância dos movimentos planetários para as previsões astrológicas crie uma conexão óbvia com a obra mais famosa do compositor, Os Planetas.
Os Planetas
Os Planetas é a obra-prima de Holst, uma suíte orquestral de sete movimentos. Ela foi composta entre 1914 e 1916, em meio à Primeira Guerra Mundial (1914-1918).
Os sete movimentos, todos intitulados em homenagem a deuses e deusas da mitologia romana, são:
- Marte, o Mensageiro da Guerra
- Vênus, a Mensageira da Paz
- Mercúrio, o Mensageiro Alado
- Júpiter, o Mensageiro da Alegria
- Saturno, o Mensageiro da Velhice
- Urano, o Mágico
- Netuno, o Místico
A suíte tem um "ritmo implacável em um compasso 5/4” (Sadie, 339), e toda a obra é marcada por uma orquestra gigantesca para criar uma parede sonora, por vezes esmagadora. Os movimentos se alternam em estilos contrastantes, mais claramente e dramaticamente percebidos nos movimentos de abertura e no segundo. Marte e Vênus são deuses complementares na mitologia (e também na astrologia), e aqui Holst contrasta o drama implacável da guerra com a paz quase onírica que se segue a tal turbulência. Na mesma linha, os movimentos de Mercúrio e Júpiter contrastam scherzos, o primeiro extremamente vivo e remetendo à descrição frequentemente usada de Mercúrio na antiguidade, como um ser "de passos leves". O segundo scherzo tem uma progressão musical muito mais sóbria para lembrar um Júpiter distintamente régio, o rei dos deuses romanos que aqui reina na posição central da suíte. O movimento favorito de Holst era Saturno, em homenagem ao Deus associado à passagem do tempo. Os dois últimos movimentos abordam o fim do ciclo de vida natural e apresentam um final caracteristicamente ambíguo, que, com o uso inovador do coro, contempla o infinito. De acordo com a Classical Music Encyclopedia, Holst utiliza a voz humana de uma maneira altamente incomum, "meramente como uma sonoridade" para conferir um "efeito etéreo" (Sadie, 339). Como J. Caldwell observou, a popularidade da peça "tende a obscurecer sua absoluta originalidade" (citado em Steen, 874).
Os Planetas foi apresentada pela primeira vez em 1918 para um público restrito e foi lançada ao público geral no ano seguinte, embora os movimentos de Vênus e Netuno tenham sido omitidos. A primeira apresentação pública foi conduzida por Adrian Boult (1889-1983). A primeira apresentação de todos os sete movimentos juntos ocorreu em 1920. Finalmente, Holst foi reconhecido como um compositor notável. Mais tarde, o movimento de Marte tornou-se especialmente popular em trilhas sonoras para o cinema e a televisão, e foi usado como música tema para a série de televisão de ficção científica The Quartermass Experiment, da década de 1950. Em contraste, parte da música do movimento Júpiter foi reutilizada para o hino I Vow to Thee, My Country, com letra de Cecil Spring Rice.
Outras Obras
Após o sucesso d'Os Planetas, Holst se aprofundou no misticismo, como pode ser visto em obras como The Hymn of Jesus (considerada sua obra-prima coral) e Ode to Death (compostas em 1917 e 1919, respectivamente), ambas obras sacras para coro e orquestra. Holst continuou a escrever óperas como a comédia de um ato The Perfect Fool, apresentada pela primeira vez em 1923, em Covent Garden, Londres. Holst escreveu a música e o libreto, e adaptou a música do balé em uma obra orquestral independente. Houve também a ópera falstaffiana At the Boar's Head, encenada pela primeira vez em Manchester em 1925, e The Wandering Scholar, que estreou em Liverpool em 1934.
O poema sinfônico Egdon Heath, composto em 1927, foi inspirado no romance O Retorno do Nativo, de 1878, de Thomas Hardy (1840-1928). Holst até mesmo deu ao seu poema o subtítulo de Homage to Hardy. Demonstrando a crescente reputação internacional de Holst, a obra foi encomendada e, em seguida, executada pela primeira vez pela Orquestra Sinfônica de Nova York, em 1928.
Holst escreveu para outros gêneros, especialmente obras para bandas de metais, como A Moorside Suite (1928) e seu Hammersmith (1930-31), um scherzo para bandas militares. Ele escreveu suítes para cordas, como St. Paul's (1913) – que foi concebido para ser tocado por uma orquestra de jovens – e Brook Green (1933), e dois concertos para violino. Holst era definitivamente versátil, e até compôs a canção natalina In the Bleak Mid-Winter com letra de um poema de Christina Georgina Rossetti. A canção de Natal apareceu pela primeira vez em 1906. Também se interessou bastante por música folclórica, tornando-se um colecionador e catalogador dedicado, um empreendimento que conduziu com o colega compositor Ralph Vaughan Williams (1872-1958). Holst e Williams tornaram-se amigos quando ambos eram estudantes no Royal College of Music. Em 1929, Holst transpôs para a música 12 poemas de Humbert Wolfe e, em 1930-1931, repetiu a ideia utilizando 12 canções folclóricas galesas.
Principais obras de Holst
As obras mais importantes compostas por Gustav Holst incluem (com datas de composição anotadas entre parênteses):
A Somerset Rhapsody – suíte orquestral (1906-1907)
Sāvitri – ópera (1908)
St. Paul's – suíte para cordas (1913)
Os Planetas – suíte orquestral (1916)
The Hymn of Jesus (1917)
Ode to Death (1919)
The Perfect Fool – ópera e balé (1922)
Fugal Concerto (1923)
At the Boar's Head – ópera (1924)
Choral Symphony (1925)
Egdon Heath – poema sinfônico (1927)
A Moorside Suite – suíte para metais (1928)
Concerto para Dois Violinos (1929)
The Wandering Scholar – ópera (1929-1930)
Hammersmith – scherzo para banda ou orquestra militar (1930-1931)
Choral Fantasia – para soprano, coro, órgão e orquestra (1930)
Brook Green – suíte para cordas (1933)
Lyric Movement – suíte para viola e orquestra de câmara (1933)
Morte e Legado
Holst teve alguns problemas de saúde a partir da década de 1920: "ele sofria de problemas de visão e neurite no braço, e sua saúde ficou ainda mais afetada após uma queda em 1923" (Arnold, 871). Esses problemas tiveram uma consequência direta na forma como Holst compôs sua música, como explica o crítico musical Michael Kennedy:
O efeito sobre a sua música foi que ela foi reduzida ao osso: o esforço de escrevê-la obrigou-o a uma economia artística que alguns sentiram ter sido levada longe demais... A austera bitonalidade de Fugal Concerto (1923) e do Concerto Duplo para Dois Violinos (1929) intrigou até os seus admiradores. (ibid, 871)
Gustav Holst morreu em Londres, em 25 de maio de 1934, após ter sido submetido a um procedimento cirúrgico para gastrite hemorrágica. O trabalho de Holst não apenas influenciou outros compositores como Benjamin Britten (1913-1976) e Michael Tippett (1905-1988), mas também inspirou inúmeros estudantes, conforme explicado por Kennedy:
Seria difícil exagerar sua influência como um professor com gênio para encorajar amadores e iniciantes a buscarem os mais altos e intransigentes padrões. Esta integridade é refletida em algumas das obras corais que escreveu para os seus alunos cantarem, exigindo muitas vezes uma sutileza e disciplina que desafiariam profissionais. (ibid, 871)