Na época em que liderou as invasões à Britânia, Júlio César (100-44 a.C.) já era um político experiente e comandante militar bem-sucedido. Como membro de uma família patrícia que alegava uma linhagem que recuava para períodos anteriores à fundação de Roma, César parecia destinado a se elevar cada vez mais na política romana.
Em 63 a.C., foi eleito praetor, um cargo superior na política romana, que também o qualificava para um comando militar. Após um ano naquele posto, ele começou seu mandato como governador da província romana da Espanha e venceu sua primeira campanha. Os governadores provinciais, que administravam as questões militares e civis nas províncias romanas, permaneciam no cargo geralmente cerca de três ou quatro anos. Retornando a Roma em 60 a.C., foi eleito cônsul; e novamente, após um ano neste cargo, foi nomeado governador, desta vez da Gália Cisalpina e Ilírico. Posteriormente, a província da Gália Transalpina foi também posta sob seu comando. Em 58 a.C., César viajou para a Gália e conduziu Roma a uma guerra de oito anos que lhe permitiu demonstrar seu considerável talento como general.
Durante os primeiros três anos desta campanha, César conquistou grandes áreas da Gália central e setentrional. Os gauleses estavam subdivididos em vários povos independentes, que não formavam grupos unificados independentes, mas sim associações de ocasião, unidas sob um único líder. Alguns destes povos combateram César enquanto outros se submeteram, e, de fato, a divisão da oposição gaulesa foi um dos motivos para o rápido sucesso de César. Ele liderou campanhas contra aqueles que se opunham a ele, derrotando e subjugando-os separadamente, além de repelir grupos germânicos de volta às suas terras ao norte do Rio Reno. Então, ao final da quarta temporada de campanha, ele decidiu invadir a Britânia.
Os despachos que César enviou a Roma traziam notícias destas campanhas para seus compatriotas e foram mais tarde resumidas nos oito livros de sua famosa obra De Bello Gallico (As Guerras Gálicas). Cada livro trazia as campanhas de um único ano e o relato das duas invasões à Britânia estão incluídos nos livros 4 e 5.
Motivos para Invadir
Navegar pelo Canal da Mancha para a Britânia seria a mais desafiadora missão que César e suas legiões já haviam tentado. Por que ele desejava combater na Britânia? Como já mencionado anteriormente, ele gostaria de emular as proezas de Hércules e Alexandre, o Grande, mas já tinha derrotado muitos inimigos na Gália. Por que viajar para a Britânia era tão importante para ele? A atração pela invasão estava diretamente relacionada à completa falta de informação dos romanos sobre a ilha.
César forneceu uma razão prática para desejar forçar a submissão dos bretões, observando que seus inimigos tinham recebido reforços da ilha em quase todas as batalhas comandadas por ele na Gália. O general descreveu uma destas ocasiões, observando que os bretões, junto com aliados gauleses, tinham dado assistência aos vênetos, um povo costeiro do noroeste da Gália, em suas resistência a Roma no inverno de 57-56 a.C.. De fato, a campanha naval de César contra os vênetos pode ser uma pista para motivação que o levou a invadir a Britânia no ano seguinte. Os vênetos, César explicou, eram excelentes marinheiros por viverem ao lado do "mar aberto e violento", com somente alguns poucos "locais possíveis de desembarque". Eles usavam sua grande frota para dominar a costa, cobrando taxas dos navegantes que faziam o comércio com a Britânia.
As forças terrestres de legionários de Roma ganharam renome ao longo dos séculos e tinham sido fundamentais para as conquistas que levaram ao império. Em contraste com os vênetos, como César observou, seus soldados tinham pouca habilidade com navios e limitado conhecimento sobre as águas, portos e ilhas da costa. Tratava-se de comentários de certa forma insinceros, porém, em vista da experiência que as tropas romanas adquiriram como resultado de campanhas navais anteriores, incluindo a derrota dos piratas do Mediterrâneo por Pompeu, o Grande (106-48 a.C.), dez anos antes.
Desafios
César intitulou aquelas águas do Atlântico como “o grande Oceano sem limites”, observando que navegar por ele trazia uma experiência bastante diversa da navegação pelo Mar Mediterrâneo, cercado por massas de terra. O nome "Mediterrâneo" provém do latim mediterraneus, significando "em terra" ou "no meio da terra", mas os romanos, como os gregos antes deles, chamavam-no simplesmente mare nostrum, "nosso mar", pois os comandantes romanos haviam derrotado os povos que viviam no entorno. Uma campanha naval nas ferozes águas do Atlântico seria uma tarefa mais desafiadora do que navegar pelo Mediterrâneo. As observações de César sobre a natureza do "Oceano sem limites" descrevem as dificuldades práticas que enfrentava para a organização da campanha naval. Ele pode ter tido conhecimento dos relatos de exploradores cartagineses e fenícios e de Píteas, o Grego que, séculos antes, teria navegado além dos Pilares de Hércules. Estas obras descrevem a extrema dificuldade de navegação pelo Atlântico, com seus nevoeiros densos, águas lentas, tempestades severas e criaturas marinhas gigantescas.
César ordenou a construção de uma frota substancial para a campanha contra os vênetos e cercou suas fortalezas costeiras (oppida), enquanto os navios romanos, comandados por Décimo Bruto, venciam uma batalha naval em 56 a.C.. Esta vitória marítima pode ter encorajado o general a levar a cabo a tarefa desafiadora de cruzar o Oceano para lutar contra os bretões. Além disso, ele pode ter considerado que a viagem ofereceria a oportunidade de conhecer e perto a ilha e seu povo: ele observou que seria “uma grande vantagem” desembarcar na ilha e avaliar seus habitantes e as características da terra, seus portos e locais de abordagem.
Os gauleses que interrogou alegavam conhecer muito pouco sobre a Britânia. Mesmo os mercadores recusavam-se a fornecer mais detalhes sobre as terras e povos que viviam além da costa ocidental da Gália. César pretendia complementar o conhecimento romano obtendo informações sobre a ilha e seu povo, além de forçar seus líderes a se submeter a ele. Ele lucrava com os subornos que recebia e com a pilhagem dos povos conquistados: suas campanhas eram parcialmente motivadas pela avareza. Provavelmente imaginava o potencial para o saque naquelas regiões tão distantes. Além disso, filhos de famílias da elite romana acorriam para servir no staff de César e as muitos faziam fortunas com as riquezas confiscadas dos inimigos derrotados.
A Conquista de Cláudio
O interesse romano na Britânia no século seguinte limitou-se à diplomacia, pois os imperadores Augusto (r. 27 a.C. a 14 d.C.) e Tibério (r. 14-37 d.C.) pretendiam manter a paz fazendo alianças com os vários reis amigáveis do sudeste da Britânia. Calígula (r. 37-41) planejou uma invasão em 40, mas falhou em levá-la a efeito, e coube ao imperador Cláudio (r. 41-54) comandar a conquista da Britânia três anos depois, após o assassinato de seu predecessor. A Britânia meridional e central foi então subjugada por uma série de governadores provinciais nomeados pelos sucessores de Cláudio: Nero (r. 54-68), Vespasiano (r. 69-79) e Domiciano (81-96). Por volta do ano 84, o governador Agrícola venceu uma batalha na Britânia setentrional num local chamado Monte Graupius, desconhecido nos dias atuais. Na época, parecia que toda a ilha seria conquistada por Roma, mas, eventualmente, a fronteira recuou para a região central, no início da década de 120, com a construção do Muro de Adriano. Estas conquistas foram motivadas pelos recursos que poderiam ser obtidos, particularmente minerais e escravos, mas também pelo status da Britânia como um local exótico e irreal situado no Oceano.