Antes de descobrir a tumba de Tutankhamon, Howard Carter começou sua carreira como desenhista, aos 17 anos, em escavações arqueológicas no Egito. Suas habilidades logo foram reconhecidas e ele rapidamente ascendeu para ser um escavador arqueológico e, mais tarde, inspetor-chefe em Luxor. Por causa de um desentendimento com Gaston Maspero, diretor do Serviço de Antiguidades egípcio, Carter renunciou e se tornou um escavador independente. Em busca de recursos, ele se uniu a Lorde Carnavon e, por anos, a dupla pesquisou o Vale dos Reis em busca da tumba perdida de Tutankhamon.
Descoberta no Vale dos Reis
Em 1º de Novembro de 1922, Carter começou o que seria a última temporada de escavações. Ele iniciou o trabalho num triângulo de terra inexplorado logo abaixo da tumba de Ramsés VI. A primeira prioridade era retirar as cabanas dos antigos trabalhadores. Os operários que construíam as tumbas viviam num povoado na extremidade de um penhasco elevado, no outro lado do Vale dos Reis. Isso requeria uma longa caminhada, primeiro ao longo do penhasco e então para baixo, dentro do Vale, onde a maior parte do trabalho acontecia. Por isso, algumas vezes eles passavam a noite em cabanas temporárias de pedra. Os membros da família apareciam várias vezes por dia para trazer-lhes comida. O povoado, atualmente chamado Deir el-Medina, era uma comunidade rigidamente controlada. Havia um muro em torno da comunidade e somente um portão para entrar e sair. Como estes pintores, escultores e pedreiros, tinham muito contato com os tesouros dos faraós, ficavam sob estreita vigilância.
Como o Vale nunca foi habitado e, até recentemente, só visitado em raras ocasiões, as cabanas onde estes trabalhadores dormiam estavam intactas . Carter fez um registro das construções para a posteridade e elas foram então desmontadas para que a equipe pudesse escavar o leito rochoso. No dia 4 de Novembro, um dos trabalhadores descobriu um degrau cortado no chão do vale. Tratava-se de um excelente sinal. Normalmente cortavam-se os degraus no leito rochoso por cerca de 6 metros e então o túmulo era escavado horizontalmente na pedra calcária. A limpeza continuou e, no final da tarde de 5 de Novembro, eles tinham desenterrado doze degraus, revelando a parte superior de uma entrada com o selo da necrópole real ainda no lugar.
Carter sabia que tinha quase certamente descoberto um túmulo real, mas não podia determinar qual seria este rei. Através de um pequeno furo próximo ao topo da entrada, ele podia ver que a passagem atrás da porta selada estava repleta de entulho para deter os ladrões de túmulos. Havia uma chance da tumba estar intacta. A escadaria muito estreita, de apenas 1,8 metro de largura, deixou Carter perturbado; as entradas de outras tumbas reais costumavam ser consideravelmente mais amplas. De alguma forma capaz de manter seu entusiasmo sob controle, ele ordenou aos trabalhadores que enchessem a escadaria com areia e cascalho e enviou um telegrama ao seu patrono, Lorde Carnavon, que se encontrava na Inglaterra: "Finalmente fizemos uma descoberta maravilhosa no Vale; um magnífica tumba com selos intactos; recoberta à espera de sua chegada; congratulações."
Sabemos que Carnavon suspeitava que haviam finalmente encontrado Tutankhamon porque, quando recebeu o telegrama de Carter, ele chamou Alan Gardiner para indagar se este achava que se tratava da tumba perdida do faraó. Gardiner, sempre um cauteloso acadêmico, respondeu a Carnavon que realmente não se poderia afirmar; escavações não eram sua especialidade. Carter esperou quase três semanas por Carnavon, que finalmente chegou em Alexandria em 20 de Novembro, acompanhado por sua filha, lady Evelyn. Carter foi ao Cairo para encontrá-los e os três pegaram o trem para Luxor. Só podemos imaginar a conversa durante a viagem.
Abrindo a Tumba
Quando chegaram a Luxor, a escadaria foi limpa novamente e nessa ocasião descobriu-se o cartucho de Tutankhamon na parte inferior da entrada selada. Quando a porta foi removida, os escavadores puderam ver um caminho estreito através do entulho, quase certamente feito pelos ladrões antigos. A tumba havia sido violada antes.
A informação sobre a descoberta espalhou-se pelas demais equipes de escavação, por toda a cidade de Luxor e, a seguir, por todo o mundo. Os jornais publicaram artigos especulativos sobre o rei e quais tesouros a tumba poderia conter. Neste ponto, ninguém realmente poderia saber, mas um jornal francês, Le Pèlerin, publicou um desenho imaginativo retratando a cena que poderia ocorrer quando o muro fosse derrubado e Carter e Carnavon entrassem no túmulo.
O dia 23 de Novembro foi devotado à limpeza da passagem com nove metros de extensão que levava à tumba. Espalhados em meio ao entulho de pedra calcária estavam jarros de alabastro, cerâmica e ferramentas de trabalhadores. Finalmente, eles alcançaram uma segunda porta com reboco. Havia uma clara evidência de que a porta havia sido violada e depois selada novamente. Carter fez uma abertura no canto superior esquerdo da entrada e inseriu uma vela para testar o ar no interior. Não se pode fazer melhor do que deixar que Carter descreva a cena com suas próprias palavras:
Inicialmente não pude ver nada, o ar quente que escapava da câmara fazia a chama da vela tremeluzir, mas, aos poucos, à medida que meus olhos se acostumavam à luz, os detalhes do interior do aposento emergiram lentamente da neblina, animais estranhos, estátuas, e ouro - por todos os lados o brilho do ouro. Por um momento - para os demais ao meu lado, deve ter parecido uma eternidade - fiquei em estado de choque, maravilhado, e quando Lorde Carnavon, incapaz de aguentar o suspense por mais tempo, perguntou, ansiosamente, "Pode ver alguma coisa?", tudo o que pude fazer foi dizer as palavras "Sim, coisas maravilhosas".
O aposento que Carter espreitara abrigava pertences que Tutankhamon necessitaria no além-túmulo – carruagens, estátuas, tabuleiros de jogos, roupas de cama, joias, camas, cadeiras, até mesmo um trono; os objetos estavam todos empilhados uns sobre os outros. Os ladrões antigos tinham aparentemente sido flagrados ou se amedrontaram e fugiram, pois havia poucos sinais de distúrbios. A tumba encontrava-se virtualmente intacta.
Tinha sido um longo dia e a tensão de não saber o que poderiam encontrar deixara todos exaustos. O túmulo foi fechado, guardas ficaram a postos e a pequena equipe deixou o local. No dia 27, eles retornaram e removeram o muro pelo qual haviam espreitado e que os deixara sem fôlego. Instalou-se luz elétrica na tumba e, pela primeira vez, eles puderam verificar a magnitude do que haviam descoberto. O aposento que tinham observado à luz de velas media cerca de 8x4 metros, lotado com objetos que nunca haviam visto antes. Entre eles os arqueólogos descobriram um conjunto de três divãs funerários na altura da cintura, feitos de madeira dourada e decorados com cabeças de animais, que haviam sido usados para rituais realizados na múmia de Tutankhamon. Postados no muro ao norte estavam duas estátuas em tamanho natural, protegendo alguma coisa além do muro, quase certamente a Câmara Funerária. O primeiro aposento era meramente a antecâmara da tumba.
Agora que estavam dentro do aposento, com luz suficiente, Carter e Carnavon puderam ver uma sala menor, escavada através do muro oeste da Antecâmara, com cerca de 4,2x2,7 metros de área e 2,4 metros de altura; ela veio a ser conhecida como o Anexo. Também estava cheia de tesouros. Levaria dez anos para Carter retirar todos os tesouros da tumba de Tutankhamon – a famosa máscara funerária de ouro, a múmia do jovem rei em seu sólido caixão de ouro, estátuas, joias, até as sandálias do rei. Atualmente, a tumba é ainda considerada pela maioria dos especialistas a maior descoberta arqueológica de todos os tempos.